segunda-feira, 24 de março de 2008

Mike, The Bike



Giacomo Agostini, tido e havido como o maior piloto da motovelocidade em seu tempo, haverá de concordar comigo. O único piloto que chegou a desafiá-lo com muita propriedade foi o saudoso Mike Hailwood.

Apelidado Mike, The Bike (Mike, a moto), pela grande interação piloto-máquina, ele faleceu prematuramente há 27 anos, num acidente onde seu carro foi abalroado por um caminhão quando fazia um "balão" numa estrada. Além dele, sua filha Michelle também morreu.

Ele foi batizado Stanley Michael Bailey Hailwood, em 2 de abril de 1940. Ele estreou nas competições de motocicleta em 1957 e quatro anos depois, já era campeão mundial de 250cc, com Honda.

Nesse tempo, a FIM não restringia o número de classes para cada piloto, como hoje - e não era surpresa ver Mike, The Bike andando em três campeonatos diferentes. Em 62, ele correu de 125, 250, 350 e 500 - onde foi campeão com a MV Agusta, outra lenda do esporte.

Até 1965, aliás, Hailwood foi absoluto na chamada "categoria-rainha" até começar o domínio de Ago. Mas seus títulos não pararam: em 66 e 67, faturou dois campeonatos em cada ano, das categorias 250 e 350 cilindradas.

Nesse meio tempo, ele já tinha estreado na Fórmula 1. Em 1963, fizera sua primeira aparição com um Lotus Climax e arriscou cumprir toda a temporada do ano seguinte com um Lotus BRM da equipe de Rob Walker. Conquistou um 6º lugar em Mônaco e dois oitavos na França e Áustria, abandonando todas as outras corridas.

Quando deixou as motos, Mike voltou ao automobilismo. Fez parte da lendária equipe Gulf de John Wyer, correndo com o Ford GT40 e depois com Porsche 917 e o protótipo Gulf Mirage Cosworth. Em 1971, reapareceu na F-1, correndo no histórico GP da Itália em que Peter Gethin derrotou Ronnie Peterson por 0"010 (foi inclusive o quarto colocado).

No ano seguinte, cumpriu boa campanha, com um 2º lugar em Monza e outros três resultados na zona de pontuação. De quebra, venceu o Campeonato Europeu de F-2 e foi um dos rivais de Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace no II Torneio Brasileiro de F-2, realizado em Interlagos - chegando a vencer duas baterias naquele evento.

O ano de 1973 foi frustrante, sem nenhum ponto marcado com o Surtees TS14. Como compensação, o piloto britânico recebeu uma medalha de bravura quando, em Kyalami, salvou o ítalo-suíço Clay Regazzoni das chamas que consumiam seu BRM. Em 1974, assinou para correr com um terceiro carro da McLaren, pintado nas cores da Yardley. Fez um pódio na África do Sul e três outros resultados entre os seis primeiros: Argentina (4º), Brasil (5º) e Holanda (4º).

Sobre esta corrida, Emerson Fittipaldi guarda recordação especial. Quando saía do hotel para o Autódromo de Zandvoort, a fim de participar do treino de aquecimento na manhã do GP da Holanda, o piloto brasileiro deparou-se com Mike voltando de Amsterdã, os olhos diminutos, vermelhos, denunciando a noite em claro. O máximo que ele dizia a Emerson era o seguinte:

"Noite fantástica!", exclamava.

E o mais impressionante, segundo Emerson, é que ao longo das 75 voltas da prova, Hailwood andou "montado" na traseira da McLaren. Ao fim da corrida, Mike continuava eufórico. "A garota era linda, foi a melhor noite da minha vida."

Pena que a temporada de Hailwood não terminou como ele gostaria. Nos treinos para o GP da Alemanha, ele estatelou seu carro num guard-rail. Com fraturas nas pernas, ele ficou fora do resto do campeonato e no mesmo fim de semana, acabou por dividir o quarto de hospital com o neozelandês Howden Ganley, que demolira seu Maki também em Nürburgring. Coincidentemente, os dois nunca mais pilotaram um F-1.

Mike se afastou das competições por quatro anos e nesse período casou-se e foi pai de dois filhos. Aos 38 anos, quando muitos já estão definitivamente aposentados, ele decidiu retornar às competições, para disputar o lendário Tourist Trophy da Ilha de Man. Não só disputou, como venceu a perigosíssima prova, com uma Ducati de 864cc e comando desmodrômico. A última conquista (das 14 na Ilha de Man) foi em 1979 com uma Suzuki de 500cc. Em julho, treinando em Donington Park, sofreu um acidente que causou sua retirada definitiva das pistas.

4 comentários:

Anônimo disse...

Só um detalhe, Rodrigo. Michelle, filha de Mike, realmente morreu, mas seu filho, David, continua vivo. Até onde sei, mora na Espanha. Sobre Mike, também vale a pena visitar o GPTOTAL, na seção dos leitores, segunda quinzena de março de 2007. Há um breve relato sobre ele lá.

Rodrigo Mattar disse...

Tem razão, Vermeulen. Eu já tinha lido em algum outro blog que só a filha dele tinha falecido. Farei a devida correção.
Obrigado por me chamar a atenção!

Anônimo disse...

Uma das melhores leituras sobre Mike The bike, é seu livrinho sobre seu retorno ao TT, show de emoção, bastidores... muito legal.

Speeder76 disse...

De facto, o Mike The Bike era uma personagem fora do normal, e teve uma vida fora do normal. Quis ser como Surtees, mas não teve muito sucesso. Como de costume, fiz uma bio sobre ele, nada de especial.