terça-feira, 26 de junho de 2007

Onde é que nós estamos?

A relação imprensa-poder-políticos-presidentes vai de mal a pior na América Latina. Não viram o que Hugo Chávez fez com a tradicional emissora RCTV?

É como se um dos nossos governantes quisesse fechar a Globo, ou a Bandeirantes, ou o SBT. É uma medida arbitrária, ditatorial e anti-constitucional.

A censura, que por muito tempo imperou neste país, obra e graça da revolução que chamaram (não sei porque) de "A Redentora", que influenciou de forma negativa nos jornais, rádios, televisões, na produção cultural - especialmente na música, no cinema e no teatro - e na publicação de livros, está de volta sob forma de uma decisão do TSE em determinar a retirada de um comentário de Arnaldo Jabor do site da CBN.

Ora, será que isto é só porque ele mete o dedo em muitas feridas purulentas, abertas e diria até impossíveis de se fecharem?

Porque ele tem coragem suficiente - e respaldo - para poder escrever e dizer o que pensa?

Ou porque os donos do poder que lá estão em Brasília - do presidente a seus ministros, sem esquecer dos outros integrantes do Executivo - têm medo que se descubram mais coisas sobre eles? Mais do que tivemos visto recentemente com os escândalos envolvendo Renan Calheiros e Joaquim Roriz?

Pode parecer absurda uma indignação assim vinda de um blogueiro que fez na campanha passada uma candente defesa pela reeleição do Lula. É porque eu esperava que ao menos agora ele tomasse vergonha e não repetisse os erros do fim do seu primeiro mandato.

Mas não mudou nada. NADA!

No país do "relaxa e goza", as coisas vão indo de mal a pior e é nosso dever evitar que isto aqui vire literalmente a Casa da Noca, onde a Luzia deixa um presente desagradável na horta.

Abaixo transcrevo o texto tido como ofensivo ao governo atual.

A VERDADE ESTÁ NA CARA, MAS NÃO SE IMPÕE
(por Arnaldo Jabor)

O que foi que nos aconteceu?

No Brasil, estamos diante de acontecimentos inexplicáveis, ou melhor,"explicáveis" demais.

Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas.

Tudo já aconteceu e nada acontece. Os culpados estão catalogados, fichados, e nada rola.

A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe.

Isto é uma situação inédita na história brasileira.

Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político.

Infiltrada no labirinto das oligarquias, claro que não esquecemos a supressão, a proibição da verdade durante a ditadura, mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada.

Os fatos reais: com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos.

Os culpados são todos conhecidos, tudo está decifrado, os cheques assinados, as contas no estrangeiro, os tapes, as provas irrefutáveis, mas o governo psicopata de Lula nega e ignora tudo.

Questionado ou flagrado, o psicopata não se responsabiliza por suas ações.

Sempre se acha inocente ou vítima do mundo, do qual tem de se vingar.

O outro não existe para ele e não sente nem remorso nem vergonha do que faz.

Mente compulsivamente, acreditando na própria mentira, para conseguir poder.

Este governo é psicopata! Seus membros riem da verdade, viram-lhe as costas, passam-lhe a mão nas nádegas.

A verdade se encolhe, humilhada, num canto. E o pior é que o Lula, amparado em sua imagem de "povo", consegue transformar a Razão em vilã, as provas contra ele em acusações "falsas", sua condição de cúmplice e Comandante em "vítima".

E a população ignorante engole tudo. Como é possível isso?

Simples: o Judiciário paralítico entoca todos os crimes na fortaleza da lentidão e da impunidade. Só daqui a dois anos serão julgados os indiciados - nos comunica o STF.

Os delitos são esquecidos, empacotados, prescrevem.

A lei protege os crimes e regulamenta a própria desmoralização.

Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis, pois a indignação ficou supérflua. O que dizemos não se escreve, o que escrevemos não se finca, tudo quebra diante do poder da mentira desse governo.

