sábado, 18 de novembro de 2006

A primeira anarquia do magro abusado

Muito antes de se consagrar como o maior roqueiro do Brasil até sua morte em 1989, aos 46 anos de idade, Raul Seixas provou num álbum de apenas meia hora de duração e 12 faixas o quanto era criativo, inteligente, abusado e tresloucado.




Veja a turma aí acima, na foto da capa do disco, tirada no cinema Império, famoso "poeira" do Rio dos anos 30 aos 70.

Raul é o magrelo de camiseta vermelha, óculos de grau e cavanhaque. Vestida de "Super-Homem" está a cantora paulista Míriam Batucada (e que pernões ela tinha...); ao lado dela, mão no queixo e camisa da seleção, o capixaba Sérgio Sampaio; e na outra ponta, o único da turma que ainda está vivo - e tem blog na internet - Edy Star.

Na época da gravação deste disco (1971), Raul era apenas "Raulzito", produzia discos de artistas como Renato & Seus Blue Caps, Trio Ternura e Jerry Adriani na CBS, e aproveitando uma suposta distração dos diretores da companhia, arregimentou músicos e deu forma ao disco.

Este é um mix sonoro como poucas vezes se viu na carreira do magro. Tem o desabafo de "Eta Vida" (cantado por Raul e Sérgio em dueto), com uma abertura pra lá de debochada: Respeitável público! A Sociedade Da Grã-Ordem Kavernista pede licença para vos apresentar o maior espetáculo da terra!

O escracho continua na faixa-título. Edy Star abre "Sessão das 10" como 'uma homenagem aos boêmios da velha guarda'. E em ritmo de seresta, desfila uma letra irônica e genial de Raul Seixas.

Ao chegar do interior
Inocente, puro e besta
Fui morar em Ipanema
Ver teatro e ver cinema
Era a minha distração.

Foi numa sessão das dez
Que você me apareceu
Me ofereceu pipoca
Eu aceitei e logo em troca
Eu contigo me casei.

Curtiu com meu corpo
Por mais de dez anos
E depois de tal engano
Foi você quem me deixou.

Curtiu com meu corpo
Por mais de dez anos,
Foi tamanho o desengano
Que o cinema incendiou.


Como em praticamente todas as faixas, o baião-frevo-calipso "Eu Vou Botar Pra Ferver" é aberto com uma vinheta (a inspiração veio dos discos de Frank Zappa, em especial o 'Mothers Of Invention') e depois cantado por Raul e Sérgio, em perfeita sinergia. O magro capixaba manda muito bem em "Eu Acho Graça", a quarta faixa do álbum, abrindo terreno para - enfim - Míriam Batucada aparecer com a anárquica "Chorinho Inconseqüente".

"Quero Ir" é um baião-pop que remete à canção "I Wanna Go Back To Bahia", do baiano Paulo Diniz, que despontou para o anonimato depois desse meteórico sucesso. Míriam comparece novamente com outra levada de ritmo nordestino, o xaxado, em "Soul Tabarôa" (letra e música de Antônio Carlos e Jocafi), trazendo na esteira o rock and roll de "Todo Mundo Está Feliz", cantado e escrito por Sérgio Sampaio.

"Aos Trancos E Barrancos" é um sambão sensacional composto por Raul que resume em outras linhas a sua trajetória musical. Do menino pobre de Salvador que passou fome para morar em Ipanema e se tornar astro do rock. Edy Star comparece novamente com a ótima "Eu Não Quero Dizer Nada" e o disco fecha com mais um petardo de Raul, "Dr. Paxeco" - ou melhor, o "Finale" é a mesma musiquinha canalha de abertura de circo acompanhada de uma descarga numa privada!

A rasteira que Raulzito e os Kavernistas deram no que se convencionava chamar de MPB surpreende até hoje, 35 anos depois que o disco foi lançado e provocou inclusive a saída do baiano como funcionário da CBS. Por um motivo: a gravadora não foi comunicada do estouro no orçamento de produção. Aí descobriram a traquinagem e o mandaram embora.

Raul respondeu com uma aparição monumental no último Festival Internacional da Canção, em 1972, cantando "Let Me Sing, Let Me Sing" e "Eu Sou Eu, Nicuri é o Diabo". O resto é história.

2 comentários:

Anônimo disse...

Foi uma corrida muito disputada,boa de se ver.
Tomara que o Caca reencontre a competitividade ,sem querer entrar no merito da questão das brigas , pois é comum em uma categoria disputadada como é o caso da Stock.
O Caca é um grande piloto ,foi nosso grande nome no Superturismo Sulamericano lembram?
Tomara que tudo termine bem em SP dentro da pista.

Jonny'O

Anônimo disse...

Rodrigo, conheci o baterista do último disco e turnê do Raul. Ele se chama Franklin Paulillo, e tocava na banda AI-5, de São Paulo.
A banda era fantástica, agora tem uma nova formação, e o Franklin fazia um solo no final do show que era, simplesmente, espetacular.