domingo, 30 de julho de 2006

Hooligans tupiniquins

Eu me considero uma pessoa passional.

Adoro o que faço e tudo o que gosto, é com paixão.

Mas às vezes exageramos na dose.

Que o diga a torcida do Grêmio de Foot-Ball Porto Alegrense, o tricolor dos pampas, no Gre-Nal deste domingo, no Beira-Rio.

A torcida em si não - uma facção denominada Alma Castelhana - que torce ao estilo portenho, com cânticos de guerra e faixas em espanhol, além da avalanche a cada gol gremista. Há dois anos, quando surgiu, a Alma tinha cem, duzentos torcedores acompanhando. Hoje eles passam de cinco mil.

E foi essa turma (de cujas comemorações achava graça no começo) que provocou cenas lamentáveis no clássico válido pelo Campeonato Brasileiro.

Espremidos num canto do Beira-Rio, não se contentaram em depredar as dependências do Internacional, o arqui-rival do Grêmio. Fizeram ainda pior. Jogaram, acreditem se quiser, um banheiro químico, daqueles feitos de fibra, no fosso do estádio. Entraram em conflito com a Brigada Militar e a porrada comeu antes do jogo.



Não satisfeitos, no segundo tempo os gremistas extrapolaram na selvageria, ateando fogo no banheiro depredado. Como o material é de fibra plástica, o incêndio foi imediato e uma espessa nuvem de fumaça preta fez o jogo ser interrompido pelo árbitro. Os bombeiros intervieram, apagaram o fogo do banheiro e também o da torcida do Grêmio, intimidada pela polícia com bombas de efeito moral.



O jogo foi o retrato da selvageria da torcida (ou seja, deplorável) e o segundo tempo terminou com exatos 60 minutos. Placar final - zero a zero.

Muito bem...

Agora a pergunta que não quer calar?

Cabe ao clube Grêmio de Foot-Ball Porto Alegrense uma punição severa pelo péssimo comportamento de sua torcida no Beira-Rio, mesmo sendo a equipe visitante?

Na minha opinião, mais do que intervir e deixar os torcedores sem ver a equipe jogar por pelo menos umas três partidas no Olímpico, é muito pior notar que não se pode mais ir ver um jogo de futebol acompanhado de qualquer familiar - quer seja pai, mãe, esposa, filhos ou sobrinhos.

Porque os atos de vandalismo praticados por essas facções vêm assustando e muito. Este ano já vimos cenas lamentáveis no Pacaembu quando o Corinthians foi eliminado pelo River Plate na Taça Libertadores da América.

E neste 30 de julho, mais um capítulo triste do futebol brasileiro acaba de ser escrito com uma mancha negra, a mancha da vergonha.

Cá pra nós... e ainda tem gente que viaja na maionese querendo ver a Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil.

Só se for em outra encarnação, porque com os estádios - e os torcedores que temos - isto é humanamente impossível.

sexta-feira, 21 de julho de 2006

A melhor sexta-feira da minha vida

Hoje vou poder me permitir falar de um dos momentos mais maravilhosos que eu já tive em 35 anos de vida.

Há exatamente uma semana, realizei um antigo sonho: andar num carro de corrida - mesmo que fosse no banco do carona.



Sonho este que sempre foi alimentado por uma paixão inenarrável pela velocidade, pelo cheiro de gasolina, pneu queimado, ronco de motor. Chama que nunca se apagou e nem se apagará.

E a idéia surgiu do nada. Eu chegara em Interlagos para acompanhar os treinos livres da GT3 Cup Challenge Brasil e pensei alto - até demais. "Como seria bom andar nesse carro!"

Foi a senha: o piloto e amigo Sérgio Ribas chegou pra mim e disse. "Não tem erro. Eu falo com o Dener (Dener Pires) e o Beto (Bob Keller) e eles ajeitam isso pra você."

Não passei o resto da tarde pensando nisso não. Se não desse pra andar, paciência. Que ficasse pra uma próxima. Mas o pessoal da Porsche do Brasil, que é parceiro nosso nas transmissões, não pensou duas vezes. Acharam que seria ótimo eu andar num dos carros para poder sentir como é que a coisa pega dentro da pista. E providenciaram tudo: macacão, luvas, capacete, balaclava - na verdade, já estavam lá, eram do Dener Pires e serviram direitinho em mim.

Por um momento me senti piloto de verdade! E com direito a foto tirada pelo competente Vinícius Nunes - já que eu deixara minha digitalzinha aqui no Rio.



O pessoal cuidou para que eu fosse andar no carro 00, escalado como reserva para a rodada dupla do último fim de semana. Tiraram o segundo assento que estava no carro de um estreante e o transportaram para o Porsche. O piloto que andaria comigo era Ricardo Maurício, com experiência na Fórmula 3000 internacional e hoje na Stock Car - portanto, um bota de grande qualidade. E o Ricardinho entrou na pilha e se animou pra me proporcionar um momento inesquecível.

Teríamos direito a sair no intervalo entre os dois grupos do treino classificatório. E o carro demorou a sair do boxe. Não por um problema mecânico, mas sim porque o cinto de segurança do meu banco estava mal ajustado. O próprio Dener, zeloso, veio em direção ao assento e consertou tudo. Os pilotos usam um cinto com seis pontos de fixação, cujo fecho fica bem na virilha. Incomodou um pouco, mas nem reclamei. Afinal, era uma oportunidade única - e de andar numa fera das pistas!

Recebemos o OK. Ricardinho ligou o carro (como ronca bonito o motor flat de seis cilindros!) e saímos pela pista do boxe em direção à saída para ganhar os 4,309 km do traçado do Autódromo de Interlagos. Antes, já fizera um sinal do tipo 'pisa fundo, não economiza'.

Ele entendeu o recado: tão logo ganhamos a pista, ele deu gás, trocou de marchas e logo estávamos no fim da reta oposta, freando forte para a descida do Lago. O ABS do carro alemão é maravilhoso, mas o corpo sente os efeitos, dando seguidos trancos pra frente.

Ricardinho fez com mestria a curva do Laranjinha e ganhou o miolo de baixa. O barulho característico do carro passando sobre a zebra, que eu só conhecia dos jogos de videogame, estava ali bem aos meus ouvidos. Afora o ronco forte do motor, despejando sua cavalaria de 390 HP.

