segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Missionários do rock

Depois das pedras rolarem por Copacabana, é a vez do U2 aportar por terras brazucas.

O desastre da apresentação de 1998 no Rio de Janeiro ainda deve ecoar fundo nos ouvidos da banda e do empresário Paul McGuinness. Na ocasião, a cidade entrou em colapso por causa do show e muita gente com ingresso na mão chegou na hora do "boa noite" de Bono e seus comandados.

Pocket show pra TV Globo e segunda versão de clipe para "Walk On", ambos produzidos em 2000, não foram suficientes para diminuir a tristeza dos cariocas, que desta vez ficaram de fora da festa.

Quem for do Rio e também de outros estados, terá que se deslocar ao Morumbi, em São Paulo. Seria um show apenas, nesta segunda-feira (e isso lá é dia de se fazer show de rock?). Mas a procura por ingressos foi imensa e uma apresentação extra acontecerá na terça.

O grande xis da questão é o preço do ingresso. O Brasil é um país pobre. E o organizador, ou o promotor, quem quer que seja, não pode se dar ao luxo de cobrar R$ 200 pela entrada mais barata! Tem gente que nem ganha isso trabalhando 30 dias ao mês...

Enfim, não adianta chiar. Quando você vê uma situação em que todos os ingressos já estão vendidos (os do segundo show se esgotaram em três dias), dá muito o que pensar.

Mas Bono Vox, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. nada têm a ver com isso. O que eles querem, como fazem desde 1978, é fazer rock and roll de primeira qualidade - salvo o disco "Pop", provavelmente o pior do grupo em toda a sua história e do qual nenhuma faixa está sendo tocada na atual turnê.

Desde o início da carreira, provavelmente o U2 é o grupo mais presente na vida de todas as pessoas na faixa etária entre 30 e 40 anos. Foi essa geração que acompanhou o surgimento e o auge da banda nos anos 80.

É incontestável que Bono seja um líder nato. E diferentemente da maioria dos seus pares, o cantor irlandês não se furta de dar opinião - para tudo. Engajado, político, Paul Hewson é uma das figuras mais conhecidas do planeta. Até já o indicaram para o Prêmio Nobel da Paz. E estando no Brasil, ele não podia deixar de fazer uma visitinha ao presidente Lula, a quem conheceu ano passado durante o Fórum Social de Davos, na Suíça.

O grupo chegou no início da manhã a São Paulo e imediatamente Bono se preparou para ir a Brasília. "Estou ansioso para conhecer a cidade. É a realização de um sonho", exagerou. Na capital da república, o irlandês sentiu-se em casa. Não é à toa que ele diz que os brasileiros são 'irlandeses que sabem dançar'.


Sempre amável, simpático, solícito, com óculos escuros e o indefectível chapéu de cowboy, Bono causou alvoroço ao chegar à Granja do Torto, onde era esperado pelo presidente e pela imprensa, além dos fãs que se amontoaram na porta da residência oficial. Durante duas horas, o cantor e Lula conversaram sobre programas alternativos de desenvolvimento de combustíveis e causas sociais.

A exemplo do que fez Lenny Kravitz, que doou uma guitarra ao programa social Fome Zero, que no leilão arrecadou R$ 322 mil, Bono prometeu ao presidente que todas as guitarras usadas por ele e The Edge durante o show também serão doadas.

Então esperem mais durante o show de logo mais no Morumbi. O festival de afagos dos missionários do rock no povo brasileiro parece não ter fim.

Um comentário:

Anônimo disse...

O U2 é bacana! Mas é um "cheque com fundos", que sempre apresenta novidades e composições interessantes. Não é apenas uma banda que vive de seu próprio passado como tantas outras, que sobrevivem fazendo covers de si mesmas. Bono e companhia farão um grande show, sem dúvida. E nem poderia ser diferente, já que 200 reais é um valor absurdo p'ra um ingresso... Hehehe!
Grande abraço, Rodrigo!