quinta-feira, 30 de novembro de 2006

E o Samba sambou...

Nunca o enredo da São Clemente para o Carnaval de 1990 foi tão profético.

A irônica letra composta por Helinho 107, Mais Velho, Nino e Chocolate foi uma tremenda bofetada no ramerrão da festa mais popular do planeta. E sem meias-palavras, detonou um processo que já era notório naquela época - e vem piorando a cada dia.

Digo isto porque ainda estamos chegando em dezembro e em golfadas começam as matérias lugar-comum sobre o evento do próximo ano. E quanto mais vejo, mais me pergunto: onde estão os personagens que fazem realmente o Carnaval?

De se lamentar que não existam mais compositores capazes de fazer métrica, rima e poesia em forma de samba. Saudades de Mano Décio da Viola, Cartola, Silas de Oliveira, Carlos Cachaça, Manacéia, Geraldo Babão, Didi e até de Martinho da Vila, que há anos não vence uma disputa na sua Unidos de Vila Isabel.

Lamentavelmente o que vemos hoje é a propagação do chamado "samba de condomínio". Oito ou nove, até, juntam-se para formar a 'autoria' da letra. E isso quando a escola manda unir a primeira parte de um com a segunda do outro. O Salgueiro que o diga - em 1988, com o enredo "Em Busca do Ouro", havia catorze (isso mesmo, catorze!) autores do samba. Haja braço e mão para colocar uma letra num papel.

Só para fazer uma comparação cruel com as letras de hoje com o que tínhamos outrora, basta dizer que pelo menos cinco dos maiores sambas de todos os tempos vêm antes dos anos 80. Um deles é o inesquecível "Os Sertões", da Em Cima da Hora (1976). Um primor de letra e melodia.

Marcados pela própria natureza
O Nordeste do meu Brasil
Oh! solitário sertão
De sofrimento e solidão
A terra é seca
Mal se pode cultivar
Morrem as plantas e foge o ar
A vida é triste nesse lugar


Sertanejo é forte
Supera miséria sem fim
Sertanejo homem forte
Dizia o poeta assim

Foi no século passado
No interior da Bahia
Um homem revoltado com a sorte
Do mundo em que vivia
Ocultou-se no sertão
Espalhando a rebeldia
Se revoltando contra a lei
Que a sociedade oferecia

Os jagunços lutaram
Até o final
Defendendo Canudos
Naquela guerra fatal


Não é preciso ir mais longe. Outra obra-prima é "Sonho de um sonho", onde Martinho da Vila deita e rola com o uso do chamado pleonasmo. E faz um dos mais belos sambas de sua extensa obra, levando a Vila ao vice-campeonato em 1980.

Sonhei
Que estava sonhando um sonho sonhado
O sonho de um sonho
Magnetizado
As mentes abertas
Sem bicos calados
Juventude alerta
Os seres alados


Sonho meu
Eu sonhava que sonhava

Sonhei
Que eu era o rei que reinava como um ser comum
Era um por milhares, milhares por um
Como livres raios riscando os espaços
Transando o universo
Limpando os mormaços


Ai de mim
Ai de mim que mal sonhava

Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
Como uma lua redonda brilhando nas grimpas
Um sorriso sem fúria, entre o réu e o juiz
A clemência e ternura por amor da clausura
A prisão sem tortura, inocência feliz

Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava
Ai de mim
Eu sonhei que não sonhava
Mas sonhei


E agora, deparem-se com a letra do samba de 2005 da Acadêmicos do Pro... ops! Grande Rio, com inúmeras referências aos patrocinadores que a agremiação conseguiu para custear o desfile daquele ano.

Oh! Mãe terra generosa, solo fértil abençoado
De onde brotam riquezas nosso alimento sagrado
Imenso Brasil da mistura, culinária que fascina
Moça, que tempero saboroso
Preparado bem no clima
Se alimentar pro corpo é fundamental
Lá no ninho tem sabor especial
Se há comemoração vamos confraternizar
Comer se torna um ritual
Prepare a mesa nesse carnaval

Beleza a me seduzir
Aroma pra me revelar
Alimentando o meu prazer
Dá gosto no meu paladar

A força que tem entre a terra e o céu vem da fé
Se a vida imita a arte, diversão faz parte
Enriquece o meu saber
Eu só quero ser feliz
Dividir o pão com meu irmão
Por que será, que uns têm muito e outros não?
Abaixo a discriminação
O povo pede paz e união
A mensagem de paz Grande Rio nos traz

A verdade da vida, o prazer de viver
Alimentar o corpo e a alma faz bem, meu bem
querer
!

É óbvio que cada vez mais colocar um Carnaval na avenida custa muito caro - mais de US$ 1 milhão.

Mas não exageremos!

Slogan da Nestlé em letra de samba já é além do limite.

É o business levado às últimas conseqüências.

Um jogo de cartas marcadas que irrita e enoja.

A compra de resultados é constante e dizem que graças a ela a Imperatriz foi bicampeã em 94/95 e tri de 1999 a 2001. Muitos atribuem a isto pelo fato de, na época, o presidente da LIESA ser o Luizinho Drummond.

Pois bem: em 1996, a Imperatriz fez um sensacional desfile, tinha um dos melhores sambas de sua safra e tudo para ser tricampeã. E por que cargas d'água a Mocidade ganhou?

Vai entender...

A situação de manipulação de resultados no Grupo A, que classifica uma escola para o desfile principal, é ainda pior. Que o diga o que vem acontecendo com a União da Ilha, coitada... Outro fato foi o título da Tradição no ano de 1997. A bateria desfilou sem fantasia e mesmo assim a agremiação de Campinho terminou em primeiro. Um escândalo!

E por falar nisso, um passarinho me contou que para 2007 já está tudo resolvido. Vão dar o título para a Viradouro porque a LIESA teria um débito com o carnavalesco Paulo Barros, que agora está na agremiação sediada no Barreto, em Niterói.

A entidade sabe que ele foi a mola-mestra de dois vice-campeonatos da Unidos da Tijuca e autor de três carnavais consecutivamente espetaculares. E que só não foi o campeão com sua antiga Escola porque o presidente da Unidos da Tijuca, o português Fernando Horta, tem uma pendenga notória com os caciques da LIESA - Capitão Guimarães, Anísio Abrahão David e Luizinho Drummond - talvez por conta do rebaixamento da agremiação em 1998.

Outra situação irritante é o andamento imposto pelas Escolas para cumprir o tempo máximo permitido - uma babaquice que os tempos modernos trouxeram para o Carnaval e que tirou não só a alegria do verdadeiro sambista como 'marcheou' os sambas, deixando-os de certo modo bem parecidos.

O grande Fernando Pamplona disse certa vez que em breve o evento vai virar desfile militar. E acho que isso está muito próximo de acontecer.

E tem mais: que Carnaval capenga é esse onde desfilam 13 escolas em vez de um número par? A LIESA desconversa e diz que não tem dedo da televisão. Mas, vamos e venhamos: vocês acham que a Globo vai abrir mão do Fantástico no domingo e da novela das nove na segunda?

Nem a pau, Juvenal.

E é por isso que o Samba, coitado, sambou...

Ele voltou!

Esse cara é bom.. e se tivesse uns 5 anos a menos, sei não viu?!?

Cinco anos após sua despedida, Mika Häkkinen, duas vezes campeão mundial de Fórmula 1 e um dos únicos (há quem diga que foi o único) a desafiar de fato a supremacia de Michael Schumacher, fez sua primeira aparição ao volante de um McLaren na primeira bateria de testes de inverno em Barcelona.

E daí se ele foi o último entre os 18 que treinaram nesta quinta?

Importa se ele ficou a 3 segundos do tempo de Luca Badoer, levando pau até de Narain Kartikheyan e Michael Ammermüller, dois pilotos que ainda diziam gugu-dadá quando o finlandês já era astro na F-3 inglesa?

Häkkinen é disparado o piloto do qual os fãs mais sentem falta. Prova disto é a eleição promovida pelo site Grande Prêmio, do Flavinho Gomes, onde o finlandês venceu fácil com 56% dos votos contra 29% alcançados por Juan Pablo Montoya. Além dos dois, a pesquisa tinha ainda Jacques Villeneuve, Eddie Irvine e Heinz-Harald Frentzen.

Conversando com o amigo e estagiário do Sportv Alexander Grünwald, chegamos à seguinte conclusão:

Todo mundo sente falta do Mika porque ele foi um bicampeão de fato e direito. E era um ótimo piloto.

Muitos sentem falta do Montoya porque ele era O espetáculo.

Nem todos se sensibilizam com Jacques Villeneuve, a não ser os que não têm papas na língua.

E de Eddie Irvine e Heinz-Harald Frentzen, vamos e venhamos... alguém em sã consciência se lembraria deles?

Cabem aqui alguns parênteses: Häkkinen hoje tem 38 anos. Está alguns quilinhos mais pesado que em seu auge na F-1. E corre hoje numa categoria - o DTM - cujo ritmo e cuja guiada é muito diferente dos monopostos de seu tempo.

A experiência dele poderia ser muito útil para, quem sabe, funcionar como um coach do ótimo Lewis Hamilton, que vem despertando a atenção da mídia por ser um fenômeno desde o kart e por ser negro. E nunca em 57 temporadas a F-1 teve um piloto "afro-americano", como os politicamente corretos costumam dizer.

E não se engane quem pensa que o teste de Häkkinen com a McLaren foi mera "diversão". O carro dele levava apêndices aerodinâmicos que são avaliados pelos engenheiros e diretores técnicos da escuderia inglesa.

Verão de merda?!?

Amanhã começa o mês de dezembro, o último do ano. É quando surge a estação mais ansiada pela geração-saúde.

O Verão.

E com o perdão do trocadilho infame, vocês não verão um verão como antigamente.

Duvidam?

Então como é que se explica em plena primavera essa torrente de água que desaba sem parar dos céus?


É pau... é pedra... é chuva... é a lama... é a lama... é a lama... ai de nós!

Como se explicam os 29 dias com sol e céu azul, sem chuva, sem nada, que tivemos... em pleno inverno!!!

É a tal história: os donos do mundo, ou os que se acham mandatários do planeta, pensam que podem bagunçar tudo, promovendo destruições, superpopulação, aumento da poluição e a diminiuição da camada de ozônio.

Sim... como explicar que os verões na Europa atinjam níveis de temperatura tão arrasadores como nos últimos anos? Como a temperatura média aumentou no planeta Terra em diversos continentes e hemisférios?

Houve recentemente um verão aqui no Brasil que foi um lixo. O ano, não recordo - talvez tenha sido 2001. Foi um verão sem sol, sem sal, sem modismos, sem mulheres gostosas, sem musa do verão, sem chope na beira da praia, sem absolutamente nada de atrativo.

Não sei não, mas com tudo isso que está acontecendo, essa chuva que não cessa, está pintando o maior verão de merda que já existiu por aqui.

Mas sincera e honestamente, espero queimar minha língua, pra poder ver um pôr-do-sol bacana enquanto eu estiver de férias e o "horário de verão" permanecer vigorando.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Os "Frescões" tiveram seu auge na Cidade Maravilhosa

Em 1973, a frota de ônibus do Rio de Janeiro ganhou um upgrade com a adoção dos primeiros veículos com ar condicionado, idênticos aos modelos que faziam as viagens interestaduais e os carros da chamada "Tarifa A", que faziam a ligação entre a Praça Mauá e os municípios da Baixada Fluminense.

Estes ônibus super confortáveis, com poltronas de couro ou courvin, música ambiente e cortinas, foram chamados imediatamente de Frescões, e foram um tremendo achado para uma cidade onde o verão é mais verão em grande parte do ano.

Na sua grande maioria, o ponto de partida era o Terminal Rodoviário Menezes Cortes, no Castelo - exceção feita a uma ou outra linha, que saíam da Rodoviária Novo Rio ou dos Aeroportos Santos Dumont e do Galeão.

Lembro que as linhas da Real para a Zona Sul e os ônibus da Redentor (mais tarde os da Campo Grande) tinham seu ponto na Erasmo Braga. As demais eram dentro do Edifício-Garagem. Na primeira fila, ficavam as empresas Pégaso, São Silvestre, Caprichosa, Três Amigos e Forte Auto Ônibus.

