segunda-feira, 24 de abril de 2006

Cara de palhaço, pinta de palhaço...

Eu ainda não recebi meu exemplar da ótima revista Motorsport Brasil - um bem-cuidado e sério trabalho da Confederação Brasileira de Automobilismo em prol do desporto a motor.

Mas já fiquei sabendo quem é que foi o entrevistado deste mês.

Ninguém menos que o prefeito CEM.

Ele só responde a perguntas por e-mail, porque como todos nós sabemos o quanto ele é cara-de-pau para não encarar as verdades ditas na lata.

A desfaçatez de suas respostas é absurda. E tomara que a máscara de sua administração venha a cair o mais rápido possível.

O alvo dos questionamentos da publicação, claro, foi a hedionda obra de um "Complexo Esportivo" dentro do Autódromo Internacional Nelson Piquet, em Jacarepaguá. Circuito este que, nas palavras (palavras?) de CEM, vai receber de novo a Fórmula 1... não sei como.

Eu acho que nenhuma das dúvidas da CBA foi esclarecida e as respostas beiram a raia do ridículo - reparem bem, por favor, nas duas últimas. Abaixo, a transcrição da entrevista, já publicada no devastador blog A Verdade do Pan.

MOTORSPORT BRASIL - A dúvida fundamental é sobre a pertinência das obras no autódromo. Quando da primeira licitação, era compreensível que se tratava de uma operação interessante para a prefeitura em termos econômicos e estratégicos, tendo em vista que os módulos teriam custo zero para a municipalidade, em troca da permissão de uso do entorno para a construção de hotel, shopping, conjunto de escritório etc. Em tese, a escolha do local se justificaria pelo interesse comercial pelo entorno do autódromo. Agora, porém, o custo é da prefeitura. Mais do que isso, o Sr. precisou pedir empréstimos federais. Então, por que foi mantida a opção por construir os módulos olímpicos no Autódromo Internacional Nelson Piquet, mesmo diante da nova situação criada após a primeira licitação não ser concretizada?
CÉSAR MAIA - Porque são perfeitamente compatíveis e dá uma dimensão ainda maior ao autódromo, uma maior visibilidade internacional, ajudando a captação de eventos para ele.

MB - Os críticos da construção dos módulos olímpicos no autódromo afirmam que haveria locais mais apropriados para a construção dessas edificações na mesma região de Jacarepaguá. A própria secretaria de Obras, em laudo técnico emitido para a CBA, quando não permitiu a realização de uma prova de Fórmula Truck, alegou que o deslocamento dos caminhões poderia causar rachaduras na pista por causa do terreno arenoso – inclusive deu como exemplo o fato de que, quando da construção no anel externo, a simples movimentação no canteiro de obras obrigou a prefeitura a recapear a pista inteira para o Mundial de MotoGP. Some-se a isso o fato de a sua administração ter tido papel fundamental na construção do Oval Emerson Fittipaldi, que permitiu a realização da Fórmula Indy no Rio de Janeiro. Estima-se que o investimento naquela ocasião teria de sido de US$ 60 milhões. É de conhecimento público que as edificações, quando em terreno alagadiço, têm um acréscimo de 30% a 40% no custo das obras. Diante disso, a pergunta é: Por isso tudo, não teria sido economicamente mais viável - até pelo motivo de que a prefeitura agora é quem paga – fazer a obra em outro terreno na mesma região?
CÉSAR MAIA - Ao contrário. Isso seria um desperdício num conceito moderno de agregação de equipamentos esportivos.

MB - Alguns episódios de sua gestão chamaram a atenção da comunidade do automobilismo, como a prefeitura não ter permitido a entrada de um delegado da FIA que processaria uma vistoria em 2001 e, durante alguns períodos, a pista esteve fechada para provas e treinos. Diante disso, procede o comentário de que o prefeito César Maia não gosta de automobilismo e, portanto, teria deixado o autódromo em más condições para justificar a sua utilização para outros meios?
CÉSAR MAIA - Um prefeito é pessoa jurídica e, portanto, deve representar a cidade. Encontrei o autódromo abandonado em 1993, com oito anos sem provas e tendo perdido a Fórmula 1 por – digamos - descuido. Recuperei, investi, trouxe a etapa mundial de motociclismo e de Fórmula Indy, que saiu por um abuso contratual e, portanto, por razões jurídicas. Agora estamos na reta para trazer de volta a Fórmula 1. Estive pessoalmente com o senhor Bernie Ecclestone em Londres.Surgiu uma oportunidade em 2006 e o Rio entrou na fila.

