terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Carnaval 2019 - Os sambas do Grupo Especial

Ano passado, ganhou o desenredo da Beija-Flor, em que pese a escola de Nilópolis ter apresentado um bom samba e um chão fortíssimo. Veremos como será em 2019, no ano do 70º aniversário da "Deusa da Passarela"
Após o texto publicado com meus pitacos sobre os sambas do Grupo de Acesso, agora vamos aos sambas do Grupo Especial, que é a grande atração do carnaval carioca em 2019.

É uma safra da qual eu gosto, no geral. Tem coisas pavorosas, mas outras realmente excepcionais. Não dá para ignorar as deficiências de alguns sambas e, por outro lado, há que se valorizar vários outros que certamente sairão da Sapucaí com a nota máxima.

O "presidente-vampiro" foi um destaques do surpreendente desfile do Paraíso do Tuitui em 2018. O que será que Jack Vasconcellos nos aprontará neste ano?
E samba-enredo hoje tem sido um negócio muito sério e definitivo. Tanto que a Beija-Flor, com um grande chão e um visual altamente duvidoso, venceu o carnaval do ano passado - situação que até hoje rende muita polêmica. De repente, pode ser o quesito de desempate - como também não pode. 

Tem muita outra coisa que define carnaval, desde o tempo de 1900 e guaraná de rolha - e infelizmente o que temos visto são viradas de mesa que têm diminuído a credibilidade do Carnaval do Rio de Janeiro.

Mas vamos lá... temos 14 escolas, sete em cada dia, trazendo homenagens, temas polêmicos, reedição, galhofa e crítica social. Tem gente no páreo, outras ali na zona da marola, algumas com chance bem razoável de voltar no Sábado das Campeãs e pelo menos uma escola já largaria rebaixada para o Acesso - minha opinião.

Seguem abaixo as agremiações por ordem de apresentação no desfile e não pelo que se ouviu no CD produzido mais uma vez por Laíla e Mário Jorge Bruno, gravado "ao vivo" na Cidade do Samba e mixado e complementado no estúdio Cia. dos Técnicos.

IMPÉRIO SERRANO
Enredo: O que é, o que é?
Carnavalesco: Paulo Menezes
Compositor: Luiz Gonzaga Júnior (Gonzaguinha)
Intérpretes: Silas Leleu e Anderson Paz

Tenho muito carinho pelo Império Serrano. A escola de Madureira é madrinha da minha Imperatriz Leopoldinense. Quando comecei a acompanhar mais a fundo esse negócio de Carnaval e samba-enredo, sempre ouvi falar em Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, o filho deste, Jorginho do Império, Beto Sem Braço e Aluízio Machado. Bambas da maior qualidade.

Não obstante, o último carnaval ganho pela verde e branco de Magno é o histórico "Bum Bum Paticumbum Prugurundum", de 1982. Um senhor samba e um desfile que ficou para a história e na memória.

E eis que para 2019 o Império joga totalmente no lixo sua tradição de 72 anos e vem com a ideia de transformar um clássico da MPB em enredo e, pior, em samba-enredo. 

Não seria discutível pegar a música de Gonzaguinha e torná-la o mote do enredo do carnavalesco Paulo Menezes e acredito até nas melhores intenções do artista. Mas, façam-me o favor: aquilo é música popular. Pra ser cantado no jeito de samba-enredo não cabe, não tem métrica de samba-enredo como "Vai passar", de Chico Buarque de Hollanda. 

Acompanhei o ensaio técnico do último dia 23 e, embora o componente cante com emoção e fervor - e a bateria tenha dado um sacode, com Mestre Gilmar à frente da competentíssima Sinfônica - não dá pra salvar o que não tem salvação.

Com todo respeito ao Império, até porque o Império merece todo o nosso respeito: vilipendiar a própria história do Carnaval carioca e do próprio samba-enredo e suas raízes imperianas, é demais para o meu gosto.

UNIDOS DO VIRADOURO
Enredo: Viraviradouro
Carnavalesco: Paulo Barros
Compositores: Renan Gêmeo, Bebeto Maneiro, Thiago Carvalhal, Ludson Areia, Júnior Filhão, Raphael Richaid, Ricardo Neves, Carlinhos Viradouro e Rodrigo Gêmeo
Intérprete: Zé Paulo Sierra

De volta ao Grupo Especial, a Unidos do Viradouro retorna com um samba que é a cara dos enredos de Paulo Barros. A letra não diz nada com nada, mas é tremendamente funcional, bem construída, com melodia valente e um grande intérprete - sou fã de Zé Paulo Sierra e falei isso pra ele, pessoalmente, no Baródromo - quando o cantor se apresentou na casa ano passado.

E não só o samba é adequado. A própria Viradouro se preparou muito bem para permanecer no lugar em que muitos dizem que não devia ter saído. Contratou Ciça para comandar uma bateria que tem feito um trabalho excepcional e principalmente um Paulo Barros que retorna à agremiação do Barreto e vem mordido para querer fazer um grande carnaval e mostrar que continua um gênio indomável e por vezes polêmico - deveria, por exemplo, ter ficado calado quando falou que "enredos críticos são modinha". Nada menos exato.

Nos bastidores, dizem que a escola está pronta e que pode voltar ao Sábado das Campeãs. E torço para que volte. Mas o samba-enredo não é daqueles fora de série. A escola pode perder alguns décimos por conta da letra - porém, cabeça de jurado é que nem bunda de neném: você não sabe o que pode sair de dentro dela...

