sábado, 16 de dezembro de 2006

Casa mal-assombrada, Marimbondos, Piolhos e o Boi Joaquim

Corria o ano de 1978. Julho, mês de férias escolares. Pretexto bacana para uma viagem de meio de ano. E quando a família do meu pai ainda era um pouquinho unida, ou pelo menos se esforçava para sê-lo, fomos 'convocados' para conhecer uma cidade do litoral do Espírito Santo, chamada Marataízes.

Meu único tio de sangue, irmão mais novo do meu velho já falecido, tinha um "Fuca" vermelho e com ele comandou a nossa viagem - a minha, da minha mãe e do meu pai, rumo à praia. Saímos de manhãzinha do Rio em direção à estrada. No caminho, vi as enormes antenas da Embratel e passamos pelo à época famoso Posto Flecha, da Shell. E tudo em altíssima velocidade, porque meu tio não poupava o acelerador do Volks. Em menos de cinco horas, chegamos em Marataízes e fomos recebidos com festa pelo povo que lá estava.

Meu pai só ficou o fim de semana, pois voltava ao Rio para trabalhar (não tinha conseguido férias naquela época para ele - e nem em 79, quando voltamos para mais alguns dias por lá). E o programa da tropa naqueles dias capixabas era básico: acordar cedo para o café - as crianças, eu inclusive, iam para a fila do mel (fiquei com ódio desse negócio por causa disso) - e depois, roupa de banho e pimba! Praia e sorvete até não poder mais.

A rua da casa que alugamos dava direto para a Avenida Atlântica, que de semelhança com a referência da praia aqui no Rio só tem o nome - pelo menos na época. O calçamento era de paralelepípedo e a pista estretíssima. Pelo menos tinha uma extensão respeitável, uns 2,5 km mais ou menos. E era na praia da Av. Atlântica de Marataízes onde ficávamos.

À tarde, o que não faltava era algo pra fazer. Não tínhamos televisão, então nada de ficar enfurnado na sala vendo desenho. O negócio era jogar bola (eu e meu tio tínhamos rachas sensacionais) e as meninas iam pular corda, amarelinha ou qualquer coisa que lhes desse na telha.

Lembro de uma das nossas muitas travessuras: cismamos pra saber se a casa do lado tinha gente, porque a mesa estava sempre posta, com prato, guardanapo e nada - ninguém movia nada, nada era mexido. Para nós, ela era sempre mal-assombrada ou algo do gênero. E dias antes de voltarmos pro Rio, os xeretinhas foram pegos de surpresa por três ou quatro jovens de uns 25, 27 anos, que estavam chegando para passar naquela casa alguns dias.

Eles foram super simpáticos e nos ofereceram inclusive coca-cola, algo que nossos pais vinham sistematicamente nos negando na casa em que estávamos. Quando foi a minha vez, resolvi 'dar espetáculo'. Fingi que havia algo diferente na bebida e caí estatelado no chão, só para ver a reação das primas. Uma delas saiu correndo, chorando... foi hilário.

Estive em outro momento bizarro como o principal personagem. A casa vivia infestada de marimbondos, um tipo de vespa que poderia ferir qualquer um de nós com suas ferroadas. Havia algumas colméias por lá e não raro, derrubávamos algumas para que os adultos jogassem creolina nelas e assim exterminar os bichos.

Pois bem, lá estava eu chutando bola na parede, quando um marimbondo veio velozmente na minha direção. Sem ter para onde ir, só abri a boca para gritar de medo e o bicho veio... direto para a boca! Não tive dúvidas: diante do pânico da minha mãe, cuspi o marimbondo no chão e o coitado depois morreu pisoteado.

Nesse meio-tempo, chegou em Marataízes uma outra prima nossa, a Luciana, que veio com a mãe de Fortaleza, onde moravam. Em três ou quatro dias, alguém notou que ela coçava demais o cabelo. Para nenhuma surpresa, minha mãe - sempre diligente - detectou piolhos no cabelo dela. E outra das minhas primas, a Patrícia, já fora pega no contato com a Luciana. O jeito foi usar o na época famoso Neocid em pó e matar os bichos.

A 'véia' pegou uma toalha e sapecou o pó na cabeça da Patrícia. E foi um festival de pontos brancos caindo do cabelo dela. Sensacional. Depois, eu também levei o pó na cabeça para que não surgissem lêndeas no meu cabelo. Dessa, eu escapei.

Mas a melhor história é a que vem a seguir.

Um dia, o meu tio pegou a criançada (quatro meninas e eu) e botou no "Fuca". Ele pegou a estrada rumo a Mimoso do Sul, uma cidade agropecuária próxima a Marataízes. Antes de saírmos ele me segredou: "vou aprontar uma com a Patrícia".

Dito e feito: o Ernâni, que não era fácil, parou o carro em frente a um barranco com um puta cercado. Parecia um curral - e era - cheio de bois e vacas. Do nada, ele começou a gritar a plenos pulmões, mirando um dos animais.

"Joaquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!"

Eu desandei a rir. As outras meninas também. Menos, claro, a Patrícia.

Apaixonada pelo pai, começou a chorar sentida e magoada com a brincadeira do padrinho. E, xingando, reclamou com o Ernâni.

"Meu pai não é boi... meu pai não é boi..."

A molecagem rendeu. E até hoje, eu e minha mãe damos boas risadas quando lembramos aquelas férias felizes em Marataízes.

Ainda tem mais história pra vir. Qualquer dia, eu conto.

2 comentários:

Luly disse...

Que delícia ouvir histórias antigas! Bom, é que eu adoro contar as minhas... rs
Não vejo a hora de ler mais.
:)

Anônimo disse...

Oi, Dos Gatinhos!
Adorei a história.
Essas histórias de
infância são simples
e cheia de significações.
Vou querer ouvi-las
pessoalmente, rs*
Beijos!!!!