domingo, 12 de fevereiro de 2006

O dia em que Gil e Jorge tiraram Clapton da roda

Andei meio nocauteado por um resfriado brabo, que me deixou de cama e com febre ontem o dia inteiro. Mas, recuperado, vamos voltar a postar histórias, novidades, causos e tudo o mais.

Hoje vou contar aqui o que tivemos na música brasileira lá por 1975, se não me engano.

Nessa época, Robert Stigwood, todo-poderoso da gravadora RSO Records, associada à Philips, que distribuía os discos de Eric Clapton no Brasil, trouxe o próprio EC para conhecer o país, de férias.

Casualmente, Stigwood perguntou ao presidente da companhia no Brasil, o francês André Midani, se ele não gostaria de fazer uma reunião de músicos brasileiros com Clapton. Irrequieto e abusado como sempre, Midani topou. O encontro seria na casa dele, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Clapton chegou e lá estavam, à sua espera, Caetano Veloso, Rita Lee, Erasmo Carlos, Jorge Ben, Gilberto Gil e muitos outros. Todo mundo foi buscar seus violões em casa, já que EC estava com o dele em punho. Armando Pittigliani, um dos assessores de Midani, buscou uma tumbadora e aí fez-se a roda.

Até Cat Stevens, quando ainda não era um chato xiita, e que também estava de férias, apareceu na jam session.

A coisa foi esquentando... Cat Stevens foi o primeiro a sair da roda. Rita Lee o seguiu e Caetano foi o próximo.

Madrugada alta, e ficaram Clapton, Gil e Jorge, arrasando num encontro inesquecível quanto inacreditável. Porém, EC não agüentou o tranco. "Para mim não dá mais", disse.

Ficaram só Gil e Jorge. E dizem que, quem presenciou os dois tocando, foi um dos momentos únicos da MPB.

O queixo de André Midani caiu com toda aquela demonstração de musicalidade, com toda aquela audácia e, muito provavelmente, porque Eric Clapton não conseguiu acompanhar naquela noite a força de seus artistas.

Puxou Pittigliani pelo braço e falou: "Amanhã tem que entrar em estúdio."

E lá foram Jorge Ben e Gilberto Gil para o estúdio da Philips tentar reproduzir tudo aquilo feito de maneira tão espontânea na casa de André Midani. E embora a gravação tenha sido maravilhosa, não chegou nem a metade do que acontecera na noite anterior.

Mas vale a pena buscar principalmente na internet as pérolas que fizeram deste um dos maiores encontros da música brasileira, em qualquer época.

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