terça-feira, 22 de maio de 2007

Despontando para o anonimato

A sempre antenada Alessandra Alves deixou quicando e então vou rebater com um post sobre o Festival MPB-Shell de 1981.

Eu assisti o primeiro ao qual ela se referiu, um ano antes, e não gostei nem um pouco da música vencedora, "Agonia", ainda mais com o chato do Oswaldo Montenegro. Eu me amarrava em "Reunião de Bacana", com o grupo Exporta Samba de Almir Guineto, cuja letra tinha a seguinte estrofe:

Se gritar pega ladrão
Não fica um, meu irmão
Se gritar pega ladrão
Não fica um

Sintomático, não?

Enfim, Oswaldo ganhou projeção nacional, ficou ainda mais chato do que já era e em 1981, a Rede Globo abriu inscrições para mais um festival, agora com patrocínio da Shell. Foram sessenta músicas classificadas, cinco eliminatórias e quatro passavam em cada fase para a finalíssima no Maracanãzinho.

Almir Guineto, que fez sucesso com o Exporta Samba em 80, voltou solo em "Mordomia", de Ari do Cavaco e Gracinha do Salgueiro. E classificou-se para a final na primeira eliminatória, onde uma tal Rosana ganhou como consolação o prêmio de melhor intérprete, além de classificar "Pensei Que Fosse Fácil (Mas Não É)".

Não lembro de nada da segunda eliminatória e na terceira, como curiosidade, um certo Lenine apareceu interpretando a canção "Prova de Fogo", dele e de José Rocha. A música foi eliminada, mas Kleiton e Kledir, irmãos gaúchos que já faziam muito sucesso na MPB, emplacaram "Navega Coração".

A quarta eliminatória revelou um dos grupos mais simpáticos e efêmeros do rock brasileiro: Gang 90 & Absurdettes, com a hilária "Perdidos na Selva" em ótima performance de Júlio Barroso e das meninas May East (May Pinheiro), Lonita Renaux (Denise Barroso, irmã de Júlio), a holandesa Alice Pink Pank e Luíza Cunha, cujo marido, Guilherme Arantes, classificou "Planeta Água", a favorita imediata do público.

Houve também a inacreditável classificação de "Balão", música de Nando e Geraldo Carneiro, interpretada (mal) pela mulher deste último - a atriz Beth Goulart.

A quinta e última fase de classificação teve também Lulu Santos, que cantou e não classificou a ótima "Areias Escaldantes" - vai entender... Enquanto isso, Lucinha Lins levava "Purpurina" para a final. Ela até cantava melhor que Beth Goulart, mas a música não era lá essas coisas.

Em 12 de setembro, numa noite de inverno quase primavera, aconteceu a final. "Perdidos na Selva" foi a terceira apresentada das 20 classificadas, mas desta vez Júlio e as Absurdettes foram mal e a música não levou nada. Beth Goulart foi apupada por um Maracanãzinho abarrotado, que vaiou impiedosamente sua desafinação em "Balão" e na música seguinte cantou em uníssono a "Mordomia" de Almir Guineto.

Quando Guilherme Arantes pisou no palco e tomou assento ao piano, um frisson se elevou no ginásio e a galera foi junto com o cantor, consagrando "Planeta Água" como a grande favorita ao primeiro lugar. As outras músicas passaram batidas ou despercebidas, entre elas "Purpurina".

Então veio o resultado, através dos votos dos jurados, bem como os prêmios de melhor arranjo e intérprete. A menção a Lucinha Lins como a melhor intérprete da final deixou o público com a pulga atrás da orelha. E o resultado final se encarregaria de pôr pra fora a boa e velha vaia que andava longe dos festivais fazia tempo.

"Mordomia" ficou em terceiro lugar e "Planeta Água", a favorita da torcida, foi relegada ao segundo lugar. E quem ganhou?

