quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Sergio Mendes, esse desconhecido

Há poucos dias, li numa coluna de jornal que o pernambucano Normando Santos, depois de 42 anos longe do país, retornou ao Brasil proveniente da França para voltar a cantar por aqui.

Tem outro artista que está há idêntico tempo no exterior. E provavelmente nunca mais voltará.

Talvez não precise disso porque lá fora, seu trabalho é celebrado como cabeça-de-ponte da música brasileira, embora ganhasse do mordaz Henfil, nos tempos do "Pasquim", a pecha de diluidor de MPB.

Qualquer que seja a definição, o personagem é Sergio Mendes, um niteroiense que deixou esta terra ainda jovem para explodir como uma bomba de som nos EUA.

Ele, bem como dezenas de outros artistas que despontaram para o anonimato, foi protagonista do show que introduziu a Bossa Nova naquele país, no Carnegie Hall. Dali, apenas ele, Tom Jobim e João Gilberto ganharam o estrelato, fizeram bons contratos e emplacaram uma carreira internacional.

O segundo trabalho dele, ousadamente chamado Você Ainda Não Ouviu Nada!, era suingue puro, samba-jazz de primeira ajudado pelo Sexteto Bossa Rio, com os lendários Edison Machado (bateria) e Raul de Souza (trombone). Com arranjos sensacionais para "Garota de Ipanema" e "Nanã", o LP abriu-lhe oportunidades para trabalhar com a lenda do jazz Cannonball Adderley.

O golpe militar de 1964 foi o pretexto perfeito: Sergio Mendes foi para os EUA e nunca mais voltou. Sua carreira decolou de fato quando montou o grupo Brazil 66, com músicos de grandioso calibre - Dom Um Romão (bateria), Rubens Bassini (percussão) e Tião Neto (baixo), além de agregar aos vocais a solista Lani Hall, esposa de Herb Alpert e uma cantora de primeiríssimo time, que dividiu os vocais com a loura Karen Phillip - uma cantora meia-boca - e com Gracinha Leporace, que conquistou o coração de Sergio ao vencer com "Margarida" o FIC de 1967.

Nessa época, o grande sucesso do pianista era uma versão de "Mas Que Nada", do então Jorge Ben. E com o Brazil 66, a música estourou no mundo todo. Vieram depois versões suingadas para "Day Tripper" e "Fool On The Hill", dos Beatles e a versão em inglês para "Chove Chuva", que ganhou o título de "Constantly Rain".

Quando no início dos anos 70, Sergio Mendes vinha esporadicamente ao Brasil para fazer shows, era literalmente engolido por diversos dos nossos artistas nos palcos. Consta que numa ocasião, Wilson Simonal, escalado para fazer a preliminar de um espetáculo de Sergio no Maracanãzinho, roubou a cena e por pouco o niteroiense não fez o seu show, envergonhado pela espetacular performance do Simona, que levantou as 20 mil pessoas presentes ao ginásio.

E a sua pouca militância musical em nossas plagas ganhou uma ótima tiração de sarro do nosso primeiro grupo de rock and roll - Os Mutantes, que em seu disco Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets, sacanearam Sergio Mendes com a música "Cantor de Mambo".

Esta é a história de um rapaz
Que encontrou o seu sucesso augures
Além-mar
Seu nome?
Cantor de Mambo

(Mambo! Mambo! Mambo!)

Eu não volto mais pra cá, não
Hoje eu sou cantor de mambo
(Mambo! Mambo! Mambo!)

Hoje eu vivo aqui na América
Ganho bem cantando mambo
(Mambo! Mambo! Mambo!)

Yo te quiero mi querida
Sin tus besos no soy nada
Baila el mambo que yo canto a ti

Yo te miro tu me miras
Y en tu cuerpo mi delirio
Baila el mambo
Baila el mambo que yo canto a ti
(Mambo! Mambo! Mambo!)

Eu já tenho um Cadillac
Moro aqui em Hollywood
(Mambo! Mambo! Mambo!)

Sou sucesso aqui na América
Sou o rei cantando mambo
(Mambo! Mambo! Mambo!)

Com o Brazil 77, Sergio ganhou um contrato na gravadora Elektra, selo da Warner, e retomou o sucesso na carreira. Depois disso, teria uma presença mais atuante no país, compondo com Ivan Lins a música "Depende de Nós", tema do programa infantil Balão Mágico, além de chamar para gravar em diversos LPs o saxofonista Márcio Montarroyos e o percussionista Peninha, hoje no Barão Vermelho.

Sergio também tinha estreitas ligações com um ídolo do esporte: é amigo pessoal do bicampeão de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi e diversas vezes foi assistir às 500 Milhas de Indianápolis. Numa delas, encontrou-se com o Beatle George Harrison, outro amigo de longa data do Rato. Imaginem a festa que foi.

Mesmo não sendo hoje um nome conhecido, principalmente aqui e sem ser tão cultuado nos EUA quanto no início de sua aventura musical na América, seu trabalho continua influente, tanto que recentemente participou de gravações com o grupo Black Eyed Peas, ressuscitando o clássico "Mas Que Nada".

Um comentário:

Anônimo disse...

Rodrigo,

Fui e cntinuo sendo Fão da Lanny Hall, aquela morena que cantava no Brasil'66 e que ao sair da Banda se casou com o pistonista do Tijuana Bras. Tenho dois Cd´s dela.