quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Discos que já ouvi antes de morrer (III) - Rubber Soul / 1965




Inocente, puro e besta, não me toquei no que uma amiga íntima da minha mãe me perguntava, sempre que nos visitava:

"Você tem o 'Alma de Borracha'"?

Tempos depois caiu a ficha: ela se referia ao disco Rubber Soul, aquele que marca o início da fase II dos Beatles.

Embora muita gente ache que a guinada musical deu-se com o LP seguinte, o sensacional Revolver - que é a próxima resenha - a mudança no som e no comportamento do grupo já é bastante visível e audível em Rubber Soul.

O grupo não abandonou a princípio a estrutura básica de suas canções, como na faixa de abertura "Drive my car" e na belíssima balada "Michelle", obra-prima de Paul McCartney. Mas as harmonias já se mostravam diferenciadas em grande parte do que se ouvia no disco, começando por "Norwegian Wood", passando por "You won't see me" e a enigmática "Nowhere man".

A fase mística do grupo começava aí. Não só pelo uso de instrumentos pouco usuais para os Beatles, como a cítara (introduzida por obra e graça de George Harrison), mas também por letras sobre catolicismo e cristianismo, como provado em "Girl" - uma música simples, mas de beleza ímpar.

Eles também mostraram evolução musical. Paul toca um baixo tremendamente distorcido em "The Word", Ringo pilota o órgão Hammond em "I'm looking through you" e George manda ver na guitarra com pedal de distorção em "Think for yourself" e canta a belíssima "If I needed someone".

Subestimado pela crítica, com apenas um hit nos Estados Unidos - "Nowhere man" não fora incluída na versão do LP vendido naquele país e sim lançada como single - Rubber Soul é um disco que vale muito a pena ser ouvido. Afinal, é a partir daí que os Beatles começam - literalmente - a desnudar suas almas.

Ficha Técnica de Rubber Soul
Selo: Parlophone / EMI
Produção de George Martin
Gravado na Inglaterra entre outubro e novembro de 1965
Tempo total do disco: 35'50"

Músicas:

1. Drive my car (Lennon-McCartney)
2. Norwegian wood (Lennon-McCartney)
3. You won't see me (Lennon-McCartney)
4. Nowhere man (Lennon-McCartney)
5. Think for yourself (Harrison)
6. The word (Lennon-McCartney)
7. Michelle (Lennon-McCartney)
8. What goes on (Lennon-McCartney-Starkey)
9. Girl (Lennon-McCartney)
10. I'm looking through you (Lennon-McCartney)
11. In my life (Lennon-McCartney)
12. Wait (Lennon-McCartney)
13. If I needed someone (Harrison)
14. Run for your life (Lennon-McCartney)

4 comentários:

Anônimo disse...

Concordo plenamente, foi nesse disco que eles pararam com as musicas escritas diretamente para a figura virtual de uma fã adolescente, e começaram a escrever musicas do jeito que queriam.

Concordo plenamente, foi muito oportuna essa sua análise.

Carlão

Alexandre Carvalho disse...

Vale lembrar que John compusera "Norwegian Wood" para contar a história de um caso que ele havia tido, mas sem deixar pistas muito claras para Cynthia, sua esposa na época.

Alexandre Carvalho disse...

Sobre o "Alma de Borracha" citado pela amiga de sua mãe, será que ela não estava se referindo ao álbum homônimo que o Beto Guedes lançou em 1986?

Rodrigo Mattar disse...

Alexandre, tenho certeza que não. Na verdade, muitos discos no passado vinham com nomes de músicas e títulos traduzidos, nos velhos bolachões. E acredito que "Rubber Soul" tenha sido um deles. De todo modo, não tenho o disco do Beto Guedes.
Abraço.