sexta-feira, 14 de abril de 2006

Porque sou Fluminense, ou seja, inteligente!

As pessoas que me conhecem e gostam de futebol sempre me fazem a pergunta inevitável:

- Quando começou seu amor pelo Fluminense?

Invariavelmente eu respondo que é paixão desde sempre. Não é à toa que no ano em que fui gerado, 1970, o time foi Campeão Brasileiro (apedrejem, hienas da objetividade, a Taça de Prata tinha todos os grandes times do país - PORTANTO era o Brasileirão) e no ano seguinte, foi Campeão Carioca.

Já nasci com faixa no peito... vejam só.

E bem que tentaram de tudo pra que eu não fosse tricolor. Na família do meu falecido pai, hoje igualmente morta para mim, não havia um único e escasso rubro-negro - sinal de inteligência. Eu corria o sério risco de ser Vasco ou Botafogo se alguém fizesse e muito a minha cabeça. O irmão mais novo do velho é botafoguense, fanático. E me levava direto nos jogos do time da Estrela Solitária. O ano era 1976.

Ano em que o Botafogo despontava com gente do calibre de Cremílson, Puruca, Tiquinho, Rubens Nicola... é verdade que no onze de General Severiano havia um Marinho Chagas, um Osmar Guarnelli. Mas era muito pouco comparado ao esquadrão do Fluminense - uma máquina de jogar bola.

Se em 75 o time era: Félix, Toninho Baiano, Silveira, Assis e Marco Antônio; Zé Mário, Cléber e Rivelino; Gil, Manfrini e Paulo César Lima, o do ano seguinte era covardia.




Renato, Edinho, Miguel, Carlos Alberto Torres e Rodrigues Neto; Pintinho, Paulo César Lima e Rivelino; Gil, Doval e Dirceu.

Meus amigos, vejam bem os onze do time titular de 76 e saibam, pois, que TODOS naquela época ou em anos passados, já haviam envergado os uniformes de suas seleções pelo planeta. O Flu tinha meio time no título da seleção brasileira no Torneio do Bicentenário dos EUA, na histórica vitória por 4 x 1 sobre a Itália em New Haven. É mole ou quer molho?

Voltando a história de ser ou não ser Fluminense... o passo decisivo para um guri de cinco anos, cabelo negro escorrido na testa, ser tricolor foi um clássico justamente contra o Botafogo. Um vareio, um massacre, um showcolate da Máquina sobre o alvinegro: inapeláveis 5 x 1.

Não tinha como não ser tricolor e meu coração ali foi arrebatado de vez.

Uma paixão correspondida com o bicampeonato estadual e frustrada pela perda da vaga que parecia certa na decisão do Brasileiro. O time tropeçou na valentia do Corinthians e num gramado encharcado - foi eliminado nos pênaltis e no ano seguinte a Máquina enguiçou com a ida de Rivelino para a Arábia e a chegada de nomes menos votados.

Lembro que em 79, vacas magras "pastando" em Álvaro Chaves, estreamos num dos dois campeonatos daquele ano realizados no Rio com um sonoro 5 x 0 em cima do Bangu. A atração foi o centroavante Parraro, que fez três gols e Nelson Rodrigues, já próximo da morte, profetizou que ali surgia o novo Flávio (atacante conhecido como Minuano, que deitou e rolou nos anos 60 e 70).

Ovo gorado: foram os três únicos gols de Parraro pelo Flu e ele despontou para o anonimato.

Felizmente um time de garotos e guerreiros presenteou a nação tricolor com o título em 80, desbancando o tetra do Flamengo que era tido como a potência do futebol nacional. Nossos heróis foram Paulo Goulart, Edevaldo, Tadeu, Edinho e Rubens Gálaxe; Delei, Gilberto e Mário; Robertinho, o artilheiro Cláudio Adão e Zezé.

Àquela época eu já era um contumaz leitor de Placar e em vez das vacas magras, um circo (literalmente) se armou em Álvaro Chaves. Lançaram até a campanha SOS Fluminense. Mas a nossa vocação de sair das cinzas para a glória se fez presente novamente.

