É triste ver um jogador de futebol que fez parte de sua infância morrer.
Triste é saber também que a morte veio aos 51 anos de idade, de infarto fulminante, conseqüência cruel dos anos de álcool, farras e indisciplina.
Foi o que aconteceu com o meio-campo Jorge Mendonça, um grande e polêmico jogador do nosso futebol.
Nascido em Silva Jardim, pequeno município do interior do Rio de Janeiro, ele despontou em 1972, quando subiu para os profissionais do Bangu, hoje na Segunda Divisão do estado. Foi para outro clube de camisa listrada em branco e vermelho - o Náutico, de Pernambuco. Não jogou muito bem por lá mas, em fins de 75, chegava ao Parque Antártica, contratado pelo Palmeiras.
Trazido para ser o sucessor de Leivinha, Jorge Mendonça entrou para a história do clube ao marcar, contra o XV de Piracicaba, o gol que deu o título paulista de 1976 - o último antes do histórico jejum de dezessete anos do alviverde.
Seu bom futebol quase lhe proporcionou o título brasileiro de 78, mas o Palmeiras, nocauteado por uma bobeira do goleiro Leão, permitiu ao Guarani vencer o primeiro jogo da decisão no Morumbi como também a final em Campinas. Mas o ano não seria de todo ruim: ele foi convocado por Cláudio Coutinho para a Copa do Mundo da Argentina.
Nos amistosos de preparação, marcou seus dois únicos gols em onze jogos com a camisa canarinho, contra o Atlético de Madrid e o Al Ahly, da Arábia Saudita. Inscrito com o número 19 no Mundial, Mendonça teve diversas chances no time de Coutinho, principalmente porque o técnico não quis levar Sócrates e porque Zico também se machucou durante a competição.
Virou folclore, por exemplo, o aquecimento demorado do meio-campista na primeira partida da fase semifinal contra o Peru. Depois, ele seria titular nos três jogos restantes do Brasil, contra Argentina e Polônia e na decisão do 3º lugar contra a Itália. Do jogo contra a Polônia, ele se lembrava bem. "Chutei duas ou três bolas na trave e Roberto levou todos os louros porque pegava os rebotes", disse. No jogo que encerrou a participação do Brasil como campeão moral da Copa, é ele quem ajeita a bola com o peito antes do chute forte de Dirceu contra a meta de Dino Zoff.
Em 79, o meia estava em grande fase. Telê Santana acabara de chegar ao Palmeiras vindo do Grêmio e Jorge Mendonça, jogando o fino. Formando dupla com Escurinho, ex-Internacional, enchia os olhos do técnico. "Ele é tecnicamente perfeito", disse o mestre sobre o jogador.
Mas as relações entre Telê e Jorge Mendonça ruíram por causa do álcool. Em Manaus, o jogador fugiu da concentração e o técnico o esperou pacientemente até altas horas da madrugada. Bêbado, o meia retribuiu com um "olá, chefe" à fisionomia sisuda de Telê, que não admitia indisciplina. Mendonça foi dormir sem saber que sua fase no Palmeiras chegava ao fim.
E ele tinha argumentos suficentes para duvidar do contrário. O Palmeiras eliminou o Flamengo do Brasileiro de 79 com uma sonora goleada por 4 x 1 diante de 113 mil torcedores e Jorge Mendonça marcou um dos gols. Mas a subseqüente eliminação contra o Inter de Porto Alegre fez a casa cair. Nem os prêmios concedidos pela revista Placar apagaram a má fama que ele tinha diante de Telê, que o chamou de "mau profissional".
Em fevereiro de 80, transferiu-se para o Vasco. Foram quatro meses de um retumbante fracasso. O time cruzmaltino perdeu a decisão do Estadual para o Fluminense e o meia jamais se firmou em São Januário. Como resultado, ainda naquele mesmo ano, transferiu-se para o Guarani de Campinas.
No Bugre, Jorge Mendonça arrebentou. Em 1981, no Campeonato Paulista, foi o artilheiro do time e do campeonato com 38 gols - marca inferior apenas às conseguidas por Pelé. Ao longo do ano, anotaria ainda mais vinte, fechando a temporada como o goleador número um do Brasil.
Mas ele não dispensava uma polêmica pois, quando o Guarani faturou a Taça de Prata naquele mesmo ano, disse que a torcida não deveria comemorar o título, pois não contribuíra em nada durante a campanha do time.
A dupla Careca-Jorge Mendonça continuou avassaladora em 82. O Guarani fez um Campeonato Brasileiro quase perfeito, marcou 63 gols em vinte partidas e até hoje tem a melhor média de gols de um clube na história da competição. Mas havia o Flamengo, campeão da Copa Toyota em 81 pelo caminho. E o Bugre caiu na semifinal.
Tamanho banho de bola de Jorge Mendonça pelos gramados país afora não sensibilizou Telê Santana, que o deixou de fora da Copa da Espanha, em 82. Amargurado, nunca mais foi o mesmo no futebol.
Forçou a transferência para a rival Ponte Preta onde, se não jogou o fino da bola, pelo menos foi um jogador muito respeitado. Encerrou melancolicamente a carreira depois de apagadas passagens por Cruzeiro, Rio Branco (ES), Colorado (PR) e Paulista de Jundiaí.
Sem saber administrar o bom dinheiro que ganhou em clubes de grande porte, Jorge Mendonça continuou na bebedeira. Gastou tudo e ficou sem um tostão. A miséria lhe bateu a porta a ponto de ser reconhecido vagando como mendigo nas ruas de Campinas. O radialista e apresentador de TV Milton Neves liderou uma campanha em prol de Jorge Mendonça, que tentou reconstruir a vida como coordenador do Projeto Bugrinho, a escolinha de futebol do Guarani para crianças carentes, em Campinas.
2 comentários:
com certeza uma bela homenagem
POUCOS SÃO OS JOGADORES DE FUTEBOL,QUE TEM UMA ESTRUTURA DE VIDA COM QUALIDADE NO PERÍODO PÓS- CARREIRA. ISSO FAZ PARTE DO POVO BRASILEIRO E A NOSSA CULTURA.
Postar um comentário