ACADÊMICOS DO GRANDE RIO
Enredo: Quem nunca...? Que atire a primeira pedra
Carnavalescos: Renato e Márcia Lage
Compositores: Moacyr Luz, Cláudio Russo, André Diniz, Licinho Júnior, Elias Bililico e G. Martins
Intérprete: Evandro Malandro

A Grande Rio sambou na cara de quem vive do Carnaval. "Quem tem amigos, tem tudo" - frase do presidente da agremiação de Caxias, quando se negociou a vergonhosa virada de mesa que manteve a tricolor no Grupo Especial.

Para piorar, veio o deboche do título do enredo proposto por Renato Lage e a mulher deste, Márcia, para 2019. Uma tentativa de se redimir do pecado cometido no ano passado na estreia do carnavalesco com o enredo sobre o genial Chacrinha, quando ficaram em penúltimo lugar. E apesar da griffe que carregam Moacyr Luz, Cláudio Russo e André Diniz, o samba deixa a desejar nos argumentos e na proposta.

"Se errei, peço perdão", é um escárnio da letra. A escola errou e feio. Não há quem não negue. "Falam de mim, eu falo de paz". Que paz? Não haveria essa palhaçada toda e não perderíamos tempo criticando a segunda vergonha seguida perpetrada pela LIESA se o regulamento fosse cumprido à risca.

Lamento que o ótimo intérprete Evandro Malandro faça sua merecida estreia no Grupo Especial cantando um samba tão despropositado. A notar que a bateria da Tricolor voltou a ter a mesma qualidade dos tempos de Odilon, comandada pelo novato Fafá. 

A Grande Rio poderia voltar aos seus ótimos enredos dos anos 1990, para resgatar alguma simpatia deste escriba aqui. Porque, olha... tá difícil.

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
Enredo: Xangô
Carnavalesco: Alex de Souza
Compositores: Demá Chagas, Marcelo Motta, Renato Galante, Fred Camacho, Getúlio Coelho, Leonardo Gallo, Vanderlei Sena, Francisco Aquino, Guinga do Salgueiro e Ricardo Fernandes
Intérprete: Emerson Dias

Se existe um samba com a cara de uma escola, esse é o do Acadêmicos do Salgueiro. Uma letra bem construída, poderosa, forte e bem ao gosto da nação salgueirense - que viveu momentos de indefinição absoluta no período pré-carnavalesco.

Sai Regina, volta Regina, sai Regina de novo, volta Regina mais uma vez, sai Regina. Definitivamente. E sem Regina Celi Fernandes, talvez a vermelho e branco da Tijuca possa ter paz. A nova diretoria trouxe o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira que a antiga presidente resolveu botar no olho da rua e, em troca disso, Mestre Marcão, um dos grandes diretores de Bateria do nosso Carnaval, foi demitido. Quinho, intérprete-símbolo do Sal por muitos anos, também afastado pela ex-presidente, voltou para dar mais "molho" ao carro de som.

Outros acertos foram a permanência de Alex de Souza como carnavalesco e a vinda de Emerson Dias a reboque do acerto que manteve a Grande Rio no Grupo Especial. O Salgueiro ganha em peso com um intérprete que finalmente poderá mostrar o que vale cantando um grande samba. Eu gosto da obra de Marcelo Motta e parceiros. Vamos ver se a escola sai da fila que pode chegar a 10 anos...

Em tempo: Xangô é o orixá da Justiça. E em tempos que é preciso se fazer justiça, veremos se haverá uma no resultado final.

Porque em 2018... melhor deixar pra lá.

BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Enredo: Quem não viu vai ver... As fábulas do Beija-Flor
Carnavalesco: Comissão de Carnaval (Cid Carvalho, Bianca Behrends, Leo Mídia, Rodrigo Pacheco e Victor Santos)
Compositores: Di Menor BF, Júlio Assis, Kirazinho, Diego Oliveira, Fabinho Ferreira, Diogo Rosa, Dr. Rogério, Carlinho Ousadia, Márcio França, Kaká Kalmão, Jorge Aila e Serginho Aguiar
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

A Beija-Flor chega ao carnaval do seu 70º aniversário com mudanças drásticas em sua estrutura de Carnaval. Laíla e Fransérgio deixaram a escola, rumo a novos desafios. Um mal-parado com Gabriel David, que parece ser o herdeiro de Anísio Abrahão David na hierarquia nilopolitana, pode trazer sérias consequências para o desfile de 2019.

Começaram mal com a escolha do samba. Na verdade, anunciaram um que em princípio parecia perfeito. Depois, a direção da agremiação decidiu por um "Frankenstein" enfiando partes de um dos sambas derrotados na final - piorando a obra que seria aquela que impulsionaria os 75 minutos de desfile da 'Deusa da Passarela'.

E é um samba aquém do que se imaginava para se falar de sete décadas "do Beija-Flor", como diz o título do enredo e como disse Neguinho da Beija-Flor ao abrir o samba de 1976 com um "Olha o Beija-Flor aí, meu povo". Logo na primeira estrofe, já fala em humildade - algo que falta não só à escola como aos seus próprios componentes - que são fieis xiitas e apaixonados, justiça seja feita. Foi até pelo chão e pela comunidade que venceram - injustamente - o desfile de 2018. 

Como letra, não gosto. Acho fraco. Um dos piores da safra. Poderia ser bem mais descritivo das histórias e tradições da Beija-Flor.

IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
Enredo: Me dá um dinheiro aí!
Carnavalescos: Mário Monteiro e Kaká Monteiro
Compositores: Elymar Santos, Márcio Pessi, Jorge Arthur, Maninho do Ponto, Júlio Alves e Dudu Miller
Intérprete: Arthur Franco

Era uma vez uma sinopse terrível, cortesia de uma ideia de enredo desproposital para as tradições da Imperatriz Leopoldinense, que gerou uma eliminatória e uma safra abaixo da crítica e um samba apontado como um dos piores do ano pelos críticos e eu, gresilense fanático, torci muito o nariz. 

Quando você olha a letra de um samba que tem entre seus compositores alguns dos campeões de 2018 e nada mais nada menos que Elymar Santos, um apaixonado pela GRESIL, você até pode pensar... 'eles podiam ter feito melhor'. Sim, sem dúvida, se a sinopse tivesse ajudado.

Mas o Carnaval nos traz coisas que só o imaginário popular pode nos proporcionar. Fui alertado de que o bicho poderia não ser tão feio quanto se imaginava. E eu imaginava a Rainha de Ramos como séria candidata ao rebaixamento.

Só que muitos outros sambas trash como este da Imperatriz (não tão pior quanto a nefasta obra de 1988 e o ridículo samba do Bacalhau, registre-se) tornam-se audíveis, palatáveis e até gostosos de ouvir - depois que você se acostuma com ele e o teu viés de avaliação muda. 

Pela galhofa, pela sacanagem do refrão dúbio no meio ("Troca troca ê... na beira da praia")... afinal, Carnaval não é alegria e galhofa? Pois a Imperatriz vem diferente, muito diferente de suas tradições.

E eu vi uma Imperatriz animada, alegre, feliz e descompromissada no ensaio do último sábado. Não só com um samba na ponta da língua, como a bateria está espetacular. A Swing da Leopoldina chega ao desfile em forma absurda. Mestre Lolo está de parabéns com o trabalho de reconstrução de um ponto crucial de um desfile, na parte melódica e de harmonia musical. Se fizer o dever de casa, sai com quatro notas máximas.

UNIDOS DA TIJUCA
Enredo: Cada macaco no seu galho. Ó meu pai, me dê o pão que eu não morro de fome!
Carnavalesco: Comissão de Carnaval (Laíla, Fransérgio, Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo)
Compositores: Márcio André, Júlio Alves, Daniel Katar, Diego Moura, Dr. Jairo, Nêgo, Elias Lopes e Júnior Trindade
Intérprete: Wantuir

Mais um grande samba da safra 2019. Fruto da vinda de Laíla para a escola do Borel, quase quatro décadas após sua primeira passagem pela agremiação. E uma obra que emula - demais - muitos dos sambas ouvidos e depois vistos na avenida apresentados pela Beija-Flor. Foi a impressão que tive na primeira audição - e muitas outras me fizeram ter essa certeza.

É um samba denso, de melodia pesada, mas que eu adoro. Acho emocionante, bonito - do início ao fim - e com uma belíssima melodia. Depois de toda a polêmica da virada de mesa de 2017 e do resultado digno do ano passado (7º lugar), a Unidos da Tijuca vem com toda a força para brigar pelo título.

Outro destaque é o retorno do ótimo Wantuir ao carro de som da escola e o intérprete foi muito bem na gravação da obra tijucana, que tem entre seus compositores o excepcional cantor Nêgo, irmão de Neguinho da Beija-Flor.

SÃO CLEMENTE
Enredo: E o samba sambou
Carnavalesco: Jorge Silveira
Compositores: Mais Velho, Helinho 107, Nino, Chocolate e Alceu Maia
Intérpretes: Leozinho Nunes e Bruno Ribas

Única a apostar numa reedição para a safra de 2019 do Grupo Especial, a São Clemente luta pela permanência na elite do Carnaval carioca tendo na obra de 1990 o seu grande trunfo.

Na época, com o título "E o samba sambou...?" do enredo, a nação clementiana pisou forte na Marquês de Sapucaí e o samba assinado por Mais Velho, Helinho 107, Chocolate, Nino e o grande cavaquinista e arranjador Alceu Maia, pegou na veia. Surpreendeu pela crítica ácida e absolutamente pertinente à estrutura de carnaval que tínhamos - o Império já fizera o mesmo em 1982 - e ainda temos. 

Muito embora pareça uma crítica datada para uns, para outros - e para mim - continua soando como algo pertinente. Resta ver se o carnavalesco Jorge Silveira dará o seu recado na concepção da proposta. O samba é imortal. Pra mim, um dos melhores da história da São Clemente, que precisa trazer de volta à avenida o seu status quo de escola irreverente, ousada e crítica, que tanto faz falta à festa.

UNIDOS DE VILA ISABEL
Enredo: Em nome do pai, do filho e dos Santos, a Vila canta a cidade de Pedro
Carnavalesco: Edson Pereira
Compositores: Evandro Bocão, André Diniz, Professor Wladimir, Marcelo Valência, Júlio Alves, Deco Augusto e Ivan Ribeiro
Intérprete: Tinga

Enredo CEP que o Povo do Samba traz para 2019 exaltando Petrópolis, com um samba apenas de razoável para bom. E olha que estamos falando de uma obra que é assinada por craques como André Diniz e Evandro Bocão - que acabou mexida desde as eliminatórias e a final e piorou depois das modificações.

Mas cabe esperar pelo trabalho de barracão que será feito pelo excelente Edson Pereira, que já mostrou seu valor em carnavais muito bons no Grupo de Acesso (Série A) e já trabalhou como assistente de Alexandre Louzada na Mocidade. Com uma estrutura hoje sólida financeiramente, a Vila está tranquila no que diz respeito à sua estrutura de desfile - tanto que até trouxe de volta o intérprete Tinga, que defendia a Unidos da Tijuca. 

