quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Heróis da Resistência

Não, este não é um post sobre o finado grupo do ex-Kid Abelha Leoni.

E sim sobre uma publicação que fez história na imprensa brasileira por mais de 20 anos, fazendo graça e enfrentando a ditadura como deveria ser - com informação, entrevistas fantásticas e sacadas hilárias.

Claro que me refiro ao Pasquim.

Por lá passaram cracaços da imprensa e do humorismo, como Paulo Francis, Tarso de Castro, Millôr, os impagáveis Jaguar e Ziraldo, o falecido Henfil, Moacir Werneck de Castro, Glauber Rocha, Sérgio Porto, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Caulos, o ótimo Ivan Lessa, Luiz Carlos Maciel - o papa da contracultura, além de Aldyr Blanc e muitos outros que assinavam artigos, como Caetano Veloso e Chico Buarque, que no exílio foram ativos colaboradores do jornal.

E a sugestão do nome não podia ser de outro senão do Jaguar. "Vão nos chamar de pasquim e terão que inventar outros nomes para nos xingar." Pasquim quer dizer jornal difamador. E o nome caiu como uma luva.

Lançado em 1969 no formato tablóide que o imortalizou, o Pasquim chegou a atingir tiragens de 200 mil exemplares. O sucesso do jornal estava justamente na variedade entre notícias, charges, piadas e muita, mas muita opinião. Tanta que nos anos de chumbo da ditadura, diversos integrantes da redação e/ou colaboradores foram presos. Até Nelson Motta, que vez ou outra assinava artigos, foi parar no DOPS para "averiguações".

Em 1970, o jornal foi tirado de circulaçao em razão de uma gracinha de Jaguar em cima do quadro dos Dragões da Independência. O cartunista escreveu um "Eu Quero Mocotó" sobre a imagem de D. Pedro I desembainhando a espada às margens do Rio Ipiranga - numa alusão à música de Jorge Ben que fora sucesso com Erlon Chaves no V Festival Internacional da Canção.

Mas, como tudo o que é bom acaba, depois de tantos perrengues e de inclusive atravessar a "Nova República" de Zé Sarney, o Pasquim calou-se depois de 1.072 exemplares, no dia 11 de novembro de 1991.

Alguns anos depois, alguns dos antigos integrantes tentaram reproduzir numa revista chamada Bundas, a verborragia e o bom-humor do velho Pasquim. E mesmo com o malfadado governo FHC dando assunto, a revista jamais decolou. Eu tenho todos os exemplares, inclusive.

Bom... e pra quem sente saudade do velho Pasquim ou não é contemporâneo do auge do jornal, eis que a editora Desiderata está lançando, com a ajuda inestimável de Sérgio Augusto e Jaguar, a Antologia do Pasquim. Eu comprei o Volume 1, com os melhores textos, tiras e entrevistas de 1969 a 1971.

Está tudo lá, reproduzido, inclusive a lendária entrevista com a Leila Diniz, com os asteriscos substituindo os palavrões que a atriz falou à vontade na época e não podiam entrar, claro, por causa da Censura.

3 comentários:

Anônimo disse...

Os textos/desenhos do Millor e o Sig do Jaguar valiam à pena.

Anônimo disse...

Mattar, lembra?
Pasquim, um ponto de vista carioca.
Válido, lúcido, autêntico e inserido no contexto.
O Pasquim avacalhou a ditadura, os figurões da imprensa e da cultura oficiais. Desnudou o país como nação,chamava-nos de botocudos, ao mesmo tempo que desencavava verdadeiros ícones da nossa cultura popular já desaparecidos desde aquela época. Uma metralhadora giratória, o Pasquim não deixou pedra sobre pedra, mas sempre com muito humor.

Anônimo disse...

Eu li...acho que até tenho guardado, no meio das minhas caixas, o pasquim com a entrevista da Leila, que foi o meu ídolo de adolescente...rs que gostoso ler vc escrevendo sobre esse jornal que tanto marcou aquela época. Beijosssssss