domingo, 20 de julho de 2014

Lições desaprendidas, o retorno

Inacreditável, mas ele vai voltar...

Nem Tite, muito menos um nome do exterior. A seleção brasileira terá novamente um velho conhecido do público em seu comando a partir da próxima terça-feira. Uma entrevista coletiva deve anunciar o nome de Dunga para regressar ao cargo que foi seu desde a saída de Carlos Alberto Parreira até a derrota diante da Holanda, na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

Em que pese o bom retrospecto de Dunga, não é o que a seleção precisava neste momento. Todos - torcedores e imprensa - clamando por uma renovação da estrutura do futebol brasileiro a partir das divisões de base e, após a saída de Luiz Felipe Scolari, os erros continuam e a irritação do público só aumenta. Ninguém engoliu o aumento de poder a Alexandre Gallo, muito menos a contratação de Gilmar Rinaldi como o coordenador de seleções da CBF. O mesmo Gilmar Rinaldi que, na coletiva realizada nesta última semana, fez questão de esclarecer que não é mais empresário de jogadores. E por que fez questão de afirmar isto com veemência? Quem não deve, não teme, não é mesmo?

Gilmar foi companheiro de Dunga como jogador no Internacional e na seleção brasileira. E foi esse passado que provavelmente influenciou na decisão do retorno dessa polêmica personagem ao centro das atenções. Como muita gente sabe, Dunga incomodou muita gente - principalmente na Rede Globo - pelos privilégios que a emissora deixou de ter ao longo da Copa do Mundo de 2010. Não deixa de ser irônico que o grande inimigo daquela ocasião esteja de volta. E para quem diz que a CBF abre as pernas para a emissora carioca, a volta de Dunga soa como um soco, daqueles bem doloridos, bem no meio das partes baixas.

Só não sei se realmente é o que esperávamos. Aliás, acho que ninguém contava com essa. A vinda de Tite só aumentaria o "cordão" de gaúchos que tomaram conta do comando técnico da seleção desde 2001, com exceção da vinda de Carlos Alberto Parreira, um carioca. A volta de Dunga, mais do que dar continuidade à "República dos Pampas", é um retrocesso. O Brasil está ridicularizado após o 7 x 1 sofrido em seus próprios domínios diante da Alemanha e não é Dunga quem vai recuperar o moral da seleção.

Cabe lembrar que em 2010, embora - repito - tenha tido um bom retrospecto até a derrota diante da Holanda, morreu abraçado a jogadores como Felipe Melo, em quem depositava todas as suas fichas e em suas convicções, abrindo mão de Neymar e PH Ganso, que poderiam ser boas opções no banco de reservas. Tal como Scolari, Dunga não tinha alternativas em seu time. Alguns dos jogadores que ele levou  para aquele Mundial são dignos de risada. 

Enfim, é isso. Parabéns (só que não) a José Maria Marín e Marco Polo Del Nero, os mandatários da CBF, pela teimosia e pela inoperância de não mexer na estrutura e não ousar trazer um técnico estrangeiro. Venceu o corporativismo. Venceu a ignorância. Venceu o comodismo.

O preço poderá ser muito caro: poderemos ver o Brasil fora de uma Copa do Mundo brevemente. É só continuarem com os erros que isso vai acontecer.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Lições (des)aprendidas

Em 29 de novembro de 2012, este blog cantou a pedra. Parecia que eu estava adivinhando o desfecho da campanha da seleção brasileira na Copa de 2014, sob o comando de Scolari e Parreira. O acachapante 7 x 1 que a Alemanha impôs em Belo Horizonte, no maior vexame da história de mais de 100 anos do Brasil no futebol, nos dá mais uma lição que insistimos em não aprender.

Klose, 16 gols em Copas. Ronaldo mereceu ter o recorde quebrado, por tudo o que fez e fala fora dos gramados
Os sintomas de que alguma coisa está muito errada - e faz tempo - estão aí para todo mundo ver. O Santos, não satisfeito em levar um 4 x 0 do Barcelona na final do Mundial de Clubes, levou oito num amistoso, ano passado. O Internacional perdeu para o canhestro Mazembe, da República Democrática do Congo. E o Atlético-MG foi impiedosamente derrotado pelo Raja Casablanca na semifinal do Mundial de Clubes. Sem contar que na atual edição da Copa Bridgestone Libertadores, não há nenhum clube do país entre os quatro finalistas. Enchiam a boca os entendidos para exaltar a presença de Cruzeiro, Flamengo e do próprio Atlético e todos ficaram pelo caminho, em meio a derrotas e campanhas pífias.

Vamos combinar também que o Campeonato Brasileiro não é dos mais atrativos também. Ingressos caros num país de salário mínimo de R$ 670 desmotivam o torcedor, que prefere ficar em casa - já que as partidas são transmitidas (quase todas) pela televisão, atendendo sempre aos critérios da Globo, que prefere dar ibope a Corinthians e Flamengo do que transmitir partidas de acordo com a importância das mesmas na classificação do campeonato. Como efeito, as médias de público decaem e dos principais centros do futebol mundial - é claro - o Brasil não figura com um clube sequer entre os principais campeões de renda no planeta.

