quinta-feira, 9 de março de 2006

Momento Poesia

Parolagem da Vida
(Carlos Drummond de Andrade)

Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nuda.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha de outra vida nova que envelhece
antes de romper o novo.
Como a vida é outra sempre outra, outra não a que é
vivida.

Como a vida é forte em suas algemas.
Como dói a vida quando tira a veste de prata celeste.
Como a vida é isto misturado àquilo.
Como a vida é bela sendo uma pantera de garra
quebrada.
Como a vida é louca estúpida, mouca e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora de saber que é vida
e nunca nunca nunca leva a sério o homem, esse
lobisomem.

Como a vida ri a cada manhã de seu próprio absurdo
e a cada momento dá de novo a todos uma prenda
estranha.
Como a vida joga de paz e de guerra povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca seu gasto realejo fazendo da valsa um
puro Vivaldi.

Como a vida vale mais do que a própria vida sempre
renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
em peito desolado
coração amante.
E como se salva uma só palavra escrita no sangue desde
o nascimento:
amor, vidamor!

2 comentários:

Liana Mautoni disse...

Vou colocar seu blog nos meus favoritos e virei sempre aqui enriquecer-me com as tuas palavras.

"Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração para de funcionar
por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da
sua vida." (Carlos Drummond de Andrade)

Liana

Anônimo disse...

Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nuda.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.

Essa é a vida!!
Constantes encontros e
encontros...

Dos Gatos, belo poema!!
beijos...
Marcia!!!