quinta-feira, 31 de maio de 2007

Memória Le Mans - "Fritz d'Orey"

Ferrari de William Sturgis / Fritz d'Orey - 6º lugar nas 12 Horas de Sebring

Conheci pessoalmente o piloto Fritz d'Orey em março último, no autódromo de Jacarepaguá (ou no que restou dele...), por ocasião da rodada dupla inaugural da GT3 Cup Challenge Brasil. Convidado pelos organizadores, ele e Jean-Louis Lacerda Soares ganharam homenagens pelos serviços prestados ao automobilismo.

Depois, nos sentamos e conversamos por uns 15 minutos. Uma entrevista que entrou - em grande parte - no Grid Motor, onde ele contou sua história de piloto, conquistas, perdas e tristezas.

Uma delas, confessou-me, foi nunca ter podido mostrar seu valor como representante do Brasil na Fórmula 1. E tudo porque em 1960, ano em que tinha apenas 22 anos de idade, foi obrigado a encerrar prematuramente a sua carreira.

Naquela época, d'Orey era considerado o mais promissor dos nossos pilotos. Jovem, rápido e competente, vencera os 500 km de Interlagos derrotando lendas como Camillo Christófaro, o "Lobo do Canindé", Celso Lara Barberis e Chico Landi. Foi levado para a Europa em 1959 por Juan Manuel Fangio, que o viu correr aqui e ficou impressionado com sua velocidade e performance.

Ele chegou em 10º no GP da França de F-1, no circuito de Reims-Guex e abandonou em Aintree, na Inglaterra. Em ambas as provas correu com uma velha Maserati 250F. Disputou também eventos de subida de montanha e provas de Fórmula Júnior. Em Messina (Itália), venceu uma corrida desta categoria com um Fiat-Stanguellini, prova em que outro brasileiro - Christian "Bino" Heins - chegou em segundo. Foi aliás a segunda vitória de um piloto do país no exterior desde a conquista do GP de Bari por Chico Landi, onze anos antes.

Fritz fez o GP dos EUA com um Tec-Mec e abandonou logo, em razão de um problema mecânico. Mal sabia ele que seria sua terceira e última prova de Fórmula 1.

E o ano de 1960 tinha tudo para ser promissor, pois assinara um contrato com a Ferrari, para fazer provas de Carros-Esporte, além de desenvolver o primeiro F-1 com motor traseiro, que o fabricante italiano estrearia com pompa em 1961 - quer dizer: d'Orey estava com a faca e o queijo na mão para se tornar piloto oficial da casa de Maranello e quem sabe guiar na categoria máxima com o novo carro.

Em 26 de março, alinhou com William Sturgis para a disputa das 12 Horas de Sebring, numa Ferrari 250 GT SWB (a da foto lá em cima). Chegaram em sexto na classificação geral e quarto na categoria Esporte até 3 litros. Um resultado ultra promissor.

O desafio seguinte seria as 24 Horas de Le Mans. Ele foi inscrito pela equipe Sereníssima, então uma espécie de segundo escalão da Ferrari, com a mesma 250 GT SWB de Sebring. Ele teria como parceiros Carlo Maria Abate e Gianni Balzarini. Mas um acidente grave pôs fim ao sonho.

“Foi no meio da reta, antes da Maison Blanche, meu carro foi fechado por um Jaguar, saiu da pista a uns 270 km/h, bateu numa árvore, de lado, partindo-se ao meio, e eu fiquei jogado no meio do mato, ao lado da pista. Por conta disso passei 8 meses internado num hospital e minha carreira acabou.”

Não faltou gente que noticiasse a morte do piloto brasileiro, que passou dois meses em Paris depois do período de internação. Fritz refez a vida e depois de viver um tempo na França e se aposentar, voltou a morar no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro.

Ferrarista doente, ficou possesso quando Rubens Barrichello deu passagem a Michael Schumacher no fatídico 11 de maio de 2002. E há quem diga que se fosse ele, jamais teria feito tal coisa. Pena que os dados do destino rolaram contra ele, que no próximo ano comemorará 70 anos de vida.

3 comentários:

Mestre Joca disse...

Desde a vitória de Fritz D'Orey em 59, somente tivemos outra vitória internacional em 1968, quando Ricardo Achcar venceu em Oulton Park na F-Ford.

Dinho Amaral disse...

Le Mans é a pedra no calcanhar dos Brasileiros....será que nunca vamos ter um vencedor na geral ? é um fato....somos os melhores mas nunca vencemos em Le Mans....ou seja não somos os melhores....

Alexandre Carvalho disse...

Em 2002, fui entrevistar o Fritz em sua casa, em Copacabana, para o portal Forix.

Como hoje o site é fechado para assinantes, publiquei recentemente a entrevista na íntegra em meu blog, o F1 Tales. Quem quiser, pode conferir aqui.