A bateria Swingueira de Noel, agora sob o comando de Macaco Branco, após a polêmica passagem de Chuvisco pela azul e branco, parece também retomar a velha forma. A conferir no desfile principal.

PORTELA
Enredo: Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma sabiá
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Compositores: Jorge do Batuke, Waltinho Botafogo, Rogério Lobo, Beto Aquino, Claudinho Oliveira, José Carlos, Zé Miranda, D' Sousa e Araguaci
Intérprete: Gilsinho

Clara Nunes finalmente é enredo da escola do coração, que a abraçou quando começou a decolar na carreira, no início dos anos 1970. Trinta e seis anos depois da morte de uma das maiores cantoras que este país teve a oportunidade de conhecer, a "Sabiá" será cantada pela Portela com toda devoção e emoção no Carnaval de 2019.

Tenho certeza que os portelenses sentem cheiro de gol e a chance é grande, naquele que pode ser o último carnaval de Rosa Magalhães na Marquês de Sapucaí (aliás, independentemente de título ou não, a artista está fora da escola em 2020).  O samba de Jorge do Batuke e parceiros ganhou a quadra desde as primeiras eliminatórias e era a chamada "pule de 10", não tinha como perder e não perdeu na final.

Ouvi o samba pela primeira vez após a vitória, cantado por Zé Paulo Sierra no Baródromo - e eu adorei a entonação do refrão ao fim da segunda (parte), que lembrava o jeito que Clara Nunes cantava o samba "Guerreira" ("Sou a mineira guerreira, filha de Ogum com Iansã..."). Na voz do intérprete oficial, Gilsinho, o tom adotado foi mais de emoção, mais pra cima. Faz parte...

E é um samba que tem como característica a descrição em primeira pessoa, e que é a cara da Portela, como "Xangô" é a cara do Salgueiro - embora eu saiba que muitos torçam o nariz pra ele. Paciência... 

Eu sou suspeito: amo de paixão a cantora Clara Nunes e minha mãe é portelense. Na falta de chances da Imperatriz, torço pelo título da Portela.

UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR
Enredo: A peleja poética entre Rachel e Alencar no avarandado do céu
Carnavalesco: Severo Luzardo
Compositores: Myngal, Marcelão da Ilha, Roger Linhares, Marinho, Cap. Barreto, Eli Doutor, Fernando Nicola e Marco Moreno
Intérprete: Ito Melodia

Muitos são críticos ao samba da União da Ilha, apontando-o disparadamente como o pior entre os inéditos, descontando o samba que não é samba do Império Serrano (acho os de Grande Rio e Beija-Flor ainda piores). Outros apontam o dedo para as escolhas da própria agremiação, que muitos dizem não saber mais escolher direito suas obras que vão para a avenida.

E num ano difícil e com alguns excelentes sambas, realmente a Ilha foi aquém de suas possibilidades. A proposta de enredo do carnavalesco Severo Luzardo é muito boa - e é um achado homenagear o Ceará puxando pelo lado poético e cultural, falando em Rachel de Queiroz e José de Alencar, ícones do estado nordestino. Mas... não foi brindado infelizmente com um grande samba.

Só que a Ilha tão criticada surpreendeu positivamente ao escriba aqui no ensaio técnico. Vi uma escola cantando forte o samba, que treinou animada e com uma bateria simplesmente espetacular. A Baterilha fez um belíssimo trabalho e está de parabéns. Mas notei também uma queda nos setores finais, que até pode ser encarada como natural - mas que pode ser um complicador para quem é apontada como uma das possíveis candidatas a rebaixamento.

PARAÍSO DO TUIUTI
Entedo: O Salvador da Pátria
Carnavalesco: Jack Vasconcelos
Compositores: Cláudio Russo, Moacyr Luz, Aníbal, Zezé e Jurandir
Intérpretes: Celsinho Mody e Grazzi Brasil

Disposta a mostrar que o vice-campeonato do Grupo Especial no ano passado, após um desfile tão emocionante quanto sensacional e surpreendente, a Paraíso do Tuiuti quer pisar na avenida para mais uma vez dar o seu recado na Sapucaí.

Novamente Jack Vasconcelos propõe um enredo panfletário com obra encomendada e assinada por Cláudio Russo e Moacyr Luz. Não chega a ter o mesmo brilhantismo do samba de 2018, mas é igualmente excelente, empolgante, pega na veia e pelo visto o Tuiuti vem de novo meter o dedo em feridas que insistem em se manter abertas.

E eu vejo um ponto muito positivo no crescimento da escola de São Cristóvão, que é a afirmação da excelente cantora Grazzi Brasil como intérprete de avenida e de Celsinho Mody. Foi um achado a permanência de ambos em detrimento do discutível Nino do Milênio - e há quem diga que um dia a Grazzi vai ser intérprete principal sozinha. Será?

O que muito se discute do enredo e do samba é que o Bode Ioiô, eleito vereador em 1922 no Ceará e chamado de "O Salvador da Pátria" seja uma metáfora para se citar o ex-presidente Lula, do mesmo modo que a novela global que teve Lima Duarte interpretando o inesquecível boia-fria Sassá Mutema, foi apontada como panfletária e pró-Lula às vésperas da eleição presidencial de 1989. 

Críticas e alusões a parte, temos tudo para assistir a mais um grande desfile do Tuiuti.