O êxtase completo foi o subidão pra reta dos boxes. As marchas foram subindo, a velocidade também e depois eu soubera que chegamos a cerca de 253 km/h. Deu uma vontade louca de gritar dentro do capacete, eu curtia aquele momento como se fosse o último, o único!


Esse do Senna, agora completo e de novo a reta oposta. De novo os freios funcionando perfeitamente. E na curva do Laranjinha tive uma visão que me impressionou: Ricardo mantinha o volante em contra-esterço, uma, duas, três, quatro vezes virado para fazer o contorno perfeito - e acelerando! Tudo isso em questão de segundos até a freada para o Pinheirinho.

Depois de mais alguns metros e a adrenalina a mil, fui despertado do sonho. Tomamos o rumo dos boxes e encostamos na garagem. Saí tropeçando na barra anticapotagem, mas com um puta sorriso debaixo do capacete. Minha expressão de felicidade era nítida e todos os pilotos vinham me perguntar.

"E aí, gostou?"

Respondi a todos, sem exceção, que fora uma experiência incrível. E que nunca mais ousaria criticar nenhum deles - afinal, vendo do ângulo dos próprios pilotos é que se tem noção do quanto é difícil andar com um Porsche em Interlagos - coisa para poucos.

O amigo Luiz Alberto Pandini, o grande Panda, resumiu tudo numa frase. "O seu rosto está iluminado!"

E confesso - dormi um sono ótimo e não parei de pensar nessa volta em alta velocidade até acordar e voltar no sábado para a pista onde realizei meu sonho de toda a vida.

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Relíquia IV

E a caça por fotos de motos artesanais continua.

Agora vou postar duas delas. Essa aí é a Morbidelli 500cc, de 1981.


Sabem quem é o piloto acima?

É Graziano Rossi, pai do fenomenal Valentino Rossi. Com essa moto, porém, ele não marcou um único ponto no Mundial daquele ano.

Outra máquina sensacional é a Fior-Suzuki, protótipo construído por Claude Fior e que recebeu por muitos anos diversas variantes mecânicas e técnicas.

Esta é a máquina de 1983, pilotada pelo francês Jean Lafond em duas corridas. Notem o tamanho do quadro da moto.


quarta-feira, 19 de julho de 2006

Relíquia III

E tome varandão da saudade!

Essa é pra homenagear duas figuras de proa do automobilismo brasileiro: Herculano e Antônio Ferreirinha - dois portugueses que vieram, viram e venceram por aqui.

Nos idos dos anos 70 (alô velha guarda, me corrijam se eu estiver errado...) os dois fundaram a Heve para construir carros de competição. O Lola T200 que disputou o torneio BUA de Fórmula Ford daquele ano claramente serviu de inspiração para a existência do primeiro monoposto construído por eles.

Muita gente boa guiou os Heve de F-Ford e lá por 73, acho, houve a promessa de que a Federação Goiânia levaria dezenas deles para o Planalto Central, para a organização de um torneio Centro-Oeste a partir de 74, quando o autódromo de Brasília seria inaugurado - o de Goiânia, lamentavelmente hoje abandonado, já existia.

Não sei ao certo se os carros chegaram, mas a demora na entrega precipitou a estréia de um certo Nelson Piquet (à época Piket) na Super Vê, onde o Heve correu com Milton Amaral e principalmente com Maurício Chulan.

Este último já era um craque em correr com os modelos Heve, especialmente os protótipos, desde 1972. Ele foi tetracampeão brasileiro de Esporte Protótipo Nacional (Divisão 4), sempre com o Heve de motor Volkswagen, mexido para alcançar 2.000 cilindradas.



Chulan, que algum tempo depois ainda seria também campeão da Fórmula Volkswagen 1600 em 79, aparece aqui nesta foto tocando o carro da escuderia Hollywood no circuito de Cascavel para mais uma vitória, na temporada de 1975.

Aliás, o que eles comemoraram de vitória naquele ano não estava no mapa...

Relíquia II

Como bom apaixonado por motores, também sou fã declarado de motocicletas de competição. Diga-se de passagem, as corridas do Mundial de MotoGP, 125 e 250cc estão mil vezes melhor que a Fórmula 1.

E como sempre, ainda sob o efeito do bate-papo de Interlagos, de novo o Jonny'O entrou em ação me mandando um link de uma página com dezenas de fotografias de motos e pilotos de todos os tempos.

Do Brasil tem só o Alexandre Barros e o Antonio Jorge Neto - imperdoável, pois o Adu Celso foi nosso grande nome durante os anos 70, mesmo correndo por um bom tempo com licença holandesa.

As máquinas antigas são de babar. As artesanais, então, são coisa de louco.

Lembram da Sanvenero? A marca espanhola (ou italiana, quem souber me tire a dúvida) correu inclusive nas 500cc com o piloto suíço Michel Frutschi, tragicamente falecido no GP da França de 1983 em Le Mans-Bugatti. Um ano antes ele vencera com esta máquina a mesma corrida, só que em Nogaro.

Taí Michel Frutschi em cores, para quem não o conhecia.

Relíquia

O amigo Jonny'O entrou na pilha do papo de sábado em Interlagos e não mediu esforços para achar um registro fotográfico do Cianciaruso-Passat que, como ficamos sabendo, está abandonado como ferro-velho numa oficina na capital paulista (alô alô rapaziada... vamos pegar e reformar esse carro).

Eis a máquina nos preparativos para a corrida de Brasília, abertura da temporada de 1981 da Fórmula 2 - onde só completou uma volta. Notem o público nas arquibancadas.

terça-feira, 18 de julho de 2006

Cai o pano...

Fico triste sempre quando tenho que escrever sobre alguém que vai para o andar de cima.

Mas confesso que estou mais chateado ainda porque o teatro, o cinema e a TV brasileiros perderam um grande nome nesta terça-feira: Raul Cortez.



O ator, de 73 anos, vinha lutando contra um câncer desde meados de 2004 - doença que o afastara de sua última novela, "Senhora do Destino", onde interpretava o Barão de Bonsucesso.

Alto, de família rica, Raul Cortez começou a carreira artística em 1955, levado por Ítalo Rossi para o Teatro Paulista do Estudante, dirigido por Oduvaldo Vianna Filho, o inesquecível Vianinha. E daí até seu trabalho mais recente - a minissérie "JK", de Maria Adelaide do Amaral - não parou mais. Interpretou os mais diversos tipos, de travestis a ricaços, em peças escritas por autores tão díspares como Gorki, Garcia Lorca, Jorge Andrade, Nelson Rodrigues e Edward Albee.