Na outra, as restantes: Paranapuan, Matias, Alpha, Acari e Auto Diesel. Ao todo, saíam trinta e sete linhas de Frescões do Castelo para diferentes pontos da cidade - da Urca até Santíssimo.

Em Ramos, onde eu morava na infância, passavam quatro linhas - as duas operadas pela Três Amigos (Castelo-Vicente de Carvalho e Castelo-Penha) e as duas da Forte (Castelo-Vaz Lobo e Castelo-Vila da Penha).

Os ônibus eram normalmente de chassis e mecânica Mercedes-Benz, encarroçados pela Ciferal, Nielson e Marcopolo.

Algumas das linhas de Frescões, em seu auge, chegaram a ter 100 mil passageiros/mês. Mas como a manutenção dos veículos começou a ficar custosa, pouco a pouco as frotas foram retiradas de circulação - ou algumas empresas, no caso da Forte, foram liqüidadas.

Em 1985, restavam apenas a Real, a Redentor e a Pégaso operando linhas com Frescões. A Três Amigos resistiu o quanto pôde, mas num belo dia em que eu estava querendo viajar para o Centro no ônibus especial, ele não passou. Fiquei sabendo que a linha fora definitivamente extinta no dia anterior.

Algumas linhas até reativaram o sistema de transporte especial com ônibus sem ar, caso da Viação Rubanil, que pôs alguns coletivos saindo do Passeio para o Irajá. A Ideal comprou modelos Ciferal Dinossauro com mecânica Scania, da Cometa, e colocou para rodar. Breda, Auto Diesel e outras empresas também voltaram com os Frescões, que mesmo sem o encanto de outrora, continuam rodando à vontade no Rio de Janeiro.

Se bem que como os ônibus comuns já têm ar condicionado...

terça-feira, 28 de novembro de 2006

CTC: quem se lembra dela?!?

Eu tenho boa memória - ainda. E lembro muito bem da Companhia de Transportes Coletivos, a CTC, que tinha diversas linhas primeiro na Guanabara e depois no Rio de Janeiro, a partir de 1974, operando também em Niterói e Campos.

Anos 70: ônibus da linha 219 (Praça XV-Usina) encarroçado pela Angra Rio

A CTC foi uma das pioneiras em encarroçar ônibus com fornecedores que poucos conheciam, como este abaixo da Nimbus.


E também em usar ônibus elétricos, os trólebus - carinhosamente apelidados de trolleys ou chifrudos.

Quando eu era pequeno, recordo de ter viajado num deles, provavelmente no veículo que fazia a linha E-21, que ligava Madureira a Benfica, no subúrbio.

Os trólebus da CTC eram do modelo Fiat Alfa-Romeo Pistoiese, como esse da foto abaixo.


A empresa chegou a operar seis linhas circulares, 47 percursos regulares, sete variantes, três complementares, dez linhas de integração com o Metrô e outra no Fundão (Cidade Universitária).

E depois do auge, nos anos 70 e 80, a CTC passou a se arrastar com ônibus em estado tenebroso de conservação, com o piso solto, estofamento rasgado e revestimento pichado por vândalos. Muitos dos ônibus ganharam por isso o jocoso apelido de "catacornos".

Modelo Mercedes-Benz monobloco. Depois de anos de uso, foi chamado de "catacorno"


A empresa tentou virar o jogo modernizando a frota para linhas expressas que cortavam o Túnel Rebouças, comprando dezenas de carrocerias Ciferal com motores Volvo. Os ônibus foram imediatamente apelidados de "Brizolões", porque era a época do primeiro mandato do gaúcho Leonel Brizola como governador do Estado.



Mas a frota sucateou pouco a pouco e a CTC sentiu o peso de ter linhas em excesso. Algumas delas, como a 610, que ligava o Largo da Cancela ao Tuiuti, em São Cristóvão, tornaram-se desnecessárias.

E a empresa entrou em processo de liquidação em 1996, encerrando suas atividades na capital do Estado, em Niterói e também em Campos. De suas antigas linhas, vinte e sete permanecem operando até hoje.

A velha nova bagunça do futebol carioca

Dizem por aí que o Bangu voltou para a Primeira Divisão do futebol carioca, depois de duas temporadas na Série B.

Teoricamente é o que diz a seletiva para o inchado Estadual de 2007, que terá dezesseis times e promete ser bagunçado como nos velhos tempos do finado Eduardo Viana.

Isto porque o presidente da FERJ, Rubens Lopes, divulgou duas tabelas para o campeonato - a primeira com quatro times a menos. A confusão posterior aconteceu porque realizou-se justamente um torneio seletivo para que mais quatro equipes preenchessem as vagas restantes.

O promotor do Ministério Público, Rodrigo Terra, garante que se a FERJ descumprir a decisão judicial de que o campeonato de 2007 deverá ter 12 times, o dirigente será preso e multado em R$ 10 mil, diariamente.

Enquanto isto não acontece, Bangu, Portuguesa, Olaria e Macaé Sports estão na Série A.

E para ilustrar esse triste retrato de decadência do futebol carioca, segue na íntegra um ótimo texto da Agência Estado, de Bruno Lousada e Sílvio Barsetti.

Ex-patrono do Bangu, o bicheiro Castor de Andrade, que morreu em abril de 1997, aos 71 anos, voltou a ser lembrado pela torcida do time na partida final da seletiva, sábado, contra o Macaé, em Moça Bonita.

O Bangu ganharia o ‘título’ da seletiva com um simples empate. Aos 36 minutos do segundo tempo, o Macaé abriu o placar. Para surpresa de todos no estádio, o árbitro Alex Borges Pedro deu seis minutos de acréscimo, sem nenhum motivo. E, aos 49, apontou para a marca do pênalti quando um atleta do Macaé ‘matou’ a bola no peito. Alegou que houve toque de mão voluntário na bola.

Mesmo diante do protesto de todo o time visitante, Alan cobrou e empatou, garantindo o ‘título’ ao Bangu, para alegria de Rubens Lopes, torcedor ilustre do clube e que levou a taça da seletiva para Moça Bonita de helicóptero. No final, a maior parte da torcida, eufórica, comemorou com um grito saudosista e bem humorado. “Ô, ô, ô, o Castor ressuscitou!”

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

O último machão e cafajeste do Brasil

Ninguém soube encarnar nos últimos 40 anos o papel do cafajeste e do machão, aquele tipo de homem que acha que manda na mulher, diz que faz, acontece, não chora e et cetera. Ele foi o estereótipo de uma espécie em extinção. E nesta segunda, disse adeus ao mundo real.

A pessoa em questão é Jece Valadão.

Nascido com o nome Gecy em 1930 (que depois mudou para Jece, afinal soam praticamente do mesmo jeito) no interior do Rio, ele foi criado em Cachoeiro do Itapemirim - e por isso muitos o têm como conterrâneo de Roberto Carlos e de Sérgio Sampaio. Antes mesmo de completar 20 anos, já era um bom ator de teatro e cinema.

E vindo do interior, teve a sorte de conhecer a família de Nelson Rodrigues, que lhe deu personagens em duas de suas peças - "Os Sete Gatinhos", onde com uma pesada maquiagem interpretou o contínuo Noronha, e "Perdoa-Me Por Me Traíres".

Por conseguinte, apaixonou-se e casou com Dulce Rodrigues, uma das irmãs mais novas do dramaturgo. Com ela, arregaçou as mangas construindo um teatro no Catete, onde foi encenada pela primeira vez uma peça de Nelson que não foi censurada nos anos 60 ("Viúva, Porém Honesta") e montou uma companhia para produzir outras peças.

Ao mesmo tempo, Jece já era um ator conceituado no cinema nacional, assumindo a porção cafajeste inclusive no plano pessoal. Ao todo, atuou em mais de cem filmes - diversos deles de Nelson Pereira dos Santos, como "Rio 40 Graus" e "Boca de Ouro", e no lendário "Os Cafajestes", longa dirigido pelo angolano Ruy Guerra onde pela primeira vez uma atriz ficou inteiramente nua - a então linda e loira Norma Bengell.


Jece e Norma em ação no longa "Os Cafajestes"

Nos anos 70, foi produtor e ator em dezenas de filmes, sobretudo comédias e policiais, como "Eu Matei Lúcio Flávio". E fez um pai-de-santo em "A Idade da Terra", o último filme de Glauber Rocha.

Ironicamente, o machão, o cafajeste, deixou-se converter à Igreja Evangélica, por sugestão de Vera Gimenez, uma de suas seis mulheres. Ficou dez anos recluso, deixando para trás a imagem de boêmio e pai ausente de oito filhos - entre os quais não está a apresentadora de TV e modelo Luciana Gimenez.

Ele voltou à TV em programas especiais e na minissérie "Filhos do Carnaval", produzida pela O2 Filmes para o canal a cabo HBO, onde interpretou um bicheiro. Estava envolvido na produção de um documentário sobre ele próprio, intitulado "O Evangelho Segundo Jece Valadão" e no novo filme da lenda José Mojica Marins, o Zé do Caixão - "Encarnação do Demônio".

Mas a saúde do ator, abalada por anos de boemia e excessos, veio pagar-lhe a conta. Internado num hospital desde o último dia 21, Jece sofreu uma arritmia cardíaca em conseqüência de problemas renais. E partiu desta para uma muito melhor.


domingo, 26 de novembro de 2006

Antiquarium? Não... é o Rio Scenarium

A Lapa sempre foi referência no Rio de Janeiro.

Quer seja com o imponente aqueduto que depois virou a linha do Bonde de Santa Teresa ou pelos malandros famosos dos anos 30/40, como Madame Satã - o homossexual mais macho que já existiu - e o cantor Nelson Gonçalves. E também pelas prostitutas, travestis, bons restaurantes e vida noturna intensa.

Depois de um período decadente, a Lapa renasceu das cinzas. O Circo Voador, que esteve fechado por alguns anos, retomou atividades. A Fundição Progresso também segue a todo vapor com sua programação. Afora novos espaços, como o Teatro Odisséia e ótimos bares e restaurantes.

Um destes lugares foi aberto tem cinco anos e realmente chama a atenção: é o Rio Scenarium.

Misto de antiquário e point noturno, a casa fervilha de terça a sábado com uma programação que dá ênfase a MPB. No piso térreo, o chorinho, a seresta e o samba são os donos do pedaço. As mesas lotam, turistas invadem o lugar e formam uma fauna bastante diversificada. Pode-se ver gente bonita, playboys, patricinhas, alternativos, gente de terno, de bermuda e também com as indefectíveis havaianas. Democracia é isso aí...

O lugar ainda tem outros três ambientes. Um segundo andar por onde os clientes podem chegar via um elevador antiquíssimo, daqueles de porta pantográfica, com uma parte onde o pessoal fica batendo papo e pegando uma carona na música que vem da parte de baixo.

E no mesmo segundo pavimento, um anexo espaçoso, com dois bares e um palco onde rola música "pra dançar e pra pular", sempre em língua portuguesa. E um DJ que entra em ação nos intervalos dos shows.

Ontem, depois de uma experiência anterior não muito boa, fui ao Rio Scenarium prestigiar o aniversário de uma grande amiga, que conheço tem 16 anos. Ela mandou chegar cedo. Obediente, eu fui. Ainda havia poucas pessoas no andar de cima, mas no primeiro, onde o chorinho rolava solto, tudo cheio. Não havia mais mesa vaga.

Os amigos dela e também nossos em comum (destes foram poucos, apenas três) foram chegando. Fotos de praxe, sorrisos, elogios e trabalhos abertos com cerveja Cerpinha e pastel de camarão - divino! Bebi também a cerveja Sol já produzida aqui (péssima) e a Itaipava (bem razoável).

Às onze da noite, casa cheia, a música começou a rolar. Um grupo bastante simpático e competente desfilou dezenas de sucessos da música nacional, do pop ao rock, passeando pela tenebrosa axé music e, pasmem, revisitando Balão Mágico e também a música (cujo nome não me lembro) cantada por Moraes Moreira, Baby Consuelo, Ricardo Graça Mello e Bebel Gilberto pra um especial infantil da Rede Globo.

Como diversão é meu nome do meio, dancei sem parar - quer dizer, não dancei funk, que eu abomino, e nem axé music. Mas até dei uns passinhos de forró, escudado por uma das simpáticas amigas da Rita, a aniversariante.

