terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

FHC não ficou sem resposta

Bateu, levou!
O slogan é do governo Collor, mas apropriadamente vale para FHC, que em infeliz entrevista à Istoé, mandou bala no PT e em Lula.
O Partido dos Trabalhadores considerou o ataque ofensivo e vai processar o ex-presidente. Direito de defesa justo, justíssimo.
Agora, o colunista Mauro Santayana, da Agência de Notícias Carta Maior chama os ataques descabidos de FHC a Lula como "o desabafo de alguém que perdeu o caminho".
Concordo plenamente. Aliás, não só perdeu o caminho, como também a vergonha.
Abaixo, segue a transcrição do texto do colunista. Se tiverem paciência, leiam com atenção.
Se fevereiro era, para os romanos, o mês da febre, com a insalubridade própria do declínio do inverno europeu, março, dedicado ao deus da guerra, sempre foi o dos conflitos políticos.
Em fevereiro, presume-se, abrem-se as portas para março. E março vem aí, um pouco ensandecido, embora estejamos no hemisfério sul.Os sábios sempre advertiram para a ciência do declínio. Tancredo dizia que se a administração da escalada é difícil, mais difícil ainda é a administração da descida.
O Sr. Fernando Henrique Cardoso não entendeu que o seu tempo político passou. Incomodam-no duas hipóteses, ambas prováveis: a vitória de Lula ou a vitória de Serra. É difícil saber qual das duas o inquieta mais. Suas relações com o ex-presidente da UNE sempre foram estranhas, embora um e outro, de acordo com os ritos da conveniência, não assumam claramente o dissídio.
Serra é homem de vôo próprio, gostemos ou não de suas rotas. Fernando Henrique se considera o dono do partido e chefe geral da Oposição a Lula. Apesar de seus numerosos seguidores, não é uma coisa nem outra coisa. É apenas um ex-presidente que tem todo o direito de dar os seus palpites políticos, mas não a licença da calúnia.
A sua recente investida diretamente contra Lula e tangencialmente contra José Serra está sendo interpretada como o desabafo de alguém que perdeu o caminho. Fernando Henrique sonhava em retornar ao poder, diante de um esperado malogro do governo Lula. O atual governo manteve a mesma e deplorável submissão às normas do neoliberalismo, e, por isso, o país não obteve crescimento significativo, como o conseguiram a Índia e a China, hoje a quarta economia do mundo. Mas não houve o caos esperado, e o governo conseguiu reduzir bastante a sua dependência externa. Assim, o ex-presidente está perdendo a esperança de retornar ao Palácio da Alvorada como o messias redivivo.
Dizia um personagem de Dario Fo que todo governo é figlio di puttana. Não há governos melhores, embora haja piores. E a opinião pública começa a entender hoje, ao serem examinados os números, que o governo do Sr. Fernando Henrique foi dos piores da História Brasileira. Pode ter sido uma administração de pronomes bem colocados mas, para lembrar irônica observação de Agripino Grieco, foi um governo de amigos mais bem colocados ainda. É aí que o ex-presidente corre enorme perigo, ao acusar o governo atual de corrupção.
Ele tem razão ao afirmar que os atos anteriores de corrupção não justificam os delitos atuais. Mas, se a ética do PT é o roubo, como – sempre segundo a versão publicada – ele disse, qual teria sido a ética de seu governo? Teria sido a famosa ética weberiana da responsabilidade, que ele citou em notável aula magna, proferida, simbolicamente, em hospital de Brasília?
Podemos considerar ética a ação do BNDES, registrada em interceptação telefônica, em favor de consórcio chefiado pelo Sr. Daniel Dantas, na privatização dos sistemas de telecomunicações? Teria sido ético recorrer, em pleno governo, a contribuições dos homens mais ricos do País, a fim de que fosse criado e mantido um Instituto para servir de escritório intelectual e político ao ex-presidente?
Nenhum presidente da Republica, ainda vivo, foi capaz de semelhante iniciativa. Os duros ataques do ex-presidente ao atual chefe de governo não se ajustam à proclamada lucidez do professor Fernando Henrique Cardoso. Os petistas provavelmente se sentirão desafiados a ir fundo na investigação das irregularidades ocorridas no processo de privatização das empresas estatais e na desnacionalização do sistema bancário nacional. Enfim, março promete.

2 comentários:

Anônimo disse...

E vc viu ontem o Roda Viva? Ah, o orgulho dele, entre tantos outros, foi ter feito a mais democrática transição de governo, preparando inclusive o FMI para Lula. "Foi a melhor que se teve em toda história desse país." E porque, então, em vez de se preocupar em fazer a melhor das transições, ele não se concentrou em fazer um país melhor? Um demagogo que fez coisas tão escusas quanto as sujeiras do governo atual, bem encobertas pela imprensa e pela curriola. Ótimo blog, Mattar, abraço!

Anônimo disse...

Brilhante comentário de um fascinora que não lembra das lambanças que fez para poder julgar agora as coisas do presente. Dizem que ele treme cada vez que vai a Europa ao ver que Lula é respeitado e não é mais um presidente banana !!!!

Rodrigo, vc é brilhante não apenas no meio esportivo mas no jornalismo como um todo... Vc é a nossa bandeira de frente nesta guerra !!!

Abs.

Fabio - Hyder - Azevedo