sábado, 9 de fevereiro de 2008

Discos que já ouvi antes de morrer (I) - With The Beatles / 1963



É... os Beatles no início de carreira eram o que se convencionava chamar de boy band, uma termologia que virou moda nos anos 80/90, com grupelhos pré-fabricados como NKOTB, Take That, KLB, Backstreet Boys e por aí vai.

Mas... e daí?

Daí que em 1963, eles já tinham personalidade suficiente pra fazer um disco ainda melhor que o álbum de estréia, o que continha "Love Me Do" e "Twist and Shout", embora a fórmula fosse praticamente a mesma, com covers e material próprio que eles já cantavam nos shows do lendário Cavern Club e em sua passagem por Hamburgo, na Alemanha.

George Martin arregimentou a produção e gastou horas e mais horas com os meninos John, George, Paul e Ringo nos estúdios e em um mês, entre a pré-produção e as gravações das 14 faixas do álbum original - isto porque nos EUA os discos dos Beatles saíam com nome e formato diferentes - o trabalho ficou pronto.

Lennon era um grande fã de música negra e não foi à toa que por sua vontade incluiu-se covers de "Roll over Beethoven", de Chuck Berry e "Money" (That's what I want), de autoria de Janie Bradford e Barry Gordy - o fundador da Motown.

O disco abre com "It won't be long", cantada por Lennon e assinada como Lennon-McCartney. Mas os beatlemaníacos saberiam depois que nem todas as canções eram deles. Bastava ver quando um e outro cantavam.

"All my loving", com Paul no vocal, é o primeiro clássico deste disco. Outro ponto alto é a cover de "Please Mr. Postman", imortalizada pelos Carpenters e que ganhou uma roupagem totalmente diferente do então sucesso gravado por The Marvelettes, uma atração da Motown.

George Harrison, que normalmente cantava duas faixas por álbum, teve a chance de executar três. Além de "Don't bother me", composição própria, outra delas foi justamente "Roll over Beethoven", adequadíssima ao seu timbre vocal. Até o show da última turnê, no Candlestick Park de San Francisco, em 1966, George jamais deixaria de cantar a música de Chuck Berry.

Ringo também teve a sua chance de mostrar os dotes vocais em "I wanna be your man", a primeira música que Lennon e McCartney ofereceriam aos Rolling Stones. O baterista normalmente esquecia que "I wanna be..." tinha dois versos e quando o grupo a tocava ao vivo, cantava um só. Que figura...

Entremeando baladas como "Till there was you" e "You really got a hold on me" com as faixas já citadas, o disco fecha com chave de ouro em "Money", com Lennon castigando a voz no mais puro estilo... John Lennon, logicamente.

A capa é outro clássico: foto de Robert Freeman, tirada no Bornemouth's Palace Court Hotel em agosto de 1963, é semelhante aos trabalhos que a alemã Astrid Kircherr fazia com o grupo quando os rapazes cantavam incessantemente naquele país.

Os ingleses já sabiam do potencial dos quatro rapazes. Mas o mundo ainda não estava preparado para o que viria. Muito menos o Brasil, que em 1963 vivia o auge da Bossa Nova. Rock por aqui? Só Elvis, Chuck Berry e Little Richard, e no subúrbio. Zona Sul, nem pensar.

Ficha Técnica de With The Beatles
Selo: Parlophone / EMI
Produção de George Martin
Gravado na Inglaterra entre setembro e outubro de 1963
Total das faixas: 33'24"

Músicas:

1. It won't be long (Lennon-McCartney)
2. All I've got to do (Lennon-McCartney)
3. All my loving (Lennon-McCartney)
4. Don't bother me (Harrison)
5. Little child (Lennon-McCartney)
6. Till there was you (Wilson)
7. Please Mr. Postman (Brianbert-Dobbin-Garman-Garrett)
8. Roll over Beethoven (Berry)
9. Hold me tight (Lennon-McCartney)
10. You really got a hold on me (Robinson)
11. I wanna be your man (Lennon-McCartney)
12. Devil in her heart (Drapkin)
13. Not a second time (Lennon-McCartney)
14. Money (Bradford-Gordy)

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