A turma aí de cima dançou até dizer chega!


Saí de lá com a camisa e a calça encharcadas de tanto suor. Eram quatro da manhã quando peguei um táxi e fui pra casa. E depois de uma noite tão divertida, fiquei com gosto de quero mais e recomendo: o Rio Scenarium é um grande barato.

E viva a viva Lapa, mais uma vez!

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Os "Gostosões"

Espero que o Flávio Gomes, que é fanático por ônibus antigos, assim como o escriba deste blog, leia este post.

Recomendado por seu próprio blog, fui dar uma olhada no site Alma Carioca e me deparei com esta pérola abaixo.



Eis um dos ônibus que circulavam na então capital da república, nos idos dos anos 40/50. Eram americanos, fabricados pela General Motors Company (GMC) e com motores movidos a gasolina. Tinham o apelido de "gostosões" e foram sepultados quando da chegada dos pequenos lotações, por volta de 1952.

Estes ônibus vieram ao país graças ao governo de Eurico Gaspar Dutra, que gastou todo o superávit da balança comercial obtido ao longo da II Guerra Mundial, permitindo a livre importação de geladeiras e automóveis - entre os quais veículos mais pesados como caminhões e ônibus, evidentemente.

O referido coletivo fazia a linha 11 - o trecho entre a Usina, próximo à Tijuca, e Copacabana. Por coincidência, é a mesma linha que eu pego para trabalhar, hoje com outro número: 426.

E quem operava o trajeto era a falecida Viação Carioca. Hoje a linha está a cargo da Alpha.

Antes que acabe...

O fim de semana de encerramento do que se chama de "Speed Show", com a disputa da Copa Clio, da Fórmula Renault, da Super Clio e da F-3 Sul-Americana, é o último da marca francesa no automobilismo brasileiro.

Aliás, nenhuma surpresa nisto. Por mais que a montadora, que tem sede em Curitiba aqui no país, tenha apoiado a criação de categorias similares às já existentes na Europa desde 2001 e entregue a organização a cargo da PPD Sports de Pedro Paulo Diniz, o evento nunca decolou.

Ok... é claro que os dois primeiros anos foram muito bons, especialmente entre os monopostos, com os 30 carros trazidos da Itália enchendo o grid e promovendo boas corridas e disputas. Mas a fonte secou.

E secou por que?

Porque a entressafra de pilotos bons, com P maiúsculo, que saem do kart direto para as competições, têm sido tão grande quanto preocupante. Afora isso, os custos proibitivos. A F-Renault, até o começo deste ano, usava pneus importados e numa tentativa de aumentar o grid, trocou-se o fornecedor: saiu a Michelin, entrou a Pirelli.

E por mais que as equipes tenham dominado a tecnologia e o desenvolvimento mecânico e aerodinâmico dos carros, isto implica em investimentos em mão-de-obra, material humano competente e no aumento dos orçamentos.

Não é à toa que a categoria teve uma média de 20 carros por prova este ano - boa, se comparada a de 2004 e 2005, quando correram às vezes doze, treze pilotos.

Pior: a categoria deixou de ter a visibilidade que tanto almejava. Os quatro primeiros anos foram bons, até excelentes, neste aspecto. Mas o televisionamento minguou e este ano, com mais rodadas duplas, as corridas dos sábados foram vistas por ninguém. E as más-línguas dizem que a vaidade dos organizadores (leia-se Pedro Paulo Diniz e André Ribeiro) sempre esteve acima de qualquer benfeitoria para o campeonato.

A Copa Clio se sustentou bem pelo interesse suscitado em competir num carro de preparação limitada, com pneus slicks, razoavelmente rápido e que proporciona disputas inenarráveis. Com a adoção de motores a álcool, a categoria voltou a ser atrativa em 2006, recuperando um pouco do prestígio perdido no ano passado.

A recém-nascida Super Clio, através de um esforço inaudito da Action Power, que montou os carros, teve dezenas de problemas de logística, incluindo falta de câmbios e problemas sem-fim com os turbocompressores. Chegamos ao fim do campeonato e a categoria nunca correu oficialmente com os motores na configuração pré-determinada por regulamento.

E o que dizer da Fórmula 3, coitada?

Outrora um imenso manancial de talentos e de uma intensa rivalidade Brasil x Argentina, a única categoria continental é uma piada. Não possui sequer uma equipe de fora do nosso país. Todos os pilotos são brasileiros. E, pior, o motor Ford-Berta desenvolvido pelo mago portenho em Alta Gracia, não é propriamente uma mecânica homologada para a F-3, pois tem 2.300cc ao contrário de todos os outros torneios existentes, onde se usam motores 2 litros.

Nisso, ocorre a triste constatação.

Tirando a Stock Car, que outro campeonato consegue se manter pujante no automobilismo nacional?

Tem mais: pouco a pouco, o Brasil vai ficando igual aos nossos vizinhos argentinos. Quase zero de pilotos indo tentar a sorte na Europa, para alcançar a Fórmula 1.

É melhor aproveitar a turma que está tentando chegar lá, enquanto é tempo. Antes que acabe.

Os F-1 que nunca correram - XI

Lá vamos nós para o décimo-primeiro astro da série.

É o segundo carro japonês que fracassou nas pistas: no caso, um bem mais recente.

Trata-se do Dome F105.



Presente em competições de Fórmula Nippon, Protótipos e Grã-Turismo como equipe ou construtora, a Dome resolveu estudar em meados dos anos 90 a possibilidade de construção de um Fórmula 1.

O primeiro passo foi dado em 95, visando uma possível estréia em 97. Nesse ínterim, o carro ficou pronto e um acordo com a Mugen para o fornecimento dos motores V-10 da subsidiária da Honda foi acertado.

Shinji Nakano e Marco Apicella, veterano piloto italiano radicado no Oriente, foram escalados para o desenvolvimento do carro que, em seu primeiro teste no ano de abril, completou somente 18 voltas.

O carro faria depois apenas mais 550 km de teste antes do primeiro confronto direto com a turma da F-1: um treino após o GP do Japão, em Suzuka, com Naoki Hattori a bordo.

E veio a decepção. O Dome F105, com pneus Goodyear, foi mais de oito segundos mais lento que a pole position obtida dias antes por Jacques Villeneuve, com a Williams-Renault - só foram melhores que o lentíssimo Giovanni Lavaggi, à época na Minardi.

Como resultado do fracasso, os patrocinadores se retraíram, a Dome não arrumou o budget necessário para a temporada de 1997 e o projeto foi abandonado. Depois disto, o construtor nipônico direcionou seus projetos para as 24 Horas de Le Mans, construindo o modelo S101 que, com motores Judd e Mugen, fez boas corridas na mais tradicional prova longa do planeta.

Filhote de peixe...

Pedro Estácio Piquet, o terceiro filho do tricampeão Nelson Piquet que está no automobilismo (ele tem cinco meninos e duas meninas), foi o show à parte do Capacete de Ouro, na última segunda-feira.

Com apenas oito anos de idade, ele revelou uma sinceridade impressionante para quem está apenas começando no automobilismo.

"Hoje tem apenas uns quatro ou cinco pilotos competitivos. Na época do meu pai todo mundo era bom", comentou sob o aplauso da platéia do Teatro Alfa.

Mas o guri sapecou uma saia-justa no sempre bocudo pai, que nunca foi de papas na língua.

Quando perguntado por Otávio Mesquita se o pai dele fala muito palavrão em casa... olhem só a resposta sagaz de Pedrinho Estácio...

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Prêmio injusto

Agora é minha vez de opinar sobre o prêmio Piloto da Década, do Capacete de Ouro da revista Racing.

Não acho justo que Rubens Barrichello seja merecedor do prêmio.

Só porque chegou à Fórmula 1, foi duas vezes vice-campeão e venceu nove corridas, ele tem que ser o vencedor dessa eleição?!?

E o que fizeram Gil de Ferran e Hélio Castro Neves, que nem para a decisão final ficaram?

Gil foi bicampeão da ChampCar, venceu as 500 Milhas de Indianápolis. Helinho foi bicampeão em Indy e já papou um vice-campeonato da IRL. Tem gente que acha pouco. Eu não.

Ingo Hoffmann, embora tenha ganho apenas um título nesta década ou quatro nos últimos 10 anos, também seria merecedor - com muitos méritos - do prêmio.

Mas os colegas (fazer o quê né?!?) resolvem eleger Barrichello.

A próxima temporada da Fórmula 1 poderá me fazer justiça. E aos outros, quebrar-lhes a cara.

E lá se vai o mercenário...

Acabei de ler uma notinha onde se dizia: Luizão não é mais jogador do Flamengo.

Nenhuma novidade em se tratando dele...

Afinal, o aposto "não é mais jogador" pode ser aplicado quando da passagem do atacante nos seguintes times: Guarani, Paraná Clube, Palmeiras, Deportivo La Coruña, Vasco, Corinthians, Hertha Berlim, Botafogo, Grêmio, Santos, São Paulo e Jubilo Iwata.

O rubro-negro da Gávea é apenas mais um a engrossar a listinha do atleta, que em menos de um ano fez somente onze gols - o que é muito pouco, considerando que o perna-de-pau do Obina fez igual número de tentos neste Campeonato Brasileiro.

Luizão vai cada vez mais engrossando a fama de mercenário que o acompanha desde que, a cada cinco, seis meses, trocava de time nos últimos anos. E quem o irá querer em 2007?

Fica a pergunta.

O grande ausente

Tem tempo que não falo de carnaval aqui. Os posts sobre a folia de Momo foram deletados, inclusive.

Então, vamos lá.

Tá feia a coisa quanto à saúde do cantor Jamelão.

A voz marcante da não menos famosa Estação Primeira de Mangueira estará ausente da avenida depois de muito tempo.

Internado no Hospital Copa D'Or, o artista (de 93 anos de idade) se recupera de um acidente vascular cerebral que o afastou depois de 22 anos da gravação do hino da Mangueira para o Carnaval 2007. Luizito, antigo intérprete da Caprichosos de Pilares, cantou o samba e provavelmente assumirá o posto no próximo ano.

Jamelão sempre foi conhecido pelo mau-humor latente. Detesta ser chamado de "puxador" - termologia do carnaval que acabou abandonada a pedido do próprio. Como foi policial antes de ser cantor, José Bispo Clementino dos Santos (seu nome de batismo) dizia que "puxador" era quem roubava carro.

Em toda a sua carreira, iniciada em 1949, gravou mais de 80 discos, entre CDs e compactos duplos de 78 rotações. Na Mangueira, Jamelão é o intérprete oficial desde meados dos anos 50 - mas dessa vez, provavelmente, sua voz não vai ecoar na Marquês de Sapucaí e nos corações dos milhares de torcedores da verde-e-rosa.

Nextel lá, Nextel aqui...

A partir de agora há mais uma semelhança entre a Stock Car Brasil e a Nascar: o patrocinador.

A categoria americana trocou o apoio da R.J. Reynolds (Winston) pela Nextel em 2004, ano em que o sistema de playoff foi implantado na categoria. Agora é a vez da Stock tupiniquim fechar um acordo de patrocínio com a Nextel - um dos primeiros frutos da parceria da Vicar com a Corporação Interamericana de Entretenimento (CIE).

A CIE, de origem mexicana, já investe no esporte promovendo as provas da ChampCar em terras astecas, além do Desafio Corona. A partir de 2007, ela ampliará sua ação trabalhando com as duas principais categorias de turismo da América do Sul: a TC 2000 e a Stock Car.

Fica a pergunta que não quer calar: o contrato, com prazo de três anos renováveis, vai contemplar pilotos com uma premiação decente? A Pirelli oferece R$ 14 mil aos vencedores, algo em torno de 7 mil dólares. É muito pouco, se considerarmos que o 11º colocado na Nascar, o primeiro abaixo da turma do playoff (neste ano foi o campeão Tony Stewart) ganhou US$ 1,2 milhão de bônus.

É mole ou quer molho?

***

Mudando de assunto, em entrevista ao globoesporte.com, Cacá Bueno revela que vai voltar a correr na Argentina.

Agora, a piadinha. Por lá, dizem que o sobrenome não lhe trará problemas como aqui.

