sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Cara Estranho

Não consigo gostar do grupo carioca Los Hermanos.

E estou sendo sincero. Jamais consegui ouvir uma música inteira deles, nem a pegajosa "Anna Júlia", por melhor que seja ou que os fãs queiram que o grupo seja. E ao comprar a revista BIZZ deste mês, deparei-me com uma entrevista do jornalista Pedro Só com os "pensantes" do grupo - Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante.

Logo na abertura, noto uma certa empolgação. Dizer que Los Hermanos são a banda brasileira número um do momento é exagerar demais na dose.

Durante a entrevista, além do ramerrão básico para explicar antigas influências, falar de um modo mais simpático que Smiths é foda e tudo o mais, Camelo se sai com essa: "Rock agressivo é uma idéia velha".

Sei...

Acho engraçado que ele venha com essa idéia pré-concebida de que agressividade não faz parte do meio musical. Desde que o mundo é mundo, é assim. E pelo que eu saiba, ser agressivo não é levar ao pé da letra a palavra e descer a porrada, como o Chorão fez no Camelo.

Exemplos: Jim Morrison era um frontman como poucos que o rock conheceu. Mas tinha lapsos de agressividade. Foi preso em New Haven por desacato à autoridade e em Miami, incitou a platéia a subir no palco e tocar em seu membro. Uma confusão monstro se formou e em razão desta e de outras balbúrdias, os Doors sequer foram cogitados a tocar em Woodstock.

Os grupos de punk rock sempre usaram e abusaram de agressividade. Nas letras, na postura de palco, nos figurinos e na própria música, tocada com fúria, com rapidez, com a urgência que os anos 70 precisavam. Desde então, pagamos todos tributo a bandas como Ramones, The Clash, Sex Pistols, Dead Kennedys e muitas outras.

Eu acho - veja bem, eu acho, não quero ser o dono da verdade - que o Marcelo Camelo pôe seu grupo em contraponto a tudo isso porque o som deles é diferente (não quer dizer que seja bom) e porque ele hoje parece querer assumir uma condição de Chico Buarque de Hollanda do Século XXI.

Aliás, uma comparação covarde para o Camelo, óbvio. Chico é único, inigualável, brilhante, inteligentíssimo, um gentleman. Fez e continua fazendo canções maravilhosas. Pode não ter uma voz de porte, mas vejam só o naipe de cantores (as) que o gravaram: Bethânia, Gal, Gil, Elis, Ivan Lins, Toquinho, MPB-4, Milton... só fera.

Camelo está começando, é verdade. Não sei se é brilhante ou inteligente, mas tem um jeito desgrenhado que não me agrada. Faz músicas encomendadas para Maria Rita, filha de Elis, que ainda busca identidade como cantora. Pelo menos ele admite que se sente inseguro como compositor.

No fim das contas, me vem sempre à mente uma coisa: o "Cara Estranho" de uma das canções do grupo não seria o próprio Marcelo Camelo?

Um comentário:

Anônimo disse...

Não se preocupe. Você não é o único... tb detesto. E olha que tenho uma banda de rock com naipe de metais no meio underground (parecido com a formação dos bixo)...