segunda-feira, 17 de julho de 2006

Fórmula 2 Brasil: bons tempos do nosso automobilismo

Antes de mais nada, peço desculpas por não conseguir atualizar o blog no fim de semana. Não tenho laptop e estava em São Paulo curtindo momentos que ficaram na memória - e que prometo compartilhar quando as fotos chegarem. Se preparem porque é um post muito bacana.

O fim de semana em Interlagos não foi emocionante apenas dentro da pista. Fora dela também, conversando com muitos aficionados que compartilham a mesma paixão - o automobilismo. Tive o privilégio de ganhar no livro de Jan Balder uma dedicatória do próprio.

Ganhei também o livro "O Boto do Reno", do Flávio Gomes. Mas como ele ficou mascarado com o pódio do DKW #96 na Super Classic, não o encontrei e por isso não ganhei a dedicatória. Fica para uma próxima.

Enfim... o que me leva a vir aqui nesta madrugada é que, em dado momento da conversa, numa das muitas rodas de bate-papo que se formaram ao longo da manhã de sábado em Interlagos, veio uma questão que martelava a cabeça de um dos presentes.

"Qual era o único carro 'não-Polar' no começo da Fórmula 2 Brasil? Era amarelo, tinha o patrocínio das Casas Pernambucanas..." Caiu a ficha. Era o Cianciaruso-Passat, construído pelo Salvador Cianciaruso pro seu piloto, José Luis Bastos, disputar o campeonato de 1981.

A Fórmula 2 Brasil foi criada naquele ano para cobrir a brecha da Fórmula Volkswagen 1600 (a Supervê), extinta em 1980 porque a montadora alemã retirara-se das pistas. Os pilotos foram à luta e conseguiram reunir 18 carros para a primeira prova do ano, em 21 de abril no autódromo de Brasília.

Lembro que assisti a corrida com narração de Fernando Gomes e comentários do falecido Giu Ferreira. O vencedor foi Antônio Castro Prado, ainda com seu Polar pintado com a mesma programação visual do título de 80, mas sem nenhum patrocínio. Na época, os carros corriam com pneus nacionais Maggion e a preparação já era bastante liberada. Os motores boxer já superavam 150 HP em 1981.

Dárcio dos Santos, tio do piloto de F-1 Rubens Barrichello, ganhou a prova de Interlagos e a categoria viajou para o Rio para a terceira corrida.

Esta eu assisti in loco das arquibancadas.

Lembro de alguns detalhes que não saem da memória. O Chico Feoli com seu lindo carro, parecendo o Ralt-Toyota da F-3 inglesa; Adu Celso, que corria com um Polar-Passat, demorando pelo menos duas voltas pra largar; o Walter Caravaggi sem aerofólio traseiro em seu Polar #33; o Polar-Fiat Turbo do Élcio Pellegrini, um fracasso; a pintura do carro de Marco De Sordi, escandalosamente inspirada no Brabham de Nelson Piquet; e a inesperada vitória de Vital Machado, fruto da falta de combustível no carro do virtual vencedor, Castro Prado.

Pradinho voltou à carga e venceu em Goiânia. Àquela altura, com dois triunfos, um segundo e um terceiro, ele tinha 28 pontos e com duas ou três vitórias a mais, levaria a taça antecipadamente. Ele era um piloto muito bom e também experimentou o automobilismo europeu em 1975, andando com um March-BMW de F-2 antes de retornar para o Brasil.

Mas havia a promessa de um novo carro, capaz de superar o decantado domínio do Polar. E eis que ele surgiu em Cascavel, por obra e graça de Pedro Muffato. O carro era o Berta argentino, projeto do mago de Alta Gracia, Oreste Berta, cujos direitos de fabricação foram adquiridos por Pedro no Brasil. E com ele, Muffato deu show em casa até quebrar. Prado venceu e disparou na liderança.

Aí veio a etapa de Guaporé. E o inesperado baixou no circo da F-2 Brasil. Uma irresponsabilidade de alguns pilotos, que entraram na pista com as atividades já encerradas, provocou a morte do líder do campeonato. Pradinho quis dar umas duas ou três voltas só para sentir o carro depois da classificação - onde tinha feito a pole. Nem macacão colocou - entrou de camiseta e bermuda mesmo dentro do cockpit. Colocou o capacete e em vez de sair por uma outra parte dos boxes, resolveu ir pela saída normal mesmo - e que estava fechada com uma cancela de eucalipto.

Resultado: como a visibilidade de qualquer objeto é difícil na horizontal, Pradinho não viu a cancela e entrou com tudo. Morreu em razão dos graves ferimentos na cabeça.

Sob profunda tristeza, a corrida mesmo assim aconteceu e Alfredo Guaraná Menezes venceu. Uma semana depois, em Tarumã, ainda atordoados, os pilotos deram mais um belo espetáculo e Pedro Muffato conquistou, enfim, a vitória do carro biônico, como a imprensa chamava o já batizado Muffatão.

Em Interlagos, na penúltima etapa, Arthur Bragantini sentou no bólido de Castro Prado e nas 12 voltas da corrida, mostrou que o monoposto ainda continuava muito competitivo. E sem o antigo líder, a disputa pelo título ficou acirrada e aconteceria entre Dárcio dos Santos, Vital Machado e Alfredo Guaraná Menezes.

Com muitos pilotos fora de qualquer possibilidade, apenas 13 carros alinharam para a última prova do ano, no Rio de Janeiro. Entre eles, um segundo Muffatão-Passat, preparado por Dino de Leoni para o gaúcho Chico Feoli.