Também pudera: é quase igual ao nome da capital da Argentina...

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Bate-e-volta pra Sampa

Voltou a rotina... viagens bate-e-volta pra Sampa. Desta vez, para a premiação da revista Racing, o Capacete de Ouro.

Pela décima vez os pilotos foram premiados em diferentes categorias, do Kart à Fórmula 1. E se não me engano, foi a segunda vez em que votei para este prêmio.

Alguns dos agraciados eram pule de dez: Felipe Massa, Nelson Ângelo Piquet, Pedro Bianchini, Luiz Razia e Xandy Negrão. Confesso que torci por alguns outsiders, como Vítor Meira e Tom Valle, mas eles não levaram nada.

A festa foi no Teatro Alfa, com um convescote antes da premiação propriamente dita. E como sempre, formaram-se as rodas e o reencontro com os colegas jornalistas foi inevitável: Zampa, Beegola, Rodrigo França (que me deu carona na ida), Pandini (que me salvou na volta), Bruno Vicaria, Márcio Fonseca, Nei Tessari e seu ridículo saiote escocês e tantos outros. Entre um ou outro canapé, umas taças de vinho e prosecco, os elogios de praxe e papos sempre ligados a automobilismo.

Beegola liderou uma turma animadíssima que se sentou lá no fundo da platéia. E quem tentou roubar a cena, visivelmente alterado, foi o nobre colega Oswaldinho Martins - cuja revolta na premiação das categorias Truck & Pick-Up foi comovente.

"Tá errado!" - bradava, porque Vinícius Ramires perdeu o prêmio pra Renato Martins, só pode.

O Celso Miranda, da Bandsports, tava bem perto e o Oswaldinho ficou buzinando um monte no ouvido dele. O povo tava vendo a hora que a porrada ia comer. Uma fila inteira na nossa frente se retirou em protesto. Mas a maior agraciada com as zoações foi... Meg Cotrim e corinhos de "Ingooooooooooooo!"

Depois do último - e óbvio - troféu (alguém achava que Barrichello perderia para Felipe Massa na categoria Fórmula 1, sendo que só tinha os dois competindo?), a platéia desceu, muitos ficaram e uma galera de oito pessoas, entre os quais o escriba, foram para um birinaite na Vila Madalena (obrigado Panda, pela correção... efeitos do álcool).

O papo prosseguiu noite adentro, regado a caipirinha, chope, cachaça, Stella Artois e até Pepsi. Eram sete marmanjos e a "bendita o fruto" Silvana Grezzana nos acompanhando. E o Beegola sempre insistindo em tirar sarro do meu sotaque carioquês. Tem nada não, eu me vingo quando a Stock voltar ao Rio de Janeiro no próximo ano.

Para pegar o vôo de volta no dia seguinte (ontem), o stress de sempre. Carros demais, quilômetros de engarrafamento, aquele sufoco. Cada vez mais que vou a São Paulo, mais sinto saudade do Rio. Não que aqui seja uma terra de vagabundos, pelo contrário. Aqui também se trabalha. Mas nada se compara a essa cidade, com suas praias de beleza incomparável e mulheres absurdamente estonteantes.

E - novidade nenhuma dentro do caos que instaurou-se por conta do desastre do vôo da Gol - a decolagem atrasou mais de 1 hora.

Sensacional, não?!? Mas cheguei aqui são e salvo.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Show de horror - o retorno

Incrível, mas verdadeiro.

Sábado, jogo que poderia decidir o título da Série B em favor do Atlético Mineiro contra o Ceará, no Castelão. Começa a partida e, súbito, o Galo emplaca um contra-ataque. Éder Luís lança Marinho, que toca na saída de Adílson. Gol.

Mas não foi assim que o locutor do jogo viu o lance!

Acredite quem quiser... vejam só a narração dele... lá vai o Atlético pela direita, olha o lançamento, tiiiiiiiiira a zaga e a bola vai para fora, escanteio para o Galo cobrar...

Uns três segundos de hesitação e depois... gol... goooooooooooooooool da equipe do Atlético!

E não foi um gol qualquer afinal das contas. Foi o gol do título do Atlético.

Sorte que o editor de imagem é safo. O produtor do jogo também. E que havia ilha de edição não linear para consertar a barbaridade do locutor, cujo nome nem sob tortura pronunciarei.

Mas que essa foi bizarra, ah foi!

Chapa fervente!


O fim de semana foi de ebulição total no automobilismo, com o retorno do Rio ao calendário do esporte e a penúltima etapa do playoff da Stock Car.

Estive no autódromo (ou no que sobrou dele) na sexta-feira. Além da consternação com as obras, vi uma pista ainda abandonada mas que no fundo merecia voltar a ser utilizada, mesmo que num traçado um pouco "mandrake".

Aquele dia foi de calor intenso, infernal, sufocante. Nem eu, carioca tão acostumado a dias assim, estava agüentando. E tome água mineral, guaraná, Pepsi, cerveja Sol e o que mais viesse. Fui com os amigos Zampa e Ricardo Di Loreto ao La Plancha comer pastel de camarão. E já quando o sol se pôs e a temperatura enfim baixou, uma tropa de choque liderada por Kaká Kacelnik se dirigiu ao Gula Gula do Rio Design Barra para mais uma aventura gastronômica, coadjuvada por Cláudio Stringari, este que vos escreve, Rodrigo França e Tiago Wesley.

Revi vários amigos, entre pilotos e jornalistas de fora. Cruzei com o Reginaldo Leme e ele lamentou que eu não pudesse ir no sábado (ah, o plantão...) e ainda tive a oportunidade de conhecer pessoalmente a impoluta figura de Victor Martins, acompanhado do PGE (Pequeno Grande Estagiário) Marcelo Freire.

Como o compromisso do plantão me afastasse de poder ir à pista no dia da definição da pole, acompanhei o resultado do treino, com Ricardo Maurício largando na frente. Na sexta, eu já comentara com ele que as chances do melhor tempo vir no treino oficial eram grandes. Parece que eu acertei.

A corrida, que teve presença de um público muito numeroso, foi tão quente quanto o clima nos outros dois dias (de ontem pra hoje choveu e o calor deu uma dissipada). A prova disto foi a entrada do Safety Car por três vezes, algumas ultrapassagens muito bacanas, disputas porta com porta, toques, três pilotos desclassificados - sendo que a chapa esquentou no parque fechado entre Thiago Camilo e Luciano Burti - e outros cinco punidos com acréscimo de tempo.

E quem foi um dos "agraciados"? Cacá Bueno, que se julga 'perseguido' pela categoria.

O piloto se envolveu num imbroglio com Giuliano Losacco, atual bicampeão, na última volta. Os dois se tocaram mais de uma vez e perderam posições. Como quem pode mais chora menos, ele foi punido pelos comissários e desceu cinco postos na classificação final.

Ao saber da punição, saiu da praia e voltou ao autódromo. E desabafou, à la Fernando Alonso. "Não amo mais este esporte".

É um desabafo compreensível, mas será que ele se perguntou de sua má largada? De quanto seu carro vinha lento em retas? Talvez não. Agora a preocupação será com a corrida do próximo dia 10, porque ele tem apenas dois pontos de vantagem sobre Hoover Orsi, o vice-líder.

Este sim está fazendo o que deve. Não se mete em confusões, não abre a boca pra criar polêmicas, é rápido, guia bem e é competente.

Não venceu corridas - ainda. Pois se vencer a última e a única do ano, pode ser campeão.

Já pensaram?

sábado, 18 de novembro de 2006

A primeira anarquia do magro abusado

Muito antes de se consagrar como o maior roqueiro do Brasil até sua morte em 1989, aos 46 anos de idade, Raul Seixas provou num álbum de apenas meia hora de duração e 12 faixas o quanto era criativo, inteligente, abusado e tresloucado.




Veja a turma aí acima, na foto da capa do disco, tirada no cinema Império, famoso "poeira" do Rio dos anos 30 aos 70.

Raul é o magrelo de camiseta vermelha, óculos de grau e cavanhaque. Vestida de "Super-Homem" está a cantora paulista Míriam Batucada (e que pernões ela tinha...); ao lado dela, mão no queixo e camisa da seleção, o capixaba Sérgio Sampaio; e na outra ponta, o único da turma que ainda está vivo - e tem blog na internet - Edy Star.

Na época da gravação deste disco (1971), Raul era apenas "Raulzito", produzia discos de artistas como Renato & Seus Blue Caps, Trio Ternura e Jerry Adriani na CBS, e aproveitando uma suposta distração dos diretores da companhia, arregimentou músicos e deu forma ao disco.

Este é um mix sonoro como poucas vezes se viu na carreira do magro. Tem o desabafo de "Eta Vida" (cantado por Raul e Sérgio em dueto), com uma abertura pra lá de debochada: Respeitável público! A Sociedade Da Grã-Ordem Kavernista pede licença para vos apresentar o maior espetáculo da terra!

O escracho continua na faixa-título. Edy Star abre "Sessão das 10" como 'uma homenagem aos boêmios da velha guarda'. E em ritmo de seresta, desfila uma letra irônica e genial de Raul Seixas.

Ao chegar do interior
Inocente, puro e besta
Fui morar em Ipanema
Ver teatro e ver cinema
Era a minha distração.

Foi numa sessão das dez
Que você me apareceu
Me ofereceu pipoca
Eu aceitei e logo em troca
Eu contigo me casei.

Curtiu com meu corpo
Por mais de dez anos
E depois de tal engano
Foi você quem me deixou.

Curtiu com meu corpo
Por mais de dez anos,
Foi tamanho o desengano
Que o cinema incendiou.


Como em praticamente todas as faixas, o baião-frevo-calipso "Eu Vou Botar Pra Ferver" é aberto com uma vinheta (a inspiração veio dos discos de Frank Zappa, em especial o 'Mothers Of Invention') e depois cantado por Raul e Sérgio, em perfeita sinergia. O magro capixaba manda muito bem em "Eu Acho Graça", a quarta faixa do álbum, abrindo terreno para - enfim - Míriam Batucada aparecer com a anárquica "Chorinho Inconseqüente".

"Quero Ir" é um baião-pop que remete à canção "I Wanna Go Back To Bahia", do baiano Paulo Diniz, que despontou para o anonimato depois desse meteórico sucesso. Míriam comparece novamente com outra levada de ritmo nordestino, o xaxado, em "Soul Tabarôa" (letra e música de Antônio Carlos e Jocafi), trazendo na esteira o rock and roll de "Todo Mundo Está Feliz", cantado e escrito por Sérgio Sampaio.

"Aos Trancos E Barrancos" é um sambão sensacional composto por Raul que resume em outras linhas a sua trajetória musical. Do menino pobre de Salvador que passou fome para morar em Ipanema e se tornar astro do rock. Edy Star comparece novamente com a ótima "Eu Não Quero Dizer Nada" e o disco fecha com mais um petardo de Raul, "Dr. Paxeco" - ou melhor, o "Finale" é a mesma musiquinha canalha de abertura de circo acompanhada de uma descarga numa privada!

A rasteira que Raulzito e os Kavernistas deram no que se convencionava chamar de MPB surpreende até hoje, 35 anos depois que o disco foi lançado e provocou inclusive a saída do baiano como funcionário da CBS. Por um motivo: a gravadora não foi comunicada do estouro no orçamento de produção. Aí descobriram a traquinagem e o mandaram embora.

Raul respondeu com uma aparição monumental no último Festival Internacional da Canção, em 1972, cantando "Let Me Sing, Let Me Sing" e "Eu Sou Eu, Nicuri é o Diabo". O resto é história.

Decisão na Nascar... e estréia de JPM!

Amanhã é o dia D da Nascar. Será decidido no oval de Homestead o terceiro playoff da história da categoria.

Cinco pilotos reúnem chances de chegar ao título, com Jimmie Johnson (o loser dos últimos anos) levando vantagem de 63 pontos sobre o vice-líder Matt Kenseth. A pole position, pela sexta vez no ano, é de Kasey Kahne - o piloto que aliás venceu mais corridas do que todos (seis) e não estará sequer no Top 5 da classificação.

Excetuando-se a briga pelo título, a corrida terá uma atração à parte: a estréia de Juan Pablo Montoya na divisão principal da Stock Car americana. Ele larga na vigésima-nona posição, à frente de muita gente boa.


