Tem coisas que a gente não esquece: a primeira transa (bom... essa eu prefiro deixar pra lá), o primeiro beijo, a primeira namorada ou até mesmo a primeira viagem nas drogas.
Eu com certeza não consigo esquecer do primeiro porre que amarrei, aos 14 anos, puto da vida porque numa festa que eu fui estava uma menina que nunca me deu bola. Em vez de me comportar feito gente e esquecer a situação, fiz o contrário: enchi a cara e dei um fora numa menina que queria dançar comigo. Olha que coisa absurda... e que você só tem noção da merda que fez depois que cresce e pensa que tomou juízo.
E não esqueço - nunca vou esquecer - do primeiro LP que ganhei. Do bom e velho vinil, ou bolachão, como queiram.
Na minha casa, nunca faltou música. Boa ou não, não interessa. Minha mãe, como todas dos anos 70, se derretia por Roberto Carlos e Nat King Cole - ela, mais ainda porque ele cantava uma música de "ojos verdes" e a minha mãe tem olhos nesta cor, lindos.
Meu pai curtia muito os discos de sambas-enredo do carnaval carioca (lembro que ele tinha os de 1969 e 1970 e de 1974 até ir embora de casa, teve todos), de João Nogueira, Roberto Ribeiro, Clara Nunes - que ele adorava! - João Bosco e Martinho da Vila.
De música estrangeira, acho que ele curtia Supremes, Elton John e outros bichos. Tanto que havia um disco das Supremes (editado pela extinta gravadora Tapecar) em casa. E mesmo com três ou quatro anos de idade, a música me interessava muito - ainda que não falasse direito sequer o português, quanto mais inglês.
Mas os comerciais falando do lançamento de um disco chamado "Greatest Hits" me chamavam a atenção. Pelo visual extravagante do sujeito, que adorava chapelões, botas, óculos imensos, eu morria de rir daquela bizarrice toda. Um belo dia, no início de 1975, pedi ao meu pai o primeiro LP da minha vida. E ele nem precisou perguntar o que é que eu queria.
Voltou do trabalho com um disco embrulhado para presente: era exatamente o álbum do Elton John! Ele botou na vitrola e ficou ouvindo, ouvindo, ouvindo... com certeza gostou muito mais do que eu, que só achava graça em "Crocodile Rock" e em "Saturday's Night Alright For Fighting".
A gente tinha um aparelho de som (não lembro a marca) que um belo dia quebrou. Pifou. E ficamos sem ouvir os vinis que tínhamos por alguns anos - três ou quatro. E a gente tinha uma boa quantidade de discos em casa. Aí meus pais entraram na famosa crise conjugal, porque o velho arrumou uma amante 13 anos mais nova que ele (que tinha 42 anos). Resultado: meu pai foi embora, levou os melhores discos com ele e se separou da minha mãe.
Eu tive rádio nessa entressafra, um Pioneer que pegava até estações de fora do Brasil. E também um walkman, de forma que só me restavam comprar fitas cassete. Mas aí quando fiz 15 anos me permiti a ousadia: pedi um aparelho de som zerinho, de presente de aniversário.
Não esperava ser atendido assim tão fácil. O aparelho não era grande coisa, mas funcionava. Era da marca Sanyo e como todos os daquele tempo, não tinha ainda CD player. Desandei a comprar discos novos, de Legião Urbana a Duran Duran, que era o que eu ouvia na época. Mas um belo dia fui procurar as velharias. E qual não foi minha surpresa ao ver, com a capa rota pelo tempo e o vinil meio arranhado, o velho "Greatest Hits" - meu primeiro disco de todos.
Aí eu já sabia quem era Elton John, o que ele tocava, e gostava muito de suas músicas. E desde que ouvi a primeira faixa, a excepcional "Your Song", desandei a ouvir o LP, mesmo que arranhado.
Troquei a vitrola pelos CDs definitivamente em 1994, mais ou menos. Cheguei a achar o antigo vinil já na versão de Compact Disc na loja de discos (acredito que extinta) Gramophone. Mas era algo como "versão gold", estava caro e não o comprei. Paciência: com a tecnologia de hoje, onde o mp3 se acha à vontade, tenho acesso a todas as músicas do álbum.
E vira e mexe, como quando nessa semana, pego alguns dos CDs que fiz aqui em casa e vim ouvir no laptop. Quando tocou "Rocket Man", na penúltima estrofe, um arrepio me percorreu a espinha, de tanta emoção ao ouvir uma música que eu sabia que existia na minha infância, mas não sabia ser tão bonita quanto é de fato.
She packed my bag last night, preflight
Zero hour, nine a.m.
And I'm gonna be high
As a kite by then
I miss the earth so much
I miss my wife
It's lonely out in space
On such a timeless flight
And I think it's gonna be a long, long, time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Ah, no no no...
I'm a rocket man
Rocket man
Burnin' out his fuse
Up here alone
Mars ain't the kind of place
To raise your kids
In fact, it's cold as hell
And there's no one there to raise them
If you did
And all this science
I don't understand
It's just my job
Five days a week
A rocket man
Rocket man
And I think it's gonna be a long, long, time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Ah, no no no...
I'm a rocket man
Rocket Man
Burnin' out his fuse
Up here alone
But I think it's gonna be a long, long, time...
Girl, I think it's gonnna be a long, long, time...
3 comentários:
Texto muito bem feito. Tanto é, que me deixou com mais vontade ainda de consertar o toca-discos que tenho na minha casa, e não o "boto prá quebrar" há, veja só, uns 3, 4 anos.
É uma boa coisa para se fazer nestas semanas. Tentar consertar o vitrolão velho do pai, rs.
Aliás, alguma sugestão de lugar para se consertar isso, aqui em São Paulo?
Valeu, abraço.
mattar, muito bem por render honras a elton john, um cara habitualmente tratado com narizes tortos pela crítica convencional.
gosto muito de várias coisas que ele fez, como a própria rocket man, don´t go breaking my heart, naquele dueto memorável com kiki dee, a-do-ro a melosa skyline pigeon, e sempre tenho que segurar uma lagriminha teimosa ao ouvir empty garden.
é um grande melodista o elton john, e uma grande figura, saído do armário, bem resolvido, e ainda por cima foi dono de um time de futebol! ave, elton john!
Camarada, mais uma vez tu me inspiraste. Dá uma olhadinha no meu blog... Abração.
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