A Globo lançou em fins do ano passado uma série de programas homenageando artistas já falecidos, que de quando em vez merecem uma lembrança bastante alentada. Trata-se do especial Por Toda Minha Vida, que já retratou a carreira de Elis Regina e Tom Jobim, por exemplo.
Mas o homenageado desta sexta não é um qualquer. Tem livro sobre ele, aliás, dois. O primeiro é bastante polêmico, escrito pelo paraguaio Fábio, que ajudou e foi ajudado por este cantor nos anos setenta. O segundo é de autoria de uma pessoa com suficiente conhecimento de causa para fazê-lo: Nelson Motta, amicíssimo de... Tim Maia.
É isso aí... o papa do soul e do funk no Brasil, morto em 1998 aos 56 anos em decorrência de uma parada cardiorespiratória, será lembrado em toda a sua carreira, que começou na Tijuca, fez uma escala não muito agradável nos EUA e decolou em 1970, quando compôs sucessos como "Você", "Não vou ficar", "Coroné Antônio Bento", "Primavera", "Cristina", "Padre Cícero" e muitas outras.
Tim foi uma usina de hits dançantes, arrebenta-pista mesmo, e de problemas - muitos - com todas as gravadoras. Chegou a um ponto em que ele foi considerado persona non grata nas cinco majors do mundo musical - Polygram (hoje Universal), CBS (a atual Sony Music), EMI-Odeon, WEA (a Warner Music) e RCA Victor. Insatisfeito com tudo e todos, especialmente com a "indústria do jabá", que ele tanto condenava, e especialmente com o roubo dos royalties das vendagens monstro de seus discos, fundou sua própria editora musical - a Seroma, iniciais para Sebastião Rodrigues Maia, seu nome de batismo.
Assíduo praticante do que ele chamava de triatlon - uma maratona regada a uísque, maconha e cocaína - e halterogarfista de mão cheia, surpreendeu em certa época quando ficou careta, desintoxicou-se, emagreceu e entrou no Universo em Desencanto. Foi quando produziu dois álbuns espetaculares na concepção de arranjos e harmonia, com uma banda afiadíssima - o embrião da famosa Banda Vitória Régia. Mas as letras eram praticamente todas sobre o Racional Superior, com exceção honrosa às sensacionais "Ela Partiu" e "Meus Inimigos". No fim de 75, Tim Maia deixou o sagrado de lado e voltou à vida profana, cantando as músicas de sempre e fazendo o que mais gostava.
Mestre na "cornitude" e em músicas "esquenta-suvaco" e "mela-cueca", Tim arrebanhou legiões de fãs que sempre o idolatraram, mesmo quando não comparecia aos shows - o que em praticamente toda a sua carreira tornou-se corriqueiro. Foi homenageado por Caetano Veloso em "Podres Poderes" e "Eclipse Oculto" e - suprema glória - por Jorge Benjor, seu amigo dos tempos da Tijuca, em "W Brasil", onde o Babulina conclamava que o Brasil precisava de um síndico do naipe de Tim Maia.
Divertidíssimos também foram alguns dos seus aforismos que entraram para a história.
"O problema do gordo é que quando ele beija não penetra, e quando penetra não beija."
"Num país onde traficante cheira, puta goza e pobre vota na direita, não existe técnico de som."
"Aquele sujeito é muito quatro-quatro-meia", explicando quando alguém não chegava a ser cinco - ou seja, nem mais, nem menos.
3 comentários:
Êpa, êpa, ôba, ôba...
Um instante, maestro!
Se o Fábio era aquele mesmo do "Stelaaaaa...em que estrela você se escondeu, em que sonho voc~e vai voltar...", o cara não era argentino ao invés de paraguaio?
Outra, alguns sucessos citados como de autoria do Tim Maia não eram do Cassiano, este sim o Rei do Soul brasileiro?
Mais uma, salvo engano, o hit "Cristina" não foi lançado primeiro por Guilherme Lamounier (quem lembra?
Como dizia Jorge Maravilha, cheio de razão...cartas para a redação
(é uma rima mas não é a solução...)
acabei de ver o espcial, estou escrevendo com o jornal da globo passando.
sem duvida foi uma boa lembranca da globo. comovente mesmo achei o drama de vida do tim, teve uma vida cheia de excessos, mas sempre foi uma pessoa de bom coracao e generosa
Joca, quanto vale o showwwww?
De fato vc tem razão, "Primavera" é claro do Cassiano. Em vez de compor, vou trocar o verbo por cantar, amanhã.
Quanto ao Fábio, é o mesmo de "Stella", o de "Velho Camarada" e "Até Parece Que Foi Sonho", e ele não é argentino, é paraguaio. Sempre me lembrei dele como tal.
Abraços, mestre!
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