Vai que é tua, Montoya!

Só para citar alguns: Bobby Labonte, Jeremy Mayfield, o novato do ano Denny Hamlin, Robby Gordon, Kurt Busch e as lendas Dale Jarrett e Bill Elliott. O melhor de tudo é que ele deixou de fora figuras como Michael Waltrip, Kevin Lepage e Kenny Wallace, que nada acrescentam às corridas a não ser o risco de se envolverem - ou provocarem - acidentes.

Claro que se JPM terminar a prova terá feito muito mais do que se esperava. Mas se por um acaso do destino ele bater com Jimmie Johnson, aí será um bem para a humanidade. Em hipótese alguma o piloto do Chevrolet #48 tem que ser campeão. Torço - e muito - para mais um título de Matt Kenseth no Ford #17.

O maestro húngaro

Termino a sexta e começo o sábado homenageando um gênio do futebol.

Ferenc Puskas, o maior jogador de sua geração e provavelmente o craque da Hungria em toda a história, faleceu aos 79 anos de idade - segundo li, em decorrência do Mal de Alzheimer.

O jogador era um dos três únicos remanescentes da geração que maravilhou o mundo com o ouro olímpico em Helsinque-52 e o vice-campeonato na Copa da Suíça. Os outros dois são Buzanszky e o goleiro Grocsics.

Puskas foi o símbolo do Honved, a equipe do exército húngaro. E em 1949, era titular e o principal jogador do time. Além de ostentar patente militar (foi tenente-coronel), ganhou com o Honved um pentacampeonato de clubes e foi três vezes artilheiro máximo do país.

Além do ouro em Helsinque, Puskas brilhou em 1953 quando a Hungria tornou-se a primeira seleção da história a derrotar a Inglaterra em pleno Wembley, por 6 a 3. Ele era um dos pilares da equipe que o técnico Gyula Mandi montou e que seria a sensação na Suíça até tropeçar na soberba e perder para a limitada mas guerreira seleção da Alemanha na final em 54.

Exilado em razão da invasão soviética em 56, Puskas deixou a Hungria com a impressionante marca de 358 gols em 349 jogos - média superior a um por jogo!

E como tem coisas que só acontecem ao Botafogo, foi depois de um amistoso contra o clube carioca que Puskas foi contratado pelo Real Madrid, na época o clube espanhol de maior prestígio.

Com a camisa 'merengue', Puskas desfilou talento, arte e gols. Muitos gols. Foram 154 em 180 partidas pelo clube. Afora os títulos, entre os quais três taças da Liga dos Campeões e um pentacampeonato de 1960 a 1965.

Nesse período, como a FIFA ainda permitia que um jogador participasse de Copas do Mundo por seleções distintas, Puskas naturalizou-se espanhol e pôde ser convocado para a disputa do Mundial de 62, no Chile. Ele fez apenas quatro partidas pela 'Fúria', uma delas contra o Brasil.

Sua carreira de jogador encerrou-se em 66, mas o mito permaneceu, como diretor, dirigente e técnico em diversos clubes pelos mais variados países e continentes. E reza a lenda que, há pouco tempo atrás, antes de contrair a doença que o levou a morte, muitas pessoas se perguntaram, ao visitar o Santiago Bernabéu, quem era o moço atarracado e barrigudinho que fazia misérias com a bola, aos 70 anos.

Era simplesmente um craque: Ferenc Puskas.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Os F-1 que nunca correram - X

A décima "estrela" da série por mim apresentada não vem de um construtor qualquer.

Trata-se de um dos projetos de um mito das pistas que nunca deu certo.

É a Ferrari 312 B3 Spazza Neve.

Este carro foi idealizado pelo então engenheiro chefe da Casa de Maranello, Mauro Forghieri. Naquela época, a Ferrari perdia terreno para os "garagistas" ingleses Lotus, Tyrrell e McLaren, todos com os motores Ford Cosworth V-8 de 450 cavalos. O Comendador Enzo achava inconcebível que suas máquinas, dotadas de poderosos motores de 12 cilindros flat, perdessem para um grupo de construtores 'sem alma'.

Forghieri então foi à luta. Conseguiu que pela primeira vez a equipe italiana abandonasse o sistema de construção de chassis em treliça e encomendou à firma inglesa Thompson o desenho de um monocoque em alumínio. Com base no projeto da 312 B3 que estrearia naquele ano de 73, ele fez profundas e espantosas alterações de aerodinâmica, pouco convencionais para a época.


Notem pela foto que o desenho do spoiler dianteiro se assemelhava, de fato, às pás próprias para a retirada de neve, fixadas em tratores ou até caminhões. As cavidades frontais são as entradas de ar para os radiadores.

Além disso, este modelo tinha um perfil muito mais largo que os monopostos de F-1 na época, num conceito que lembra bastante o carro-asa introduzido por Colin Chapman em 1977.

E o posicionamento do espelho retrovisor? Notaram alguma semelhança com outra Rossa?

O carro foi para a pista de Fiorano a fim de ser testado por Jacky Ickx e Arturo Merzario, que defenderiam a escuderia naquele ano de 1973. Ambos foram unâmines: o Spazza Neve era de fato um carro muito ruim e difícil de ser acertado. Reza a lenda que é o pior carro que a Ferrari já teve em toda a sua história - mais até que a F92A, de 1992.

O Spazza Neve, coerentemente, é peça de museu. Mas vendo assim, até que as idéias de Forghieri não eram ruins. Só foram mal-aplicadas e ainda numa época em que a Ferrari dividia suas atenções entre a F-1 e o Mundial de Marcas, onde levaram pau do Matra MS670. O resto é história.

Da vaia para a ovação

Quem tem mais de 45 anos com certeza se lembra bem dos Festivais da Canção. As diferentes emissoras de TV nos anos 60 promoveram vários, cada um a seu modo. Tinha o da Excelsior, de curtíssima duração; o da Record, o mais rico em grandes canções e o que mais artistas revelou na história da MPB; e o Festival Internacional da Canção, o FIC.

Este iniciou-se em 1966 como um evento promovido em conjunto pela Secretaria de Turismo da antiga Guanabara com a TV Rio. Percebendo o enorme potencial do evento, a Globo, através de seu diretor Walter Clark, negociou para fazer a transmissão em conjunto e a família De Lamare, dona da emissora rival, não topou. Naquele ano, sob vaias, Nana Caymmi defendeu "Saveiros", canção do irmão Dori com letra de Nelsinho Motta. E ganhou. Na fase internacional, vitória da insossa música "Frag Den Wind" (Pergunte ao Vento), da Alemanha.

Em 67 o FIC já era da Globo, que o promoveria até 1972. Desta vez, um monstro sagrado da MPB foi descoberto de estalo por Augusto Marzagão, organizador do evento: Milton Nascimento. Com a silenciosa ajuda de Agostinho dos Santos, três músicas dele foram inscritas no FIC - "Travessia", "Maria, Minha Fé" e a lindíssima "Morro Velho".

E até hoje não dá para entender como Milton, com "Travessia", perdeu o primeiro lugar para "Margarida", animada mas pouco criativa música interpretada por Gutemberg Guarabyra e o Grupo Manifesto.

No ano seguinte é que a coisa pegou fogo: o país vivia a repressão da ditadura e alguns artistas já eram perseguidos ora pelos Militares, ora pelo Comando de Caça aos Comunistas, que espancou todos os atores da peça "Roda Viva", encenada por Zé Celso Martinez Corrêa.

O Festival da Record em 1967 já dera mostras do que viria a acontecer nesse tipo de evento. O protesto de Sérgio Ricardo ao quebrar seu violão tornou-se fichinha diante do que a platéia fez com Caetano Veloso & Os Mutantes, quando cantaram "É Proibido Proibir" na eliminatória paulista do FIC.

Furibundo, Caetano desafiou o público, chamou o júri de incompetente, colocou em xeque a desclassificação de "Questão de Ordem", do amigo Gilberto Gil. E se retirou do festival, abrindo a brecha para Geraldo Vandré se tornar a estrela com sua canção-panfletária "Caminhando" (Para Não Dizer Que Falei Das Flores).

O detalhe é que os homens de verde-oliva, azul e branco, ou seja Exército, Aeronáutica e Marinha, jamais permitiriam que uma canção de cunho político vencesse o FIC. E 'recomendaram' a Walter Clark que Vandré não fosse o primeiro colocado.

Sorte da Globo (e dos milicos) que havia dois outros mitos da nossa música, unidos numa belíssima canção: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o maestro soberano, e Chico Buarque de Hollanda, que aos 24 anos era uma quase unanimidade nacional.

Tom compôs, com arranjo de Eumir Deodato, uma elaborada melodia onde ele e Chico contribuíram com a letra, falando da dor do exílio e da vontade de regressar à terra querida. "Sabiá" era um clássico instantâneo. E interpretado por Cynara e Cibele, do Quarteto em Cy, as chances de vitória seriam grandes.

O problema é que 20 mil vozes em fúria cantaram em uníssono com Vandré a sua música de dois acordes, levada apenas em voz e violão. E com o Maracanãzinho em ebulição, não foi preciso muito quando o júri deu a vitória para "Sabiá" e o cantor paraibano, por mais que tentasse, não aplacou a ira da torcida.

Na reapresentação quando do resultado, Tom foi enterrado vivo junto com sua belíssima canção e as meninas do Quarteto em Cy. Indignado, dirigiu chorando pelo Túnel Rebouças ainda em construção, em meio a uma torrente de dúvidas e palavrões. Foi carinhosamente recebido em sua casa na Lagoa e logo tentaram contato com Chico Buarque, que na época vivia em Roma, para que ele voltasse ao país para a final internacional. Com o parceiro, pensava Tom, ele não se sentiria "o cocô do cavalo do bandido".

A festa pela vitória foi interrompida pela morte do inesquecível Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta. Mas Chico, ao saber da conquista, imediatamente telegrafou para Tom e confirmou a vinda para o Brasil.

Por incrível que pareça, a canção que fora vaiada de forma implacável na parte brasileira do FIC, desta vez não foi "bombada". E nem haveria de sê-lo. Esse vídeo com imagens raríssimas do evento em 1968 mostra Françoise Hardy em ação; Paul Anka conseguindo o 2º lugar representando o Canadá; e a apresentação de Cynara e Cibele, as campeãs da fase internacional do FIC.

Mudança de comportamento da platéia? Nem sempre... Mudança de opinião? Talvez...

Mas é um mistério que ainda não foi elucidado. Por que uma música tão relevante para a MPB é vaiada num primeiro momento e depois ovacionada pelo público numa outra ocasião?

Era Turbo, parte 2 - a troco de quê?!?

Não consigo entender a FIA e seu presidente, Max Mosley.

Na semana onde se celebrou o acordo entre a entidade e a GPMA, o grupo das montadoras que ameaçou criar uma competição paralela - sem a Ferrari, diga-se - o britânico acena com a possibilidade do retorno aos motores turbo, daqui a cinco anos.

"Com motores limitados a 15 mil rpm e movidos a Biocombustível", promete o cartola.

Pois é, viveríamos uma nova "Era Turbo" como quando a Renault se tornou a pioneira no desenvolvimento desses motores que, na palavra de Colin Chapman à época, 'não roncavam, pipocavam'.

Os franceses investiram pesado e perderam o privilégio do primeiro título quando os motores já estavam atingindo o píncaro do desenvolvimento. A primazia coube a Nelson Piquet e aos alemães da BMW, com um foguete em forma de quatro cilindros em linha equipando o lindo Brabham BT52 de 1983.



Spirit-Hart de 1984, testado por Emerson Fittipaldi no Rio

A equipe faliu vítima dos custos altos da Era Turbo


O problema é que a busca de potência e competitividade começou a gerar custos altíssimos e a categoria, que tinha uma média de 25 carros por corrida, se tornaria proibitiva em 1987. E foi quando a mesma FIA que hoje quer os motores turbocomprimidos de volta, abriu o caminho para a volta dos propulsores de aspiração normal, como o velho Ford Cosworth, rebatizado DFZ e com 3,5 litros de capacidade cúbica.

