Corria o ano de 1978. Às vésperas de uma prova da Super Vê em Goiânia, pintou a idéia maluca, vinda da cabeça do coordenador da escuderia Gledson, Alain Vignais: uma participação só de brasileiros nas 24 Horas de Le Mans.
A escolha dos pilotos era mais ou menos óbvia e teria que recair em pelo menos dois patrocinados pela confecção. Um deles, Alfredo Guaraná Menezes, tido e havido como o mais veloz do nosso território - depois que Nelson Piquet foi para a Europa, evidentemente. Paulo Gomes, o Paulão, também foi escolhido por sua adaptação e experiência com carros de grande potência, como o Ford GT40 e o Maverick Divisão 3 da equipe Mercantil-Finasa.
Alain Vignais fez a ponte entre Brasil-França e alugou, com a ajuda do piloto Claude Ballot-Lena um Porsche 935/77 do Grupo 5, monoturbo, com 3 litros de cilindrada cúbica e potência superior a 700 cavalos. Um monstro se comparado ao Supervê de 130 HP que Guaraná guiava e com os pouco mais de 400 HP do Maverick.
O carro pertencia à equipe ASA Cachia e o proprietário concordou em homenagear - de forma justíssima - o inesquecível José Carlos Pace, amigo pessoal de Paulão e vice-campeão em 1973 com Ferrari. O terceiro piloto rapidamente foi escolhido: Marinho Amaral, que contribuiu para o rateio do aluguel com uma pequena verba, trazida pela Center Fabril.
O montante reunido por Guaraná, Paulão e Marinho ainda não era de todo suficiente. O jornalista Marcus Zamponi, o grande Zampa, que participava indiretamente da empreitada, foi procurado pelo também piloto e advogado Paulo Valiengo, que lhe entregou um cartão e disse de forma enfática.
"Vai nesse cara e diz que o projeto dará mais retorno que o Copersucar."
O "cara" era o empresário Odair Mondelo, que recebeu em seu escritório Zampa e Guaraná, ambos alinhados para a ocasião (sinceramente, é difícil imaginar o Zampa assim...). Nervosíssimos, suando nas mãos, os dois foram fulminados por uma pergunta surpreendente:
"Como posso ajudar vocês? Querem o pagamento em dólar ou em cheque?"
Com duas maletas varadas de doletas, Guaraná e Zampa não acreditavam: a aventura estava garantida e ia acontecer.
A trupe brasileira foi para a França conhecer o carro. Na viagem, foram Alain, Zampa, Marinho, Guaraná e Paulão. Quem os recebeu por lá foi Olivier Chandon, herdeiro da Moët Chandon, bon vivant e piloto de ocasião, que morreu afogado no lago do circuito de Moroso, na Flórida, anos mais tarde.
Chandon serviu de cicerone do grupo e, como surpresa, os levou para uma megafesta na Riviera, com direito a limusine e tudo. Ninguém tinha roupa especial para a boca-livre e é divertido imaginar o milionário cercado de cinco caras de jeans e tênis. Uísque e demais destilados rolavam soltos e Paulão, mais pra lá do que pra cá, amarrou um porre daqueles.
No meio da farra, Olivier chamou para a roda ninguém menos que... a Bela da Tarde. Isso mesmo, Catherine Deneuve, linda, loira e elegantíssima, estava lá. E Paulão, com finesse, disparou: "Catarina? Quem é Catarina?"
Depois, com o papo comendo solto e sem entender porra nenhuma de francês, o piloto não teve dúvidas, e apalpou com vontade a bunda da atriz. Paulão desmente de pés juntos, mas como havia mais de uma testemunha...
Voltemos à corrida. Os três tiveram o primeiro contato com o carro e a equipe se assustou. Marinho Amaral era em média 18 segundos mais lento que Guaraná e 20 pior que Paulão. Mr. Cachia, por medida de segurança, inscreveu Jean-Louis Lafosse, experiente piloto francês, como reserva do trio, ou melhor, de Marinho.
Na classificação o trio foi recomendado a não baixar de 4 minutos, tempo mais do que suficiente para garantir um dos 55 lugares disponíveis do grid. Paulão resolveu experimentar a força do motor flat 6 cilindros e prontamente desobedeceu a ordem - virou em 3min59s5 e conquistou o 23º lugar no grid.
A equipe determinou no plano de corrida que Marinho Amaral guiaria um turno a cada dois de seus companheiros de equipe. Como classificou o carro, Paulão teve a primazia de largar, passando em décimo-oitavo já na primeira volta. Mr. Cachia teve que interceder e com placas, mandou o brasileiro se empolgar menos no pedal da direita e conservar o equipamento.
Guaraná se adaptou rapidamente ao exigente Porsche 935/77 e até Marinho Amaral perdeu o medo inicial, virando tempos melhores que na classificação. O trio sobreviveu com grande primazia à dureza da longa corrida e alcançou os dez primeiros lugares. Com algumas quebras e os problemas dos favoritos, como o Porsche Moby Dick de Rolf Stommelen e Manfred Schurti, o trio verde-e-amarelo chegou em sétimo lugar na classificação final da prova - 2º no grupo 5. Um resultado histórico, espetacular e muito comemorado ao fim das 24 Horas.
Ah... os vencedores? Claro... foram Didier Pironi, já piloto de Fórmula 1 pela Tyrrell e o experiente Jean-Pierre Jaussaud, que deram à Renault - depois de muitas tentativas - um triunfo na clássica prova francesa com o protótipo Alpine Renault A442B Turbo.
Um comentário:
zamponi foi apenas o jornalista convidado nao participou de nenhumanegociaçao .fomos recebidos por claude leguezec fisa chandon foi apenas meu contato mundano pois todo ano participava da ultima prova de super V com carros da minha equipe que deus o tenha forte abraços ALAIN VIGNAIS
Postar um comentário