quarta-feira, 22 de março de 2006

Carcará: o mito renasce

Mil novecentos e sessenta e seis. Anos de chumbo pós AI-5. Época em que despontava o talento de Nara Leão e depois o de Maria Bethânia no show "Opinião", no Teatro Copacabana, no Rio de Janeiro.

Entre as músicas, havia uma de João do Vale chamada "Carcará".
Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa o umbigo inté matá
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Carcará também é o nome de uma relíquia do automobilismo brasileiro que, 40 anos depois de seu surgimento, ganha vida novamente.
Construído por Toni Bianco com o traço genial de Anísio Campos, o protótipo foi concebido para bater o recorde nacional de velocidade pura. Muita gente achou graça na audácia porque o motor era o Vemag de apenas 1.100cc, três cilindros e dois tempos.
Mas os gênios no projeto do Carcará não se resumiam apenas à chassi e aerodinâmica. Jorge Lettry e Rino Malzoni, dois dos engenheiros mais conceituados da época, juntaram-se para deixar o pequeno propulsor do jeito exato para a quebra do recorde.
Dito e feito. No fim de junho de 66, Norman Casari, então piloto oficial da Vemag, levou o Carcará a alcançar a incrível velocidade de 212,9 km/h no início da Rio-Santos, que hoje é a Avenida das Américas. Um recorde que só seria batido alguns anos mais tarde por Sérgio Mattos num Ford GT40, superando os 238 km/h numa pista de aeroporto em São Paulo.
Porém, novas tentativas do Carcará foram abortadas com a absorção da Vemag pela Volkswagen. E o carro foi abandonado num ferro-velho... isso até renascer graças ao apaixonado gaúcho Paulo Trevisan, responsável pelo Museu da Ulbra, em Canoas, no Rio Grande do Sul.
O mito Carcará ganhou dois algarismos romanos ao lado do nome original e já está andando de novo. Testado em Guaporé, com um motor mais manso, superou fácil os 170 km/h. E o carrinho virá ao Rio de novo, provavelmente no Campo dos Afonsos, na Zona Oeste, para fazer uma apresentação que promete ser épica.
Pena que o inesquecível Norman Casari, morto em 30 de dezembro do ano passado, não está entre nós para guiar essa jóia do nosso automobilismo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Rodrigo,

Essa noticia é mto legal! Falta ao Brasil um resgate da memória esportiva, nao apenas de automobilismo.
O primeiro passo é o resgate do Carcará... alias, o segundo, pq o primeiro seria impedir o aniquilamento de Jacarepaguá...

Mas nossos "factoides politicos", metidos a saberem de tudo, estao acabando com mais um pedaço da historia do automobilismo brasileiro...

Mas com certeza estarei em Campo dos Afonsos!

Abs,

Rodrigo Mattar disse...

Opa... obrigado pelo comentário, amigo Luiz Otávio. Com certeza também estarei em Campo dos Afonsos registrando esse histórico momento.
Abraço!