sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Relíquia V

Não foram só os irmãos Fittipaldi que desafiaram a lógica no automobilismo, construindo carros de corrida para competições internacionais.

Se os brasileiros foram ambiciosos e fizeram um Fórmula 1, Oreste Berta, o Mago de Alta Gracia, também fez história nos anos setenta.

Naquela época, a América do Sul vivia um intenso intercâmbio com o automobilismo internacional. Vieram para o Brasil e para a Argentina provas de Fórmula 3, Fórmula 2 e também do Mundial de Esporte Protótipo.

E foi para este último certame que Berta construiu sem dúvida o mais belo carro esporte já concebido por estas plagas: o Berta LR.



Este carro, concebido para receber um motor que o próprio Oreste desenvolveu com base no lendário Ford Cosworth DFV V-8 de 3 litros de capacidade cúbica, mostrou muito potencial.

Nos 1000 km de Buenos Aires, em 1970, o protótipo pintado totalmente de branco e pilotado por Carlos Marincovich e pelo lendário Rúben Luiz di Palma, partiu da terceira posição no grid, o que provocou espanto de muitos pilotos de fora e da imprensa internacional. Mas um problema besta - a perda de um dos pesos de balanceamento de uma das rodas, aliada a um vazamento de gasolina - tirou o protótipo portenho de combate.

O sonho virou sucata na semana seguinte, nas 200 Milhas de Buenos Aires, prova disputada em duas baterias. Logo na primeira série, Carlos Marincovich sofreu um forte acidente e o Berta LR ficou parcialmente destruído.

Mãos à obra e Oreste Berta o recolocou na pista para, em maio, embarcar rumo à Alemanha e à disputa dos 1000 km de Nürburgring. O lendário circuito de Adenau abriu passagem para o protótipo LR, que conquistou o 14º tempo no grid - resultado extraordinário para a mesma dupla de pilotos - Marincovich e di Palma. Mas um vazamento de água na quinta volta estragou a excelente performance do carro.

O Berta LR ganhou melhorias para o ano de 1971, com o apoio da estatal YPF. Oreste Berta encomendou junto a Keith Ducworth uma unidade do motor Cosworth para seu protótipo. O construtor de Córdoba acreditava que com os 480 HP do motor aliados ao baixo peso (678 kg) do Berta LR, o carro seria um dos mais promissores do ano.

A esperança caiu por terra rapidamente, pois o motor trazido da Inglaterra era recondicionado e tinha um problema grave. Uma das bielas apresentava uma fissura interna e, como não havia peças de reserva, Berta mandou forjar uma lá mesmo na Argentina. Não deu certo: a biela portenha media 45 unidades Rockwell contra 64 do Cosworth.

Nos treinos, fracasso: o carro fez o 22º tempo entre 23 inscritos e Berta retirou-se do evento.

A sina repetiu-se no ano seguinte e de novo o Berta LR (desta vez com o motor Tornado construído pelo próprio Oreste) gorou a expectativa da torcida, frustrada em não ver o principal protótipo argentino dos anos 70 na pista.

Ainda em 1972, o carro regressou para os 500 km de Interlagos, com Angel Monguzzi ao volante. Nos treinos, o piloto brilhou - fez o 3º tempo na classificação, na frente do Porsche 908/2 de Luiz Pereira Bueno. Mas na corrida, um problema na injeção de gasolina fez Monguzzi desistir depois de uma única volta.

Outro carro correu com Rolando Nardi, igualmente veloz. E um acidente na 41ª volta demoliu o protótipo.

Encerrada a aventura do Berta LR, o construtor ainda experimentou fazer um Fórmula 5000 e mais tarde adaptou o chassi para receber um motor Cosworth de F-1 e assim tentar competir no GP da Argentina de 1975 (coincidentemente, o mesmo onde estreou o Copersucar).

Mas como o motor só tinha 410 HP de potência, Berta desistiu do empreendimento.

Ele se redimiu nesse mesmo ano, quando a equipe Z (Hollywood) encomendou-lhe um projeto para o Brasileiro de Divisão 4. Não era novidade a parceria Berta-Hollywood, pois no ano anterior Tite Catapani correra num brabíssimo Maverick totalmente envenado na oficina de Córdoba.

Assim surgiu o Hollywood-Berta-Ford, que nas mãos de Luiz Pereira Bueno só não conquistou de forma invicta o último certame da história daquela categoria, graças a uma barbeiragem de Aírton Szidlowski, um piloto de Cascavel que corria num estranho protótipo Bimotor Corcel-VW, apelidado de "Misto Quente".

5 comentários:

Anônimo disse...

Que isso Mattar!
Maravilha!
Não conhecia direito a historia desse prototipo do Berta,valeu!
Imagina só se ele tivesse dinheiro a vontade na época,com certeza estaria na F1 até hoje.

Jonny'O

Anônimo disse...

Rodrigo,

O Maior erro que cometemos no Automobilismo atualmente é não nos juntarmos com los hermanos para um Campeonato de Turismo de 1º mundo. Teríamos tudo para alcançar sucesso, mas alguns $ó pen$am ni$$o.

Anônimo disse...

Ora, alvíssaras!!
Finalmente alguém resgata uma das histórias mais lindas do automobilismo aqui no sul do Equador. Parabéns, Mattar, há longos anos eu procurava subsídios para a história do BertaLR. Este blog está cada dia mais interessante.

Anônimo disse...

Reitero oque meus grandes companheiros disseram !

Atualmente se não me engano o Oreste berta está envolvido com a òbvio, mas não tenho maiores informações sobre oque ele está desenvolvendo nem seu nível de envolvimento nop projeto.

Abraço a todos

Hurricane disse...

El Berta era un auto hermoso, y pudo haber sido un gran éxito a nivel internacional de no ser por la habitual falta de medios que tenemos por estas tierras.
Coincido totalmente con el pensamiento de caíque, tendríamos que juntarnos en América del Sur para un campeonato de turismo, porque tenemos grandes circuitos y buenos pilotos.
Saludos