quinta-feira, 20 de março de 2008

O Grito

O falecido autor de novelas Jorge Andrade tem como um grande mérito em sua trajetória na teledramaturgia a inserção da crítica social em suas obras. Foi assim com "Os Ossos do Barão", que marcou sua boa estréia na Globo em 1973 e dois anos depois com "O Grito".

Esta produção, que sucedeu "Gabriela" no horário das 22 horas entre 1975 e 1976 era a cores - como já eram todas as novelas do horário desde "O Bem-Amado!". Na época, a intenção de Jorge Andrade, ao ambientar sua novela em São Paulo, era mostrar o quão difícil é viver numa megalópole como aquela cidade. Ainda mais se no prédio onde a maioria das personagens vivia, havia uma criança que dava gritos lancinantes todas as noites, assustando os moradores.

Este era o drama de Marta, uma ex-freira interpretada por Glória Menezes - pela primeira vez em muitos anos na Globo, desvinculada do marido Tarcísio Meira - que cria sozinha seu filho doente, Paulinho (o menino Marcos Andreas).

A novela provocou reações distintas nos diferentes centros do país. Em Ipanema, no Rio de Janeiro, moradores tentaram expulsar uma família de um prédio porque o filho deles era portador de necessidades especiais. Em São Paulo, houve indignação, porque julgou-se que o objetivo de Jorge Andrade era criticar a capital paulista.

E uma surpresa a mais foi reservada para o telespectador: a trama se passou durante... uma semana! O autor tomou o máximo cuidado para que isso não fosse notado nos seis meses de exibição da novela. Aliás, um recurso mais ou menos semelhante ao que Bráulio Pedroso usara em "O Rebu", um ano antes.

A novela não fez sucesso e Jorge Andrade, que depois escreveria para outras emissoras, ficou com pecha de incompreendido. Como mérito, "O Grito" trouxe para o vídeo a beleza jovem de Lídia Brondi (grafada como Bronde nos créditos de abertura), em sua primeira novela na televisão.

A trilha sonora de "O Grito" tinha Rita Lee, Ângela Maria, Elis Regina, a doce Marília Barbosa e a dupla Luli e Lucina, além do fantástico Cassiano com "A Lua e Eu". Destaque absoluto para os temas instrumentais, compostos por Radamés Gnattali e por Victor Assis Brasil, que assinava a música de abertura.

Que você pode ouvir aqui abaixo junto com a própria. Notem que há inserções (intencionais ou não) de merchandising do extinto banco Bamerindus e dos jeans Levi's, entre as imagens de alguns artistas do elenco.

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