sábado, 12 de maio de 2007

No muro

Um dos meus leitores me garantiu que se eu metesse o bedelho na discussão sobre Stock Car que acham que rolou na internet entre o Lívio Oricchio e o Flávio Gomes, a audiência do meu blog subiria 2000%.

Mas não vou. E motivos não me faltam.

Primeiro, porque tem uma questão hierárquica que me impede de criticar escancaradamente um produto que pertence à emissora em que trabalho. Poderia fazer ressalvas a grande parte do que o Flavinho escreveu - e ele tem coragem pra isso porque nunca lhe faltou, aliás.

Mas não vou.

Não é questão de covardia. Nem de comodismo. É simples: num país como este, é bom ficar sem emprego? Acho que não, concordam?

E eu não vou fazer força contrária para ser demitido. Melhor - prefiro matar um leão por dia, que é o que normalmente faço (aliás, ao longo de nove anos trabalhando com carteira assinada pela Globo, o que mais fiz foi engolir sapo e matar leão).

Sábias as palavras de uma pessoa que apostou muito - e acredito que ainda aposta - em mim e que me disse pra ter paciência. E muita.

E por ter paciência, relevo sempre alguma bobagem que leio, especialmente sobre automobilismo e principalmente sobre a Globo e o Sportv.

Freqüentemente vejo nos fóruns da vida e no Orkut acusações de que somos o câncer do esporte em quatro e duas rodas, porque compramos os direitos dos eventos e não os transmitimos ao vivo. Mas isso não é problema meu, é questão de opção.

O Sportv é mais flexível, tem uma grade mais maleável que a Globo e é por isso que na TV aberta, hoje, só há espaço para a Fórmula 1 e a Stock Car, uma categoria que tem merecido desde 2000 um espaço que só a Bandeirantes (na época em que o diretor de esportes chamava-se Reynaldo Campello) com toda a justiça conseguia proporcionar para o telespectador.

E mesmo assim o público não entende porque a Clio só passa em VT, ou a Stock Júnior tem apenas um compacto de 15 minutos, ou o início do campeonato da GP2 não tem sido ao vivo.

O importante, meus caros, é ter automobilismo no ar. Não importa como. Claro que para o patrocinador, vale o retorno do investimento ali, ao vivo, em prime time de preferência. Porém, se a marca de quem coloca o dinheiro, a bufunfa, aparece para mais de 100 mil telespectadores em um plano bastante considerável, pode ter certeza que haverá satisfação garantida pelo investimento feito.

Nesse fim de semana, vão chover críticas à Globo porque ela vai interromper o GP da Espanha de F-1 para transmitir direto de Aparecida do Norte a missa do papa Bento 16. Mas esperavam o quê? Quando João Paulo II veio aqui por três vezes e rezou dezenas de missas campais - uma delas histórica, no Aterro do Flamengo, em 1980, a Globo dedicou vasto espaço à visita de Sua Santidade. Ou será que terei que apelar ao fato de que Dom Hélder Câmara foi padrinho de um dos filhos do Dr. Roberto Marinho?

Também fui questionado várias vezes se o Sportv transmitiria a corrida e tive que ser enfático. "Não, porque o contrato não permite. E ponto final."

O torcedor brasileiro vai praguejar e espernear se o Felipe Massa vencer a corrida. Mas há que dar o devido desconto, porque o campeonato não está ainda na fase decisiva - é a quarta prova apenas - e muita coisa ainda vai rolar. Se fosse uma prova importante, eu até entenderia a irritação.

Mas não é motivo para tanto.

E podem me apedrejar. Quanto mais críticas, melhor.

10 comentários:

Anônimo disse...

Sugiro que leia meus comentários postados no Blig do kamarada Gomes, num tópico em que aparece um Audi DTM preto.

Tazio Nuvolari

Anônimo disse...

Não passar a F-1 por causa do Papa é um desrespeito ao público. A Globo que se virasse para passar as duas coisas ao mesmo tempo. E é isso mesmo que você falou: a sua empresa prejudica tudo, pois não pensa no evento, apenas na própria audiência. E sua posição é muito confortável. Ajuda a alimentar o monstro e não se sente culpado pelo mal que ele faz. Durma bem, Poncius Pilatos.

Rodrigo Mattar disse...

A empresa não é minha, é da família Marinho e sou apenas um mero funcionário sem poder de decisão. E se esconder atrás de um pseudônimo, digamos, jocoso, não é a melhor saída para não dar a cara para bater. Não acha?

Rodrigo Nunes Yoshihara disse...

Isso me faz lembrar uma piada na revista MAD:

- Mulher 1 disse à mulher 2, em uma fila: Eu li um livro de auto-ajuda, que me fez abrir os olhos e me fez dizer umas verdades ao meu chefe. E você, como perdeu seu emprego?

Rodrigo, esse é mais um sapo daqueles citados por você, que temos que engolir. Quando há uma carteira assinada em jogo, a palavra que é ouvida é de quem assina, mesmo que contra a nossa vontade!

L-A. Pandini disse...

Antes de dar pitacos: não sou católico, não tenho qualquer apreço pela "santa igreja católica" e não estou minimamente interessado nas pregações retrógradas do sr. Ratzinger e seus asseclas.

Mas não vamos fechar os olhos: vivemos no país com maior número de católicos no mundo (não é, proporcionalmente, o país mais católico do mundo: a porcentagem de católicos em outros países latino-americanos é maior, com o México liderando) e evidentemente a visita do papa ao Brasil é um evento de muito maior importância do que uma corrida de F1, mesmo com um brasileiro saindo na pole e vencendo.