Sei que este é um artigo óbvio, repetitivo, inútil, mas tem
de ser escrito...

Está havendo uma desmoralização do pensamento. Deprimo-me: "Denunciar para quê, se indignar com quê? Fazer o quê?".

A existência dessa estirpe de mentirosos está dissolvendo a nossa língua.

Este neocinismo está a desmoralizar as palavras, os raciocínios.

A língua portuguesa, os textos nos jornais, nos blogs, na TV, rádio, tudo fica ridículo diante da ditadura do lulo-petismo

A cada cassado perdoado, a cada negação do óbvio, a cada testemunha, muda, aumenta a sensação de que as idéias não correspondem mais aos fatos!

Pior: que os fatos não são nada - só valem as versões, as manipulações.

No último ano, tivemos um único momento de verdade, louca, operística, grotesca, mas maravilhosa, quando o Roberto Jefferson abriu a cortina do país e deixou-nos ver os intestinos de nossa política.

Depois surgiram dois grandes documentos históricos: o relatório da CPI dos Correios e o parecer do procurador-geral da República. São verdades cristalinas, com sol a pino.

E, no entanto, chegam a ter um sabor quase de "gafe". Lulo-Petistas clamam: "Como é que a Procuradoria Geral, nomeada pelo Lula, tem o desplante de ser tão clara! Como que o Osmar Serraglio pode ser tão explícito, e como o Delcídio Amaral não mentiu em nome do PT? Como ousaram ser honestos?"

Sempre que a verdade eclode, reagem.

Quando um juiz condena rápido, é chamado de "exibicionista". Quando apareceu aquela grana toda no Maranhão (lembram, filhinhos?), a família Sarney reagiu ofendida com a falta de "finesse" do governo de FH, que não teve a delicadeza de avisar que a polícia estava chegando... mas agora é diferente. As palavras estão sendo esvaziadas de sentido.

Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para contestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma neo-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte.

Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem, de preconceitos ideológicos movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o Populismo e o simplismo. Lula será eleito por uma oposição mecânica entre ricos e pobres, dividindo o país em "a favor" do povo e "contra", recauchutando significados que não dão mais conta da circularidade do mundo atual.

Teremos o "sim" e o "não", teremos a depressão da razão de um lado e a psicopatia política de outro, teremos a volta da oposição Mundo x Brasil, nacional x internacional e um voluntarismo que legitima o governo de um Lula 2 e um Garotinho depois. Alguns otimistas dizem:

"Não... este maremoto de mentiras nos dará uma fome de verdades!"

6 comentários:

Gustavo Castro disse...

Muito bom o seu texto, e sensacional o do Arnaldo Jabor.

Unknown disse...

...There's nothing in the streets
Looks any different to me
And the slogans are replaced, by-the-bye
And the parting on the left
Is now the parting on the right
And the beards have all grown longer overnight...

Trecho da música: Won't Get Fooled Again (The Who)

Sem mais a acrescentar.

Anônimo disse...

Como diria Cazuza

"...eu vejo um futuro repetir passados..." .

Filipe W

Luly disse...

O 'relaxa e goza' foi uma outra maneira de dizer 'Vão se foder'. Na verdade é só isso que os picados pela mosca azul do poder pensam.

Anônimo disse...

Eu acho o Jabor um picareta, mas eu sou totalmente a favor do que ele fale do que quiser.

Anônimo disse...

Estranho que essa história da proibição do TSE só circular na Internet. Mais estranho ainda é o Tribunal Superior Eleitoral ter supostamente feito isso agora e não na época da eleição. Acho que essa é mais uma das muitas lorotas que rolam na internet e também acho o Jabor um picareta. Por isso mesmo não sou a favor que ele fale o que quiser, sem ter que responder por isso. Se houve essa proibição não acho censura. Acho que houve simplesmente um recurso legal de quem se sentiu ofendido.