sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Arrivederci, camionista


Como o destino é engraçado, senão irônico ou cruel.

Ontem, aqui de madrugada, abri o Youtube para ver um dos vídeos da temporada de 1980, especificamente o GP dos EUA em Long Beach, onde Nelson Piquet venceu pela primeira vez na Fórmula 1.

Nessa mesma corrida, um piloto teve a carreira abreviada em razão de um brutal acidente no meio da disputa: Clay Regazzoni.

O ítalo-suíço demoliu seu Ensign contra o Brabham de Ricardo Zunino e uma parede de concreto, dobrando em L e pegando fogo na seqüência. Rega foi transportado a um hospital, onde constatou-se fratura de coluna. Resultado: ele ficou paraplégico e nunca mais competiu.

Devido ao seu estilo de guiada, atravessando o carro, pisando firme o tempo todo sem se importar com as condições do equipamento, ele tinha o apelido de Camionista - caminhoneiro, em italiano.

E quis o destino que o Camionista morresse hoje num desastre na Rodovia A1, próximo a Parma, ao bater com sua Chrysler Voyager num caminhão.

Rega foi um dos mais espetaculares e guerreiros pilotos de sua geração. Depois de iniciar carreira na Fórmula 3, subiu para a F-2 e foi campeão europeu da categoria em 1969 com um Tecno. Imediatamente foi contratado pela Ferrari e assumiu o posto de piloto número 2 da lendária escuderia italiana na categoria máxima. Estreou no GP da Holanda (o mesmo onde morreu Piers Courage e onde também estreou François Cévert) e completou a corrida em quarto. Venceu o GP da Itália e terminou o campeonato de 1970 na terceira colocação.

Com a Ferrari em crise nos dois anos seguintes, Rega se sobressaiu no Mundial de Esporte Protótipos, andando forte com a 512S de 1971 e, eventualmente, com a 312P em 1972. Nestes dois anos, não venceu na F-1 e embora sua relação dentro da equipe não expusesse nenhum tipo de desgaste, Regazzoni mudou de ares em 1973.

Foi para a BRM, onde com um equipamento mediano, fez a pole no GP da Argentina e somou apenas dois pontos ao fim do campeonato. Um desempenho que o levou a retornar para a Ferrari, para quem recomendou a contratação de um certo Niki Lauda, até então criticado por ser um piloto "pagante" e que fizera algumas boas corridas como companheiro de Rega.

Os dois formaram uma dupla infernal na Ferrari. Acostumado com o modus operandi da equipe italiana, Rega pegou rápido a mão do modelo 312 B3 e deu muito trabalho a todos os adversários - não só ao próprio Lauda, mas também a Jody Scheckter, Carlos Reutemann e especialmente a Emerson Fittipaldi.

Rega venceu naquele ano o GP da Alemanha e chegou à última prova em Watkins Glen empatado em pontos com Emerson Fittipaldi. Mas o ítalo-suíço fez uma prova terrível no dia da decisão: chegou em décimo-primeiro. O Rato foi o quarto colocado e alcançou o bicampeonato.

Nas duas temporadas seguintes, Rega continuou guiando aguerrida e agressivamente, às vezes desgastando demais a máquina e perdendo oportunidades de ouro para agregar mais vitórias ao seu currículo. Em 75 e 76, venceu uma corrida por ano, em Monza e Long Beach (na estréia do circuito de rua na F-1), respectivamente. Mesmo assim, nos três anos em que ele e Lauda correram juntos, a Ferrari alcançou dois títulos mundiais de construtores e o austríaco foi o campeão de pilotos em 1975.

Em 77, com 38 anos completos e tido como "decadente", foi para a Ensign, onde colheu alguns bons resultados antes de passar para a Shadow, onde pouco fez. Por isso, muitos acharam graça quando Frank Williams - que no fim daquela década iniciava a frutuosa parceria com os árabes - o contratou para o Mundial de 1979.

Ao volante do carro-asa Williams FW07, Rega deu um calor em Jody Scheckter no GP de Mônaco e foi premiado com a primeira vitória da história da equipe no GP da Inglaterra, a uma média superior a 228 km/h. Mas ele ainda aprontaria poucas e boas, como o acidente que demoliu a Brabham-Alfa de Nelson Piquet na terceira volta do GP da Itália, jogando o novato brasileiro no acostamento a mais de 280 km/h.

Dispensado pela Williams, Regazzoni voltou à Ensign para colaborar com Morris Nunn no desenvolvimento do carro desenhado por Ralph Bellamy (o mesmo do malogrado Copersucar F6). Ele conquistou uma nona posição no GP da África do Sul e um 12º lugar em Interlagos no grid de largada. Em Long Beach, na última corrida da carreira, ele vinha em sétimo quando perdeu o freio no fim de uma longa reta e bateu.

Mesmo com as pernas paralisadas, Regazzoni jamais deixou de lado os carros velozes. Adaptou recursos de freio e acelerador no volante de seus veículos de passeio - e também nas vezes em que disputou o Rali Dakar. E nunca abandonou a Fórmula 1, mesmo descontente com muitas das decisões da FIA. Tanto que trabalhou até o fim desta temporada como comentarista das provas para a TV italiana.

Com certeza o velho Gianclaudio, o grande Rega, deixa saudades.

Arrivederci, camionista...

6 comentários:

Anônimo disse...

Teve notinha no News, curtinha como solicitado... tentei não fazer feio. O velho Rega é um desses que SEMPRE fazem falta numa corrida de carros. Escola seguida por gente do calibre de Mansell e Montoya... Quam será o próximo?

Anônimo disse...

UNIPART é uma distribuidora de peças no Reino Unido, algo como AC Delco ou Motorcraft aqui na nossa terra.

Anônimo disse...

Meu primeiro ídolo na F1, era criança ,já torcia pra Ferrari,não via a menor diferença entre ser brasileiro ou Suiço,achava seu capacete o mais legal,estava sempre em destaque nas reportagens da 4Rodas da época, sua ferrari era numero 11 ,ficava mais bonito que o numero 12 que o Lauda e seu sem graça capacete todo vermelho.
Como é simples a visão de uma criança.
Agora o Regazzoni se foi, a lembrança não!

Jonny'O

Anônimo disse...

Perda lamentável. Foi um dos bons dos anos 1970.

Nunca vai ser esquecido, principalmnte pelos torcedores da Ferrari.

Victor Menezes disse...

Va con Dio, Camionista.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

uma grande perda para o automobilismo e para a humanidade em geral