Foi casado com a atriz Célia Helena, com quem contracenou na novela "Partido Alto", de Janeth Clair - dois anos depois de interpretar o polêmico personagem Miguel Fragonard, em "Água Viva".

Seus personagens mais marcantes na telinha foram o fazendeiro italiano Jeremias Berdinazzi, rival de Bruno Mezenga (Antônio Fagundes) em "O Rei do Gado" e Gennaro, pai de Toni (Reynaldo Giannechini) em "Esperança".

No cinema, ele fez trinta filmes, entre eles "Roberto Carlos a 300 km por hora", no papel do empresário Rodolfo Lara.

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Fórmula 2 Brasil: bons tempos do nosso automobilismo

Antes de mais nada, peço desculpas por não conseguir atualizar o blog no fim de semana. Não tenho laptop e estava em São Paulo curtindo momentos que ficaram na memória - e que prometo compartilhar quando as fotos chegarem. Se preparem porque é um post muito bacana.

O fim de semana em Interlagos não foi emocionante apenas dentro da pista. Fora dela também, conversando com muitos aficionados que compartilham a mesma paixão - o automobilismo. Tive o privilégio de ganhar no livro de Jan Balder uma dedicatória do próprio.

Ganhei também o livro "O Boto do Reno", do Flávio Gomes. Mas como ele ficou mascarado com o pódio do DKW #96 na Super Classic, não o encontrei e por isso não ganhei a dedicatória. Fica para uma próxima.

Enfim... o que me leva a vir aqui nesta madrugada é que, em dado momento da conversa, numa das muitas rodas de bate-papo que se formaram ao longo da manhã de sábado em Interlagos, veio uma questão que martelava a cabeça de um dos presentes.

"Qual era o único carro 'não-Polar' no começo da Fórmula 2 Brasil? Era amarelo, tinha o patrocínio das Casas Pernambucanas..." Caiu a ficha. Era o Cianciaruso-Passat, construído pelo Salvador Cianciaruso pro seu piloto, José Luis Bastos, disputar o campeonato de 1981.

A Fórmula 2 Brasil foi criada naquele ano para cobrir a brecha da Fórmula Volkswagen 1600 (a Supervê), extinta em 1980 porque a montadora alemã retirara-se das pistas. Os pilotos foram à luta e conseguiram reunir 18 carros para a primeira prova do ano, em 21 de abril no autódromo de Brasília.

Lembro que assisti a corrida com narração de Fernando Gomes e comentários do falecido Giu Ferreira. O vencedor foi Antônio Castro Prado, ainda com seu Polar pintado com a mesma programação visual do título de 80, mas sem nenhum patrocínio. Na época, os carros corriam com pneus nacionais Maggion e a preparação já era bastante liberada. Os motores boxer já superavam 150 HP em 1981.

Dárcio dos Santos, tio do piloto de F-1 Rubens Barrichello, ganhou a prova de Interlagos e a categoria viajou para o Rio para a terceira corrida.

Esta eu assisti in loco das arquibancadas.

Lembro de alguns detalhes que não saem da memória. O Chico Feoli com seu lindo carro, parecendo o Ralt-Toyota da F-3 inglesa; Adu Celso, que corria com um Polar-Passat, demorando pelo menos duas voltas pra largar; o Walter Caravaggi sem aerofólio traseiro em seu Polar #33; o Polar-Fiat Turbo do Élcio Pellegrini, um fracasso; a pintura do carro de Marco De Sordi, escandalosamente inspirada no Brabham de Nelson Piquet; e a inesperada vitória de Vital Machado, fruto da falta de combustível no carro do virtual vencedor, Castro Prado.

Pradinho voltou à carga e venceu em Goiânia. Àquela altura, com dois triunfos, um segundo e um terceiro, ele tinha 28 pontos e com duas ou três vitórias a mais, levaria a taça antecipadamente. Ele era um piloto muito bom e também experimentou o automobilismo europeu em 1975, andando com um March-BMW de F-2 antes de retornar para o Brasil.

Mas havia a promessa de um novo carro, capaz de superar o decantado domínio do Polar. E eis que ele surgiu em Cascavel, por obra e graça de Pedro Muffato. O carro era o Berta argentino, projeto do mago de Alta Gracia, Oreste Berta, cujos direitos de fabricação foram adquiridos por Pedro no Brasil. E com ele, Muffato deu show em casa até quebrar. Prado venceu e disparou na liderança.

Aí veio a etapa de Guaporé. E o inesperado baixou no circo da F-2 Brasil. Uma irresponsabilidade de alguns pilotos, que entraram na pista com as atividades já encerradas, provocou a morte do líder do campeonato. Pradinho quis dar umas duas ou três voltas só para sentir o carro depois da classificação - onde tinha feito a pole. Nem macacão colocou - entrou de camiseta e bermuda mesmo dentro do cockpit. Colocou o capacete e em vez de sair por uma outra parte dos boxes, resolveu ir pela saída normal mesmo - e que estava fechada com uma cancela de eucalipto.

Resultado: como a visibilidade de qualquer objeto é difícil na horizontal, Pradinho não viu a cancela e entrou com tudo. Morreu em razão dos graves ferimentos na cabeça.

Sob profunda tristeza, a corrida mesmo assim aconteceu e Alfredo Guaraná Menezes venceu. Uma semana depois, em Tarumã, ainda atordoados, os pilotos deram mais um belo espetáculo e Pedro Muffato conquistou, enfim, a vitória do carro biônico, como a imprensa chamava o já batizado Muffatão.

Em Interlagos, na penúltima etapa, Arthur Bragantini sentou no bólido de Castro Prado e nas 12 voltas da corrida, mostrou que o monoposto ainda continuava muito competitivo. E sem o antigo líder, a disputa pelo título ficou acirrada e aconteceria entre Dárcio dos Santos, Vital Machado e Alfredo Guaraná Menezes.

Com muitos pilotos fora de qualquer possibilidade, apenas 13 carros alinharam para a última prova do ano, no Rio de Janeiro. Entre eles, um segundo Muffatão-Passat, preparado por Dino de Leoni para o gaúcho Chico Feoli.

Guaraná fez a pole position e durante toda a prova recebeu enorme pressão de Vital Machado, que caso conseguisse a ultrapassagem levaria o título. Na última volta, os dois bateram e quase saíram no tapa. Guaraná alegou que o pescador não levava o combustível para o motor e que o rival se precipitara. Pura desculpa esfarrapada, já que Marcos Troncon, testando pneus Pirelli em seu Polar, assistiu de camarote a cena e culpou o antigo bicampeão da Fórmula Volkswagen pelo acidente.

