terça-feira, 9 de maio de 2006

Vermelho 27

Vermelho 27 é o nome de um clássico do boêmio Nelson Gonçalves que, evidentemente, falava de cassinos, roletas e congêneres.

Mas é uma expressão que cai - feito luva - num mito da Fórmula 1: Gilles Villeneuve.




O canadense que conquistou uma legião de fãs pelo planeta afora morreu há exatos 24 anos, no dia 8 de maio de 1982 - um sábado nebuloso como estava a segunda aqui no Rio de Janeiro.

Em grande parte de minhas recordações de criança quando das as primeiras provas de automobilismo que assisti, lá estava o canadense.

Como esquecer da sua comemoração empunhando a quadriculada de sua primeira vitória justamente diante de sua torcida - no circuito que hoje leva seu nome - em 1978?

Como esquecer das últimas voltas em Dijon Prenois e seu duelo épico com René Arnoux - e pelo segundo lugar! - ganho, claro, pelo piloto da Ferrari?

E a saída de pista em Zandvoort, onde voltou em três rodas, destruindo a suspensão do carro?

E as ultrapassagens por fora na difícil curva Ste. Devote em Mônaco, sobre Riccardo Patrese e René Arnoux - coisa que certamente aposentaria aquele bordão "chegar é uma coisa, passar é outra", de um conhecido narrador esportivo?

E o acidente em Imola, 1980, quando milagrosamente saiu vivo de um carro inteiramente destruído numa pancada a 280 km/h?



E as vitórias históricas em Mônaco e Jarama, no ano de 81, conquistadas com um carro nitidamente ruim?

Ah... e a épica corrida em Montreal, naquele mesmo ano, quando fez grande parte da corrida com o bico destruído e depois sem? E ainda chegando em terceiro!

Como esquecer a Ferrari 126C2, bela mas perigosa, estacionada a três metros de mim, apenas com "pneus de bicicleta", numa concessionária FIAT do Rio?

Não dá pra esquecer do sensacional GP do Brasil de 82, quando ele, Piquet e Rosberg deram uma Aula com A maiúsculo de pilotagem, por 29 voltas, até Villeneuve errar e bater?

E o canto do cisne, o grande embate com Pironi em San Marino?

Também não dá pra esquecer o vôo, a capotagem, a destruição, a morte...

Villeneuve sempre soube o quanto corria riscos nas pistas. A primeira lição que teve foi em 77, na sua terceira participação, quando bateu com Ronnie Peterson em Fuji e a Tyrrell do sueco capotou, matando duas pessoas.

Muitos outros incidentes viriam, espetáculos também. Inesquecíveis, inolvidáveis.

A passagem daquele canadense baixinho, de face tranqüila fora das pistas, mas um demônio rasgando o asfalto, foi curta demais para a Fórmula 1.

Mas eterna na mente de quem, como eu, ama o automobilismo.

A foto abaixo é a última que conseguiram tirar de Villeneuve com vida.



Chorei sua morte em 1982, com 10 pra 11 anos de idade, copiosamente. Eu e meu pai.

E não me arrependo disso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mais uma sensacional analogia, hein, amigo? E dizer que o Vermelho 27 morreu na véspera do meu aniversário de 6 anos...