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
Enredo: Histórias para ninar gente grande
Carnavalesco: Leandro Vieira
Compositores: Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Márcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino
Intérprete: Marquinho Art'Samba

Leandro Vieira é um gênio do Carnaval do Rio de Janeiro. Quem presta atenção em suas propostas recentes de enredo já teve a dimensão exata do que ele tem feito em termos de trabalhos estéticos, alegóricos e, principalmente, de propor discussões.

O que o enredo da Mangueira nos traz para 2019 é a desconstrução de alguns mitos da história do país. Virando os livros pelo avesso, o Leandro nos aponta os reais heróis e heroínas de um país tão carente e que, cultural, política e sociologicamente, passa por um dos períodos mais nefastos dos últimos tempos.

O samba composto por Deivid Domênico e parceiros é uma porrada. Me emocionou de saída na gravação da demo com a doce menina Cacá, que estava (ou está, já que não assisto) no The Voice Kids, da RGT ao lado do Wantuir. Já era dentre as obras que concorriam nas 14 escolas do Especial, a mais falada e comentada. Ganhou a disputa e caiu no gosto dos bambas. No Baródromo, a cada vez que é executado pelo Grupo Arquibancada, é urrado por todos os presentes na casa sediada na Lapa.

Enfim... se os sambas-enredo tivessem a mesma penetração midiática que já tiveram nos anos 1980 - e a própria LIESA tem culpa no cartório, assim como as próprias escolas - a Mangueira seria pule de dez entre as mais ouvidas não só no Rio como no Brasil inteiro.

O Carnaval precisa de mais cabeças como a de Leandro Vieira. Precisa de mais sambas como o da Mangueira. Pra nos fazer acordar e ver que os livros de história nem sempre apontam a verdade e muito menos nos dizem quem foram aqueles que lutaram para que o Brasil existisse. Que nesse período de trevas, a Velha Manga nos traga luz, nos emocione e nos faça crer que o samba ainda pulsa nas nossas veias como um instrumento de protesto e comoção social.

MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
Enredo: Eu sou o tempo. Tempo é vida
Carnavalesco: Alexandre Louzada
Compositores: Jefinho Rodrigues, Diego Nicolau, Marquinho Índio, Jonas Marques, Richard Valença, Roni Pit Stop, Orlando Ambrosio, Cabeça do Ajax
Intérprete: Wander Pires

Elza Soares, que será enredo da verde e branco de Padre Miguel em 2020, com seu timbre característico, apesar dos seus 88 anos vividos e sofridos, abre a faixa da última escola que desfilará na Sapucaí em 2019, fechando o Grupo Especial. É um bonito samba o eleito pela Mocidade, composto por Jefinho Rodrigues e parceiros. Mas confesso que gosto muito mais dos dois últimos, em especial o do título dividido de forma polêmica com a Portela ano retrasado.

A agremiação da Zona Oeste renasceu após tempos difíceis, flertando com o Grupo de Acesso, e parece disposta a repetir os bons carnavais dos últimos dois anos. Mas a Mocidade esbarra num problema: se a Mangueira for o rolo compressor que se aguarda, a tendência é que a expectativa pelo carnaval que será mais uma vez concebido por Alexandre Louzada, pode diminuir assim como a presença de público na Sapucaí.

Só que a escola tem, além de um belo samba, um dos cinco melhores do ano - no meu gosto pessoal - quesitos capazes de fazê-la brigar lá na frente. Se a bateria "Não existe mais quente" for bem julgada e os responsáveis pelas notas estiverem de bom humor, só na parte relativa à música, a chance é grande de 80 pontos. Aí temos que ver como vem a parte estética e a Mocidade era uma das escolas mais atrasadas de barracão. Mas Louzada garante que tudo estará pronto a contento e acho que veremos um belo espetáculo de encerramento do desfile deste ano.














sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Carnaval 2019 - os sambas do Grupo de Acesso

Ano passado, a campeã do Grupo de Acesso foi a Unidos do Viradouro. Quem será a vencedora em 2019? A parada é difícil, pois há bons sambas. Mas o momento de crise pelo qual passa o carnaval pode refletir nos desfiles

Muito tempo depois da última atualização, o Saco de Gatos ressurge com uma postagem sobre Carnaval.

Pois é... muitos podem não gostar da folia momesca. Mas eu gosto. É uma das maiores manifestações de arte e cultura deste país. E muito embora venha sendo vilipendiada e maltratada, principalmente pela prefeitura neopentecostal do pífio Marcelo Crivella, a festa aqui no Rio de Janeiro ainda atrai turistas e visibilidade para a outrora Cidade Maravilhosa.

E em tempos onde o Carnaval e o samba-enredo como gênero musical estão de mal com o Brasil e com o povo do Rio de Janeiro, cada vez mais sectário, medíocre, bitolado e atrasado, o gênero agoniza, mas não morre.

A safra de 2019 no Grupo de Acesso (Série A) que desfila em dois dias, no início de março, nos traz enredos alentados, obras muito boas e uma reedição patrocinada pela volta da Unidos da Ponte à Marquês de Sapucaí.

Sem perda de tempo, seguem abaixo as 13 agremiações que vão lutar por uma vaga no Grupo Especial para o Carnaval de 2020, por ordem de apresentação na Marquês de Sapucaí - e não na ordem do CD mais uma vez produzido por Leonardo Bessa.

UNIDOS DA PONTE
Enredo: Oferendas
Carnavalescos: Guilherme Diniz e Rodrigo Marques
Compositor: Jorginho
Intérpretes: Lico Monteiro e Tiganá

Campeã do Grupo B em 2018 na Intendente Magalhães, a Unidos da Ponte aposta num dos grandes sambas de sua alentada safra dos anos 1980 para permanecer na Marquês de Sapucaí, onde chegou a figurar por muito tempo na Elite e no Grupo de Acesso. "Oferendas" foi a obra do desfile de 1984 onde, mesmo com a escola rebaixada ao então Grupo 1-B, o samba agradou por sua excepcional cadência na oportunidade.