A vitória foi de Chico Feoli, com Dárcio dos Santos em segundo e Daniel de Souza (por onde andaria?) em terceiro. Na vistoria técnica, porém, o Muffatão-Passat de Feoli foi protestado pela equipe de Dárcio. E na canetada, foi desclassificado por um comissário técnico porque a bomba d'água era de Fiat e não da Volkswagen - na verdade isso fazia parte de um acordo entre Pedro Muffato e o comissário técnico Bruno Brunetti. Só que no Rio o comissário-chefe se chamava Manolo...

Guaraná foi excluído assim como o companheiro de equipe Aldo Pugliese. E isso deu o título a Dárcio dos Santos. Porém, em decisão tomada dois anos depois, a CBA revogou a desclassificação, dando de novo os pontos da vitória a Chico Feoli - o segundo lugar de Dárcio foi o resultado que efetivamente deixou Guaraná como o campeão brasileiro de 1981.

Depois deste ano confuso e tumultuado, a categoria ainda sobreviveu por mais três anos - e isso graças ao pretenso intercâmbio com os argentinos, que tinham motores e carros muito superiores aos nossos, mesmo usando pneus Fliter, de qualidade inferior aos Pirelli que passaram a equipar nossos carros em 82.

Nesse ano, Leonel Friedrich veio engrossar as fileiras da categoria, que teve outro gaúcho, Ronaldo Ely como campeão. Também entrou na categoria o chassi Heve, construído por Herculano e Antônio Ferreirinha. Com este carro, Marcos Troncon levantou o caneco de 1983. E já com o grid minguando a cada dia, Cézar Bocão Pegoraro foi o último campeão da F-2 Brasil.

Com a extinção do certame nacional, os poucos que se dispuseram a investir ainda levaram surras dos pilotos argentinos por dois anos até que em 87, com a criação da Fórmula 3 sul-americana, Leonel Friedrich lavou a alma e foi campeão. E por uma equipe argentina, diga-se.

Mas isto já é outra história...

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Deletado

Pela primeira vez me vi na obrigação de deletar um tópico deste blog por conter frases e comentários infelizes.

Não, amigos, Fernando Vannucci não estava bêbado como se supunha no vídeo que hoje é um dos campeões de acessos na internet.

Ele está com sérios problemas pessoais e tomou um tranqüilizante cujo efeito colateral faz o usuário ficar grogue.

Em respeito a isso, então, resolvi tomar essa atitude.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

O primeiro Floyd do Pink

Em meio ao turbilhão em que me envolvi durante a Copa, passou batida por mim uma perda do mundo da música.

Morreu no último dia 7 aos 60 anos de idade o fundador do Pink Floyd, Syd Barrett.

Guitarrista dos bons, ele foi um dos primeiros a explorar a capacidade de distorcer sons com o seu instrumento. E ao mesmo tempo que mostrava toda sua criatividade no primeiro disco do grupo - "The Piper at The Gates of Dawn" - lançado em 1967, tornou-se dependente de drogas psicotrópicas, especialmente LSD.

Chapado de ácido, ele dificilmente rendia nos shows do grupo e, pior, passou a apresentar um comportamento imprevisível que preocupou a todos.

Como não melhorasse, acabou dispensado do grupo em 1968, quando já gravara em estúdio partes do segundo disco do Pink Floyd, intitulado "A Saucerful of Secrets". Imediatamente David Gilmour foi chamado para seu lugar e por lá permaneceu até o fim do grupo, há uns dois anos.

Mesmo se desintegrando como homem e especialmente como músico, ele ainda gravou dois discos-solo. Provavelmente "The Madcap Laughs", lançado em 1970, continha muitas músicas escritas por ele que não foram usadas nos dois primeiros álbuns do Pink Floyd - porque já nessa época ele não conseguia mais produzir nada.

Nos últimos anos, Barrett vinha sofrendo de diabetes e ocasionalmente foi hospitalizado para se tratar. Porém, a doença veio pagar-lhe a conta de abusos cometidos ao longo de sua vida. E na última sexta-feira, em Cambridge, ele partiu para o andar de cima.

terça-feira, 11 de julho de 2006

A porta da rua é a serventia da casa...


É moçada... Juan Pablo Montoya é página virada na Fórmula 1.

A partir deste fim de semana, seu lugar na McLaren passa às mãos do espanhol Pedro de la Rosa, que promete agarrar a chance de ouro de sua carreira com todas as forças.

Trazido em 2000 a peso de ouro por Frank Williams, JPM nunca esteve realmente à altura de tamanha expectativa.

Claro que quando cometeu uma soberba ultrapassagem sobre Michael Schumacher no Esse do Senna em Interlagos, muitos vislumbraram ali a nova ameaça ao predomínio do alemão - que ganharia todos os títulos daquela data até o ano passado.

E tem uma pergunta que martela a minha cabeça constantemente:

Por que cargas d'água sua presença na F-1 resultou em fracasso retumbante?

Eu acho que foi uma mistura de vários fatores.

Primeiro, o fato dele não ser realmente profissional. Montoya nunca cuidou da forma física e principalmente da parte mental. Sempre pareceu despreocupado com todos esses aspectos e isso se refletiu em suas atitudes dentro e fora das pistas.

Seu manager é Julian Jakobi, um mercenário na mais pura acepção da palavra - só pensa em dinheiro. E para completar, o pai do piloto, Diego Montoya, só quer saber de aumentar sua coleção de carros nos EUA.

Segundo, as seguidas bobagens que fez dentro e fora das pistas em seu período de McLaren. A do ano passado ninguém engoliu. Quebrar o ombro jogando tênis?

Nem se o Guga imitasse Daiane dos Santos, dando um duplo twist carpado!

Montoya omitiu que andou de moto e por isso se machucou feio, ficando fora de duas corridas.

Este ano, bateu em Nico Rosberg no GP do Canadá e provocou o salseiro que tirou, na primeira curva, sete carros do GP dos EUA em Indianápolis, incluindo claro o seu monoposto.

Talvez de saco cheio de tudo isso que acontecia consigo e à sua volta, num ambiente péssimo que ele mesmo criou, o colombiano foi pedir arrego e socorro a ninguém menos que Chip Ganassi - o mais cruel dos chefes de equipe do automobilismo contemporâneo.