E mesmo a atual fase dos motores aspirados, que sobrevivem desde 1989 com variações entre 3,5 e 2,4 litros, estava custosa demais para as escuderias. O jeito foi "congelar" partes dos motores dos atuais fabricantes - Honda, Toyota, Ferrari, Mercedes, BMW e Renault - limitando o desenvolvimento e os giros em 19 mil rotações por minuto.

Até uma Electronic Control Unit (ECU) padrão será usada. Cortesia da... Microsoft.

É a FIA engordando o bolso do bilonário Bill Gates.

E fazendo muitos torcedores de trouxas.

Viver em extremos é um problema

Cada vez mais temos que abrir os olhos: viver em extremos é um problema sério.

Ser gordo significa a rejeição perante à sociedade, possíveis doenças decorrentes da obesidade e em casos mais graves, a morte.

Ser magro significa status, beleza, elegância, boa saúde. Pelo menos é o que dizem por aí.

Então perguntem pra mãe da modelo paulistana Ana Carolina Macan, que aos 21 anos de idade faleceu vítima de anorexia nervosa, o que ela acha disso tudo?

Na luta constante para se manter dentro de um "padrão de beleza de modelo", que significa peito e bunda zero, corpo magrinho e sem gordura, ela se achava gorda com 46 quilos de peso.

E enfiava remédios constantemente, goela abaixo, para emagrecer mais e mais. Pesava 40 kg quando teve um problema de pressão arterial sério, seguido de infecção generalizada, e morreu na última terça-feira.

É sabido que precisamos nos alimentar constantemente para evitar doenças, mesmo que sejam as mais banais possíveis. Por um "padrão estético", as modelos sacrificam seu apetite comendo apenas frutas, saladinhas e quejandos.

Não foi surpresa que na Europa, mais precisamente na Espanha, modelos magras tenham sido vetadas num desfile. Nem todo mundo gosta de ver pele-e-osso...

Carne também é sempre bem-vinda. Se tiver na frente e atrás, melhor ainda. E sem descuidar do resto.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

E por falar em desafios ou em falta de...



E assim ficou o que era o melhor autódromo da América do Sul.

É nessa pista marcada em verde que a Stock Car vai correr pela primeira vez no Rio depois que o autódromo foi fechado pela prefeitura para as obras de construção de três módulos esportivos para o Pan 2007.

Note que o ginásio maior foi erguido em cima do trecho da curva do Cheirinho e da curva Norte, ou seja... teoricamente o setor norte está extinto.

Teoricamente, pois basta um pouquinho de boa vontade e podemos ter sim uma boa pista. Se não do jeito que era, que todo mundo gostava, mas bem melhor do que este traçado alternativo inventado para a corrida de domingo.

A pista ficou com 3,37 km de extensão, usando um grampo em 180º interligando as duas retas. A curva Sul também foi ignorada de acordo com o croqui acima. Os pilotos vão até a curva 1 do antigo oval do circuito carioca. E depois há um "esse" de freada muito forte levando até o restante do setor Sul da pista, que foi felizmente preservado.

A comunidade automobilística carioca lutou bravamente para que o desafio de manter o esporte vivo na cidade não fosse perdido. Nenhuma batalha foi ganha, mas os primeiros roncos de motor ouvidos no último domingo durante o treino aberto para carros do Regional, mais uma Alfa Romeo 156, um Maverick (isso mesmo!) e um Omega com motor de Stock V-8, foram um bálsamo para quem tanto lutou para ver o autódromo reaberto.

Como bem diz o amigo André Buriti, é hora de arregaçar as mangas, recomeçar os trabalhos, tirar a poeira dos carros e a naftalina dos macacões. O futuro, nós construiremos.

Que assim seja.

Sábias palavras

Recomendo a quem ainda não conhece um décimo de automobilismo, como graças a Deus eu conheço porque são 28 anos dedicados a isto, dar uma olhada no excelente artigo "A F1 Mais Pobre", de Eduardo Correa, no site GP Total.

Ocioso dizer que o texto é um viva ao automobilismo antigo, repleto de desafios e pilotos com P maiúsculo. E um protesto velado contra a pasteurização dos autódromos liderados pela FIA com o traço do arquiteto alemão Herrmann Tilke.

Reginaldo vem aí!

Confirmado: Elton John aporta em 2007 no Brasil, precisamente no Rio de Janeiro, para um megashow na praia de Copacabana, aos moldes do espetáculo dos Rolling Stones este ano.

O músico inglês solicitou a mudança de datas. Anteriormente, os organizadores tinham agendado o dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade. Mas como Elton estará em estúdio finalizando seu novo trabalho, a apresentação dele foi adiada para o dia 17 de março, um sábado.

Como coincidência, é o dia em que meu pai, se estivesse vivo, completaria 67 anos.

E foi ele quem me deu o primeiro vinil de toda a minha vida: Elton John's Greatest Hits, em 1975, quando eu tinha quatro anos.

O disco é repleto de clássicos: "Your Song", "Rocket Man", "Daniel", "Honky Cat", "Candle In The Wind", "Crocodile Rock", "Goodbye Yellow Brick Road", "Don't Let The Sun Go Down On Me", "Saturday's Night Alright For Fighting" e "Border Song". Por aqui, circulou a versão do LP com as faixas comercializadas na versão inglesa do disco.

A capa era um exagero só e taí ela para não me deixar mentir.


Chapelão, óculos imensos, broche de marinheiro na lapela, pianista de mão cheia, parceiro de todas as horas do letrista Bernie Taupin... este é Reginald Kenneth Dwight.

Hoje um senhor comportado, prestes a chegar aos 60 anos e a quatro décadas de uma carreira entremeada em seu passado por abuso de drogas, depressão e bulimia.

Mas que nunca perdeu o respeito e a admiração dos seus fãs, entre os quais me incluo.

Para sempre na memória

Ano passado, vivi uma daquelas experiências que ficam para sempre na memória.

Numa noite quente de outubro, fiz parte da platéia que lotou o simpático Mistura Fina, na Lagoa, para assistir a um dos muitos shows do craque do jazz John Pizzarelli.

Nascido em New Jersey, ele aparenta bem menos do que seus 46 anos escritos em qualquer documento de identidade. Bebeu das melhores fontes da música contemporânea, incluindo o clássico "Getz & Gilberto", que abriu as portas da bossa nova para o mercado internacional. E não foi à toa que ele homenageou a música brasileira com um disco intitulado... "Bossa Nova", há uns dois anos.

Seu primeiro LP foi lançado há 16 anos atrás por um selo independente e em 91 ele já era artista contratado da RCA Victor. Fez dois álbuns-tributo sensacionais, um dedicado a Nat King Cole e outro aos Beatles. Aliás, recomendo aos ouvidos mais atentos que procurem o disco "John Pizzarelli Meets The Beatles", pois ouvir as canções dos Fab Four em guitarra acústica, contrabaixo, piano e bateria vale muito a pena.

Encerrado o contrato com a RCA, ele virou artista independente, do selo Telarc, pelo qual lançou seus últimos trabalhos, incluindo o mais recente, "Dear Mr. Sinatra", onde revisita as canções imortalizadas por The Voice sem cair em obviedades.

"Queria cantar Sinatra, mas não o repertório óbvio de 'New York, New York' e 'Strangers in the Night'", comentou Pizzarelli em recente entrevista... aqui no Brasil.

Sim, o monstro sagrado, entra ano sai ano, aparece por aqui, onde tem muitos fãs, para fazer shows e apresentar suas novas canções.

No ano passado, conforme eu falei acima, me deliciei com as versões incríveis de pérolas jobinianas como "Águas de Março", "Dindi" e "Só Danço Samba". Sem contar as canções da dupla George & Ira Gershwin, além de suas próprias músicas. "Just You, Just Me", que abriu o show naquela ocasião, é sensacional, um grande cartão de visitas para ele e seu grupo - hoje um quartet formado por Larry Fuller no piano, Martin Pizzarelli no contrabaixo e Tony Tedesco na bateria.

Pizzarelli acompanha os fraseados que saem de sua guitarra Benedetto com a própria voz, brinca com a platéia, faz piadas, é simpaticíssimo e toca horrores. Um craque, um mestre do jazz contemporâneo.

E quando digo que ele é simpático, não estou brincando. Levei os quatro CDs que tenho de sua discografia para ele autografar. Fez dedicatória em todos e ainda brincou: "Por que você não leva um quinto aqui, na hora?", referindo-se ao disco "Knowing You", que podia ser comprado na hora lá no Mistura. Brinquei dizendo que "não estava prevenido" e saquei minha câmera digital para uma fotografia.


O sorriso diz tudo. Não é todo dia em que estamos diante de um monstro do jazz e, melhor ainda, um dos caras que mais admiro hoje no meio musical.

Os F-1 que nunca correram - IX

Vamos para o nono carro de F-1 da série dos que nunca correram em um Grande Prêmio. E este vem de priscas eras da categoria máxima.



Eis o Arzani-Volpini, construído por Egidio Arzani e Gianpaolo Volpini, na Itália.

Coerentemente como em todos os carros da época, o motor era dianteiro - um Speluzzi derivado do bloco do Maserati 250 F de seis cilindros em linha com 2.500cc, o mais popular da marca do tridente no automobilismo em todos os tempos.

De acordo com os alfarrábios do esporte, o carro foi inscrito para a disputa do GP da Itália, última etapa da temporada de 1955. O piloto seria Luigi Piotti, que tinha 42 anos na época. Mas entre os 23 inscritos para aquela competição, o Arzani-Volpini foi o único carro que não marcou tempo e portanto ficou de fora.

Depois disso, o projeto foi abortado. O Arzani-Volpini nunca mais foi visto em qualquer autódromo e Luigi Piotti correria ainda oito provas com Maserati e Osca antes de se aposentar e falecer em abril de 1971, aos 57 anos de idade.

Segunda sem lei

Era mais ou menos previsto: Eurico Miranda, por enquanto, está reeleito como presidente do Vasco.

Faço o aposto e lembro que é "por enquanto" porque o resultado está sub-judice.

Nas urnas, o resultado diz: Eurico - 1848 votos x Roberto Dinamite - 1409.

Mas não é bem assim. Ao que consta, mais de 500 pessoas em situação irregular votaram nesta segunda em São Januário. Uma delas teria sido um repórter do Diário Lance!, aqui do Rio de Janeiro.

Caso sejam impugnados os votos da primeira urna, a chapa branca, da oposição, vencerá por 43 votos de diferença - 1.237 contra 1.194. Outra hipótese é de anulação do pleito e aí as bravatas de Eurico, que afirmou categoricamente que "se as eleições estivessem sub-judice o resultado não seria proclamado".

Muito bem... conclui-se o seguinte.

Primeiro de tudo: mais três anos aturando Eurico não dá. Ele é disparado o cartola mais nojento que existe por estas plagas, um legítimo sucessor da empáfia e da escrotidão que nortearam por 22 anos a permanência do finado Eduardo Caixa D'Água Viana à frente da presidência da Federação Estadual.

Segundo: ou os sócios são burros demais ou não enxergam o óbvio. Libertando-se de Eurico, o Vasco deixa de ser hoje um dos clubes mais odiados do futebol brasileiro. De simpática representante da colônia portuguesa, nos anos 70, hoje a agremiação carioca desperta asco pela simples presença do nefando dirigente.

Suas bravatas irritam os torcedores de muitos times, tais como:

"Não pago bicho por vitória contra o Fluminense, porque ganhar deles é obrigação." (isso em 2000, antes do tricolor voltar para a Série A graças à virada de mesa perpetrada pelo Gama, que entrou na Justiça Comum e fez a CBF inchar o campeonato incluindo o Flu e também o Bahia. Naquele ano o Vasco perdeu para o Flu por 1 x 0 no Estadual e depois foi desclassificado da Copa do Brasil em pleno estádio de São Januário... hahahahahahaha!)

E esta, toda vez que enfrentam o Flamengo: "Todo jogo que o Vasco ganha deles tem a dimensão de um título."

Ele só se esquece que, na hora agá, o time dele treme quando vê o uniforme vermelho e preto pela frente. E todo mundo, tricolores e botafoguenses incluídos, sabe disso.