Guaraná fez a pole position e durante toda a prova recebeu enorme pressão de Vital Machado, que caso conseguisse a ultrapassagem levaria o título. Na última volta, os dois bateram e quase saíram no tapa. Guaraná alegou que o pescador não levava o combustível para o motor e que o rival se precipitara. Pura desculpa esfarrapada, já que Marcos Troncon, testando pneus Pirelli em seu Polar, assistiu de camarote a cena e culpou o antigo bicampeão da Fórmula Volkswagen pelo acidente.

A vitória foi de Chico Feoli, com Dárcio dos Santos em segundo e Daniel de Souza (por onde andaria?) em terceiro. Na vistoria técnica, porém, o Muffatão-Passat de Feoli foi protestado pela equipe de Dárcio. E na canetada, foi desclassificado por um comissário técnico porque a bomba d'água era de Fiat e não da Volkswagen - na verdade isso fazia parte de um acordo entre Pedro Muffato e o comissário técnico Bruno Brunetti. Só que no Rio o comissário-chefe se chamava Manolo...

Guaraná foi excluído assim como o companheiro de equipe Aldo Pugliese. E isso deu o título a Dárcio dos Santos. Porém, em decisão tomada dois anos depois, a CBA revogou a desclassificação, dando de novo os pontos da vitória a Chico Feoli - o segundo lugar de Dárcio foi o resultado que efetivamente deixou Guaraná como o campeão brasileiro de 1981.

Depois deste ano confuso e tumultuado, a categoria ainda sobreviveu por mais três anos - e isso graças ao pretenso intercâmbio com os argentinos, que tinham motores e carros muito superiores aos nossos, mesmo usando pneus Fliter, de qualidade inferior aos Pirelli que passaram a equipar nossos carros em 82.

Nesse ano, Leonel Friedrich veio engrossar as fileiras da categoria, que teve outro gaúcho, Ronaldo Ely como campeão. Também entrou na categoria o chassi Heve, construído por Herculano e Antônio Ferreirinha. Com este carro, Marcos Troncon levantou o caneco de 1983. E já com o grid minguando a cada dia, Cézar Bocão Pegoraro foi o último campeão da F-2 Brasil.

Com a extinção do certame nacional, os poucos que se dispuseram a investir ainda levaram surras dos pilotos argentinos por dois anos até que em 87, com a criação da Fórmula 3 sul-americana, Leonel Friedrich lavou a alma e foi campeão. E por uma equipe argentina, diga-se.

Mas isto já é outra história...

9 comentários:

Anônimo disse...

Grande Mattar , fui eu quem te encheu o saco no sabado ,depois falamos tb do lindo BRN do Afonso Rangel ,lembra?
Voltando a F2(maravilhosa) seu texto ai foi de arrebentar ,valeu;só faltou as fotos,que alias ,perdi todas em uma mudança de residencia.
Quanto ao Cianciaruso-Passat,será que um dia vai aparecer uma foto sequer por ai?
Um grande abraço ,e foi com enorme satisfaçao saber que temos um narrador de corridas que sabe realmente de automobilismo.
Jonny'O

Anônimo disse...

Tava esquecendo!O linque que prometi pra vc sobre maravilhosas fotos das 500cc,Steve backer,Virginio Ferrari,Pat Hennen,Luckynelli e outros.É o maior melhor da internet, tem uma foto dificilima da linda Fior do Jean Lafond de 1983.
http://www.highsider.com/nations.htm

Jonny'O (jonnyo@bol.com.br)

Victor Menezes disse...

Tá faltando alguma coisa no cenário do automoblismo nacional. Começa com Jaca...

Anônimo disse...

Fala Jonhy´O e Rodrigo,

se acharem a foto me avisem essa eu preciso ver tb !

Eu tenho uma reportagem muito interessante da Motor 3 em 83 feita pelo Marazzi do F2 da Heve, do Buzzaid.
Se interessar eu mando as fotos.

um abraço

Filipe

ps: a farra lá no box #96 foi bom hein !

Anônimo disse...

Pô FilipeW ,só me explica qual delas ,porque a Motor3 testou duas vezes o Heve do Buzzad ,primeiro foi o Heve vermelhinho,e depois testou o azul e branco patrocinio da Pool .Seja qual for ,você tem meu email.Ficarei grato.
Um abraço.
Jonny'O

Anônimo disse...

Oi Jonny´O,

O teste era o Heve azul e vermelho e estava como patrocínio da STP mas que só pq era para participar de uma exposição. O Buzzaid ainda não tinha assinado nada com a STP.

Vou escanear e te passo em seguida.

abraço

Anônimo disse...

FilipeW então o Marazzi testou três carros do Buzzaid no tempo da Motor3,esse STP eu não vi.
Mas tenho também uma boa noticia ,o Caio de Curitiba estava junto com a roda que conversava lá no Farnel e conseguiu a bendita foto do Cianciaruso-Passat e já está comigo(o Mattar vai gostar tb),depois que vier seu email (pois não tenho) lhe envio tb.
Abraços.
Jonny'O

Anônimo disse...

Rodrigo,
Que bom este post da F2 Brasil.
A estreia do Ciancaruso em Brasilia foi bem tumultuada. O caminhão que levava o carro quebrou, e o Cianciaruso só chegou na noite anterior da corrida. O piloto seria o Jeferson Elias, que não conseguiu dar uma volta sequer com o carro. Por isto deu um piripaque nele e foi substituido pelo Maurizio Sala, que estava lá e emprestou até o capacete do Elias.
Pena que o carro não completou nem a primeira volta, porque rompeu uma mangueira do radiador.
Abs, caio

Anônimo disse...

Olá amigos , gostaria de receber informações a respeito dos chassis HEVE de formula 2 , pois estou reformando um e preciso de desenhos e informaçoes tecnicas . grato ( intervel@bol.com.br)
Aguardo ansioso !!!