domingo, 20 de maio de 2007

Moreno, o pequeno grande guerreiro


Em 29 anos acompanhando automobilismo, primeiro como torcedor e depois como profissional, nunca vi um piloto tão batalhador e guerreiro quanto Roberto Pupo Moreno.

O "Baixo" já correu de tudo nessa vida - do kart à Fórmula 1, nas melhores e piores condições que um piloto deve enfrentar. Nunca fez carreira no Brasil - dos micromonopostos, se mandou para a Europa em 1979 e mesmo sem qualquer patrocínio vultoso, mostrou garra, talento e muita, muita dedicação.

Tamanho empenho lhe valeu postos preciosos, como o de piloto de teste de lendas do automobilismo como Lotus e Ferrari e a chance de bater os maiores pilotos da F-1 nos anos 80 numa prova de Fórmula Atlantic realizada na Austrália.

Moreno venceu também o GP de Macau, a Fórmula 3000 Intercontinental, dividiu pódio com o velho amigo Nelson Piquet, ganhou provas na CART, teve reconhecimento como super sub (Super Substituto) pela capacidade de se adaptar a qualquer tipo de carro, circuito e circunstância.

Por isso, nesses últimos 28 anos, foi tão requisitado por inúmeras escuderias nas mais diversas categorias do automobilismo.

Querem outra prova do seu valor?

Na quinta-feira, dia 17, o francês Stephan Gregoire treinava - e bem - com o Panoz Honda da equipe Chastain Motorsports, visando a classificação de sábado para as 500 Milhas de Indianápolis. De súbito, ele perdeu o controle do carro na curva 2 e bateu.

Saldo da pancada: fratura na T3 (terceira vértebra cervical), internação no Hospital Metodista de Indianápolis e fim do sonho para ele.

Tom Chastain, dono da pequena escuderia, não teve dúvidas: procurou Moreno, convidando-o a assumir o volante do carro azul, número 77 - sem qualquer inscrição de patrocínio. O brasileiro estava em Indianápolis para supostamente guiar o carro de uma equipe que estava inscrita e sequer apareceu (Cabble) e aproveitou a estada para assistir aos treinos. Foi sua sorte, pois Tom o convenceu a ficar mais uns dias no circuito.

Vale lembrar que hoje Moreno tem 48 anos de idade e não se convoca um piloto para qualificar um carro apenas por seus belos olhos. Chastain sabia que podia contar com Moreno para o que desse e viesse.

O brasileiro fez o molde do banco e ontem travou o primeiro contato com sua nova barata. E após umas poucas voltas, foi para as quatro que determinariam sua posição no grid. E com um agregado em torno de 216 mph, Moreno conseguiu o 31º lugar no pelotão de 33 carros - em torno de uma milha e meia mais veloz que Jimmy Kite, o último colocado até então.

Veio o Bump Day neste domingo, para definir o grid. Richie Hearn, outro veterano, entrou na pista com o Dallara da Racing Professionals / Hemelgarn, inscrito de última hora, e cravou 219.860 mph, jogando Kite para a "bolha", que é como os americanos chamam o processo de eliminação.

Phil Giebler, que depois de três ótimas voltas no sábado bateu e perdeu a chance de qualificação, entrou com o Panoz da Playa del Racing na pista. E não decepcionou: foi mais lento que a sua média de ontem, mas com 219.637 mph, classificou-se e obrigou Jimmy Kite a tentar de novo. Além disso, Moreno foi para a "bolha", com o pior tempo dos 33 classificados.

Equanto Kite e PJ Jones não extraíam velocidade de seus carros, o brasileiro partiu para o tudo ou nada: abortou sua volta do sábado e foi para uma nova tentativa de qualificação. E num desempenho extraordinário para quem teve apenas um dia e meio de acertos, virou 220.299 mph, batendo os tempos de Hearn e Giebler e garantindo-se na 31ª posição do grid. E com um carro construído em 2003!

Marty Roth, o perigoso canadense, ficou na "bolha" e na última meia hora o drama tomou conta do circuito de Indianápolis. Kent Baker, chefe da equipe Leader-Doolander, retirou PJ Jones do treino sob lágrimas, lamentando não poder dar ao filho de Parnelli Jones um carro à altura da homenagem ao velho campeão da Indy 500.

E Jimmy Kite, que jamais virou voltas acima de 218 mph nos treinos, ainda foi para a pista tentar o impossível - eliminar Marty Roth do grid. Como na sua primeira volta rápida, andou apenas em 215 mph, o piloto da Geórgia ficou de fora da prova.

Roberto Moreno, emocionado, chorou com Tom Chastain comemorando sua terceira presença nas 500 Milhas. Oito anos depois de andar com um G-Force da extinta equipe Truscelli, o "Baixo" que correra também em 1986 pela Galles, está de volta!

6 comentários:

Felipão disse...

Muito merecido. E ele nunca desistiu de batalhar...

Grande Moreno!

Anônimo disse...

Grande Moreno,é impressionante o talento desse homem...como sabe acertar um carro...e como se adapta bem a qualquer carroça que lhe é oferecido...
Boa sorte Moreno!!!

Leandro Santos

Anônimo disse...

Que bela surpresa não!
É mais um motivo para ver a corrida domingo,e esse chassis do Moreno ,apesar de 2003, sempre andou bem em super oval e se ele tiver um bom motor para a corrida pode até fazer um bom papel, mas com certeza o Moreno deve estar muito contente.
É fantastico esse sistema de classificação de Indianapolis ,é uma oportunidade de destaque para quem está lá atras .

Jonny'O

Anônimo disse...

Quando cheguei em Brasília para cursar a UnB em 1979 precisei de fotografias para uns documentos. Como o pessoal que conhecia era todo novo na cidade, fui até a rodoviária do Plano Piloto e procurei um lambe-lambe para tirar as fotos. Enquanto esperava a revelação, reparei um quandro com cópias de fotos tiradas anteriormente. Uma me chamou a atenção: era uma foto tamanho passaporte do Pupo Moreno...

Ludimar

Mestre Joca disse...

Uma das boas lembranças que guardo é o do Moreno, ainda imberbe (tinha o apelido de Chaveirinho)lutando, como sempre, com o equipamento inferior num Campeonato Brasileiro de kart, disputado no Guará, lá por 77 ou 78.
Foi campeão brasileiro na antiga categoria Segunda 125 cc em 1976, realizado no Rio no kartódromo do Maqui Mundi.

Anônimo disse...

Não tem como não torcer pelo Moreno. Toda a nossa torcida para ele na Indy.

Wallace MIchel