O juri oficial do 60º Festival de Cannes entregou neste domingo a Palma de Ouro ao filme romeno "4 meses, 3 semanas e 2 dias" (4 luni, 3 saptamini si zile), de Cristian Mungiu, um impressionante relato de um aborto ilegal na Romênia dos anos oitenta.
O longa-metragem é o primeiro capítulo da "Série: contos da idade de ouro", que o diretor Cristian Mungiu, de 39 anos, tem a intenção de realizar a partir de sua própria experiência na juventude.
O filme narra um aborto praticado por uma estudante que divide quarto com uma amiga em uma cidade universitária. As duas jovens recorrem inocentemente a um "especialista" que as fará viver um pesadelo.
Mungiu opta por uma grande sobriedade narrativa, sem grandes movimentos de câmera, recorrendo a cores fracas, tons cinzentos e esverdeados, uma luz irreal. O resultado parece talhado com um bisturi.
As personagens falam bastante, mas o filme traz também muitas idéias visuais, o conjunto deixa uma sensação persistente de sordidez.
"Uma lei proibiu o aborto em 1966 e o efeito foi imediato, o número de crianças nas salas de aula passou de 28 para 36, as aulas nas escolas aumentaram de duas para dez, as mulheres começaram a recorrer aos abortos ilegais e as estatísticas mostram meio milhão de crianças mortas", explica o diretor.
"Neste contexto, o aborto perdeu qualquer conotação moral e foi entendido como um ato de rebelião e resistência contra o regime comunista", acrescenta Mungiu, premiado em Cannes em seu segundo longa-metragem.Cristian Mungiu é um dos diretores do movimento "Pós-dezembro", que designa o período que se seguiu à queda do regime Ceaucescu, em dezembro de 1989.
Nascido em 1968 em Lasi, Cristian Mungiu estudou literatura inglesa e americana na Universidade de sua cidade natal antes de se formar como diretor de cinema na escola de Bucareste.Primeiro, trabalhou como professor e depois, em veículos de comunicação até 1994.
Durante seus estudos cinematográficos, atuou como ajudante de direção em filmes estrangeiros na Romênia, como os franceses "Capitão Conan", de Bertrand Tavernier, e "Trem da vida", de Radu Milhaileanu.
Uma vez diplomado, dirigiu vários curtas-metragens antes de chamar a atenção com seu primeiro longa, "Ocidente", apresentado na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes em 2002, prenúncio de sua grande conquista no grande festival francês de cinema.
Fonte: UOL
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