Pingou nesta semana na caixa de e-mails do blog uma mensagem que me chamou muito a atenção. Mais do que simples elogios ao conteúdo do Saco de Gatos, o texto contém um justo desabafo contra a inépcia de parte da imprensa dita "especializada" em automobilismo.
A autora do e-mail é Telma Sanchez, mãe da piloto Sara Sanchez, de longa carreira no kart e que, aos 20 anos, está disputando agora a Fórmula Chevrolet (sim... ela existe, mas no Uruguai). Na corrida de estréia, ela chegou em 4º lugar - um ótimo resultado.
Abaixo, o blog abre espaço para que a Telma manifeste seu pensamento.
Eu acho que a imprensa automobilística é a própria vítima dela mesmo, ela faz tantas restrições nas publicações, sempre publicando somente grandes estrelas do automobilismo internacional, que o leitor nem conhece ou só ouviu falar, que não interessa pra ele. O leitor quer ver gente da sua terra, gente com quem ele se identifica, que possa ter orgulho e não seu fulano de tal, lá da Austrália, que ele não sabe onde fica ou se é marca de geladeira, fez uma corrida espetacular de Fórmula não sei de quê, com o carro cheio de marcas que ele só vê na TV, porque as marcas brasileiras não podem aparecer por não pagaram por isso.
Agora, se as revistas publicassem sobre seus pilotos, seus atletas, sua gente, que pode ser um futuro astro do automobilismo ou de qualquer outro esporte, que veio de lá do interior de São Paulo, Minas, Rio Grande, dando forca pra ele ir pra frente. São essas pessoas que o leitor quer conhecer e saber melhor, pois ele quer um ídolo local e não um Schumacher alemão.
Infelizmente, as revistas e jornais, sem falar na TV, só publicam o que vem da Reuters, FrancePress e outras agencias, porque é mais importante, porque taí é só publicar, não tem que ir a campo buscar a noticia, suar a camisa, gastar sapato, mas preferem pagar caro pelas noticias das agências do que prestigiar o que é nosso, o que é da terra.
Incentivando o produto local, tanto de marcas como das pessoas. A maioria dos anunciantes, tenho certeza, que eles querem por a marca deles perto de uma notícia de um atleta local e não do seu fulano americano piloto da Nascar, com seu sorriso falso e olhos brilhando pelos dólares que está recebendo.
Já que você gosta de automobilismo, te conto, sou mãe de piloto, só que é mulher, tem 20, fez toda a carreira de kart e agora está correndo em F-Chevrolet no Uruguai, ela se chama Sara Sanchez.
Fiz todo esse comentário acima, porque vivo esse problema constantemente. Somos brasileiros, mas no Brasil nunca tivemos chance na imprensa, enquanto que nos outros países, Uruguai, Argentina, Venezuela (atualmente vivo em Caracas) a imprensa local sempre prestigiou os atletas locais, em primeiro plano e depois os internacionais.
Mesmo sendo brasileira, correndo fora do país, patrocinada por marcas locais, é muito mais conhecida que dentro do Brasil.
Aí nos perguntam: porque a Sara não corre no Brasil? Pelo simples motivo que a imprensa não ajuda, os patrocinadores nem querem saber por que a imprensa não se interessa, muito menos por um piloto que está começando. Você deve se lembrar, quando o Piquet (pai) xingava os repórteres que queriam entrevista, por quê, você se lembra ? Porque quando ele estava começando e ele precisando de patrocinador, precisando da imprensa, não deram a mínima pra ele. Depois quando ele era famoso, quando chegou ao topo a duras penas, todos faziam qualquer coisa por uma palavrinha com ele.
É um circulo vicioso e que a imprensa brasileira não se deu conta, que pode reverter esse processo usando seus próprios atletas, para seu leitor local, com suas marcas locais, com coisas locais que o leitor se identifica e não extensas matérias com fotos maravilhosas de belíssimos carros enchendo páginas e páginas de um piloto americano da Nascar ou Indy, que o seu Zé nem sabe onde fica.
