sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Discos que já ouvi antes de morrer (IV) - Revolver / 1966




"Nós gravamos esse disco para os Stones", teria dito Paul McCartney na época do surgimento de Revolver.

Verdade ou não, certo é que os Beatles deram mais um enorme passo à frente para atingir a maturidade enquanto grupo e especialmente quanto a suas composições.

Além disso, em 1966, quando sai o álbum, eles decidem não sair mais em turnê alguma, não fazem parte de qualquer filme e é aí que acontecem dois divisores na história da banda: projetos paralelos não são descartados... e John Lennon se encontra pela primeira vez com Yoko Ono.

Tirante isto, o grupo teve mais tempo para criar, ensaiar, inventar e reinventar. Foram dois meses produzindo as 14 músicas do álbum - que jamais cantariam ao vivo, pois no período de pré-produção eles ainda faziam apresentações diante de platéias monumentais. O último show da banda aconteceu em San Francisco (EUA), no Candlestick Park, em 29 de agosto daquele ano - exatamente o mês em que Revolver fora lançado não só nos States como no Reino Unido.

Certo é que a evolução musical provada no álbum anterior, Rubber Soul, se faz muito mais presente num disco que cogitou-se inclusive chamar de Abracadabra, Magic Circles e Beatles On Safari.

Revolver foi de fato a melhor escolha (de nome, claro) e o disco abre com "Taxman" - pela primeira vez, uma música de George Harrison começava um álbum dos Fab Four. Suprema ironia: o destaque absoluto é o baixo funkeado de Paul McCartney, que também faz o solo de transição entre as estrofes da primeira e segunda partes. A música é sobre impostos e taxas - que levavam enormes somas do dinheiro que os quatro ganhavam.

"Eleanor Rigby" é mais um brilhante momento de Paul McCartney enquanto compositor e George Martin contribui com um fantástico arranjo de cordas que torna a canção ainda mais bela do que normalmente seria. "I'm only sleeping" é a primeira letra viajandona de John Lennon. Uma grande sacada desta faixa é que o solo de guitarra foi gravado em cima da fita ao contrário e quando esta é colocada no sentido normal, a melodia fica de trás pra frente.

Harrison não parou em "Taxman". Ele ofereceu também "Love you to", uma ode à cultura oriental, com George tocando cítara e um músico indiano fazendo a percussão na tabla. Nesta época, mergulhado no misticismo, o guitarrista influenciaria todos os seus colegas a conhecerem o guru Maharishi - aliás, morto recentemente.

Paul volta com "Here, there and everywhere", outra ótima balada de sua trajetória beatle. A canção antecede a divertidíssima "Yellow submarine", que faz ressuscitar os vocais de Ringo Starr, esquecidos desde o segundo disco. Aliás, ninguém mais apropriado para cantar "Yellow submarine" do que o narigudo baterista. A música seria o título do filme-desenho lançado alguns anos depois.

John Lennon volta a fazer das suas em "She said, she said". Inspirada numa frase de Peter Fonda após uma viagem de ácido, a música é uma experiência do compositor em brincar com os compassos, saindo de 4/4 para 3/4 - algo que ele ainda faria em alguns outros sucessos do grupo.

"Good day sunshine" é uma música pra cima de Paul, que canta e toca piano. E para quem mora na Inglaterra, nada mais oportuno do que cumprimentar o sol - de raras aparições naquele país. A brilhante e misteriosa "And your bird can sing" antecede outra famosa e lindíssima música de Paul McCartney, "For no one", com arranjo de George Martin, onde o baixista toca ainda piano e craviola.

"Doctor Robert" é uma menção a um médico que receitava pílulas a seus pacientes - uma metáfora sobre drogas, logicamente, e mais uma composição de John Lennon. A música seguinte é "I want to tell you", a terceira de Harrison, que a executa sempre em fá com acorde E - e Paul no baixo e no piano. O acorde E em fá seria imitado por John Lennon numa lendária faixa do Abbey Road - "I want you - she's so heavy".

O disco fecha com chave de ouro em mais uma inspirada melodia de Paul McCartney pontuada por um naipe de metais à Motown. É "Got to get you into my life", cujo baixo foi levado à era Disco pelo grupo Earth, Wind & Fire. E a última faixa é a emblemática (porque inspirada no livro tibetano dos mortos) "Tomorrow never knows", uma colagem de barulhos e efeitos pontuada pela bateria marcante de Ringo e o vocal de John Lennon, alterado num speaker Leslie para produzir o efeito que ele queria.

Inspiração para dezenas de grupos daí pra diante, Revolver é apenas o aperitivo para o que viria depois: o espetacular e nunca igualado Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band.

Mas isso já é papo pra outra resenha.

Ficha Técnica de Revolver:

Selo: Parlophone / EMI
Produção: George Martin
Gravado na Inglaterra entre abril e junho de 1966
Tempo total do disco: 34'58"

Músicas:

1. Taxman (Harrison)
2. Eleanor Rigby (Lennon-McCartney)
3. I'm only sleeping (Lennon-McCartney)
4. Love you to (Harrison)
5. Here, there and everywhere (Lennon-McCartney)
6. Yellow Submarine (Lennon-McCartney)
7. She said, she said (Lennon-McCartney)
8. Good day sunshine (Lennon-McCartney)
9. And your bird can sing (Lennon-McCartney)
10. For no one (Lennon-McCartney)
11. Dr. Robert (Lennon-McCartney)
12. I want to tell you (Harrison)
13. Got to get you into my life (Lennon-McCartney)
14. Tomorrow never knows (Lennon-McCartney)

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse foi o Disco que mais gostei dos Beatles.

Caíque.