"Me convença que você pode correr pra mim de novo", teria dito Chip no primeiro contato telefônico entre os dois.

E Montoya o convenceu o suficiente para conseguir - ora vejam - uma vaga na Nascar, a Stock Car americana, a principal categoria do automobilismo ianque.

O anúncio foi feito com pompa e circunstância no Chicagoland Speedway, onde houve corrida no último fim de semana. E a ousadia de Montoya em se transferir para a Nascar lhe custou o emprego na McLaren - pois quebrou uma cláusula do contrato.

Demitido, "saído" pela porta dos fundos, JPM provavelmente estréia na Nascar já este ano.

E convenhamos: lá nos Estados Unidos ninguém vai se preocupar com a pouquíssima forma física do colombiano. Ele vai poder abusar dos hambúrgueres e cachorros-quentes o quanto quiser.

Além do mais o carro tem bastante espaço e Tony Stewart, o atual campeão, é bem gordinho.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Vale a pena ver de novo?


Quando a gente pensa que a página já está virada, lá vem o Manoel Carlos com mais uma novela - e mais uma Helena!

Que falta de criatividade, né não?

Tem 26 anos que o moço escreve pra Rede Globo e desde então ele dá um jeito de encaixar uma Helena em seus folhetins.

Eu acho uma mania chata. Até porque remete à Helena do romance de José de Alencar e explicitamente à Helena de Tróia, a grande inspiração do autor.

A primeira foi em "Baila Comigo", de 1982 - interpretada pela inesquecível Lilian Lemmertz.

Depois foi a vez de Maitê Proença ("Felicidade", de 1991), Vera Fischer ("Laços de Família", de 2000 - recém-re-reprisada) e Christiane Torloni ("Mulheres Apaixonadas", de 2003).

Agora é a vez de Regina "Eu tenho medo" Duarte, a avozinha do Brasil, ser a nova Helena do Maneco.

Que o autor é um craque da televisão brasileira, isto é indiscutível. Em 55 anos de carreira, ele fez parte do núcleo artístico da Record, quando a emissora paulistana era mais forte na audiência que a própria Globo. Duvidam? Ele era o diretor dos programas "O Fino da Bossa", "Esta Noite Se Improvisa" e do humorístico "Família Trapo", onde o saudoso Golias estourou e Jô Soares começou como comediante.

Mas ele torna todas as suas histórias vagamente parecidas, senão repetitivas. Principalmente porque como pano de fundo lá estará o bairro do Leblon, onde Maneco mora há 31 anos. Desta vez ele garante que vai dar mais "voz" aos personagens folclóricos da região.

Quero só ver. No fundo, no fundo mesmo, tudo é muito chato. As novelas dele são um ramerrão de situações inverossímeis misturadas com o cotidiano do carioca - as chamadas "Páginas da Vida", se você preferir.

Em matéria de preferência, no entanto, eu sou mais saudosista.

Sucesso mesmo foram Dancin' Days, Roque Santeiro, Que Rei Sou Eu?, Bacanal (ops... Pantanal) e Fogo No Rabo!

Claro, foi a melhor sátira de novelas de todos os tempos!!!!

O outro lado da moeda

E eis que a Rede Globo vai a Madrid para entrevistar o "Mini Mim" da seleção - o (GRAÇAS A DEUS! ex-lateral) Roberto Carlos.

O vilão da derrota para a França, há uma semana, tentou se esquivar da responsabilidade de cobrir o lado onde Thierry Henry arrancou de forma fulminante para marcar o gol que eliminou o Brasil da Copa.

E se saiu como o esperado.

Com a arrogância e o pedantismo que lhe são característicos, quando perguntado por Tino Marcos se havia alguma orientação de marcar a jogada de bola parada, Roberto Carlos saiu-se com esta. Abre aspas.

Nós tínhamos ensaiado de não entrar na grande área, já que a bola é sempre do goleiro. Se eu entro sozinho na área e os outros não entram, eu dou condições. Minha obrigação era de não fazer nada, fiz o que tinha de fazer. Com a minha estatura, não posso saltar com um homem de 1,90 m.

Fecha aspas.

Deixa eu ver se entendi.

"Minha obrigação era de NÃO FAZER NADA, FIZ O QUE TINHA DE FAZER."

Foi isso mesmo o que eu li? É isso mesmo?

Roberto Carlos acha que o torcedor brasileiro é palhaço né não?

Essa desculpa não cola! Já era, cara!

Jogador que está em campo, suando a camisa da seleção, não pode pensar na porra do Rolex que vale dois apartamentos! Não pode ajeitar a porra da meia!

Tem que estar ligado, caralho!

Tem que saber que aquilo lá é Copa do Mundo. Perdeu? Cai fora!

Um atleta com A maiúsculo se comporta como homem e no fim da batalha, tem que ter a certeza do dever cumprido. E poder soltar o pranto na derrota quando for preciso.

Roberto Carlos é um homem sem alma. Um mercenário deste triste futebol brasileiro que nos representou (mal) na Copa da Alemanha.

O vexame do craque


E eis que no último ato de sua carreira de jogador, o Zidane resolve dar vexame...

Mas também... convenhamos: era hora do Materazzi xingar a irmã do jogador e mandar o Zizou pra casa do Juvenal?

Bom, pra Itália ganhar o campeonato, tudo é válido. Até chamar na xinxa o melhor jogador da Copa.

Sim... melhor jogador sim! Por que é que eu vou ser obrigado a concordar com os gato-mestres de plantão que dizem que foi uma "Copa das defesas" e eleger o anão-de-jardim Fabio Cannavaro como o craque deste Mundial? Justiça seja feita: Cannavaro é um pequeno-grande zagueiro, na melhor tradição de Baresi e Maldini.

Mas vamos ser menos realistas que o Rei de França e reconhecer que com todo o seu temperamento intempestivo, com toda a agressão ao zagueiro italiano - que de santo não tem nada - Zidane bateu um bolão em suas últimas partidas como jogador.

Ninguém me tira da cabeça que ele arrumou a suspensão pra não jogar contra Togo, confiando que o Vieira e o Henry fariam dois favores pra ele: um presente de aniversário e a classificação para as oitavas-de-final.

Promessa cumprida, Zidane provavelmente falou o seguinte: "Agora eu resolvo."

E resolveu.

Contra Espanha, Brasil e Portugal.

