segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Caminhando contra o vento... nada no bolso ou nas mãos...

Eu sei, eu sei... comecei 2007 em marcha lenta no blog, diferente do ritmo alucinante do início (opa... ainda vou falar sobre um filme que tem esse nome, mas isso fica pra depois).

Vamos então atacar de... tchanan... Anos Rebeldes!

Pois é, moçada. Comprei o box com três DVDs contendo o créme de la créme desta minissérie (muito) bem escrita por Gilberto Braga e Sergio Marques. Sobre a qual, de saída, revelou-se uma curiosidade: o autor principal assumiu que era um alienado sobre tudo o que acontecia no país no período que norteia a atração: de fins de 1963 a 1972, mais ou menos.

Acredito que a história muitos já conheçam: um grupo de secundaristas do Pedro II, cheios de sonhos e de idéias na cabeça, querem mudar o mundo com as próprias mãos. São o que se chama hoje de idealistas. De revolucionários, talvez.

E um deles, João Alfredo (Cássio Gabus Mendes) se envolve com Maria Lúcia (Malu Mader), filha do jornalista Orlando Damasceno (brilhante participação do grande Geraldo Del Rey). O triângulo amoroso é completado por Edgar (Marcelo Serrado), que também é apaixonado pela menina e engole a decepção de ver João chegar na frente e ganhar Maria Lúcia.

Mas surgem os problemas: a revolução de 64, o Ato Institucional I, seguido do II, o choque do AI-5, cassações, prisões, tortura e a luta armada. Militante ferrenho de esquerda, João deixa o amor de lado, as diferenças ideológicas que o separam de sua amada e parte em busca de uma luta inglória contra um inimigo feroz e imperdoável: a ditadura militar. E deixa Maria Lúcia à mercê do amor de Edgar, com quem se casa por pura compaixão.

João não está sozinho na luta, pois além dos "companheiros" de militância e de faculdade, a amiga Heloísa (Cláudia Abreu), filha de um magnata que ajudou a patrocinar o golpe de 64, também entra na guerrilha. E acaba morta numa das mais comoventes cenas de toda a minissérie.

Em 11 horas e 20 minutos de conteúdo, conseguiu-se compilar o melhor e o pior de uma época que marcou a vida de todos nós. Uma época de atrasos, violência, arrocho, opressão e de luta por condições dignas.

Realidade e ficção se misturam a todo instante, como as citações ao show Opinião, os ensaios da Portela que viraram moda entre os jovens de Ipanema na época, a passeata dos Cem Mil, e principalmente a morte do estudante Edson Luís, que foi baleado no bandejão do Calabouço, no Rio de Janeiro. Nem poderiam ficar de lado as perdas de Che Guevara, Lamarca e Marighela.

Um personagem sensacional é Galeno Quintanilha (Pedro Cardoso), amigo intelectual e multimídia de João Alfredo, Edgar e Valdir (André Pimentel) - este um delator no fim da trama. Com sua lábia, simpatia e perspicácia, Galeno se infiltra nas melhores bocas, arruma trabalhos temporários, conhece todo mundo do meio artístico e... desbunda! De uma hora para outra, vira hippie, total. Mas sem esquecer a amizade que o unia à antiga turma. E nos anos 70, em plena época de chumbo, vira autor de novela das seis! É... o que o dinheiro não faz.

Não faltam também os tipos característicos daquela época: o executivo bem-sucedido - Fábio (José Wilker); o reacionário - Abelardo, pai de João Alfredo (Ivan Cândido); um quarteto de solteironas fofoqueiras e praieiras - Zuleika (Geórgia Gomide... e que pernas!), Adelaide (Terezinha Sodré), Glória (Sônia Clara) e Dolores (Denise del Vecchio); um bobalhão que morre de amores pela mocinha rica - Olavo (ótima performance de Marcelo Novaes); a dondoca - Natália (Betty Lago, estreando em TV) que muda de vida e atitude, largando o dinheiro do marido para viver com um professor de história - Avelar (Kadu Moliterno), exilado em Paris.

Destaque para a trilha sonora, um show à parte, com citações de "Tropicália" (Caetano Veloso), "Sá Marina" (Wilson Simonal), "Pata Pata" (Míriam Makeba) e "Sun King" (Beatles). No disco, o carro-chefe era a música de abertura, "Alegria Alegria" (também de Caetano), coadjuvada por pérolas como "Mascarada" (Emílio Santiago), "Baby" (Gal Costa), "Carta ao Tom" (Toquinho e Vinícius), "Senza Fine" (Ornella Vanoni), "There's a Kind of Hush" (Herman's Hermits), "Monday Monday" (The Mamas & The Papas), "Call Me" (Chris Montez) e a canção dos apaixonados, "Can't Take My Eyes Of You" (Frankie Valli).

Mas nem tudo é tristeza na minissérie. Afinal de contas, no ano de sua exibição - 1992 - o impacto de tudo aquilo que passava nas nossas telinhas foi tão forte, tão pungente, que o Brasil saiu às ruas e exigiu o fim do mandato de Fernando Collor de Mello como presidente da república.

Aquilo sim foi a vitória da democracia.

Foi a vitória do Brasil.

Um comentário:

Inez disse...

Adorei esse post Rodrigo, revi por meio de palavras o que foi a minisérie, o que foram os anos que vivi na ditadura, o trabalho primoroso de alguns atores. Obrigada por escrever tão bem! Eu aqui, numa manhã de sábado, me deliciando com teu texto e revivendo fases da minha vida. Beijossssssssssssss