terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Os aforismos do síndico

Não me canso de ler "Vale Tudo - o som e a fúria de Tim Maia", a excelente biografia do papa do soul e do funk brasileiro, escrita por Nelsomotta, que é como o jornalista era carinhosamente chamdo pelo síndico.

Como todo mundo já cansou de saber, Tim era temido pelos técnicos de som do país inteiro, exigente com os músicos que com ele tocavam, não tinha vergonha de se apregoar como "doidão" e além de tudo tinha um humor como poucos, repleto de frases e aforismos que entraram para a história.

Olha só algumas das expressões que são puro Tim Maia...

"Tá todo mundo à vontade aí? Porque nós aqui já estamos!"
(proferida na estréia do seu show 'O som e o sonho de Tim Maia' no Teatro da Praia em Copacabana, 1971 - "estar à vontade" era um código de maconheiros na época)

"O bauru é muito bom, mas o que eu queria era um bauruzinho... um baurete."
(num show em Bauru, interior de SP e dividido com os Mutantes. Tim fez o gesto de 'empinar pipa' e foi salvo da secura por um hippie doidaço)

"Fiz uma dieta rigorosa, cortei álcool, gorduras e açúcar. Em duas semanas, perdi 14 dias."
(em 1973, quando ousou perder peso num tratamento 'revolucionário' numa clínica em Bonsucesso, onde só tomava caldinhos, papas, sucos e comia folhas)

"John Lennon é uma besta e Raul Seixas, a cópia xerox da burrice."
(na época em que se converteu ao Racional Superior, da seita Universo em Desencanto e gravou dois discos repletos de funk e soul - com pitadas de lavagem cerebral - que ele renegaria até o fim da vida)

"Porra, mermão, já começou? Até na casa do governador o som é uma merda?"
(em 1976, de volta à fase soul, na festa de aniversário da filha do governador Chagas Freitas)

"O problema do gordo é que ele quando beija, não penetra. E quando penetra, não beija."
(quando passou dos três dígitos de peso, nos anos 70)

"Esse cara faz esses arranjos quatro-quatro-meia e assim não dá pra cantar!"
(reclamando do arranjador Miguel Cidras para Guti Carvalho, durante a gestação do disco 'Tim Maia Disco Club'. Ele e Miguel saíram na porrada e o argentino foi despedido. Em seu lugar, entrou Lincoln Olivetti)

"Manda o povo descer que eu faço o show aqui na praça!"
(para Nelsomotta, por telefone, quando disse que não subiria no bondinho do Pão de Açúcar para cantar no Noites Cariocas)

"Edulobo, quando você falou em besta-fera, já vi que ia sobrar pra mim!"
(reclamando com muito bom humor do compositor Edu Lobo, que convidou-o para gravar a belíssima canção 'A bela e a fera', para o disco 'O grande circo místico'. E Tim arrebenta!)

"Todo mundo é corno, eu sou corno..."
(sábias palavras do mestre da cornitude)

"O segredo do meu sucesso é o equilíbrio: metade das minhas músicas são esquenta-sovaco e a outra metade é mela-cueca."
(idem)

"Esse espanhol é do ETA (exploradores do talento alheio), é um escravagista, ele merece!"
(confabulando com Tibério Gaspar sobre uma 'operação punitiva' ao empresário Chico Recarey, dono do Scala. Num show, Tim convidou garis, mendigos, flanelinhas, garagistas e porteiros e os colocou na primeira fila!)

"O meu vestido não ficou pronto."
(ironizando Gal Costa, que deu esta desculpa para não gravar com Tim o clipe de 'Um dia de domingo', para o Fantástico, da Globo)

"Ganhar pra foder com o Tim Maia é fácil... quero ver é dar pro Sebastião."
(comentário que fazia com os amigos, porque ele sempre se servia de prostitutas e pedia que elas só o chamassem por Sebastião. Antes, durante e depois.)