Contudo, a gravação não está à altura do que se (ou)viu com Grilo na condução do samba de Jorginho. Por mais que Tiganá e Lico Monteiro se esforcem - com direito a um alusivo longuíssimo - a versão 2019 é menos inspirada do que a original, embora houvesse uma tentativa de deixar a obra o mais próxima possível em termos de cadência. Sobre o samba como um todo, não é necessária qualquer avaliação, já que é uma reedição. É nele em que a Ponte e a turma de São João de Meriti se agarra para permanecer mais um ano na Série A.

ALEGRIA DA ZONA SUL
Enredo: Saravá, Umbanda!
Carnavalesco: Marco Antônio Falleiros
Compositores: Márcio André, Neyzinho do Cavaco, Lopita 77, Ribeirinho, Elson Ramires, Beto Rocha, Telmo Augusto, Fábio Xavier, China, Girão e Samir Trindade
Intérprete: Igor Vianna

A agremiação que congrega as comunidades do Cantagalo e Pavão/Pavãozinho segue, apesar de algumas dificuldades, firme na Série A com boas posições nos últimos desfiles. A expectativa é que a Alegria da Zona Sul mantenha os mesmos objetivos, embora a obra para 2019 não tenha a mesma qualidade que o samba do último desfile, que rendeu à escola um bom 8º lugar.

O samba de Márcio André, Samir Trindade e cia., com direito à participação de integrantes de parcerias vencedoras noutras agremiações em carnavais passados, é apenas regular - há quem diga que animado demais para falar de Umbanda. Sobre a interpretação, sem comentários adicionais: Igor Vianna está muito à vontade na gravação da faixa.

ACADÊMICOS DA ROCINHA
Enredo: Bananas Para o Preconceito
Carnavalesco: Júnior Pernambucano
Compositores: Cláudio Russo, Diego Nicolau, Renato Galante, Kirrazinho, Ralf e Fadico
Intérprete: Ciganerey

Um tema sempre necessário e atual no Carnaval, o preconceito é abordado com muita propriedade na proposta de enredo de Júnior Pernambucano para o carnaval da Acadêmicos da Rocinha. Muito oportuno também, por conta de tudo o que vivemos e viveremos no futuro. Melhor pular essa parte para não entrar numa seara, digamos, nebulosa...

Apesar de bons momentos indiscutíveis, especialmente na primeira estrofe e no refrão principal, o samba de craques como Cláudio Russo e Diego Nicolau é bom - porém, um pouco distante de outros que considero superiores. Num primeiro momento, achava esse samba da Borboleta um dos melhores para o ano de 2019, mas a cada audição, mudei de opinião. Com o reforço de Ciganerey (um tanto quanto contido na gravação), dispensado pela Mangueira, no carro de som, veremos como a Rocinha se sairá neste carnaval.

ACADÊMICOS DE SANTA CRUZ
Enredo: Ruth de Souza - Senhora Liberdade, Abre as Asas Sobre Nós
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Compositores: Samir Trindade, Elson Ramirez e Júnior Fionda
Intérprete: Roninho (Participação Especial: Xande de Pilares)

A Santa Cruz não tinha enredo, não tinha samba, não tinha nada. Isso até o fim do primeiro semestre de 2018. Em agosto, veio o anúncio da chegada do carnavalesco Cahê Rodrigues, que sugeriu um enredo sobre a atriz Ruth de Souza, uma das primeiras negras a subir no palco do Teatro Municipal para a encenação de "Imperador Jones", de Eugene O'Neill, em 1945.

A carioca de 97 anos recebe da escola da Zona Oeste uma homenagem à altura de sua carreira. Aliás, para o meu conceito, o melhor samba do Grupo de Acesso - mesmo sendo encomendado à Samir Trindade, Elson Ramirez e Júnior Fionda, a toque de caixa.

De rica trajetória no teatro, cinema e televisão, a Dama Negra é homenageada com um samba de formato tradicional e de letra excepcional, com momentos emocionantes e uma referência ao enredo "Heróis da Resistência", apresentado pela agremiação nos anos 1990. Roninho divide a ótima gravação com Xande de Pilares, que acabou convidado pelo presidente Zezo para dar mais um 'molho' a um samba que tem tudo para acontecer na Sapucaí.

O problema é justamente este: a enorme expectativa se transformar em decepção, diante do histórico de más colocações nos recentes desfiles da escola.

UNIDOS DE PADRE MIGUEL
Enredo: Qualquer Semelhança Não Terá Sido Mera Coincidência
Carnavalesco: João Victor Araújo
Compositores: Jefinho Rodrigues, Igor Leal, Jonas Marques, Wagner Santos, Gulle, Eli Penteado, Roni Pit Stop e Ruth Labre
Intérprete: Pixulé

"Qualquer Semelhança Terá Sido Mera Coincidência": quem nunca, ao final das novelas da Rede Globo, nunca leu algo semelhante nos créditos finais da maioria dos folhetins apresentados pela referida emissora carioca por muito tempo?

Pois é... a Unidos de Padre Miguel, cansada de bater na trave nos últimos anos, aposta numa bem-sacada homenagem a Dias Gomes, para buscar o sonhado título rumo ao Grupo Especial em 2020. A agremiação da Vila Vintém tem um bom samba de Jefinho Rodrigues e parceiros para tentar superar as outras 12 escolas concorrentes - muito embora a melodia seja muito parecida com as obras dos últimos dois anos.

