A longa espera pelo ronco dos motores da Fórmula 1 finalmente chegou ao fim. A partir deste fim de semana, até o dia 2 de novembro com o encerramento da temporada no GP do Brasil em Interlagos, serão 18 corridas onde a categoria máxima do automobilismo vai reviver os duelos entre os quatro grandes protagonistas do último campeonato: o campeão Kimi Räikkönen, o excelente Lewis Hamilton, o veloz brasileiro Felipe Massa e Fernando Alonso, de volta a Renault, de onde dizem que jamais deveria ter saído.
Este campeonato onde o mais experiente do lote é Rubens Barrichello, que perto de completar 36 anos vai ultrapassar a histórica marca de 256 Grandes Prêmios disputados, que é do italiano Ricardo Patrese, tem algumas novidades fora da pista. Nos carros, caixas de câmbio construídas para suportar quatro corridas. Em caso de quebra nos treinos, não tem jeito: o piloto perde cinco posições no grid de largada. Além disto, o controle de tração foi banido – o que torna as largadas um fator mais “humano” e os chamados braços duros serão facilmente identificados pelas rodadas e erros.
Os treinos de classificação continuam divididos em três fases, mas a primeira terá 20 minutos (eram 15) e a chamada Superpole baixa para 10 minutos. Porém, com um detalhe importante: não precisarão mais reabastecer após o treino. Será interessante ver através dos tempos dos pilotos se os carros estão mais leves ou mais pesados que a concorrência, o que influenciará decisivamente as estratégias.
Dos 22 pilotos inscritos, cinco deles vão disputar pela primeira vez um campeonato completo e dois estarão “tirando o selinho” na Austrália: o francês Sébastien Bourdais, da STR, que vem dos EUA com quatro títulos da extinta ChampCar no currículo, e Nelson Ângelo Piquet, 22 anos, filho do tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet.
Com a bagagem de quem foi piloto de testes da Renault ano passado, além de passagens muito boas pela Fórmula 3 e GP2 – as principais categorias de acesso à F-1 – Nelson Ângelo não pode se deixar levar pela enorme pressão que o sobrenome lhe trará no seu ano de estréia. Rápido e capaz ele já mostrou que é. Afinal, ninguém chega lá por acaso. Mas seu parâmetro de desempenho não é qualquer um: trata-se do bicampeão Fernando Alonso. Se a diferença entre os dois ficar até no máximo meio segundo, já será muito bom para o novato brasileiro.
Mas a Renault nem de longe está entre as favoritas – mesmo com um piloto excepcional como Alonso. Neste início de campeonato, o favoritismo pende ligeiramente para a Ferrari. Não só porque tem o campeão Kimi Räikkönen, motivadíssimo e com sede de mais um título, mas porque ele e Felipe Massa formam a dupla mais consistente do campeonato. O piloto brasileiro tem velocidade de sobra, é destemido e muito querido dentro da equipe. E se conseguir um início de temporada superior ao do finlandês, quem sabe no meio do campeonato não estaremos vendo Kimi ajudando Felipe, tal como este fez no fim de 2007?
A McLaren, livre do rumoroso escândalo de espionagem, continua com o inegável talento de Lewis Hamilton. O grande porém é que agora ele vai correr mais pressionado do que nunca, especialmente pela imprensa e torcedores da Inglaterra. Qualquer resultado pior que o vice-campeonato será uma fragorosa derrota para a jovem cria de Ron Dennis. A “sombra” da vez é Heikki Kövalainen, talentoso piloto finlandês que melhorou muito na segunda metade do ano passado.
Tirando as duas grandes forças de 2007, a Fórmula 1 deve apresentar uma interessante disputa pelo posto de ‘terceira força’. A Renault desde já é concorrente e merecem atenção a BMW – atual vice-campeã mundial de construtores, que ficou devendo nos testes da pré-temporada, e especialmente a Williams, que tem um conjunto muito competitivo com os motores Toyota e dois pilotos rápidos e filhos de antigos competidores: Nico Rosberg e Kazuki Nakajima.
Fique de olho também na dupla da STR, equipe gerenciada por Gerhard Berger. Os “Tiões” Bourdais e Vettel mesclam experiência e juventude e têm tudo para ser as grandes surpresas do ano. Há quem diga que se estivessem na equipe matriz do patrocinador, a RBR, substituindo os duvidosos David Coulthard e Mark Webber, poderiam estar lutando pelo simbólico título de ‘terceira força’.
Outra atração do campeonato é a nova equipe Force Índia. O segundo país mais populoso do mundo quer provar que também é capaz de se dar bem no automobilismo, tanto quanto no cinema, com a prolífica Bollywood – a maior indústria da sétima arte em todo o planeta. O empresário Vijay Malliya não quer economizar dinheiro – diz ter capacidade para investir US$ 120 milhões por ano. E para ajudar a novata FI a crescer, trouxe o experiente Giancarlo Fisichella para andar ao lado do bom alemão Adrian Sutil.
E os japoneses? Ora... mesmo com tanta tradição na indústria automobilística, têm tudo para (mais uma vez) se transformarem no fiasco do ano. A Toyota, que nunca venceu na Fórmula 1, vai passar mais um ano em branco com Jarno Trulli e o novato Timo Glock, campeão da Fórmula GP2. A Honda fez um carro desastroso ano passado e o de 2008 não parece muito melhor. Ou seja: mais um ano de frustrações se avizinha para Jenson Button e Rubens Barrichello.
Mas o grande fracasso do ano deve atender pelo nome de Super Aguri. Com pouco mais de 3 mil quilômetros rodados em testes ao longo do ano, além de uma monstruosa indefinição financeira (a equipe foi salva pelo gongo quatro dias antes de começar o campeonato) e de herdarem o péssimo carro da matriz, a equipe de Aguri Suzuki só tem de bom mesmo os pilotos, Takuma Sato e Anthony Davidson.
Bem... os personagens estão aí. Que o campeonato de 2008, antes de tudo, seja decidido na pista, sem manobras escusas de bastidores, com muitas disputas, ultrapassagens e, sobretudo, o Brasil brilhando intensamente num ano onde o piloto vai voltar a fazer a diferença na hora da decisão
Nenhum comentário:
Postar um comentário