Além disso, a emissora avisou de antemão que transmitiria somente a primeira hora da prova. Não pegou ninguém de surpresa. Também não deixou os fãs de F1 em suspense como fez no último dia da Olimpíada de 2004, que coincidiu com o GP da Bélgica e o Brasil disputando a final do vôlei. Aquilo sim foi totalmente desrespeitoso, canalha até: a emissora não informou o que iria transmitir, passou o jogo e, sem avisar ninguém, passou a corrida depois.

Repito: discordo de quase tudo o que o Vaticano prega e também não admiro nem um pouco o modo como a RG trata de muitas coisas. Mas, neste caso específico, acho que a emissora agiu com absoluta correção.

Anônimo disse...

Leandro Santos:

Pois é Rodrigo, ontem tu criticavas o Barrichello, acusando-o de falta de personalidade e ganância por acatar uma decisão da Ferrari ao dar a vitória para o Schumacher na Austria em 2002. E agora vejo tu assumir que obedece as determinações da empresa onde tu trabalha, mesmo que isso vá de encontro à tua vontade ou teu pensamento.
Não o condeno por isso. Pelo contrário, te acho um dos jornalistas especializados mais capazes do autombilismo e quero mesmo é que teu trabalho ganhe muito espaço na Globo ou na mídia em geral. Concordo com a tua "tática" de "paciência em engolir sapos", da mesma forma que concordei com a conduta do Rubens dentro da Ferrari, procurando construir um espaço dentro da equipe italiana, como realmente acabou conseguindo.
Nunca diria que, tanto ele quanto você, adotaram tais posturas por falta de personalidade ou com o fim de obter maiores ganhos financeiros. Não gosto de prejulgar as pessoas, e sempre procuro compreender as situações ou circunstâncias do esporte antes de emitir uma opinião ou fazer uma crítica a alguém.
O que eu vejo é que tu acabou te contradizendo, criticando o Barrichello pelo ocorrido na Austria e justificando para teus leitores o fato de tu não criticar a Stock em obediência a uma determinação da empresa em que tu trabalha.
Acho que seria interessante nos colocarmos no lugar do Rubens naquela situação, embora não saibamos realmente o que estava por trás daquilo. Será que, se ele tivesse segurado a vitória para si, ele teria 9 vitórias no currículo dele? E se ele fosse para a Willians, teria tantos pódios, poles, vitórias e chances de brigar por elas como teria correndo pela Ferrari, mesmo sendo companheiro do alemão, mas numa época em que a Scuderia dominava a F1? E valeria a pena trocar o trabalho com a excelência em engenheiros e equipamentos que ele dispunha na Ferrari, para disputar roda com o Montoya?
Acho que não se pode reduzir o fato de ele ter continuado tanto tempo na Ferrari a uma simples questão financeira.
Da mesma forma que seria injusto afirmar que tu não critica a Stock por(usando uma expressão tua)covardia ou porque tu ganha muito bem na Globo. Acredito que para um jornalista é muito melhor trabalhar na Globo com seu relativo descaso
para com o automobilismo, do que trabalhar num SBT, por exemplo, que oferece uma boa estrutura mas ignora por completo o esporte.
Era isso, espero ter me feito claro.

Abraço.

Carlos Garcia disse...

Mattar... nota 10 para o que vc disse. Eu particularmente não teria nem sequer mencionado aqui assunto relacionados à "asinatura na carteira de trabalho" pois é um dos motivos mais justos da vida do homem e ninguém tem nada com isso, mas foi corajoso e bonito ter citado isso aqui.

Sobre a não transmissão das prova o Pandini já disse tudo, em especial sobre o respeito que a RG teve de informar à todos o que seria transmitido. O que acontece é que tem gente achando que a Globo é uma empresa filantrópica que deve agradar à "meia duzia" de fãs de Fórmula-1 em troca de ceder audiência para as outras emissoras que estavam prontinhas para transmitir a missa do pontífice. Não sou fã desse papa, admirava o papa anterior mesmo sem ser católico, mas a Globo acertou dessa vez [2]!!!

Mestre Joca disse...

Simples: o evento papal (e não sou católico muito menos religioso de qualquer estirpe)é muito mais importante em termos sociais, políticos e religiosos do que uma só prova de Fórmula Um. Sabe-se quando um Papa estará de volta ao Brasil e as implicações que para nós, um pais eminentemente católico, isso representa. Daqui a algumas semanas haverá outra corrida de Fórmula Um, as discussões serão outras, o fato terá sido esquecido. Também não morro de amores pela Globo mas reconheço a sua competência e não ignoro que é a quarta maior rede de Tv do mundo, atrás somente das gigantes americanas.Quem viveu lá fora sabe o que é a programação de Tv aberta em outros países e aí a Globo bate de goleada na concorrência. Tem muita babaquice no meio, é claro, mas é em função do povo pouco alfabetizado e inculto que, infelizmente, faz parte de grande parte de nossa população. E, antes que venham as críticas, não é responsabilidade ÚNICA de uma rede de TV o processo de culturalização de um povo. Ela pode contribuir - aliás, deve - mas não é seu objetivo primeiro e sim o entretenimento e informação. É a minha opinião.

Anônimo disse...

mestre joaquim,

disse tudo tô contigo e não abro !

abs

Filipe W

Alexandre Carvalho disse...

Essa choradeira que tomou conta de boa parte dos torcedores da Fórmula-1 foi ridícula. Com a Internet, só não assistiu a corrida na íntegra quem não quis. Basta baixar um bit torrent e ponto final. Que importância tem se não for ao vivo? O resultado é o mesmo, ora bolas.