Trouxemos Assis e Washington do Atlético Paranaense, onde já eram conhecidos como o "Casal 20", como Jonathan e Jennifer Hart do seriado de TV. Sintonia fina, um era o complemento do outro. Sem os passes precisos do elegante Assis, não saíam os gols do grandalhão centroavante. Mas foi o meia quem nos tirou o grito preso na garganta, com o incrível gol aos 45 minutos do segundo tempo de (mais um) Fla-Flu inesquecível - como aliás, são todos os que os vencemos.

Com pequenas variações, o elenco de 83/85 fez a torcida encher estádios, cantar o hino a plenos pulmões, vibrar com jogadas de raça e técnica, irritar os adversários com suas conquistas e, mais do que isso: mostrar ao Brasil que o verde, o grená e o branco eram as cores da época.

Paulo Victor, Aldo, Ricardo Gomes, Duílio (Vica) e Branco (Renato); Jandir, Delei (Leomir), Assis e Romerito; Washington e Tato (Paulinho) - que timaço!

É... mas hegemonias existem para ser quebradas e a nossa foi rapidinho pro espaço.

E como sofremos para tirar o grito contido na garganta, meu pai eterno!

Foram dez anos aturando timinhos, xingando jogadores, revelando uma meia dúzia que até chegou à seleção. Mas a torcida é sempre exigente - queria conquistas que não vinham. Nos tiraram uma Copa do Brasil em 1992 na mão grande. Um ano antes, fomos incompetentes o bastante para perder para o time do Bragantino - formado por um punhado de ex-pratas da casa que o Flu (graças ao múmia Fábio Egypto) fez questão de desprezar.

E foi com um time de "mercenários" (Renato no comando) que chegamos a mais um troféu. O mais suado, o mais gostoso de todos, no ano em que o Flamengo apostou alto num time que jogava em função de Romário e quebrou a cara.

Não nos venceram em NENHUM jogo naquele ano de 1995. Foram dois empates sem gols, um 3 x 1, um 4 x 3 sensacional e o inesquecível 3 x 2 com gol de barriga de Renato - com direito ao famoso gesto do "cala a boca" com o qual todos sonhamos que ele um dia fizesse pra torcida rubro-negra.

Mas praga de flamenguista é foda. Afundamos triplamente daí em diante. Dois rebaixamentos vexatórios pra Série B e outro inominável pra Terceira Divisão.

Sim, chegávamos ao fundo do poço... ótima hora para abandonar o barco. Virar a casaca, como se fala por aí.

Não foi o meu caso e nunca seria, fiquem sabendo: fui em seis dos 25 jogos do time na Terceirona naquele ano. Vi o glorioso Flu jogando contra pérolas do naipe de Goiânia, Dom Bosco, Anapolina, Villa Nova, Serra e São Raimundo. Foi difícil, mas ganhamos o campeonato e iríamos para a Série B em 2000.

Só que graças ao Gama e ao Juventude, que viraram a mesa, a CBF fez a Copa João Havelange e, ciente de que o tricolor era garantia de bons públicos (foi a sétima melhor média do ano de 99, e estávamos na Terceirona!), nos convidou de volta para a Primeira Divisão.

O achincalhe dos adversários era lugar-comum, mas tínhamos um bom time e fizemos bom papel de 2000 a 2002 - ano do nosso 29º troféu naquele campeonato que chamam de Caixão porque quase ninguém viu. Mas o Flu levou a coisa a sério, junto com o Americano e não foi à toa que os dois fizeram a final.

Quase fomos rebaixados em 2003, mas demos a volta por cima nos anos seguintes. É verdade que o time nos premiou com duas belas decepções - a perda da Copa do Brasil em casa para o modestíssimo Paulista de Jundiaí e a queda do 4º lugar do Brasileirão no último jogo diante do Palmeiras, que nos tirou da Libertadores.

Em contrapartida, como acontece quase sempre, ganhamos mais um Estadual, suado, chorado, e que para os idiotas da objetividade, foi roubado. Coitados, só falam besteira...

Dizem que temos a vocação para o sofrimento. É, pode ser.

Mas parafraseando Nelson Rodrigues, "o Fluminense nasceu com a vocação da eternidade."

