Não vi o Live Earth - nada, rigorosamente nada. Nenhum show, nenhuma música tocada, nenhum artista. Também pudera... depois que incluíram a Xuxa na listagem de apresentações em Copacabana...
Como bem lembrou o amigo Bruno Vicaria em seu blog, o Live Aid, inciativa de Bob Geldof para uma causa muito mais nobre do que as politicamente corretas que vêm permeando o planeta nos últimos anos, como evento foi infinitamente superior.
Neste mesmo post, ele lembrou de outros festivais de rock como o Monsters of Rock - patrocinado pela Philips e o Hollywood Rock, em sua fase mais recente.
Recente mesmo pois, em 1975, aconteceu a primeira edição do festival que tinha o nome do cigarro mais vendido da Cia. Souza Cruz, até hoje. O evento foi produzido por Nelson Motta e Carlos Alberto Sion e aconteceu em quatro sábados no verão daquele ano, no antigo campo do Botafogo, em General Severiano.
Entre os artistas convidados, Nelson e sua equipe de produção conseguiram fazer um mix de jovens valores e nomes consagrados que só existiu nos Festivais da Record e nos FIC da Rede Globo. O cast tinha novíssimos grupos como O Peso, A Bolha e Vímana, além de Raul Seixas, Rita Lee, Erasmo Carlos e ninguém menos que Celly Campello, que estava havia 12 anos afastada do meio musical.
Problemas técnicos afetaram os shows e também o registro documental em vídeo, feito por Marcelo França com o auxílio luxuoso da Embrafilme. Ritmo Alucinante - a Explosão do Rock no Brasil hoje é encontrado na internet com alguma facilidade e vale a pena ser visto e revisto, especialmente pelos fãs de Rita Lee, que encontrarão imagens da rainha do rock brasileiro como nunca antes reveladas. Uma mulher sexy e muito segura como cantora e compositora, liderando o ótimo grupo Tutti Frutti com Luiz Sérgio Carlini, Emílson Colantônio e Lee Marcucci.
Os novos grupos ganharam espaço, como A Bolha, o Vímana - cuja performance foi prejudicada pela má qualidade do som - e O Peso, com brilhante interpretação do vocalista Luiz Carlos Porto e a polêmica "Cabeça Feita", música de Tibério Gaspar que deu uma tremenda bandeira sobre o uso de maconha em plena ditadura militar. "Com a cabeça feita pra não dar bobeira..."
Pausa para as entrevistas: antes dos shows, imagens inéditas de Scarlet Moon de Chevallier entrevistando Erasmo Carlos e Celly Campello. O primeiro ressaltou que, apesar das influências do iê-iê-iê na Jovem Guarda, sua música era "a mais brasileira possível". E Celly lembrou a dificuldade que havia em se gravar rock no Brasil, especialmente no que tangia à quase obrigatoriedade de se gravar versões de músicas estrangeiras. Vale lembrar que ela não escapou do clichê pois "Banho de Lua" é uma versão de Fred Jorge para a italianíssima "Tintarella di Luna".
Mas o melhor do filme fica para o fim. Vinte minutos de Raul Seixas, em ação com a ótima banda montada por ele para o festival, com Fredera na guitarra, Arnaldo Brandão no baixo e Gustavo Schroeter na bateria. Completamente alucinado e mais abusado do que nunca, o magro baiano não deixa por menos e encerra sua - histórica - apresentação com o manifesto da Sociedade Alternativa, lido em altos brados pelo roqueiro e recebido com delírio e estupefação pelos mais de 20 mil jovens presentes ao campinho de General Severiano.
Por um instante, pareceu que não estávamos em 1975, no auge da ditadura militar brasileira...
2 comentários:
Perdeste ao menos o grande retorno do The Police!
eu vi uns pedaços...vi o Roger Watters, vi uma parte do show do Metallica, vi uma parte do show do Keane...me pareceu bacana,mas longe, muito longe do Live Aid ou de outros do genero...
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