sábado, 3 de junho de 2006

Crise de Identidade

Estou puxando pela memória e não consigo me lembrar de quando foi a última vitória de um piloto brasileiro na Fórmula 1.

Que foi do Barrichello, não tenho dúvidas. Mas em que ano e em que corrida, juro que pra ter certeza, só consultando o anuário AutoMotor do Reginaldo Leme.

A entressafra de vitórias na categoria máxima e a pouca quantidade de pilotos brasileiros com potencial de campeões no automobilismo europeu denota a crise em que está mergulhado o esporte a motor por aqui.

Louve-se o esforço da CBA em fazer um produto interno forte. Mas sem autódromos, não há sonho que dure.

O de Jacarepaguá, tido e havido como o melhor da América do Sul, foi pego de boi de piranha pelo Pan-2007 e pelo que sei, as tais obras não acontecem por falta de dinheiro e condições do solo - impróprio para erguer prédios do tamanho que a megalomania de CEM e suas comparsas empreiteiras insistem em construir.

Goiânia, que tem outra pista maravilhosa, não recebe a visita da Stock Car, nossa principal categoria, há seis anos. Eu disse seis anos!

Cascavel, ótima praça do esporte a motor graças ao esforço de Pedro Muffato nos anos 70 nem é lembrado. Guaporé, que tem uma boa pista, idem. E o Autódromo de Brasília é alvo de uma crise política sem precedentes no Distrito Federal.

Enquanto os novos empreendimentos (Canelinha, Cabreúva e outros) não saem do papel, nos contentamos com Interlagos, Curitiba, Santa Cruz do Sul, Campo Grande, Tarumã e, vá lá, Londrina.

É muito pouco autódromo para um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

Com poucas pistas de nível e a base para o automobilismo - o kart - cada vez mais custosa para pais e pilotos, que compram os equipamentos dos preparadores, não é à toa que as categorias de monoposto no Brasil estão à míngua.

Longe vão os tempos da saudosa Super Vê, que em 75/76 era capaz de reunir, sem brincadeira, 45 carros no grid. Eu vi isso em exemplares antigos da boa e velha Auto Esporte e fiquei de queixo caído.

Hoje o panorama é outro. Comemora-se quando uma categoria supostamente de alto nível como a Fórmula 3 Sul-Americana larga com 14 carros e mais da metade consegue chegar ao fim de uma corrida.

Comemora-se quando a Fórmula Renault, em vez dos 15 carros em média por etapa do ano passado, alinha vinte, graças à substituição dos pneus franceses Michelin pelos Pirelli produzidos no Brasil.

Mas pilotos e equipes reclamam, com razão, da falta de exposição na mídia. Como vão dar retorno aos seus patrocinadores se não existe televisionamento direto por TV?

O automobilismo de hoje é muito mais exigente que o dos anos 70 e mesmo da década de 80 quando, mesmo demorando 30 dias para sair a matéria de cada corrida, os patrocinadores sabiam que lá estaria a foto do seu patrocinado.

A Fórmula Renault hoje vive um drama porque, com a adoção da rodada dupla, as corridas do sábado são esquecidas não só pela TV como pela organização do evento, a cargo da PPD Sports de Pedro Paulo Diniz.

Por isso, dez dos 19 carros que alinharam na prova de Brasília neste sábado, traziam em suas carenagens o adesivo da foto abaixo (devidamente "surrupiada" do site Grande Prêmio, do Flavinho Gomes).


Tá mais do que na hora do automobilismo brasileiro ser grande novamente. Vamos espantar fantasmas do passado e lutar para que ele não agonize e os detratores, as hienas, os pascácios e os lorpas (by Nelson Rodrigues) venham a público dizer que a destruição de Jacarepaguá lhes dava razão.

4 comentários:

Victor Menezes disse...

Se continuar nesse ritmo, infelizmente, os sobreviventes serão obrigados a se naturalizar para ser reconhecidos... lamentável, mas verdade.

Anônimo disse...

Meu grande amigo Rodrigo, infelizmente vc está cobertíssmo de razão.
Gostaria de estar aqui escrevendo que vc tá falando bobagem, mas não, essa é a mais pura verdade: o Brasil está ficando "órfão" de grandes pilotos para as 'Fórmulas' do mundo...
Acabei de chegar de Joinville, onde tivemos a 5a etapa do Catarinense de Velocidade na Terra, e mais uma vez foi sucesso total.
A Marcas "N" (Novatos) teve até bateria de repescagem, de tanto carro que deu.
Automobilismo de qualidade, com custos adequados e retorno de mídia garantido é sucesso total.
Talvez a PPD devesse vir assitir a nossa "fórmula tatu" (disputas na terra... hahahaha) e aprender várias coisas.
Continuamos esperando uma visita sua aqui no nosso campeonato. Será um grande prazer tê-lo aqui...
Abração

Anônimo disse...

Só para te informar Rodrigo, a última vitória brasileira na F1 foi em 2004 no GP da China.

Rodrigo Mattar disse...

Opa... obrigado Raphael! Nem me dei ao trabalho de fazer a consulta. Sabia que ia me decepcionar, e muito. Já tem quase dois anos que o Brasil não ganha na F-1... que coisa!