No último domingo, o Segundo Caderno de O Globo expôs uma ferida há muito tempo aberta na indústria fonográfica brasileira. Cada vez menos vende-se CDs aqui neste país, um fenômeno facilmente explicável por alguns motivos.
O preço praticado nas lojas é proibitivo. Quem é que pode se dar ao luxo de comprar um CD novo por mais de R$ 20, todos os meses, sabendo que na esquina você pode dar de cara com um camelô vendendo o mesmo CD - pirata, é verdade - pela metade do preço ou menos?
A febre da pirataria digital e do mp3 também fere de morte as gravadoras que investem na mesmíssima proporção que seus artistas vendem - ou seja, em escala muito menor do que antigamente.
E para surpresa nenhuma, o "top 10" dos mais vendidos demonstra bem a mediocridade que reina neste país.
O campeão é o Padre Marcelo Rossi, com 867 mil cópias vendidas por Minha Benção (Sony/BMG). O dono da maior nareba da religião católica consegue um feito impressionante - mas que não se compara ao total que artistas consagrados já atingiram em outros tempos. Por exemplo: em 1974, o grupo Secos & Molhados vendeu nada menos que 800 mil discos - e pela gravadora Continental, que na época não chegava aos pés de uma Philips. A diferença, vocês podem perceber, é mínima e estamos falando de um trabalho de 33 anos atrás e de um grupo de curtíssima duração - cujo legado foi manter na música um grande cantor: Ney Matogrosso.
Caio Mesquita (quem?!?) surge como o segundo na lista de vendagens, com seu álbum Jovem Brazilidade (EMI), perdendo e feio para Marcelo Rossi. São apenas 269 mil discos vendidos, três vezes menos que o campeão de vendagens. De todo modo, é outra situação surpreendente, pois ele é um artista de música instrumental - toca saxofone - tem apenas 16 anos e foi descoberto no programa de calouros do Raul Gil.
A lista contempla o grupo latino Rebelde, com 247 mil cópias vendidas de seu disco Nuestro Amor (EMI) na terceira posição. Nenhuma surpresa, porque o RBD atraiu multidões enquanto esteve aqui, divulgando o disco e fazendo shows. Aliás, dois outros CDs do grupo figuram entre os mais vendidos. Somados, os três trabalhos dão 577 mil - ainda distante do número um.
Roberto Carlos, que em priscas eras ultrapassava fácil a marca de 1 milhão de cópias, decai junto com a qualidade de seu repertório. Nem o resgate de regravações de participações de diversos artistas em seu especial de TV alavancou suas vendas em 2006. Duetos (Sony/BMG) foi, comparativamente a muitos de seus trabalhos, um grande fracasso de vendas: apenas 243 mil discos vendidos.
Ana Carolina alcançou o quinto lugar e o posto de cantora número 1 da lista. Mas, acredite quem quiser, com um álbum que há quatro anos (!!!!) está nas paradas - Estampado. O novo disco dela - Dois Quartos - vendeu exatas 71 mil cópias a menos no ano passado.
E do sexto ao décimo lugar, artistas de todos os gostos como o sertanejo (Bruno & Marrone e Zezé di Camargo & Luciano), o batidão (DJ Marlboro) e o pop (Kid Abelha e Jota Quest). Todos com pouco mais de 200 mil discos vendidos.
Marisa Monte, que normalmente está no topo ou entre as primeiras, não conseguiu grande vendagem este ano, quando por pura pretensão, lançou dois trabalhos simultâneos com vendagem entre 170 e 180 mil cópias. Somando ambos, ela seria fácil a segunda colocada no ranking de vendagens.
E tem mais: alguém viu sinais de Caetano Veloso, Martinho da Vila, Chico Buarque, Maria Bethânia e outros grandes nomes da MPB na lista? Claro que não... o que o povão quer, está aí... música ruim, grudenta, chata. E o que é pior: alçando um padre a fenômeno de marketing.
Tá feia a coisa para a música brasileira.
Um comentário:
Realmente Rodrigo
afinal hj em dia vc pode baixar aquela musica que vc gosta sem ter que comprar um cd, que na maioria das vezes só tem uma ou outra musica que vc gosta, e acaba lenvado um monte tranqueira.
isso deu uma liberdade ao ouvinte que as gravadoras estão apanhando para se acostumar.
agora quanto ao gosto musical é só lembrar do post abaixo sobre o BBB e ver que estamos bem arranjados !
abs
Filipe W
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