E a minha paixão e de toda sua torcida pelas três cores que traduzem tradição...

Também é eterna.

6 comentários:

Liana Mautoni disse...

Ei....eu não sou fluminense, mas, li todo o seu texto e quando cheguei ao final percebi que a camisa do time é lindaaaaaaaaaa....hahahahahaha.
Sabe, na realidade eu amo cada time que aparece, cada um, é uma paixão de pessoas pela qual sou apaixonada e o fluminense virou a minha mais nova paixão.
Ahhh...tenho um molequinho aqui em casa fluminense doente também, ele é o grande amor da minha vida e seu nome é Gabriel.
Beijos querido.

Anônimo disse...

eita orgulho danado! texto muito bem elaborado. vc é muito bom nisso.
parabéns!!!
em pensar que já fui tricolor um dia!
mas,de tricoloros inteligentes, gatinhos e roxos, o flu já tá de bom tamanho, né!
vou ficar mesmo aqui na minoria oprimida.
mas gosto muito desse pó-de-arroz, ele mora lá no fundinho do meu coração.
afinal, o primeiro time, a gente nunca esquece.
e pra quem interessar possa, vc é meu tricolor favorito.
bjs carinhosos e botafoguenses.
georgia

Anônimo disse...

Digo, muito maneiro este comentario sobre o flusão, eu sou um poucofã deste time, moreiminha vida inteira com dois fanaticos tricolores, meu irmão e meu idolo pai... Adoeri a camisa do flusão, mas adoro mesmo é a pessoa que veste ela, ta de parabens seu blog...

Anônimo disse...

FUI VER O BLOG DA MINHA AMIGA INEZ E VI O LINK DO SEU BLOG... VIM LER O QUE HAVIA ESCRITO E DOU DE CARA, COM UM TEXTO SOBRE A MINHA MAIOR PAIXÃO, O FLUMINENSE... NÃO PRESENCIEI A FAMOSA MAQUINA, JA QUE NASCI EM 77, MEU AMOR FOI FORJADO NO SOFRIMENTO QUE DUROU O JEJUM DE 10 ANOS SEM TITULO... DECEPCÕES A CADA ANO, QUE EU VISLUMBRAVA O FIM DO JEJUM... ATÊ QUE VEIO 95... TENHO CERTEZA QUE NELSOM RODRIGUES ESTAVA NAQUELE JOGO... TENHO ESSA CONVICÇÂO COMIGO... FALAR DE 95 E FALAR DO MAIOR JOGO DA MINHA VIDA, E ME EMOCIONAR COM LEMBRANCAS QUE FICARAM, E TER GRAVADO NA MENTE A JOGADA INTEIRA QUE CULMINOU NO GOL, SEM PERDER UM LANCE... TINHA QUE TER UM BUSTO DO RENATO NA ENTRADA DAS LARANJEIRAS... SOFRIMENTO DA SEGUNDA E DA TERCEIRA, QUE NAO DIMINUIU, APENAS FORTALECEU O AMOR AO TRICOLOR... VEIO 2002 E 2005... GOL AOS 47 COMO DEVE SER COM A GENTE... ABRAÇOS DE UM TRICOLOR RADICAL....

ALAN

Rodrigo disse...

Belo texto. Sou um pouco mais velho do que você, nasci numa família tricolor, mas quando comecei a acompanhar futebol surgiu um tal de Arthur Antunes Coimbra e não deu outra. Tornei-me um feliz rubro-negro. Hoje estou saudoso daqueles bons tempos, é verdade, mas continuo feliz.

Roberto Mendes disse...

Roberto disse:
Muito legal seu texto e seu amor pelo tricolor carioca. Sou de São Paulo,sou Palmeiras e tenho muita simpatia pelo Fluminense.
Assisti ao vivo no Pacaembu,a estreia do Rivelino com a camisa,que em minha opinião é a mais bonita de todos os clubes do Brasil,e vibrei com gols do lateral Marco antonio e do Rivelino,virando o jogo em cima do Corinthians. Ali começou minha admiração pelo FLU,na época,um espetáculo de time!
é isso,mais uma vez,parabéns pelo belo e inteligente texto.Poucos o fariam com tanta competencia!
abraço!