"Aí pessoal... dizem que o Nelson Gonçalves parou... parou de fazer show em São João de Meriti, né?"
(em show no Canecão, sarcástico como nunca, sobre o comentário do veterano cantor e sua luta para vencer o vício da cocaína)

"A diferença entre eu e o Dicró é que no meu show todo mundo vai e eu não vou; no dele, ele vai, mas não vai ninguém."
(atirando no pagodeiro Dicró, que teria dado razão ao Canecão no cancelamento de um show de Tim em fins de 1986)

"Com aquele som maravilhoso, eu garanto que não ia faltar nem reclamar. E ia cantar até o fim."
(sobre o Rock in Rio, para o qual não foi convidado)

"Tudo é tudo... e nada é nada."
(assim filosofou Tim Maia num show no People, em 1988)

"Que beleza, um show de Tim Maia pelo preço de um grama de pó."
(na sua estréia no People)

"Uma fileirinha, dois tapinhas e duas doses... senta o pau, Vitória Régia!"
(idem)

"Édipo, você é glorioso. A Vera Fischer é a coisa mais linda do mundo!"
(elogiando Felipe Camargo, que estava com sua então mulher na platéia de um show de Tim no Hotel Nacional, 1989)

"Não fumo, não bebo, não cheiro, mas às vezes minto um pouquinho."
(a frase imortal de Tim Maia)

"O que nós temos de melhor no Brasil são a música, o futebol, o jogo do bicho, a batata doce e o baseado - temos que exportar isso. E ainda temos o Maguila, que vai matar o Mike Tyson. De susto, mas vai."
(em sua divertdíssima entrevista de lançamento de sua 'candidatura' a prefeito da Barra da Tijuca pelo PLG - Partido Liberou Geral)

"Eu quero parabenizar o presidente Collor, que está fazendo a campanha 'Diga Não às Drogas'. Eu acho que é isso mesmo, deixa pra quem gosta, porque já está escasso nas bocas!"
(em 1990, no show de bossa nova na boate Un, Deux, Trois, de seu "canalha de estimação" Chico Recarey)

"Só gravei bossa nova para sacanear o João Gilberto."
(em entrevista a Luis Antônio Giron, então na Folha de S. Paulo)

"Tudo que sei sobre tóxicos aprendi nos livros."
(em entrevista histórica a Ruy Castro, publicada pela Playboy)

"Então você é uma aerovelha!"
(sacaneando uma aeromoça que se recusava a lhe dar gelo para o uísque que, por conta própria, levou para uma viagem de avião. É sabido que Tim odiava andar de avião desde que em 1970 cheirou uma carreira de cocaína no banheiro de um Samurai da VASP e saiu de maca da aeronave)

"É só ele começar um songbook que o cara morre. Esse negócio de biografia também é um pé-na-cova."
(sobre a insistência de Almir Chediak em fazer um songbook com suas músicas)

"Eu tô aqui fazendo esse show pra Brahma, mas eu gosto mesmo é de um guaraná Antarctica."
(falou da concorrente, à la Vicente Matheus e perdeu um pacote de 60 shows que estavam sendo fechados com a cervejeira. Os shows foram para... Roberto Carlos, com quem Tim brigou no começo da carreira)

"Eu gostaria de fazer uma homenagem ao meu urologista, o Dr. Edson, que me deixou ereto para o resto da vida."
(em pleno Prêmio Sharp de Música, em referência à operação que foi submetido em razão de uma infecção no saco escrotal)



2 comentários:

Carlos Garcia disse...

Hahahahaha... graaaande Tim Maia... eu só poderia esperar isso vindo do seu blog mesmo, velho!!!

Longa vida à memória de Tim Maia!!!

Anônimo disse...

Bárbaro!

Tem uma legal e quem conta é o Galo, repórter da TV Tarobá nos meus tempos de Fórmula Chevrolet. Diz que o Tim chegou em Cascavel para um show, mas naquela base. A Tarobá mandou-o para o hotel (acho que era o Querência, que você conhece bem) com uma pauta "simples": entrevistar o Tim. A resposta de um assessor à solicitação da entrevista: "O Tim ainda não chegou. Quer dizer, o corpo já está aqui, mas ele só chega amanhã".

Abração e parabéns pelo Blog e a gentileza de colocar o link para o meu.