sábado, 18 de fevereiro de 2006

A celebração pré-gravada dos dinossauros do rock

O que dizer de um show que é assistido por mais de 1 milhão de pessoas na Praia de Copacabana, incluindo privilegiados espectadores / moradores de prédios em frente ao mar e a galera que ancorou seus barcos na água?

Simplesmente uma palavra define tudo: inigualável. E vou deixar pra lá as inúmeras falhas de organização que podiam macular o espetáculo.

Eu sei, você sabe, todo mundo sabe, que a emoção de assistir in loco é diferente de quando você assiste no conforto de sua casa - principalmente hoje, quando a Globo resolveu "transmitir ao vivo" o show dos Rolling Stones. E destaco o "transmitir ao vivo" porque de ao vivo mesmo não teve nada.

O show começou de fato às 21h45 e na telinha as pedras só rolaram a partir de 22h15, com a dispensável participação de Zeca Camargo como âncora. A meia hora de defasagem deu à Globo inclusive o conforto de pagar a transmissão do evento com três intervalos comerciais - coisa que ela nunca fez nos outros shows dos Stones transmitidos pela TV em 1995 e 1998.

Eu sou bom observador das coisas pois, quando não apareceu o globinho colorido na marca d'água da emissora, que fica no canto baixo do lado direito de quem vê a televisão, logo percebi que o show não era ao vivo. Era pré-gravado.



Mas enfim, isso não retirou nada da emoção da terceira e possivelmente última vinda dos Rolling Stones ao Brasil. Eles começaram atacando com cavalos de batalha como "Jumpin' Jack Flash", "It's Only Rock And Roll (But I Like It)", "You Got Me Knocking" e "Tumblin' Dice", passando pelas baladas ("Wild Horses") até uma quilométrica versão de "Midnight Rambler".

Na seqüência, veio a única música que não é de autoria de Jagger e Richards, "Night Time Is The Right Time", uma homenagem ao pianista Ray Charles. Aí o Bocão, que já não é nenhum menino, foi dar uma rápida descansada na voz. Hora e vez de Keith Richards assumir, com sua Gibson Les Paul em punho, os vocais de duas músicas - "This Place Is Empty" e "Happy" - esta última cantada surpreendentemente bem por ele.

"Miss You", clássico stoniano dos anos 70, marcou o início da segunda metade do show, com direito a palco móvel que transportou a banda e mais o pianista Chuck Leavell para mais perto da calorosa e imensa platéia. No pequeno palco, eles arrebentaram com "Honky Tonk Women".

E daí pra diante, só clássicos... "Simpathy For The Devil", "Start Me Up", "Brown Sugar" e o bis com "You're Always Get What You Want" e a sempre eterna "Satisfaction". E Jagger com a energia de sempre, rebolando, requebrando, soltando aqui e ali uma e outra palavra em português (pelo menos não aprendeu coisas chulas como Madonna) e ainda terminou o show com uma camiseta daquelas típicas de turista escrito Brasil em cima da bandeira e Rio de Janeiro embaixo.

Glória eterna a Mick Jagger, Keith Richards e Charlie Watts, pedras remanescentes da primeira formação, aos quais se juntaram o competentíssimo Ron Wood, o baixista Darrell Jones e músicos de apoio de primeiríssima linha, como Chuck Leavell e o saxofonista Bobby Keys, que gravou com eles em 1971 no lendário disco Sticky Fingers.

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