Nunca nas últimas duas semanas os sobrenomes Piquet e Senna estiveram em tamanha evidência como neste mês de abril.
E o meu receio é que uma velha história venha a dar as caras para o mal do automobilismo brasileiro.
Todo mundo que me conhece sabe que eu sou "piquetista" roxo. Assumo e não tenho medo de dizer o que penso. Até porque eu comecei a ver Fórmula 1 em 1978, justamente quando o carioca radicado em Brasília estreava na categoria, vindo de um título no Inglês de F-3.
Três anos depois, Nelson já era campeão. E a minha admiração só cresceu, apesar da antipatia da imprensa em relação a ele, tendo em vista suas declarações por vezes grosseiras.
Nada mais justo: Piquet detestava perguntas idiotas, que suscitassem respostas idiotas, normalmente entremeadas por palavrões cabeludos.
Por isso, tornou-se a encarnação do mal.
O antídoto para o 'mal' tomou corpo na figura de Ayrton Senna, um franzino paulistano, carinha de bom moço, que detonou a oposição nas categorias menores, chegando à F-1 em 1984, no ano em que Piquet era de novo o número 1.
Ocioso dizer que Ayrton sempre foi um piloto determinado e veloz. Mas nunca vi nele as características que saltavam aos olhos quando eu via Piquet guiando: argúcia tática, esperteza, malandragem, capacidade de guiar o carro.
Dizem as más línguas que o apelido dele, Senna, na época da Lotus era "ejaculação precoce". Fazia as voltas mais rápidas nos treinos para depois estourar seus motores, deixando o caminho livre para Mansell, Rosberg, Prost, Piquet, Alboreto e muitos outros.
O tempo passou, passou e passou. Com a ajuda de um conhecido locutor, Senna foi alçado à condição de herói nacional. Qualquer vitória era saudada com um entusiasmo digno de um orgasmo, algumas vezes beirando o exagerado, o burlesco.
As conquistas de Piquet, poucas mas excepcionais em seus últimos anos de carreira, pareciam de um piloto de outro país, de um ser de outro planeta, quiçá um objeto não identificado nos ouvidos daqueles que se acostumaram em demasia com os berros apopléticos do conhecido locutor supracitado.
Vejam que passei batido pela polêmica sobre a suposta declaração de Piquet de que Senna fosse homossexual. E se fosse, não vem ao caso.
Agora vamos dar um salto no tempo. Em 2001, aos 16 anos de idade, Nelson Ângelo Piquet, o mais promissor dos filhos do tricampeão mundial de Fórmula 1, estreou na F-3 sul-americana. Fez meio campeonato de adaptação e explodiu no ano seguinte, chegando ao seu primeiro título nos monopostos, com campanha incontestável.
O passo seguinte foi a F-3 inglesa. Um ano para conhecer as pistas e outro para ganhar o título. Adivinhem como se desenhou a história? Exatamente como o previsto. Daí para a GP2 foi um pulo.
Sétimo colocado no ano passado, Nelson Ângelo já estreou com vitória numa das etapas em Valência e com a liderança do campeonato numa temporada que promete ser dificílima, em razão da concorrência: Alexandre Prémat, Lewis Hamilton, Michael Ammermüller, Nicolas Lapierre, Gianmaria Bruni, Ernesto Viso, Adam Carroll, entre outros.
Voltamos no tempo de novo. Em 1991, quando Ayrton inaugurou uma fenomenal pista de kart em sua fazenda no interior de São Paulo, seu sobrinho Bruno, filho de Viviane Senna, venceu a corrida da categoria cadete. Com a morte do tio, três anos depois, o assunto foi esquecido.
Mas não na cabeça do adolescente que cresceu e um dia ousou dizer à mãe que queria ser piloto de competição. Bruno Senna botou a cara para bater e foi à luta. Sem nunca ter corrido no automobilismo nacional (igual ao tio), fez meia temporada de Fórmula BMW, andou na Fórmula Renault (foi segundo em Macau, no ano retrasado) e estreou na F-3 inglesa ano passado.
Seus resultados foram de razoáveis para bons. Três pódios, uma pole position e o décimo lugar ao fim do campeonato. Uma prova do quão o campeonato era competitivo é que o companheiro de equipe Dan Clarke agora está na ChampCar, nos EUA.
Este ano, ele renovou contrato com a equipe Double R, de Steve Robertson e Kimi Raikkönen, agora correndo com os motores Mercedes HWA, os melhores da categoria no momento.
Antes, para aquecer, uma série de quatro corridas na Austrália, na preliminar do GP de Fórmula 1. Com um carro de 2004 equipado com motor Opel e correndo contra ninguém de expressão, ele venceu três corridas consecutivas.
Nesta segunda, estreando na temporada 2006 da Fórmula 3 inglesa, venceu mais duas e começou o campeonato na liderança, 19 pontos à frente de Oliver Jarvis, o vice-líder.
Aí eu pergunto:
Que campeonato vale mais hoje? A GP2 ou a Fórmula 3 inglesa?
No meu conceito a GP2 é a porta escancarada para a Fórmula 1.
Mas não me admirou, por exemplo, que o espaço para a vitória de Nelson Ângelo Piquet em Valência fosse nulo, quase ínfimo, em relação ao que jornais, sites e revistas falaram nas últimas semanas de Bruno Senna.
Ainda é cedo para tecer comparações entre seus descendentes diretos.
Nelsinho só precisa despir a máscara que andou usando em São Paulo durante as Mil Milhas - algo que, confesso, me surpreendeu, porque o pai jamais foi mascarado.
Bruno parece menos arrogante do que o tio parecia ser. Isso é um ponto positivo em sua caminhada rumo à Fórmula 1.
O problema é que podemos estar, como eu disse no título e no início do post, diante de uma velha história, com novos personagens.
Apesar disso, minha torcida continua com o mesmo nome e sobrenome de 28 anos atrás...
Nelson Piquet.
4 comentários:
Será que eles vão virar campeões mesmo? Eu tenho minhas dúvidas, mas sejamos francos: o Nelsinho e mais piloto que o Bruno e entre esses dois, o lado Piquet tem larga vantagem.
O chato é que temos outros jovens com mais talento que os dois, mas sem o principal: grana.
Boa sorte para eles e que em 2008 não se repita as palhaçadas dos anos 1980 e 1990.
Se ambos forem espertos mandarão a parte bandida da imprensa plantar batatas e não entrarão na onda deles. Até porque ter rivalidade de herança é coisa de novela passada no Nordeste.
Pior foi a vitória do Bruno ter dado capa dos principais jornais do Rio e a do Nelsinho na GP2 ter dado 4, 5 linhas...
Infelizmente a imprensa, e não o sobrenome vai me fazer odiar o sobrinho.
Assim como o Rodrigo,vou torcer pelo Piquet,seja pai,
filho ou até mesmo o neto que um dia virá.
Quanto ao novo Senna,vai ser duro aguentar a imprensa ...
Abraço Rodrigo e pelo texto.
O comentário abaixo é perfeito! Se eles enterrassem isso tudo, seria um golpe duro na sede desmedida dessa imprensa verborrágica. Nego ia ter que procurar algo além do sobrenome para falar a respeito...
Emendando em outro ponto, não duvido que um certo Lucas Di Grassi coloque os dois no bolso assim que estiverem comeptindo em níveis similares de experiência e equipamento. Vamos ver.
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