Quase fez o mesmo contra a Itália. Só que como o danado do craque entende bem italiano, porque jogou na Juventus de Turim, ele entendeu o xingamento do Materazzi e nocauteou o camisa 23 da Itália com uma cabeçada digna de lutador de telecatch.

O último ato do Zidane como jogador foi simplesmente deplorável.

Qualquer torcedor francês diria... "Ah Zidane... que merde!"

Mas como sua carreira e o talento contam muito mais do que uma expulsão - só não sei se ele pedirá desculpas - acho que a FIFA deveria ser justa e dar a Bola de Ouro a Zidane como o Melhor Jogador da Copa da Alemanha.

Porque, se houve lampejos de futebol nesta competição, foi graças à ele.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Ctrl+Alt+Del

Era só o que faltava.

A Fórmula 1 acaba de fechar um acordo com o homem mais rico do planeta.

A Microsoft de Bill Gates ficará responsável pelo fornecimento das Unidades de Controle Eletrônico (ECU) que a categoria máxima passa a usar a partir de 2008.

Estas unidades têm como finalidade gerenciar sistemas ligados ao motor, como combustível e ignição, para que eles funcionem melhor, quebrem menos e também para que a FIA controle a quantidade de testes ao longo de cada temporada.

A entidade adotará uma ECU padrão para reduzir custos. Mas esse acordo com a Microsoft, que dura até 2010, não deixa de ser paradoxal.

Agora a piadinha é a seguinte:

Se o sistema ECU der pane, as equipes já sabem a quem recorrer.

Basta dar Ctrl+Alt+Del e resetar para que volte a funcionar.

Glória eterna ao R8


Há certas coisas no automobilismo que são inexplicáveis. A ausência da Volkswagen da Fórmula 1 é uma delas.

Digo isso porque a multinacional alemã deita e rola faz tempo no automobilismo com uma de suas subsidiárias - a Audi.

A marca dos quatro anéis ganha títulos a rodo no turismo europeu e nas provas de Endurance, onde fez das corridas longas um feudo quase só seu graças ao modelo R8.

Que teve no último sábado uma despedida gloriosa das pistas.

Aposentado para o desenvolvimento do R10 TDi, movido com um motor V-12 turbodiesel, que consome menos combustível que qualquer motor a gasolina, o protótipo deixa as pistas depois de cinco anos e nada menos que 63 vitórias - incluindo a de Lime Rock Park, com os pilotos Rinaldo Capello e Allan McNish.

No carro do Team Joest, estavam grafados os nomes de quem triunfou com o carro alemão, assim como as 23 pistas onde ele venceu - Le Mans, Sebring, Nürburgring, Mid-Ohio, Adelaide, Silverstone, Elkhart Lake, Road Atlanta, Lime Rock Park, Houston, Mosport, Trois-Riviéres, e muitas outras mais.

A marca de 63 triunfos do R8 não tem precedentes em nenhuma outra categoria. Nem os Porsche Grupo C que ganharam diversas provas nos anos 80 venceram tantas vezes. Na Fórmula 1, o maior vitorioso das pistas é o Lotus 72, que com diversas evoluções, venceu 21 GPs.

A Audi pode - e deve - se orgulhar dos seus feitos.

Mas será que não é hora de dar o grande salto para a Fórmula 1?

O Mundo é Azul


Este post não é muro das lamentações, mas é a velha história...

Com um pouco mais de empenho diante da França e a passagem para a semifinal, o Brasil venceria Portugal para pegar a Itália domingo.

Felipão fez sua tropa chegar ao que puderam. Depois de quatro décadas, resgatou o orgulho luso em ver sua seleção entre as principais forças do futebol mundial. Mas com uma grande diferença em relação à equipe de 66. Aquele time onde brilhava o Pantera Negra Eusébio fazia gols. Muitos gols.

E embora Felipão tenha Figo, Cristiano Ronaldo e Deco, jogadores de qualidade e talento, não há poder de fogo na frente. Nem Simão Sabrosa, nem Pauleta, muito menos Hélder Postiga conseguem concluir jogadas com a precisão que se espera de centroavantes. E olha que o goleiro Fabien Barthez fez de tudo para colaborar.

O certo é que falta um "matador" a Portugal e isso foi decisivo nesta semifinal contra a França.

Não adiantou ao treinador brasileiro se comportar como se estivesse no Olímpico, nos tempos do Grêmio, reclamando ostensivamente de faltas não marcadas, do pênalti que existiu e depois, ao apito final, sair bradando para o uruguaio Jorge Larrionda o seguinte: "Você é uma vergonha!"

Ainda assim, o jogo foi muito mais duro para os bleus que o embate contra o Brasil. Zidane estava em campo, mas brilhou menos. Todavia, acertou ótimos passes, fez boas jogadas e cobrou com categoria o pênalti que Henry sofreu de Ricardo Carvalho.

A França jogou pro gasto. E para quem caiu fora na primeira fase da última Copa, chegar à decisão é um feito e tanto - ainda mais com uma equipe envelhecida e com a maior média de idade entre as 32 seleções classificadas.

Agora nada mais importa. França e Itália estão na decisão. E uma coisa é certa:

Uma equipe de azul será campeã do mundo.

Qual delas? Aí não vou arriscar não.

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Cirurgia no Mapa-Mundi

Cresci acostumado a ver no globo terrestre ou no mapa-mundi - certa vez ganhei um, enorme que, por falta de conservação foi destruído (uma pena) - a União Soviética como o maior país do planeta.

Também vi a Tchecoslováquia, a Iugoslávia e a Alemanha fragmentada.

Com a Glasnost de Mikhail Gorbachev veio o processo de separação das antigas repúblicas da URSS e o então maior país do mundo (territorialmente falando, volto a repetir) foi dividido em Rússia, Bielo-Rússia, Geórgia, Letônia, Lituânia, Armênia, Estônia, Azerbaidjão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão, Quirguízia, Moldávia, Cazaquistão e Ucrânia.

Quinze novos países saídos de um só, portanto.

A Tchecoslováquia se dividiu em duas. Nasceram a República Tcheca e a Eslováquia. O Muro de Berlim caiu e a Alemanha finalmente se unificou em uma só nação.

Mas o processo mais sangrento de separação aconteceu com a antiga Iugoslávia.

Durante anos o país foi comandado com mão de ferro pelo marechal Josip Tito, de origem croata. Foi um governo socialsta que durou três décadas e meia até a morte do militar, em 1980. Com todos os processos acima citados, as tensões nacionalistas voltaram à tona.

