segunda-feira, 23 de julho de 2007

De lixo a gênio

O futebol faz do torcedor o ser mais passional do universo.

Aqui no Brasil, os jornalistas dos anos 40 a 60 nunca se furtaram em declarar abertamente suas preferências. Todo mundo que via a lendária Resenha Facit da TV Rio e depois da Globo, sabia que Nelson Rodrigues era tricolor ardente; José Maria Scassa, rubro-negro; e Armando Nogueira e Luiz Mendes, botafoguenses.

Mas um hiato se formou entre esta as gerações futuras, que preferiram manter suas preferências no "anonimato". Alguém, por exemplo, sabe de fato pra qual time torce o Cleber Machado?

Bom, isto não vem mais ao caso. Vou descrever uma história contada por um amigo jornalista, cujo nome vou manter anônimo, que ilustra bem como são as coisas.

O ano era 1976, um dos piores da história do Santos FC. Na ocasião, o Peixe contratara Nílton Batata, um pontinha direita revelado pelo Atlético Paranaense e durante o Campeonato Paulista, o reforço ainda não tinha justificado o investimento. Certa feita, o nosso personagem e um grupo de amigos foram a um jogo do Santos contra o Noroeste de Bauru. Da praia foram direto pra Vila, de sungão, camiseta e sandália havaiana.

Os bares para a torcida ficavam bem abaixo das escadas e quem já foi no alçapão santista sabe do que estou falando. E o grupo ficou bebendo cerveja até o jogo começar. Aí o nosso amigo sugeriu: "vamos ver o jogo do lado onde ataca o Santos."

Eles ficaram no alambrado que dá para as sociais, onde também ficam as cabines de rádio e TV. E exatamente na extrema-direita onde Nílton Batata tentava suas jogadas. Já calibrado pela cerveja, começou a berrar, a plenos pulmões:

"Ô Nilton Batata... você é um merda!"

Tamanha revolta começou a surtir efeito contrário no atacante, que partia pra dentro do defensor do Noroeste e nada... nenhuma jogada saía direito.

"Ô Nilton Batata... você é um merda... um bosta!"

E assim foi. Nisso, o Noroeste fez um gol e o Santos, que já tinha péssima campanha, saiu de campo vaiado no fim do primeiro tempo.

Na volta pra etapa final, eles foram lá para o lado oposto pentelhar o Nílton Batata, especialmente o bravo amigo, que continuou provocando o ponta.

"Ô Nilton Batata... você é um merda... não joga nada..."

Ele ficava olhando para ver quem é que o xingava tanto e quando descobriu, virou o capeta em campo. Resolveu jogar bola e aí a situação mudou.

Quarenta e um do segundo tempo e Nílton Batata cruzou uma bola pra área e o atacante santista mandou pras redes. Gol do Peixe, comemoração nas arquibancadas.... e o atacante esperando pela reação do nosso personagem, que não veio.

Perto dos acréscimos, Nílton pegou a bola na extrema direita, passou por um, dois, três e chutou com força, cruzado, no canto. Gol do Santos e vitória de virada por 2 x 1.

O atacante foi em direção à torcida, precisamente para responder ao outrora irado amigo, que respondeu na lata.

"Nilton Batata... você é um gênio!"

E o jogador do Santos, sem entender patavina, retrucou:

"Ah... porra... vai tomar no cu!"

O torcedor de futebol é ou não é o ser mais passional do universo?

8 comentários:

Anônimo disse...

sensacional esse caso, me faz lembrar um bem parecido que aconteceu comigo aqui em BH, eu e mais 2 amigos fomos pro Mineirao assistir Cruzeiro e Portuguesa de Desportos...a gente na geral,domingo a tarde,sol a pino,jogo horroroso e ficavamos xingando o Balu, um lateral direito que jogou por essas bandas, segundo tempo, Balu vai me bater um corner e a bola nem entra em campo, sai por fora..dai um amigo meu me solta essa: " Que beleza hein Balu ???? " e nao e que o mesmo vira pra gente e solta a perola:
" Ta falando serio ???? "
putz, parece que foi ontem...geral do Mineirao e sensacional...quem foi sabe...

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Rodrigo,

O Cleber Machado é torcedor do Santos, agora o Luis Roberto é realmente torcedor do Flu? Porque o Luis Carlos Jr. eu sei que é.

Rodrigo Mattar disse...

Luis Roberto é torcedor do São Paulo e do Botafogo - pelo menos é o que ele diz. O Luiz Carlos é tricolor confesso. Abrs.

Fabio Camargo disse...

E o Galvão Bueno também é Flu, não é? O pessoal insiste em dizer que ele é corintiano, mas vi uma vez na Stock Car, anos atrás, após uma vitória do Cacá, os dois comemorando com a bandeira do Flu; se não me engano, o Flu conquistara algum título, algo assim.. enfim, pq estou falando do Galvão? haha

Opa, o Luis Roberto é são-paulino? Que maravilha, hehe! :)

Abraço.

Anônimo disse...

Pra mim o Cleber Machado e palmeirense...

Anônimo disse...

Rodrigo, sei que o blog é seu e você faz com ele o que quiser, mas estranhei o comentário que fiz ter sido excluído depois de publicado.
Escrevi alguma coisa que não devia, ou que te incomodou? De qualquer forma, me desculpe.
Deixo meu e-mail, caso queira entrar em contato: rnfonseca@terra.com.br
Abraços!

Anônimo disse...

O Cleber é Santista, já li numas três revistas e no Orkut. O Galvão é Rubro-Negro e Palmeirense, apenas o Cacá tem bom gosto e é Tricolor, o verdadeiro, porque o resto são clubes de três cores, como bem diziz Nelson Rodrigues. O Cacá colou dois escudos do Flu quando o Clube completava 100 anos de Glória, inclusive subiu ao Pódio com a camisa Tricolor.