domingo, 29 de outubro de 2006

Surpresas da night

Na mesma quinta-feira da visita ao Salão, resolvi que não ia ficar olhando pra quatro paredes no hotel. Filme na TV, nem pensar: a programação era meia-boca e nem todos os canais rolavam no aparelho instalado onde eu me hospedei.

Tomei um banho, fiz a barba, peguei dinheiro no Bradesco a uma quadra do hotel, e mandei o taxista tocar para o Morrison Bar, na Vila Madalena. O cara se perdeu completamente, mas depois de idas e vindas, incluindo três voltas pelo mesmo quarteirão (me senti numa corrida de carro), ele achou a rua.

O Morrison, como o próprio nome denuncia, é uma homenagem dos donos ao Jim Morrison, poeta, letrista e cantor do lendário grupo The Doors, morto há 35 anos sob causas nunca esclarecidas. A casa vive sofrendo pequenas reformas e lembro que numa das últimas vezes que estive em Sampa, o Contru tinha interditado o bar por falta de segurança.

Eram 10 da noite e mesmo assim não havia quase ninguém por lá. Abri os trabalhos portanto, com vários copos de chopp até que as mesas foram se ocupando, na maioria por casais. Eu estava sozinho e ali fiquei, no balcão do bar, bebericando, quando em torno de 11 e meia, três caras subiram ao palco e fizeram um honesto set acústico, tocando bem e cantando boas músicas, entre elas "One" (U2) e "Hey Hey My My" (Neil Young).

Isto posto, começaram a se posicionar os integrantes do grupo que me fez ir ao bar naquela noite de quinta. Por que? Porque era um tributo aos Mutantes. E eu sou fã declarado de Arnaldo, Sérgio, Rita, Dinho e Liminha - tanto individualmente como em conjunto.

Eles tinham um órgão que parecia bacana, um baixo Fender igual ao do Paul McCartney, bateria Pinguim, uma guitarra Stratocaster e uma vocalista para fazer as vezes de Rita Lee - muito gracinha por sinal.

Começaram muito bem, atacando de "Dune Buggy", a sensacional música que Arnaldo fez quando comprou o carrinho sem capota que era a coqueluche entre pirados, freaks e doidões dos anos 60/70. E foram revisitando um clássico atrás do outro... "Technicolor", "It's very nice pra xuxu", "Jardim Elétrico", "El Justiciero", "Panis et circensis", "Virgínia", "Cantor de Mambo", "Quem tem medo de brincar de amor?" e até a quase-vinheta "Todo Mundo Pastou".

Esqueci da maioria das músicas, óbvio. Mas todos eles deram show. Três dos integrantes se revezaram entre o órgão (que sempre reproduzia fielmente a sonoridade do grupo nos anos 60), bateria e guitarra. O cara que começou tocando "Dune Buggy" nesta última e que tocou bateria a maior parte do tempo era muito parecido com o Dinho na juventude... ou será que exagerei na bebida?


De resto, a apresentação foi bacana e funcionou como um bálsamo para todos nós que ali estávamos, fãs do grupo que lamentamos a perda inenarrável do grande maestro Rogério Duprat (foto acima), o arranjador dos Mutantes, o nosso George Martin, um dos papas da Tropicália, falecido naquele mesmo dia aos 74 anos de idade.

Saravá, Rogério!

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas ninguém consegue dar aos Mutantes a graça que Rita Lee deu, a pitada tropicalista às últimas consequências, o humor, a leveza. Sem a Rita Mutantes não é Mutantes. Assim, vc viu uma outra banda com alguns dos ex-integrantes de Os Mutantes.