É preciso fazer justiça, principalmente, que a letra cita personagens e obras do dramaturgo baiano sem apelar a clichês e lugares-comuns, como o samba em que sua primeira mulher, Janete Clair, foi homenageada pelo Leão de Nova Iguaçu em 1992. E principalmente que a letra casou de forma perfeita com o momento atual vivido neste país. Basta prestar atenção na mensagem passada pelos compositores e pelo enredo.

Um samba forte, não tão à altura da obra-prima apresentada em 2017, mas que pode muito bem levar a UPM ao tão esperado "final feliz" do refrão.

INOCENTES DE BELFORD ROXO
Enredo: O Frasco do Bandoleiro (baseado num causo com a boca na botija)
Carnavalesco: Marcus Ferreira
Compositores: André Diniz e Cláudio Russo
Intérprete: Nino do Milênio

Este é uma incógnita entre os sambas da safra de 2019. Carrega a assinatura de André Diniz e Cláudio Russo, com a escola da Baixada Fluminense recorrendo a (mais uma) obra encomendada.

Mas apesar da grife, não gosto. Princpalmente por conta do intérprete. Nino do Milênio é muito, muito chato. Perdoem-me quem gosta do referido cantor, mas eu não consigo gostar. No Tuiuti, ano passado, foi simplesmente engolido no desfile principal pelos demais integrantes do carro de som. Logo após o Desfile das Campeãs, foi preterido por Grazzi Brasil e Celsinho Moddy.

E em seu retorno à escola, não consegue dar um destaque maior a um samba confuso, de melodia estranha. Se a Inocentes chegar perto do 4º lugar alcançado em 2018, parabéns.

ACADÊMICOS DO SOSSEGO
Enredo: Não Se Meta Com Minha Fé, Acredito em Quem Quiser
Carnavalesco: Leandro Valente
Compositores: Felipe Filósofo, Orlando Ambrosio, Michel do Alto, Sergio Joca, Fabio Borges, Serginho Rocco, W. Motta, Ademir Ribeiro, Diego Tavares, Mário da Vila, Gilmar Silva e Lucas Donato
Intérpretes: Guto e Juliana Pagung

Quantidade nem sempre significa qualidade e muito menos excelência em samba-enredo. Para a obra de 2019, a Acadêmicos do Sossego - que se salvou do rebaixamento por conta de outra virada de mesa - conta com nada menos que 12 compositores de uma das obras mais fracas do ano.

Acho válida a tentativa de fazer alguma coisa diferente em termos de estrutura de letra. Ano passado, o bom samba "Ritualis" não tinha verbo. O deste ano não tem rima. Mas até aí, morreu o neves: "Raízes", clássico da Vila Isabel de 1987, que tinha Martinho da Vila na parceria, também usou deste recurso e foi muito mais bem sucedido que a parceria encabeçada por Felipe Filósofo e por Lucas Donato, sobrinho do saudoso Roberto Ribeiro.

Até que o novato Guto, egresso do carnaval de Nova Friburgo e Juliana Pagung, guindada do carro de som da Mocidade Independente de Padre Miguel, não comprometem. Mas a obra da escola do Largo da Batalha, em Niterói, soa irregular e um tanto quanto estranha.

Por falar na Sossego, a escola já apresentou sua parcela de polêmica para o carnaval 2019. Ela apresentará uma alegoria de um demônio com traços que lembram muito o prefeito carioca Marcelo Crivella. 

Qualquer semelhança...

UNIDOS DE BANGU
Enredo: Do Ventre da Terra, Raízes Para o Mundo
Carnavalescos: Alex de Oliveira e Edson Pereira
Compositores: Samir Trindade, André Kaballa, Márcio de Deus, Wellington Amaro, Paulinho Ferreira, Henrique Costa, Fabio Fonseca, Fabio Martins, Neizinho, Julio Assis, Marlon P. e Vinícius Sombra
Intérpretes: Tem-Tem Jr. e Luis Oliveira

Após se segurar na Sapucaí para o carnaval de 2019, a Unidos de Bangu abrirá o desfile do sábado com outro samba que também deixa um pouco a desejar na safra da Série A. O enredo já não ajuda muito, embora a escola da Zona Oeste até esteja bem servida de carnavalescos. Mas quando o tema é a... batata (!), fica difícil defender.

Daí a sinopse não ajuda muito e a obra, que conta com 12 compositores - igualzinho à Sossego - não diz nada com nada. Será uma tarefa árdua para os banguenses e principalmente para os novatos intérpretes Tem-Tem Jr. e Luis Oliveira, que até deram o seu melhor num samba muito bem gravado no CD. Mas no geral, é uma obra abaixo da maioria.

RENASCER DE JACAREPAGUÁ
Enredo: Dois de Fevereiro no Rio Vermelho
Carnavalescos: Raphael Torres e Alexandre Rangel
Compositores: Moacyr Luz, Cláudio Russo e Diego Nicolau
Intérprete: Diego Nicolau

Sexto ano de sambas encomendados à dupla Moacyr Luz/Cláudio Russo, desta vez com Diego Nicolau participando da composição - e o resultado não poderia ser outro: mais uma obra espetacular para a Renascer de Jacarepaguá desfilar na Marquês de Sapucaí.

Enredos sobre Bahia normalmente são repletos de clichês, mas - por mais que alguns deles estejam aqui presentes, o samba é muito bom. Tem ótimos refrães e um meio de primeira parte realmente muito bonito e inspirado, na referência à Gabriela. E Diego Nicolau dá um show na gravação, na melhor performance de qualquer intérprete neste disco.