A independência da Eslovênia foi a senha, seguida da Croácia. E quando a Bósnia-Herzegovina, de maioria esmagadora muçulmana, declarou sua autonomia, os sérvios, cristãos ortodoxos, protestaram.

Surgiu a guerra da Bósnia, que durou três anos e fez a região balcânica ficar banhada em sangue. Foram 250 mil mortos e a OTAN teve de intervir. Finalmente, em 1996, a Bósnia era considerada oficialmente independente.

Não obstante, a Macedônia também tornara-se república quatro anos antes. A Iugoslávia se reduzira apenas à Sérvia e Montenegro. E os protestos recorrentes prosseguiram quando os kosovares (de origem albanesa) protestaram contra as arbitrariedades do então presidente Slobodan Milosevic. E foram à luta. O resultado foi outra batalha sangrenta que só teve fim com a interferência direta da OTAN.

Atualmente, o território do Kosovo é um protetorado sob os olhares atentos da ONU.

O episódio derradeiro do fim da Iugoslávia aconteceu dias antes da Copa do Mundo.

Em referendo, 55,4% dos 700 mil habitantes de Montenegro votaram pela separação da Sérvia. O país se classificara de forma convincente para o Mundial e, depois de pífiia campanha, foi eliminado como o pior time entre 32 seleções. Muitos dizem que, além da incompetência do técnico Ilija Petkovic, o elenco rachou etnicamente e por isso fracassou na Alemanha.

O certo é que vimos pela primeira e única vez a seleção da Sérvia e Montenegro numa Copa do Mundo. E pior, ouvindo sempre o hino da Iugoslávia na abertura de cada partida.

Que por sinal não era cantado por absolutamente ninguém.

Bravíssima Itália!


Quando dizem que a Itália e o seu povo têm a vocação para o drama, não estão errados.

Em Copas do Mundo, de 62 pra cá, é assim.

Diversas vezes, os transalpinos foram eliminados na primeira fase - como na vexatória derrota para a Coréia do Norte. Noutras, escandalosamente roubados.

E em outras, começaram mal e subiram feito foguete até chegar às decisões e títulos - como em 70, 82 e 94.

Eis que essa mesma Itália, que vive agora uma crise sem precedentes dentro do futebol, capaz de rebaixar de uma só tacada Juventus e Milan, chega agora à final da Copa da Alemanha.

E derrotando os próprios donos da casa, como convém a tradição. Com drama.

O jogo de ontem em Dortmund foi parelho, pegado, de muita marcação e diversas faltas. Mas a Itália foi melhor, com um elenco de mais qualidade (exceto os botinudos Gattuso e Camoranesi) e mais volume de jogo.

A partida foi para a prorrogação e o treinador Marcello Lippi esqueceu a retranca no vestiário. Trouxe Iaquinta para tirar Camoranesi, que já tinha cartão amarelo. E com um mezzo 4-3-3, começou a ganhar o jogo.

Logo no início, Gilardino acertou o pé da trave de Lehmann. E Zambrotta mandou um tirambaço que estourou no travessão.

A entrada de Del Piero foi a senha para mostrar que a Itália não estava para brincadeira.

E quando tudo já se encaminhava para os pênaltis... em dois minutos a Azzurra resolveu tudo com dois belíssimos gols de Grosso (que não faz jus ao sobrenome e já foi contratado pela Internazionale - bom reforço!) e do próprio Del Piero, que um minuto antes acertara um fotógrafo num chute horroroso.

A Itália sobrevive rumo ao tetra. Já a Alemanha...


Dortmundaço

Deu pena da torcida alemã no Westfalenstadion.



Deu pena do time, que mesmo com tantas limitações, chegou muito longe. Mais longe do que os gato-mestres e os céticos previam. Certamente Beckenbauer está tão surpreso quanto, pois os anfitriões pelo menos chegam ao último fim de semana da Copa.

A frustração pela derrota e pela freguesia que eles não conseguem quebrar foi imensa, enorme.

Ao contrário do que se viu no sábado na derrota brasileira, jogadores como Odonkor, Schweinsteiger e Kehl - a nova geração lançada por Klinsmann - choravam copiosamente.

E o capitão Michael Ballack, possivelmente num de seus últimos jogos de Copa do Mundo, deixou o campo com os olhos marejados e sob os aplausos de uma torcida que se comportou digna e fielmente - chorosa, é verdade. Mas que reconheceu a luta e o empenho de uma seleção que conseguiu calar a boca dos seus mais ferrenhos críticos.

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Los hermanos também zoam com a gente...

Agora é a vez de aturarmos os argentinos nos zoando.

Ontem, na capa do diário Olé, eles foram à forra.

Basta olhar a manchete, a foto e a legenda para ver como eles trataram a nossa eliminação.

MERCI, ZIDANE!


Passamos a Copa inteira, até o jogo do último sábado, rezando pela aposentadoria precoce de Zinedine Zidane.

Quiseram os Deuses do futebol e o talento por eles concedido, que o francês tenha que esperar até o próximo final de semana para o adeus definitivo.

Merci pour tout, Zidane!*

Sorte nossa que ainda vamos ver arte nos gramados da Alemanha.

Sorte nossa que a vida vai voltar ao normal no Brasil nesta segunda-feira.

Bandeiras, bandeirolas, camisetas, camisinhas, postes, cuecas, tudo o que está ou remete ao verde-e-amarelo vai ficar para 2010.

O ufanismo que só demonstramos em épocas de Copa vai para o fundo do armário.

Por que será que só temos orgulho em sermos brasileiros de quatro em quatro anos?

Será a falta de vergonha estampada na nossa cara?

Não somos como nenhuma outra nação deste planeta, definitivamente.

Os franceses, principalmente, cantam seu hino com paixão. E a Marselhesa, com o seu definitivo início, parece querer soar fundo como um canto fúnebre para o torcedor brasileiro.

Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé
Contre nous de la tyrannie
L'étendard sanglant est levé (bis)
Entendez vous dans les campagnes mugir ces féroces soldats
Ils viennent jusque dans vos bras, égorger vos fils, vos compagnes
Aux armes citoyens ! Formez vos bataillons !
Marchons, marchons, qu'un sang impur abreuve nos sillons.


Essa mesma paixão sobra no talento, na classe e no caráter do descendente de argelinos que enverga, com o mesmo orgulho do grande Michel Platini a camisa 10 dos bleus.

