sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Órfãos

O ouvinte de rádio FM que gosta de ouvir um bom rock and roll está ficando cada vez mais órfão no Rio de Janeiro.

Saiu hoje uma nota na coluna Gente Boa, no Segundo Caderno de O Globo, avisando que uma lenda do rádio carioca tem hora e data marcada para terminar.

Em 4 de março, um sábado, a Rádio Cidade estará definitivamente extinta do dial. A única rádio que tocava rock na Cidade Maravilhosa - ainda que muita coisa sequer seja do meu agrado - vai dar lugar à Oi FM, que como o próprio nome diz, é ligada à operadora de telefonia celular. A programação? Ora... aos moldes de Paradisos da vida.

Não sei o que esse pessoal tem na cabeça quando se jogam histórias como essa da Cidade no lixo. A primeira emissora que passou por esse processo foi a Eldopop, que tinha nos anos 70 uma programação refinadíssima, DJ's como o lendário Big Boy e música de primeira. Como ela pertencia ao Sistema Globo de Rádio e a empresa precisava de algo mais, digamos, popularesco (leia-se audiência, ibope), a Eldopop morreu e entrou em seu lugar a infame 98 FM - que existe até hoje.

A própria Cidade inovou na comunicação com o ouvinte, desde quando foi inaugurada, em 1978. Com apresentadores que marcaram uma geração (Romílson Luiz, Elládio Sandoval, Fernando Mansur, entre outros), a emissora foi a número um no coração de muitos jovens até surgir, em Niterói, por iniciativa de Luiz Fernando Mello e Samuel Wainer Filho, a Fluminense FM.

Apelidada "A Maldita", a rádio foi o auxílio luxuoso para o rock brasileiro decolar e explodir entre 1981 e 1984. Diversas fitas demo eram mandadas para a emissora e lá ouviu-se pela primeira vez Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Capital Inicial e muitos outros, afora a fina flor do rock estrangeiro.

Outro diferencial eram as apresentadoras. Isso mesmo: só mulher locutava na Flu. Entre elas, as lendárias Adriana Riemer, Mônika Venerábile, Selma Vieira, Mylena Ciribelli e Liliane Yusim.

A Flu chegou a morrer em 1994 para dar lugar à Joven Pan FM, que depois mudaria no dial para o lugar da rádio Imprensa. Mas "A Maldita" ressurgiu, dando um sopro de vida ao rock na Freqüência Modulada. Sopro que, infelizmente, durou muito pouco. A programação ficou cada vez mais mequetrefe e hoje a Flu é mais uma emissora da rede Bandnews.

Nós, cariocas, não podemos ficar órfãos de boa música, do bom e velho rock and roll. Seria pedir demais à Kiss FM, ótima rádio rock de São Paulo, que um dia ela venha pro Rio?

Tomara que sim.

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