Definitivamente, esta foi uma segunda sem lei lá pelos lados de São Cristóvão. Que Justiça seja feita e Eurico jamais volte a presidir o Vasco da Gama.

domingo, 12 de novembro de 2006

Pérolas mutantes

O Youtube, com o perdão da expressão, é foda... e também quem descobre certas pérolas e coloca elas no site.

Como apresentações, pasmem, dos Mutantes, nos anos 60.

Vejam só essas: a primeira, apesar do áudio estar um lixo, é "Quem tem medo de brincar de amor?", do disco A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado. O visual do grupo, que era hilário, beirando o bizarro, mostra Arnaldo vestindo uma roupa de colegial comportadinho e Rita, de óculos e tocando maracas, desafiando a censura vigente e trocando o verso principal para "Quem tem medo de fazer amor?" - que aliás era o título original da canção.

O número seguinte (com o áudio beeem melhor) é "Panis et Circensis", faixa que abre os trabalhos do primeiro disco do grupo.

Ambos os vídeos são de um programa da TV Cultura, em 1969. Isto explica os jovens sentados e comportadinhos no vídeo. Coisas dos anos de chumbo...

Obviamente, um clássico da TV e que muita gente já viu em retrospectivas (eu me incluo, claro), é a apresentação do grupo junto com Gilberto Gil no Festival da Record em 1967, tocando a excepcional "Domingo no Parque", onde por sinal pela primeira vez as guitarras elétricas gritaram na música popular brasileira. Um momento inesquecível.

A juventude daquela época era feliz e não sabia... ou sabia?

sábado, 11 de novembro de 2006

Suíço bom de braço

Nunca o vi correr, mas sei que ele era fera. Joseph "Jo" Siffert era bom com qualquer tipo de carro - Fórmula 2, Fórmula 1 e Esporte Protótipo.

Era brilhante na condução dos Porsche, quer seja o modelo 908 ou então o velocíssimo 917. E na Fórmula 1, também mostrou classe competindo entre 1962 e 1971 com carros Lotus, Brabham e Cooper pertencentes a escuderias particulares e depois como piloto oficial da March e da BRM.

Por esta última, disputou o Mundial de 71 vencendo pela segunda e última vez na carreira, no circuito austríaco de Zeltweg. Ao fim da temporada em que o piloto chegou em 5º no Mundial de Pilotos, as equipes se reuniram para o Victory Trophy, um evento para homenagear o bicampeão Jackie Stewart, no dia 24 de outubro, no circuito de Brands Hatch.

Siffert vinha em quarto até perder o controle do BRM P160 na décima-quarta volta, desgarrar e bater numa barreira. O carro capotou duas vezes e Emerson Fittipaldi, que estava na prova, viu que Siffert tentava se desvencilhar do cinto e sair do BRM.

Mas ele não teve tempo para isso. O fogo imediatamente consumiu o carro com o piloto ainda dentro do cockpit. Siffert, aos 35 anos, morreu tragicamente - por suprema ironia, na pista onde vencera pela primeira vez em 1968, com o Lotus 49 da equipe de Rob Walker e Jack Durlacher.

Em tributo, posto dois vídeos que achei no Youtube, claro. O primeiro, com imagens da Victory Race de 1971 e o segundo, claro, com os melhores momentos da última vitória do helvético em Zeltweg. Na ocasião, quem chegou em segundo foi Emerson Fittipaldi.

Hecatombe!

Catorze de julho de 1973. Neste dia, no circuito de Silverstone, houve um dos maiores acidentes da história da Fórmula 1.

Cortesia do tresloucado sul-africano Jody Scheckter, à época apelidado coerentemente de troglodita, que ao rodar com seu McLaren M23 em plena curva Woodcote ao fim da primeira volta provocou uma colisão monstro que eliminou além dele, outros 10 pilotos.

O vídeo que achei no Youtube mostra as imagens da prova pela transmissão ao vivo da BBC (mas sem áudio), com o detalhe da rodada do novato e o momento em que ele recebe em cheio o impacto do Brabham de Andrea de Adamich, que fraturou os dois tornozelos e ficou preso mais de 1h30 nas ferragens do carro, mergulhado numa banheira de gasolina - pois o tanque se rompeu no choque.

Graham Hill foi quem salvou Adamich, que nunca mais correu na Fórmula 1.

Na imagem, dá pra ver os destroços, por exemplo, do BRM número 20 de Jean-Pierre Beltoise, o Surtees 31 de Jochen Mass, totalmente em branco, e um outro carro da mesma escuderia, que creio seja de José Carlos Pace. No acidente, duas equipes perderam seus carros inscritos. Além da Surtees, os dois Shadow de George Follmer e Jackie Oliver não voltaram para a segunda largada. Outros que bateram foram Graham McRae (Iso-Marlboro), David Purley e Roger Williamson (ambos com March). A corrida foi vencida por Peter Revson, com Peterson em segundo e Hulme em terceiro.

Mas o acidente provocado por Scheckter foi sem dúvida uma das mais aterradoras imagens do automobilismo em 1973.

Os F-1 que nunca correram - VIII

Eis a oitava atração da série dos Fórmula 1 que jamais riscaram o asfalto de uma pista de GP numa corrida.

A estrela da vez é o Eurobrun ER188B, da temporada de 1989.

A equipe formada por Gianpaolo Pavanello, da Euroracing (que alinhou as Alfa Romeo de 1982 a 1985) e Walter Brun, que mantinha com relativo sucesso um time semi-oficial da Porsche no saudoso Grupo C do Mundial de Marcas, estreara em 1988 com um carro convencional de motor Ford Cosworth, pilotado por Stefano Modena e Oscar Larrauri. O melhor resultado foi um 11º lugar no GP da Hungria - mais do que razoável para um time novato.

Para o ano seguinte, o projeto de Mario Tolentino e Bruno Zava sofreu revisões radicais na aerodinâmica e o motor foi trocado. Passou do Cosworth para o duvidoso Judd, também de oito cilindros. O piloto no início do ano foi o suíço Gregor Foitek, que na Fórmula 3000 provocou um monumental acidente em Brands Hatch onde Johnny Herbert quebrou as duas pernas e o promissor francês Michel Trollé abortou sua carreira no automobilismo.

Foitek só conseguiu passar da pré-qualificação com o ER188B na primeira prova do ano, o GP do Brasil, no Rio de Janeiro. Mas com o 29º tempo, ficou fora do grid - na época (bons tempos!) havia 30 carros nos treinos oficiais e 26 vagas.

De Imola até Spa-Francorchamps, o piloto helvético só colecionou fracassos e, muito mais por culpa do carro ruim do que dele mesmo, foi afastado da equipe. Oscar Larrauri, fiel piloto de Walter Brun, foi recrutado para tentar o impossível já com o novo carro, o ER189, projeto de George Ryton e Roberto Ori.

Não deu certo: o argentino também não se classificou para nenhuma corrida naquele ano de 1989 e a Eurobrun entrou para a história como uma das diversas escuderias que jamais tiveram um de seus carros correndo em uma temporada de Fórmula 1.


Believe it, or not

O homem que por muitos anos foi o sinônimo do programa "Believe it, or not" (Acredite Se Quiser, exibido no Brasil pela extinta Rede Manchete) pegou uma carona para o andar de cima.

Jack Palance faleceu há pouco, aos 87 anos de idade, de morte natural.

De ascendência ucraniana - seu nome de batismo era Vladimir Palahnuik - o ator personificou alguns dos grandes vilões de Hollywood, como no clássico faroeste "Os Brutos Também Amam".

A Academia de Cinema lhe fez justiça em 1991, quando já somava 72 anos de idade, dando-lhe o prêmio de melhor ator coadjuvante na comédia "Amigos, Sempre Amigos". No palco do Shrine Auditorium, em Los Angeles, ele surpreendeu pelo entusiasmo juvenil com a vitória na categoria e se empolgou a ponto de fazer flexões com um braço só. (viram? Isso não é só privilégio do Rocky Balboa)

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

O drama do ônibus 499

André Ribeiro, ambulante carioca, conquistou nesta sexta-feira bem mais do que 15 minutos de fama.


Por dez horas, este homem de origem humilde manteve reféns dezenas de pessoas dentro de um ônibus intermunicipal que faz a ligação Central do Brasil - Cabuçu, na Baixada Fluminense. O veículo, da Viação Tinguá, foi parado em frente ao Posto de Molas do Jairo, em plena Via Dutra. E o drama durou quase todo o dia, até há cerca de 1h30 atrás.

Claro que na mente de todo mundo veio a história do seqüestro do ônibus 174, em junho de 2000, quando o bandido Sandro do Nascimento, o "Mancha" provocou horas de tensão e terror. A professora Geisa Firmo Gonçalves foi morta na ação (por um tiro de policiais) e Sandro foi assassinado dentro de um carro do Grupamento de Ações Táticas Especiais (GATE) por estrangulamento.

Voltando ao "caso" do ônibus 499, a ação de André foi exclusivamente por motivação passional. Segundo testemunhas e a polícia, que conseguiu acabar com o drama depois de aproximadamente 10 horas, ele xingou e bateu na ex-mulher, de quem está separado há quatro meses, após dez anos de casamento.

Felizmente, a polícia agiu com cautela e negociou a libertação dos reféns, que durante o seqüestro jamais sofreram ameaças maiores de morte, exceto claro a ex-esposa de André, que teve inclusive uma arma apontada para sua cabeça. Quando a arma foi resgatada, os policiais prenderam o seqüestrador.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Pobres almas

Nelson Rodrigues, o tricolor mais tricolor que já existiu, proferiu certa vez numa de suas crônicas uma de suas frases imortais sobre os vivos e os mortos que saem de suas tumbas para irem ao Maracanã (Estádio Mário Filho, como ele fazia questão de datilografar).

Pois bem: tal fenômeno em pleno século 21 quando o assunto é... eleições no Vasco.

É que a chapa de oposição "Por Amor ao Vasco", encabeçada por Roberto Dinamite, o maior ídolo da história contemporânea do clube cruzmaltino, descobriu que nada menos que 51 dos sócios 'aptos para votar' têm mais de 103 anos de idade!

Mais: que o bicampeão do salto triplo Adhemar Ferreira da Silva, morto em 2001, também estava na lista.

O grupo encabeçado pelo maior artilheiro do Vasco enviou para a Justiça um documento comprovando a irregularidade, pondo mais uma vez em xeque os métodos nada ortodoxos de Eurico Miranda para tentar a terceira reeleição como presidente do clube.

Não sou vascaíno, todo mundo sabe disso, mas está na hora da 'Era Eurico' que tanto mal trouxe ao Vasco e principalmente ao futebol carioca e brasileiro, chegar ao fim.

Pobres almas destes 51 sócios centenários e principalmente a do grande Adhemar Ferreira da Silva, utilizados como massa de manobra para aumentar o quadro de sócios e assim tentar facilitar a permanência do rotundo dirigente no Vasco.

As eleições estão marcadas para dia 13, uma segunda-feira. Mas pode ser que sejam adiadas.

A conferir...

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Boa surpresa

Em meio a preocupante entressafra brazuca de bons pilotos de monoposto (assunto que vai dominar um tópico inteiro brevemente), eis uma boa - boa não, ótima - surpresa nos testes que vão acontecendo na pré-temporada da GP2 para o próximo ano.

O baiano Luiz Razia, líder do Sul-Americano de Fórmula 3, tem mostrado grande personalidade e sobretudo ótima adaptação a monopostos de grande potência e cilindrada. Recentemente, ele venceu três das quatro últimas provas do Europeu Masters de F-3000 no circuito do Estoril, em Portugal.


Razia: pronto para o desafio?

Agora, treinando com o Dallara-Renault da GP2, o piloto surpreendeu. Fez o terceiro melhor tempo com o carro da Racing Engineering - que neste ano teve em seus quadros o espanhol Javier Villa e o britânico Adam Carroll. Ele ficou atrás apenas de Jose Maria "Pechito" Lopez e de Lucas di Grassi, coincidentemente participantes do Renault Driver Development (RDD). "Pechito" andou com a BCN Competición e Lucas com a ART Grand Prix, atual campeã.

Razia diz ter aprendido muito com o engenheiro John Gentry, que foi rival de muitos pilotos brasileiros na Inglaterra nos anos 70. E ao contrário de muitos que vieram testando por diferentes escuderias nos últimos dias, o brasileiro trabalhou exclusivamente com a Racing Engineering, visando melhores acertos e a evolução do conjunto.