MB – Quando a CBA entrou com pedido de Mandado de Segurança no dia 7 de fevereiro último, o Sr. declarou que era um direito da Entidade, mas alertou que o atraso de 15 dias inviabilizaria a obra, mas esta só começou em 6 de março. O que impediu a prefeitura de iniciar a obra no prazo de 15 dias, se não havia impedimento jurídico?
CÉSAR MAIA - Uma última tentativa de usar o sistema de concessão.

MB – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a governadora Rosinha Matheus tentam boicotar a realização do Pan ou foi a prefeitura do Rio que não conseguiu, no tempo devido, estabelecer um orçamento preciso, gerando atualizações constantes e, portanto, questionamentos por parte dos Poderes?
CÉSAR MAIA - Houve mudança de dois ministros que haviam pré-autorizado o uso de naming rights (batizar lugares públicos com nome do investidor) para o concessionário. Isso alterou os cálculos do mesmo e voltamos a licitar.

MB - O Sr. sabe que o empréstimo do BNDES depende de MP por parte do Governo Federal, tendo em vista a lei de endividamento dos municípios. Se o Sr. não desistiu desse empréstimo, não estaria aí – na falta de recursos – o verdadeiro motivo dos atrasos?
CÉSAR MAIA - Para nós tanto faz, pois temos recursos em caixa. O que buscamos são novas fontes de receita para poder investir ainda mais na cidade.

MB - O futuro político do Sr. está condicionado ao sucesso do Pan-americano ou ele já está traçado?
CÉSAR MAIA - Minha próxima eleição será em 2010. Nada a ver. Quem perderia com o insucesso do Pan seria o País.

MB - O presidente Paulo Scaglione está atuando em defesa do autódromo e do automobilismo há mais de três anos, sempre reiterando que é favorável ao Pan, mas não podendo admitir a destruição de uma praça esportiva como o autódromo. Qual a sua opinião sobre a atuação do presidente Paulo Scaglione e da CBA nesse ponto?
CÉSAR MAIA - Quando existe um litígio jurídico sou orientado pela procuradoria a não emitir opiniões sobre a outra parte.

MB - Recentemente o Sr. sugeriu que o Rio de Janeiro substituísse o Grande Prêmio da Bélgica. Entretanto, o croqui encaminhado pela Riourbe para a Justiça mostra um traçado diferente do que existe atualmente e diferente, também, daquele que foi aprovado pela FIA. Qual seria de fato o traçado a ser usado para a Fórmula 1?
CÉSAR MAIA - Se ocorresse a autorização antes das obras estarem maduras, faríamos uma mudança na forma de construir - canteiro de obras etc - para viabilizar. Mas como fomos informados que esse assunto só poderá voltar em 2007, não haverá necessidade.

MB - Seria injusto imputar-lhe, no episódio da Fórmula 1, somente uma sacada política, sem objetivo real de sediar a prova, tendo em vista que a CBA acabara de impetrar uma ação?
CÉSAR MAIA - Pergunte aos promotores se é sacada política ou é uma luta que já leva 10 anos!

MB - O Sr. teve alguma resposta da Formula One Management?
CÉSAR MAIA – Sim, que para 2006 não há como mudar, mas que o Rio entra na fila em boa posição.

MB - A prefeitura aceitou o acordo proposto pela Juíza da 6ª Vara da Fazenda Pública no sentido da realização imediata das corridas num circuito alternativo de 3.000 metros e a adequação geral do autódromo, após o Pan, tendo como base a planta aprovada pela CBA e FIA, a Variante A. O que o Sr. diria para as pessoas do meio automobilístico que não acreditam que a Prefeitura irá honrar o acordo, notadamente nos itens que vertem sobre a disponibilidade imediata da pista e a reforma posterior ao Pan-americano?
CÉSAR MAIA - Nós estamos - como sempre - rigorosamente cumprindo os termos acordados e em sua inteira formalidade.

MB - Que mensagem o Sr. deixaria para o automobilista brasileiro?
CÉSAR MAIA - Que o esporte é sinérgico. O sucesso de uma modalidade leva a outra. Neste sentido, o automobilismo é também um grande interessado no Pan.

Um comentário:

Nil Borba disse...

Parabéns, Rodrigo !!

Seu texto crítico-construtivo está excelente. Todos sabemos o quanto as questões políticas vêem atrapalhando e fazendo o Rio perder posição em diversas áreas, principalmente a esportiva. Eu estava tão animada com o PAM/2007 que cheguei a comprar um ap no Recreio, pesquisei sobre as obras e estive em contatos co a prefeitura alguns meses, infelizmente não foi bem o que aconteceu e muitos projetos foram engavetados, sempre por questões politicas, inclusive por movimentos dos moradores contrários... Grande falta de visão de crescimento - isso é o que observamos no Brasil.

Beijos