E aí entra em cena a Alemanha, de novo.

O 7 x 1, o "Mineirazo", é uma vergonha pra ninguém botar defeito. Deveria servir de lição, mas...
Alemanha que nos massacrou terça-feira, que nos impingiu um banho de bola como poucas vezes eu vi uma seleção fazer em cima do Brasil. Esqueçam o Maracanazo de 1950 no quesito vergonha. Esqueçam o 3 x 0 de Saint-Denis em 1998, dos gols do Zidane e da convulsão do Ronaldo. Vergonha? Vergonha foi isso que todo mundo viu em HD e rede mundial, para deixar qualquer um sem saber onde enfiar a cara. E podia ser de muito mais do que sete: ao fim do primeiro tempo, 5 x 0 a favor no placar, os próprios jogadores alemães - em RESPEITO aos torcedores e à história da seleção brasileira - tiraram o pé. Afinal, para que o esforço se o resultado já os punha na decisão? Schurrle fez mais dois, mas entende-se: entrou para mostrar serviço ao técnico Joachim Löw. Mas os alemães já tinham feito o estrago e nem o gol de Oscar atenuou o vexame.

Os nossos adversários da semifinal, velhos conhecidos de Copas do Mundo, com 13 semifinais e agora oito decisões no currículo, também tiveram suas lições para aprender. E aprenderam. Foram espiaçados pela Croácia, uma nação estreante, com um sonoro 3 x 0 na Copa de 1998. Caíram fora da Euro 2000 logo na primeira fase. A Deutsche Füssball Bund acordou para a vida e percebeu que, se não houvesse uma reformulação, os alemães perderiam o prumo no futebol mundial.

Em 2002, um time mesclando jogadores de técnica duvidosa - alguns até inexpressivos - a veteranos como Bierhoff, um solitário craque (Michael Ballack) e um desconhecido e predestinado atacante, chamado Miroslav Klose, conseguiu ir além do que se esperava e perdeu para o próprio Brasil na final em Yokohama. E o que se viu depois disso? Mais três semifinais consecutivas, com dois 3ºs lugares e um vice da Eurocopa de 2008. Afora a constância, uma geração formidável de jogadores surgiu na base e o resultado está aí.

Os próprios clubes do país se fortaleceram, a Bundesliga hoje é uma das ligas mais valorizadas da Europa e do futebol mundial e temos visto, com frequência irritante, Bayern de Munique e Borussia Dortmund entre as melhores equipes do continente, com jogadores excelentes e futebol bem jogado, dinâmico, pra frente. 

Parece o Brasil, não é mesmo? Só que não.

Em vez de melhorar, dar passos à frente, queremos retroceder. Fala-se de Tite para 2018. Pode ser um vencedor, no que não discordo, mas a mentalidade dele não difere muito dos que lá estiveram na seleção - Dunga, Mano, Felipão - todos, por sinal, gaúchos. Nada contra o povo do Rio Grande do Sul, mas chega! Está na hora de RENOVAÇÃO. De REFORMULAÇÃO. De RECRIAÇÃO.

Querem o quê? Que a seleção fique fora da Copa de 2018? 

O problema está na mentalidade retrógrada dos abjetos donos do poder que se mantém na CBF. O filhote da ditadura e Muttley nas horas vagas José Maria Marin e seu futuro sucessor, Marco Polo del Nero, numa ciranda na qual quem roda, de verdade, é o futebol brasileiro. Roda, roda e não sai do lugar.

Marin é refratário à ideia de um técnico estrangeiro, o que seria tremendamente saudável para a seleção brasileira. Que se dane a barreira do idioma. Por que não arejar as ideias com gente nova, capaz de trazer propostas ousadas e devolver ao futebol brasileiro o talento que tem faltado? As divisões de base, mais do que uma mina de ouro onde empresários inescrupulosos garimpam falsos craques a preço de banana, são de uma aridez desértica em termos de talento. 

Quem tivemos, de natureza excepcional, nos últimos 10 anos no futebol brasileiro? O Neymar. E paramos por aqui! Não existe renovação, não existe a busca do craque. Bom mesmo é formar jogadores altos, de defesa ou volantes, de preferência de muita correria e obediência tática. Craques? Esqueçam. Ninguém se preocupa com eles.

O único culpado? Menos... MUITO menos
E aí, nós vamos discutir a seleção brasileira do Scolari, em que a culpa do fracasso desta Copa, ao invés de recair em quem convoca e quem escala, fica nas costas de um único jogador, que foi sacaneado sucessivamente por todo mundo. Claro que falo do Fred.

Acusa-se o Fred de ser poste, cone, bosta, inútil, imóvel e o cacete a quatro. Mas esse mundo é engraçado: em 2013, TODO MUNDO gritava "O Fred vai te pegar" após cada gol marcado contra - vejam bem os adversários - Itália, Uruguai e Espanha. Alguma coisa aconteceu de errado em 365 dias, porque o meio-campo da seleção inexistiu em TODA a Copa (Oscar é um morto e Hulk é ridículo) e Neymar jogou mais recuado, para conduzir a bola vindo de trás e o camisa #10 apelava mais para o individualismo do que qualquer outra coisa. Aí, meus caros, centroavante morre de fome se a bola não chega a ponto de que se marque um gol. E Fred fez só um. E Fred foi considerado o culpado por tudo. Até pela fratura da 3ª vértebra da coluna do Neymar.