Sinceramente, mesmo com o automobilismo interno em crise, eu gostaria de vê-lo na Europa. Parece que Razia não é o tipo do piloto que se intimida com a diferença brutal do F-3 para o monoposto da GP2, que tem o dobro da potência. E meteu tempo em muita gente experiente, isso conta muito.

Na melhor das hipóteses, acho que o Brasil terá cinco pilotos correndo em 2007. Xandinho Negrão já está assegurado na Minardi by Piquet Sports. Lucas di Grassi merece, com certeza, uma vaga numa equipe mais competitiva que a Durango. Bruno Senna negocia com a ART e a iSport. Antonio Pizzonia deve fechar mesmo com a FMS de Giancarlo Fisichella, com quem tem constantemente testado. E Razia, se conseguir o budget necessário, é uma excelente opção para equipes médias e/ou menores.

Olho no baiano, amigos. Ele pode ser a boa surpresa brasileira da GP2 ano que vem.

Pé-na-jaca

A Globo vai detonando uma saraivada de chamadinhas onde uma voz pergunta a populares:

"Você já enfiou o pé-na-jaca?"

Quem nunca tiver feito, que atire a primeira pedra. Micos com bebdeiras fazem parte do cotidiano mundial e este escriba nunca foi exceção - embora não saiba o que é um porre há pelo menos uns seis anos... ainda bem.

Enfim, por falar em pé-na-jaca, quem fez das suas foi o canadense Paul Tracy. (De novo?)

O roliço campeão da ChampCar em 2003 se juntou com uma turma de amigos alucinados, após uma festa. Beberam feito gambás e foram brincar com prosaicos carrinhos... de golfe.

Saldo da bobagem: Tracy caiu de um deles e fraturou a escápula direita, um osso localizado nas costas, aquele que em algumas pessoas fica proeminente, como é meu caso.

Como efeito, ele não participará da última prova do campeonato no próximo domingo, na Cidade do México. Não fará nenhuma diferença porque Sebastién Bourdais já é tricampeão. Mas a Forsythe, que teria três pilotos, vai correr com apenas dois: os estreantes David Martinez e Buddy Rice, este provavelmente ensaiando uma passagem para esta categoria em 2007.

Cá pra nós, se eu sou o chefe da equipe do Tracy, rasgaria o contrato e o mandaria procurar sua turma. Porque ele pode ser tudo, menos piloto de ponta. O título de 2003 só aconteceu porque ele não tinha adversários à altura e a categoria passava por um momento muito, muito ruim.

Esse papo eu já conheço...

A múmia paralítica da Renault, o ex-piloto em atividade Giancarlo Fisichella, destilou fel e farpas em entrevista recente à revista Autosprint.


Fisichella: com os dias contados?!?


O alvo do ressentimento tem nome, sobrenome e pedigree: Nelson Ângelo Piquet, recém-contratado como piloto de testes da escuderia francesa.

"Piquet fez dois testes pela equipe e já se sente um superstar. Acho que ele deveria se concentrar para o que foi requisitado, ganhar quilometragem e manter os pés no chão.", alfinetou Fisico.

Por outro lado, o experiente piloto de 33 anos, em cujo currículo constam apenas três vitórias, garante que a presença dele não trará mal-estar dentro da equipe e tampouco ameaça seu posto de piloto titular. Ele já sabe que o seu principal adversário dentro da Renault não é o brasileiro e sim o estreante Heikki Kovalainen.

"É evidente que não posso começar o ano atrás dele", afirmou Giancarlo.

Mas peraí... e se o italiano não puder ou não souber cumprir a promessa? Será que a cabecinha dele não pode rolar no meio do campeonato?

Vide Trulli, demitido por muito menos em fins de 2004 por Flávio Briatore, que é useiro e veseiro em fazer coisas do gênero.

Alguém por acaso se lembrou do episódio Schumacher, há uns 15 anos atrás?!?

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

O inferno é pouco pro que Saddam fez

Não sou xiita, embora seja neto de muçulmanos. Contudo, compartilho da mesma satisfação que eles, ao abrir o jornal e me deparar com a notícia de que o ditador iraquiano Saddam Hussein está com os dias contados.

Genocida como o sérvio Slobodan Milosevic, Saddam ordenou sem dó nem piedade a morte de 180 mil curdos nas campanhas militares de Anfal, circa 1987-1988. Por este e outros crimes, foi condenado à morte por enforcamento.

Os cientistas políticos não duvidam que este anúncio da pena de morte do ex-ditador tenha caído como uma luva para as pretensões políticas do presidente George W. Bush. Afinal, às vésperas de eleições parlamentares nos EUA, os republicanos estão por um fio.

O partido do atual governo corre o risco de ser minoria no legislativo e isso seria a pá de cal num governo que, se não foi completamente caótico, foi sem dúvida um dos mais desastrosos que se tem notícia - pior do que os do falecido Ronald Reagan, um ator de terceira categoria que sentiu o gostinho da política, foi governador, cresceu e virou presidente.

Nesta eleição de quarta-feira, onde cerca de 200 milhões de eleitores deverão ir às urnas (lá o voto é facultativo), serão eleitos os 435 membros da Câmara dos Representantes e um terço do Senado.

Se os democratas conquistarem seis cadeiras no Senado e pelo menos 15 na Câmara, será um duro golpe para Bush. E fica evidente que a guerra no Iraque só recrudesceu a antipatia da população e dos políticos de oposição pelo atual governo.

Também, com essa mania que os EUA têm em querer meter o bedelho em tudo...

Mas não tem nada não. Mesmo que os americanos estejam politicamente (quase sempre) errados, a condenação de Saddam é justa, embora aqui e alhures algumas vozes se manifestem contra prática tão cruel.

Querem saber mesmo? O inferno é pouco para o que ele fez... vá, Saddam, e fique por lá de vez!

Era só o que faltava...

Não que eu fosse curioso, mas bem que eu já tinha notado... os cães costumam cheirar o rabo uns dos outros.

Coisa estranha, não?

Evidente que no mundo animal e canino, não é assim que a banda toca. Olha só o que eu descobri no blog de um zootécnico fanático por bichos, claro.

Na região do ânus dos cães há uma glândula de cheiro que identifica cada animal, como uma espécie de impressão digital para os humanos. Esses odores fornecem muitas informações sobre o bicho. Além disso, antes de serem domesticados, os cães identificavam o líder da matilha pelo cheiro do ânus, pois desta forma sabiam se ele estava comendo freqüentemente – e portanto defecando com freqüência – e se estava ingerindo a melhor parte da caça, que possui um cheiro diferenciado e é de propriedade do líder. Quando um cão quer mostrar autoridade, ele levanta o rabo como se tivesse orgulho do cheiro do seu ânus. Por outro lado, um animal submisso age de forma inversa, escondendo a sua cauda.

Já pensaram? E se essa moda pegasse entre os humanos?

Eu hein...

Eu sou louco, mas sou feliz

Uma amiga muito querida de Orkut me apresentou recentemente um autor chamado simplesmente Osho. Ele produziu alguns livros e um deles, "Vida, Amor e Riso", fala de dois momentos antagônicos: loucura e sanidade.

Em tese, porque descobrindo um pouco mais a si mesmos, veremos ou relutamos a ver que mesmo sãos, somos loucos!

Duvidam? Então leiam o trecho do livro que está transcrito abaixo.

O mundo tem conhecido pessoas tão bonitas, tão loucas! Na verdade, todas as grandes pessoas do mundo foram um pouco loucas- aos olhos da multidão. Suas loucuras tiveram expressão porque elas não eram miseráveis, elas não estavam ansiosas, elas não tinham medo da morte, elas não estavam preocupadas com o trivial. Elas estavam vivendo cada momento com totalidade e intensidade e, por causa dessa totalidade, dessa intensidade, suas vidas se tornaram uma linda flor.

Elas estavam cheias de fragrância, de amor, de vida e de riso.

Mas isso certamente fere milhões de pessoas que estão ao seu redor. Elas não podem aceitar a idéia de que você tenha alcançado alguma coisa que elas perderam; elas tentarão, de todas as maneiras, torná-lo infeliz. A condenação delas nada mais é um esforço para torná-lo infeliz, para destruir a sua dança, tirar a sua alegria para que você possa voltar ao rebanho.

É preciso reunir coragem e, se as pessoas disserem que você é louco, divirta-se com a idéia. Diga a elas: "Você esta certo, neste mundo somente pessoas loucas podem ser alegres e felizes. Eu optei pela loucura juntamente com a alegria, com o êxtase, com a dança; você optou pela sanidade com a angústia, com o inferno,nossas opções são diferentes. Continue são e permaneça miserável! ..Deixe-me só na minha loucura. Não se sinta ofendido. Eu não estou me sentindo ofendido por todos vocês,tantas pessoas sãs, equilibradas no mundo e eu não estou me sentindo ofendido".

É apenas uma questão de pouco tempo...Breve, uma vez que elas o tenham aceito como louco, elas não o pertubaram mais; então você pode se revelar à plena luz com seu ser original- você pode abandonar todas as suas falsidades.

Toda a nossa educação gera uma divisão em nossa mente. Temos que mostrar uma face para a sociedade, para a multidão, para o mundo que não será necessariamente a sua face real; na verdade não pode ser a sua face verdadeira. Você tem de mostrar a face que as pessoas gostam, que as pessoas apreciam, que será aceita por elas- suas ideologias, suas tradições- e você tem de reter, para si mesmo, sua face original.

Esta divisão se torna quase intransponível; porque a maior parte do tempo você está no meio da multidão, encontrando pessoas, relacionando-se com pessoas,muito raramente você esta só.

Naturalmente, a mascára se torna mais e mais parte de você, mais do que a sua verdadeira natureza.

E a sociedade cria medo em todo mundo o medo da rejeição, o medo de que alguém possa rir de você, o medo de perder a sua respeitabilidade, o medo do que as pessoas irão dizer. Você tem se ajustar a todo tido de pessoas cegas e inconscientes, você não pode ser você mesmo. Essa é a nossa tradição básica, até agora, no mundo inteiro: ninguém tem permissão para ser ele mesmo.

No momento em que o outro esta presente, você esta menos preocupado consigo mesmo; você esta mais preocupado com a opinião do outro a seu respeito.


Quando você esta só, no seu banheiro, você se torna uma criança.As vezes, você faz caretas diante do espelho. Mas se, de repente, você se dá conta de que alguém, até mesmo uma criança pequena, esta olhando pelo buraco da fechadura, você imediatamente muda; você volta para sua velha personaliodade de sempre- você fica sério, sóbrio, como as pessoas esperam que você seja.

E a coisa mais impresionante é que você tem medo delas, e elas tem medo de você: todos temem a todos. ninguém esta permitindo que seus sentimentos, sua realidade, sua autenticidade se expressem- e todos desejam isso porque é um ato muito suicida, continuar reprimindo sua face original.


Sua responsabilidade é apenas com o seu próprio ser. Não vá contra ele, porque ir contra ele é cometer suicídio, é destruir a si mesmo. E qual é o benefício? Mesmo que as pessoas o respeitem, e achem que você é um homem muito sensato, honrado, ilustre, essas coisas não vão nutrir o seu ser. Elas não lhe darão nenhum insight sobre a vida e sua tremenda beleza.

Você esta só no mundo: você veio ao mundo só, você está aqui só, e você deixará este mundo só. Todas as opiniões alheias ficarão para trás; somente seus sentimentos originais, as suas experiências autênticas acompanharão você até mesmo além da morte.


Nem mesmo a morte pode tirar a sua dança, as suas lágrimas de alegria, a beleza do seu estar só, o seu silêncio, a sua serenidade, o seu êxtase. Aquilo que a morte não pode tirar de você é o unico tesouro verdadeiro; e aquilo que pode ser tirado por qualquer um não é um tesouro- você esta simplesmente sendo enganado.

A sua preocupação exclusiva deveria ser cuidar e proteger aquelas qualidades que você pode levar consigo quando a morte destruir o seu corpo, a sua mente- porque estas qualidades serão seus únicos companheiros. Elas são os únicos valores verdadeiros; e as pessoas que as alcançam, somente estas vivem; as outras apenas fingem viver.