Pois é, ganhou "Purpurina" e o público reagiu ao estilo dos anos 60 e 70, vaiando e apontando polegares para baixo em sinal de reprovação. Lucinha subiu ao palco acompanhada do então marido Ivan Lins (coincidentemente em 1970 ela esteve com ele no mesmo Maracanãzinho quando Ivan cantou no FIC a música "O Amor é Meu País", vice de "BR-3" naquele ano) e desafinou horrores na hora de reapresentar a música, rejeitadíssima de antemão.

"Planeta Água" tocou horrores nas rádios e se tornou um sucesso. "Mordomia" caiu no gosto popular. "Perdidos Na Selva" e "Areias Escaldantes" viraram hits entre os jovens. Mas "Purpurina", assim como algumas outras vencedoras de festivais - vide "Kyrie", campeã do FIC de 1971 e "Como Um Ladrão", vencedora do Abertura em 1975, despontou para o anonimato.

Ainda bem.

7 comentários:

L-A. Pandini disse...

Mattar, uma das imagens mais marcantes do festival de 1981 foi a imagem da Lucinha Lins chorando no palco, antes de começar a cantar sua "Purpurina" na final. O público não teve dó da moça. Mas que a música era fraca demais, era.

Alessandra Alves disse...

putz, acredita que enquanto eu escrevia sobre o dus(s)ek me deu vontade de escrever sobre esses festivais da globo? ainda bem que você o fez.

eu me lembro mais do primeiro, aquele de 80, mas lendo seu relato sobre a final do de 81, revivi nitidamente tudo aquilo. a música do kleiton & kledir era ótima, com uma letra quase primorosa ("e nem piratas, nem borrascas, nem dragões/ vão me impedir de ser feliz/ de levantar a minha âncora e partir"). só achava aquele refrão meio pobre, uma espécie de anti-clímax. mas isso começou a detonar minha paixão avassaladora por kleiton & kledir. quer dizer, pelo kledir, mas isso é outra história.

de novo, eu estava com a massa, torcendo pela ecológica "planeta água".

aqueles dois festivais foram um marco para mim, eu me senti participando de um tempo que não era meu, como se tivesse viajado no tempo e desembarcado nos anos 60. depois, já aluna da usp, quando vivi minha primeira greve, então, ah, que orgulho! como era bom brincar de guerrilheiro, forasteiro, orra meu!

Mestre Joca disse...

Bem lembrado, Mattar!!
Uma das mais tristes cenas da MPB brasileira, Lucinha Lins tentando cantar (e defender) a indefensável e execrável "Purpurina", sob uma das mais acachapantes vaias que um artista brasileiro teve a infelicidade de levar. Sem retorno de som e naquela algaravia, Lucinha tentou manter a serenidade e um pouco de dign idade, desafinando terrivelmente, o que só aumentou o apupo da massa ignara!!
Vaia equivalente somente talvez a de Sérgio Ricardo, e o seu "Beto bom de bola", naquele Festival da Record (creio) onde se notabilizou finalmente ao atirar o violão no público. Grandes tempos!!!

Anônimo disse...

Além do desconforto da Lucinha, pior pra mim foi a Torcida DESCARADA da Paula Saldanha pela musica do Guilherme Arantes. Afinal naquela noite ela é que era uma das apresentadoras e isso foi fora dos padrões Globais.

Anônimo disse...

Rodrigo,

Não dá para não escrever. O Fluzão está chegando e os críticos e torcedoes de plantão estão achando chifre em cabeça de burro, basta ouvir o Sergio Bichonha, que ontem disse que o Flu deu muita sorte, mas ele não se lembrou que o Flu jogava com o regulamento e também nunca se lembrou que aqui no Maraca era para ter sido de 5 ou 6, mas isso é demais para esta Senhora.
Espero que façamos o primeiro jogo no Rio, pois acho que é mais vantajoso levar para a casa adversária uma vantagem, porque isso já bota pressão nos caras.

Saudações Tricolores!!!

Alessandra Alves disse...

caíque: a paula saldanha tinha o cabelo mais bonito da televisão, ela era meu modelo quando eu era criança!

Anônimo disse...

Alessandra, ela era muito bonita e desde aquela época era voltada para a Ecologia....