Explicar o inexplicável? Tenta a sorte, Scolari...
Acho uma sacanagem imputar a culpa ao jogador, como se fosse o único. Perderam TODOS. Todos os 23 convocados, toda a comissão técnica - que depois nos ofertou um espetáculo de empáfia, soberba e arrogância numa entrevista coletiva das mais patéticas que já existiram - e a Confederação Brasileira de Futebol. O esporte é coletivo e não individual. Parem com essa perseguição idiota, que beira o clubismo. Fica claro que, para quase todo mundo, Fred é um pária porque veste a camisa do Fluminense, hoje odiado pela grande maioria dos torcedores dos clubes rivais.

Essa é mais uma lição que infelizmente deixamos de aprender. A Copa não foi perdida só porque o Fred não fez os gols que deveria fazer. Foi perdida a partir do momento em que se entregou de volta o comando da seleção a Felipão e Parreira. Perdeu-se a grande chance de uma renovação e de uma reinvenção que poderia ter rendido frutos ou, talvez, uma derrota muito menos vexaminosa que o Mineirazo de 8 de julho.

O 7 x 1 deveria sacudir as estruturas do futebol brasileiro. Da base da pirâmide até o topo. Mas o que eles querem?, pergunto novamente, como fiz em 2012: atingir o fundo do poço?

A soberba e a presunção nos fizeram cair fora em 1974 quando Zagallo fez troça da Holanda; perdemos em 1982 porque não soubemos segurar um resultado de empate; caímos fora em 1986 porque quem deveria cobrar o pênalti no tempo normal amarelou; perdemos em 1990 porque começamos a dar as costas para a essência do nosso futebol; fomos eliminados em 2006 porque o oba-oba deu a tônica desde a preparação em Weggis e o ego dominava aquela seleção e, finalmente, nos mandaram pra casa mais cedo em 2010 porque não tivemos equilíbrio e força para reagir após a virada dos holandeses.

Não vou me estender mais no assunto. Afinal, quem sou eu para desagradar a Dona Lúcia, não é mesmo?

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Bendito, Benedito, Bem dito Assis, o "Carrasco"

Bendito o dia em que Benedito pisou nas Laranjeiras em 1983.


Benditos aqueles que enxergaram, em dois negros espigados, magros, altos e que tinham química, uma simbiose como poucas vezes vimos no futebol brasileiro nos últimos anos.

Benditos os gols marcados por essa dupla, logo chamada de "Casal 20", alusão muito bem-humorada ao seriado global estrelado por Robert Wagner e Stephanie Powers - que em tempos modernos de cyberbulling seria vítima, sem dúvida alguma, de brincadeiras jocosas e infelizes.


Bendito Benedito, que aos 45 minutos do segundo tempo de um Fla-Flu em fins de 1983, recebeu lançamento primoroso de Deley, esticou a bola na frente e, com passadas largas e convicção tremenda, avançou rumo ao gol flamengo defendido por Raul Plassmann. O lado tricolor das arquibancadas, que já deixava o Mário Filho, explodiu com o gol fatal, histórico, irreversível, inenarrável.


Bendita comemoração, mãos na cabeça como quem diz "eu não acredito!", que fica para sempre marcada dentro dos nossos corações tricolores. 

Bendito título, o primeiro.


Bendito Benedito, que no ano seguinte, noutro Fla-Flu, subiu alto, impávido colosso, para finalizar de cabeça um cruzamento perfeito do nosso camisa #4 Aldo. Bendito Benedito que fez Ubaldo Matildo Fillol brincar de estátua. Bendita explosão nas arquibancadas. Bendita alegria. Bendito bicampeonato carioca.

Bendito título, mais um, de um Flu campeão brasileiro de 1984 e tricampeão carioca em 1985.


Bendito sorriso que não se apagava do rosto de Benedito Assis Silva. Benditas comemorações dos amigos eternos, mãos espalmadas, pulos de alegria e abraços sinceros.

Bendito destino que levou Washington em 25 de maio, vítima de uma doença degenerativa - esclerose lateral amiotrófica (ELA). Destino que une, mais de três décadas depois, o camisa #9 daquele time histórico do Fluminense e o velho amigo Benedito, nocauteado aos 61 anos por uma insuficiência renal.


As tabelinhas infernais e os gols do Casal 20 agora serão noutro plano. E celebradas pelas crônicas imortais de Nelson Rodrigues.

Benditos ídolos Washington e Assis. Ah, pobres de espírito aqueles que profanam pelas esquinas que o Fluminense não tem ídolos.

Aí está a prova: Assis, o Carrasco, vira mito. Fica para a eternidade. A nação tricolor chora a perda daquele que honrou a camisa #10 como ninguém.

Vai com Deus, ídolo eterno!
Bendito, Benedito... bem dito Assis, o "Carrasco".

Saudade!