Já é difícil ser piloto brasileiro, imagine mulher. Estou decepcionada com a imprensa brasileira. Tudo que é do estrangeiro é melhor. Ponto pro Nelson Piquet.
Conheço a arte do jornalismo, tenho uma irmã, uma sobrinha, um cunhado e uma cunhada jornalistas, além de muitos amigos; minha mãe teve um jornal local durante 10 anos no interior do Paraná nos anos 1970, do tempo que jornalismo era a informação pura e simples.
Porque você não escreve justamente sobre esse tema?
Porque a imprensa brasileira não prestigia o esporte (não me refiro ao futebol) local, bem brasileiro?
Pode ser que a marca que está lá na roupa do atleta faca propaganda nesta revista ou jornal e começa um circulo vicioso, como acontece nos Estados Unidos (eles são bem eficientes nesse assunto), você não vê noticia de brasileiro nos jornais e revistas de lá, só dos estão no topo, Nascar e Indy ou F1, enquanto que aqui, se vê muito de pilotos de lá que nem são conhecidos enchendo paginas de revistas daqui.
Gostei dos seus comentários no blog, vou voltar mais vezes e obrigada pelo desabafo.
Volte mesmo, Telma. Seus comentários e suas opiniões são muito bem-vindas.
4 comentários:
Concordo com D. Telma! A imprensa anda burra demais, mas "disconcordo" das causas. O problema dos jornalistas é que ainda não conseguiram equacionar a avalanche de informações que recebem nos dias atuais. A Internet, que para os profissionais seria um bom meio de comunicação, virou fonte de informação. Nas redações hoje o tema parece ser o do Marcos Valle há 30 anos atrás: "não confie em ninguém com mais de 30 anos". Até porque vai ter que pagar um salário maior. A nova geração de jornalistas ficou preguiçosa. Parece que antes da Internet a profissão não existia. Isso é ruim para o Jornalismo, mas é bom para a filha de D. Telma. Para aparecer na mídia hoje, basta contratar uma eficiente Assessoria de Imprensa, independente dos patrocinadores ou resultados. Apelar para patriotismo, profissionalismo etc, não funciona: basta entregar tudo de mão beijada, que eles publicam qualquer calhau.
alem de tudo descrito pela D.Telma, acrescento, a Sara vir para o Brasil correr de que ?
que categorias temos para os que saem do kart ? monopostos ? turismo ?
o que a CBA faz para "promover e fomentar o desporto a motor" ?
aqui os dirigentes fingem que fazem algo e o restante faz de conta que acredita, enquanto isso eu só fico me lembrando daquela música do Ultraje a Rigor "inutíl".
abs
Filipe W
Primeiramente, seu blog é muito bacana mesmo. Parabéns cara!
Segundo, a Telma falou tudo. Essa prática é um tiro no pé da própria classe jornalista...vai faltar emprego para o pessoal porque não vai ter o que cobrir daqui alguns anos. E o que vem de fora já vem pronto...lastimável...
Lógico, falta uma política esportiva (e isso é com a Confederação) de popularização do esporte, de detecção e promoção de talentos e de desenvolvimento de uma indústria nacional (nunca o automobilismo vai se desenvolver profissionalmente com a importação de equipamento e mão de obra).
Enfim, orientado por estes conceitos administrativos e com a presença de uma imprensa realmente especializada, penso que certamente seremos um país de destaque no esporte.
Concordo com tudo que ela disse. Tirando alguém como o Nelsinho somente pilotos de São Paulo possuem mídia nacional, pois a maioria dos órgãos de imprensa estão nesse Estado. O bairrismo babaca deles contribuiu bastante para que esse nosso automobilismo esteja em vias de desaparecer.
Se na Indy não tivesse dois pilotos radicados em São Paulo inscritos eu divido que a Bandeirantes iria transmitir a categoria.
É só ver o que a dita imprensa especializada faz com as categorias regionais e a Fórmula Truck e a Fórmula 3. Se não tiver jabá não tem divulgação.
Wallace Michel
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