quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Pés e Balzac

Uma amiga querida achou esse texto na internet e mandou pra mim. Como eu falei de pés alguns tópicos abaixo, nada como manter o assunto na pauta.

Em 1845, Balzac publicava sua célebre novela "A Obra-Prima Inacabada", onde
um velho pintor do século 17, chamado Frenhofer, tentando produzir uma
grande obra-prima, destrói a imagem com infinitas pinceladas que se sobrepõe
e que resultam num borrão confuso.


Mas, dentro da nebulosa, percebia-se um pé, tão estupendo que parecia viver:
"Aproximando-se, eles perceberam num canto da tela, um pé que saía desse
caos de cores, de tons, de nuances indecisas, espécie de névoa sem forma;
mas um pé delicioso, um pé vivo! Petrificaram-se de admiração diante desse
fragmento escapado a uma lenta e progressiva destruição. Esse pé aparecia
ali como um torso de alguma Vênus em mármore de Paros que surgisse por entre
os escombros de uma cidade incendiada".


A ficção de Balzac exprime a nova sensibilidade diante dos fragmentos que
escaparam "a uma lenta e progressiva destruição" e que, dessa maneira,
compara-se aos achados arqueológicos. Frenhofer termina por se suicidar, ao
descobrir o engano ao qual levara sua loucura perfeccionista; mas a parábola
pode ser lida pelo avesso: a loucura seria imaginar um todo possível. Ao
invés da luxúria plena, o fetichismo da parte. Os tempos novos são antes
pelo inacabado, e um pé vale um corpo.


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