quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

A volta por cima de Eric Clapton

Quem vê o guitarrista Eric Clapton, hoje aos 60 anos de idade, muito bem-sucedido financeira e musicalmente, com passagens brilhantes por grupos como Yardbirds, John Mayall's Bluesbreakers, Cream, Derek And The Dominos e Blind Faith, de repente não faz idéia do quanto este homem passou por todo tipo de situação em sua vida.

Refiro-me principalmente ao período mais nebuloso que ele viveu entre 1970 e 1973. Saído de um disco solo de estréia maravilhoso (auto-intitulado), com músicas do calibre de "Blues Power", "Bottle of Red Wine" "Let It Rain" e "After Midnight", Clapton tinha um grande dilema pela frente: sua paixão por Patti Boyd, esposa de George Harrison, grande amigo pessoal do guitarrista.

Foi para ela que Clapton fez as músicas de "Layla and Other Assorted Love Songs", um dos discos mais arrebatadores do rock and roll e do blues em todos os tempos. Sob o nome fantasia de Derek And The Dominos, EC deu show ao lado de Duane Allman, Carl Radle, Bobby Whitlock, Jim Gordon e outras feras. Um disco que está entre os melhores da história, uma autêntica obra-prima.

Entre encarar a impossibilidade de sua paixão por Patti Boyd e a carreira, Clapton resolveu afundar-se num mar de drogas. A heroína foi a sua companheira por pelo menos dois anos e a dependência esteve próximo de levar o músico à morte.

A guitarra companheira de guerra voltaria a redimi-lo. Em agosto de 1971, ainda sob efeito da droga, ele fez uma aparição no Concerto para Bangladesh. Porém, o melhor ainda estaria por vir.



Treze de janeiro de 1973. No teatro Rainbow, em Londres, Pete Townshend, em plena forma com o The Who, reúne um supertime de músicos - Ron Wood (então no Faces, de Rod Stewart), Rick Grech, Stevie Winwood e Jim Capaldi (Traffic), Jimmy Karstein e Rebop - além dele próprio, claro, para o triunfal show da volta que todos queriam definitiva de Eric Clapton à música.

O show por si só é soberbo, apesar da má vontade dos críticos, que consideraram a performance de EC mediana, porque ele não tocava havia quase dois anos. Clapton responde exorcizando os fantasmas do passado logo com "Layla" e a partir daí o que se ouve são interpretações inspiradíssimas dele e também de Stevie Winwood, o menino-prodígio do Traffic, convidado a cantar em "Pearly Queen" e "Presence Of The Lord".

O restante do repertório reúne as composições de Clapton no Cream - "Badge", no Derek And The Dominos - a chorosa "Bell Bottom Blues", "Key To The Highway"e "Tell The Truth", as do primeiro disco (aquelas mesmas já citadas anteriormente) e covers de Jimi Hendrix - "Little Wing" e Robert Johnson - a lendária "Crossroads", que narra a história do pacto do blueseiro com o diabo, feito numa encruzilhada à meia-noite, justamente quando o timaço que se reuniu no show do Rainbow Theatre começou a executar a canção.

Daí para diante, o resto é história. O certo é que, after midnight, de 14 de janeiro em diante, a vida, a história e carreira de Eric Patrick Clapton jamais voltariam a ser as mesmas.



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