terça-feira, 23 de maio de 2006

Mandando Um Abraço pros Velhos Mutantes

Amigos e amigas, depois de umas 48 horas sem atualizar qualquer coisa no blog, cá estou de volta. Passei ontem e hoje por São Paulo, onde participei do programa Linha de Chegada, do querido amigo e craque do jornalismo automobilístico Reginaldo Leme.

Após o almoço quase sempre habitual no Villa Alvear, ele me deu uma carona para o hotel onde eu pegaria minha malinha pra voltar pro Rio. E fomos conversando especialmente sobre música, naturalmente sobre Mutantes.

Ora, e por que?

Porque o irmão do Regi, Dinho Leme (na foto abaixo), foi o baterista do grupo nos anos 60 e 70.



Ele não era um membro nato do grupo como Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias, que se destacavam pelas composições e por suas participações marcantes nos Festivais da Canção promovidos pela Record e pela Globo.

Viemos lembrando no nosso papo que eles foram grupo de apoio de Gilberto Gil, em "Domingo no Parque" e de Caetano Veloso, na polêmica performance de "É Proibido Proibir". E também defenderam suas próprias músicas, classificando-se em 1968 com "Caminhante Noturno" - aliás, na final no Maracanãzinho, Rita ligou um gravador onde se ouvia "É Proibido Proibir" (brilhante idéia!) e quatro anos mais tarde, com "Mande Um Abraço Pra Velha".

Ótimo baterista, Dinho mostrou competência de sobra e se firmou no grupo assim como Arnolpho Lima Filho, o ultraconhecido produtor e baixista Liminha, que assinou os melhores trabalhos dos Titãs nos anos 80 e de muitos outros artistas.

Quarenta anos depois do surgimento do grupo e do movimento da Tropicália, os Mutantes foram convidados a se reunir e tocar em Londres, no Barbican Hall. Convite feito, Rita Lee imediatamente declinou - mas deu a bênção para a reunião do grupo. Liminha aceitou, mas impôs nos primeiros ensaios o uso da tecnologia de gravação que ele hoje domina. Bateu de frente com Sérgio Dias e também caiu fora do projeto.

Restaram Arnaldo, Sérgio e Dinho, aos quais se juntou Zélia Duncan, que deu conta do recado nos ensaios e no show da última segunda-feira, onde 3 mil pessoas lotaram a casa e foram ao delírio com a volta triunfal dos Mutantes depois de 33 anos.

Posto agora um trecho da matéria que o UOL colocou em seu site nesta terça, assinada por Thomas Pappon:

Os Mutantes optaram por arranjos originais, substituindo as orquestrações mais complicadas por gravações ou samplers, como em "Dom Quixote", e preservando as harmonias vocais – sempre distintas, um dos grandes fortes do grupo.

Serginho comandou a banda e os vocais e mostrou porque era tido como o maior guitarrista de sua geração em vários solos.

Arnaldo, discreto no teclado e vocais, irradiava carisma e alegria por estar ali. Cantou "Dia 36", que ficou impecável. Mas bom mesmo foi ouvir as vozes de Serginho e Arnaldo, juntas. É como visitar o bairro da Pompéia, São Paulo, em 1969.

À medida que a banda relaxava e ganhava confiança, o público se animava mais ainda. Mandaram bem em "Ave Gengis Khan", "Desculpe, Babe" (em inglês), "Technicolor", "Virgínia", "Cantor de Mambo", "El Justiciero" (com uma brincadeira de Serginho, dizendo que o primeiro-ministro britânico Tony Blair iria chamar "el justiciero" George W. Bush para acabar com o crime na Grã-Bretanha), "Minha Menina" (bem conhecida do público britânico, graças ao sucesso de uma versão recente feita pelo grupo The Bees), "Baby" (sensacional), "Le Premier Bonheur Du Jour", "Dois Mil e Um" e "Top Top".

À altura de "Ando Meio Desligado", "Bat Macumba" (com participação do cantor neo-folk americano Devendra Banhart, nos backing vocals) e "Panis et Circensis", o Barbican era uma farra só: todo mundo de pé, pessoas dançando, cantando junto e gritando "we love you".

Nos camarins, Serginho e Dinho contaram do sufoco dos ensaios e da ansiedade com o primeiro show depois de tantos anos. O clima era de alívio e felicidade. Os Mutantes conquistaram o público, como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se nunca tivessem sumido.

E esse foi só o primeiro show. Fico pensando como vai ser o quarto ou quinto, quando estarão nos Estados Unidos. Vão estar tinindo, provavelmente fazendo justiça às palavras da revista "Time Out" na semana passada, que os chamou de "a maior banda psicodélica de todos os tempos".

Faço minhas as palavras do Thomas.

E mando um abraço pros velhos de guerra - Dinho (em especial), Arnaldo e Sérgio Dias

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