Zinedine Zidane foi um mestre no gramado do Waldstadion em Frankfurt. Com a categoria que Deus lhe deu, fez o que quis e foi a figura central da vitória da França sobre o Brasil.

E se eternizou como o primeiro jogador a nos derrotar duas vezes em Copas. Um privilégio que ele dividia anteriormente com o uruguaio Alcides Ghiggia e com o italiano Paolo Rossi.

Em ambas as ocasiões, foi duplamente decisivo. Em 1998, quando a França foi campeã, ele fez gols como nunca tinha feito até então - de cabeça.

Desta vez não precisou fazer gol nenhum. Mas o que fez em campo valeu por tudo. Inclusive pela frustração que os torcedores de seu país tiveram com o fracasso de quatro anos atrás.

Até nisso eles são tão iguais ao futebol brasileiro.

Já foram campeões e eliminados na Copa seguinte. Já tiveram seleções que encantaram o mundo e foram mais cedo pra casa. Já chegaram desacreditados. Agora só falta serem campeões.

E aí poderemos dizer... "pô, pelo menos perdemos para os campeões do mundo".

De novo!

* (Obrigado por tudo, Zidane - em francês)

domingo, 2 de julho de 2006

A vaca foi pro brejo de verde-e-amarelo!

É, perdemos.

Nem ao menos a seleção mostrou vontade ou algo parecido com o que chamamos de "futebol brasileiro" em Frankfurt, no sábado.

Em 90 minutos, vimos o time de Parreira levar um baile da França. E doeu ver que os jogadores, passivamente, se entregaram à derrota e conseqüentemente à desclassificação.

Falta ao Brasil ter um líder como o Dunga de 94.

Ou um jogador do tipo "deixa que eu resolvo", como foi o Maradona para a Argentina - em duas edições do Mundial.

Não um genérico como Ronaldinho Gaúcho, que nada jogou durante a Copa e deixou dúvidas sobre se ele é tudo isso que falam ou um mero malabarista da bola. Pior: poderá ficar marcado como jogador de clube - mais do que o espanhol Raúl.

As idiossincrasias de Parreira também irritaram profundamente a imprensa, os corneteiros, os gato-mestres, os pachecos e os torcedores de radinho. Ele demorou a perceber que a seleção não andava com Cafu e Roberto Carlos na lateral, Emerson no meio e Adriano ou Ronaldo (nenhum dos dois justificou a fama, é verdade) no ataque. O time parecia de 'prega presa' sempre que eles estavam em campo.

Ganhamos do Japão com um time diferente, foi bacana até. Mas nos iludimos pois o treinador voltou com o malfadado time do "um-ao-onze" e mesmo vencendo Gana por 3 x 0, levou sufoco.

Aí veio a França. Um time de mascarados? Talvez... Um time de velhos? Nem tanto quanto o do Brasil...

Mas com um talento inexcedível em campo.

Zinedine Zidane.

O Brasil, com sua soberba e auto-suficiência digna da seleção que não marcou um único amistoso de relevância durante toda a sua fase de preparação, não levou Zidane a sério. Pior: deixou o craque, que se aposenta ao fim da Copa, jogar à vontade.

E como Zidane jogou!

Deu passes como quis, abusou do seu repertório de lançamentos, chapelou Ronaldo e Gilberto Silva sem dó.

E cobrou com maestria a falta que Henry aproveitou para marcar o gol francês.

Assim, o carequinha da terra da Bastilha se consagra como um duplo carrasco do nosso futebol.

Parte da culpa também pode ser imputada à presença (ou ausência, melhor dizendo) de um jogador em campo.

Roberto Carlos.

O inventor da "puxunda" e da "biciscrota", como bem definiu o grande Aldyr Blanc lá pelo fim dos anos 90, voltou a fazer das suas contra a França.



A pergunta que não quer calar: no que será que ele pensava quando deixou o flanco livre para Henry, esperto, entrar em velocidade e marcar o gol?

Na morte da bezerra?

Nas vagabundas que já comeu por aí?

No dinheiro que tem?

Ou no Rolex que segundo o próprio, 'vale dois apartamentos'?

Chega! Chega de Roberto Carlos na seleção brasileira. Chega de se escalar pelo nome. Chega de jogador velho, superado, ultrapassado, pipoqueiro e que faz pouco caso vestindo a nossa camisa amarela.

Chega também de Cafu, Emerson e por que não, de Ronaldo!

Será que para ganharmos títulos, sempre teremos que ver a seleção humilhada, espiaçada como o vira-latas que zanza pelas ruas?

Ou será que basta sermos favoritos pra vaca ir pro brejo?

sábado, 1 de julho de 2006

Como un coche sin rumbo

A Argentina despediu-se da Copa de forma trágica, como um tango.

E embora a imprensa queira imputar a culpa da eliminação ao ótimo árbitro Lubos Michel, quem conhece meio por cento de futebol sabe que o problema tem nome e sobrenome.

Jose Pekerman.

Ele era tido e havido como o mestre dos selecionados sub-17 e sub-20. No seu comando, a Argentina ganhou tudo e sob sua orientação vieram quase todos os 23 jogadores portenhos na Copa da Alemanha.

Mas o ex-motorista de táxi resolveu desgovernar um "carro" que vinha muito bem, atropelando quem viesse pela frente até então.

Nesta sexta-feira, em Berlim, Pekerman resolveu inventar - e reviver a farsa chamada Marcelo El Loco Bielsa.

Primeiro, equivocou-se ao não escalar como titular um jogador do naipe de Esteban Cambiasso. Lucho Gonzalez, voltando de contusão, é apenas mais um no elenco dos gringos. E só.

Ele acertou ao pôr Tevez de saída em vez de Saviola, peça nula em todos os jogos anteriores. Carlitos foi um lutador, um guerreiro. Mas ficou ainda mais solitário quando o treinador resolveu cometer a suprema burrada de pôr Julio Cruz em campo.

Ora... com o próprio Saviola no banco, além de Aimar e Lionel Messi, a grande promessa dos argentinos, o sr. Pekerman me resolve fazer tamanha boçalidade?

Era pedir pra perder o jogo!

Não perderam nos 90 minutos e tampouco nos 30 de prorrogação. Acabaram caindo na loteria dos pênaltis, pela primeira vez em sua história.

O castigo é cruel. Mas Jose Pekerman, hoje, deixou a Argentina como um carro sem rumo.

Ou como diz o título, como un coche sin rumbo.

Adiós, Argentina!