Obra propícia para a excelente bateria da Renascer deitar e rolar na avenida.

ESTÁCIO DE SÁ
Enredo: A Fé Que Emerge das Águas
Carnavalesco: Tarcísio Zanon
Compositores: Alexandre Naval, Edson Marinho, Tinga, Jorge Xavier, Luiz Sapatinho, Cláudio, Álvaro Roberto, Alexandre Moraes, Hugo Bruno e Júlio Alves
Intérprete: Serginho do Porto

Samba de excelente sinopse de autoria de Daniel Targueta, a obra estaciana para 2019 pode ser uma das boas surpresas do desfile. Inspirado na festa do Cristo Negro do Panamá, o enredo do carnavalesco Tarcísio Zanon ganhou uma obra que a princípio parecia resvalar no meio-termo, mas que com as devidas mudanças cresceu e ficou muito interessante.

Apesar dos clichês religiosos, tem belíssimos momentos - sem contar a boa interpretação de Serginho do Porto. Resta ver se no retorno de Mestre Chuvisco à frente da bateria da agremiação vermelha e branca, se o samba terá a sustentação de ritmo e cadência necessários para ser bem defendido pelos componentes e entendido pelo público na avenida.

UNIDOS DO PORTO DA PEDRA
Enredo: Antônio Pitanga, Um Negro em Movimento
Carnavalesco: Jaime Cezário
Compositores: Bira, Claudinho Guimarães, Duda SG, Márcio Rangel, Alexandre Vilela, Guilherme Andrade, Adelyr, Bruno Soares, Rafael Raçudo, Paulo Borges, Oscar Bessa e Eric Costa
Intérprete: Luizinho Andanças

A Porto da Pedra foi protagonista de um dos maiores equívocos para o carnaval 2019. Tudo porque a agremiação de São Gonçalo abriu mão da obra apresentada pela parceria de Altay Veloso, Zé Glória e Paulo César Feital, que disparadamente era não só o melhor samba do Grupo de Acesso como também de todo o carnaval do Rio de Janeiro para este ano.

E até parecia favas contadas no anúncio do enredo que o samba seria este, pois houve o rumor que não haveria disputa. O homenageado Antônio Pitanga deixou-se fotografar com Feital e Altay no lançamento do enredo, mas a diretoria da Porto da Pedra decidiu pelas eliminatórias. E na final, a surpresa: foi escolhida a obra de Bira, Claudinho Guimarães e parceiros.

Num primeiro momento, até gostei do samba vencedor - muito bem defendido por Evandro Malandro na demo (aliás e a propósito), mas depois de muitas outras audições com o intérprete Luizinho Andanças, já não me agrada tanto.

Em termos de impacto e importância, o samba derrotado era disparado muito, mas muito melhor. Enfim... veremos na apuração o desfecho dessa escolha.

IMPÉRIO DA TIJUCA
Enredo: Império do Café, o Vale da Esperança!
Carnavalesco: Jorge Caribé
Compositores: Diego Nicolau, Tinga, Pixulé, Jota e Braguinha Cromadinho
Intérprete: Daniel Silva

Samba com grife - tem Tinga, Pixulé e Diego Nicolau na parceria - acaba sendo outra das boas surpresas da safra de 2019.

Para falar da saga do Vale do Café, formada por 15 municípios do Rio de Janeiro, apela para as referências um tanto quanto batidas do trabalho escravo dos negros africanos - o que não pode ser omitido - mas a composição guarda belos momentos e dois ótimos refrães.

Desnecessária a "lacração" ao falar de agronegócio na última frase da segunda parte. Mas no geral, é uma obra muito agradável. E Daniel Silva é um dos cantores da nova geração que me agrada bastante com seu timbre grave bem característico.

ACADÊMICOS DO CUBANGO
Enredo: Igbá Cubango - A Alma das Coisas e a Arte dos Milagres
Carnavalescos: Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Compositores: Robson Ramos, Sardinha, Duda Tonon, Anderson Lemos, Altinho, Sérgio Careca, Carlão do Caranguejo e Samir Trindade
Intérprete: Thiago Brito

O fechamento do desfile de 2019 promete muita emoção. A Acadêmicos do Cubango nos oferta mais um belo enredo à altura das tradições da verde e branco de Niterói, com referências a sortilégios, milagres, amuletos e fé - de temática afro e com uma merecida homenagem ao lendário enredo "Afoxé", campeão do carnaval niteroiense há 40 anos.

Gozado que no começo não gostei muito da gravação - não pela presença do intérprete Thiago Brito, muito pelo contrário - mas da produção em si. Não a achei à altura da obra num primeiro momento. E desgostei um pouco do samba quando vi que a segunda parte da letra (praticamente toda), bem como alguns outros trechos, fora clamorosamente mexida em relação à obra original de Sardinha e parceiros, gravada na demo por Tinga e Diego Nicolau.

Mas é aquela história: você escuta, uma, duas, cinco, dez vezes, e passa a gostar do samba. E ele realmente é bom, muito bom. Se pegar na avenida, pode ser um "sacode" para quem sabe conduzir Cubango ao desfile principal, que nunca a escola visitou - o oposto da Viradouro, que já foi inclusive campeã em 1997.

E um pequeno aparte: guardem os nomes dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Os dois já fizeram ano passado um excepcional trabalho no enredo alusivo a Arthur Bispo do Rosário. Daqui a pouco, vai ter escola do Especial disputando os dois a tapa.